Sobretudo não esquecer...


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Sobretudo não esquecer...
Soprattutto non dimenticare...


Sobretudo não esquecer
Que também foi um homem
E que esse sangue lhe trouxe
As imagens mais violentas,
À luz dúbia, de biombo,
É impossível saber que rosto fita:
Imolação ou redenção?
Talvez aqui se entrelacem 
Para o jogo de sombras chinesas.
Não esquecer que foi um homem
E que a laceração da carne
Nunca lhe foi abstracta
Nem, tão pouco, o amor esmagado
Contra as paredes da alma.
 
Será talvez uma fábula,
Um homem que fala
Por detrás das suas palavras
Quando deveria estar silencioso
No que lhe resta de deus,
Mas fala em vozes sobrepostas
E a bifurcação é o mesmo caminho
Na sua dor em fogo lento.
Soprattutto non dimenticare
Che è stato anche un uomo
E che questo sangue gli ha indotto
Le immagini più violente,
Nell’incerta luce, da paravento,
Impossibile sapere cosa quel volto esprime:
Immolazione o redenzione?
Forse qui si sovrappongono
In un gioco di ombre cinesi.
Non dimenticare che è stato un uomo
E che la lacerazione della carne
Per lui non è mai stata fittizia
E neppure l’amore compresso
Contro le pareti dell’anima.
 
Forse sarà una favola,
Un uomo che parla
Dietro le sue parole
Mentre dovrebbe essere silenzioso
In quel che di lui resta divino,
Ma parla a voci sovrapposte
E il bivio è lo stesso cammino
Nel suo dolore a fuoco lento.
________________

Gian Francesco De Maineri
Cristo portacroce (sec. XVI)
...

Sentimento do mundo


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Sentimento do mundo
Sentimento del mondo


tenho duas mãos
o sentimento do mundo
ideias deambulantes
e muito gás para queimar
não fosse isso
e eu seria
– mal e mal –
um retrato
no álbum
de minha mãe
ho due mani
il sentimento del mondo
idee provvisorie
e molto gas da bruciare
se non fosse così
io sarei
– a malapena –
un ritratto
nell’album
di mia madre
________________

Cícero Dias
Recordando (1970)
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Refinaria


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Refinaria
Raffineria


das cento e poucas páginas
que escrevi
no último ano
 
das centenas de versos
que guardei
passados doze meses
 
hoje
só penso
que possam
s’evaporar
como
água salgada
 
deixando
rastro
de um cristal
a ser
refinado
delle cento e poche pagine
che ho scritto
nell’ultimo anno
 
delle centinaia di versi
che ho conservato
nei dodici mesi passati
 
oggi
penso soltanto
che potrebbero
evaporare
come
acqua salata
 
lasciando
l’impronta
di un cristallo
che dev’esser
raffinato
________________

Tony Cragg
Senza titolo (2018)
...

Prenhez


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Prenhez
Gravidanza


já estive grávida
naquela foto
 
o filho
não chegou
a nascer
 
a foto
me mantém
à sua espera
ero già gravida
in quella foto
 
il figlio
non è arrivato
a nascere
 
la foto
mi conserva
in attesa di lui
________________

Ghislaine Howard
Autoritratto incinta (1984)
...

Nenhum


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Nenhum
Nessuno


e como dói
ter duas mãos
o sentimento do mundo
e nenhum retrato
que aqueça
uma lembrança
e come fa male
avere due mani
il sentimento del mondo
e nessun ritratto
che riscaldi
un ricordo
________________

Henri Matisse
Giovane donna in bianco (1946)
...

Na parede


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Na parede
Alla parete


as cidades
que são
retratos
na parede
não se parecem
com a minha
cidade
minha cidade nasceu
quando já existia
filme
le città
che sono
dei ritratti
alla parete
non assomigliano
alla mia
città
la mia città è nata
quando già esisteva
il film
________________

Karina Puente
Zemrude (2016)
...

Menos duas


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Menos duas
Meno due


sete irmãos
e irmãs
quase abraçados
tímidos no ato
da fotografia

meio posados
meio não
muito limpos
em suas roupas
bem passadas

cinco moças
dois rapagões
orgulhosos de suas
calças suspensas

sete irmãos e irmãs
na fotografia
em cima do piano

as duas irmãs —
mortas em acidentes —
continuam limpas
e desafiadoras
sobre o negro
piano fechado

os demais
irreversivelmente
envelhecem
sette fratelli
e sorelle
quasi abbracciati
timidi nell’atto
della fotografia

un po’ in posa
un po’ no
molto composti
nei loro abiti
ben stirati

cinque ragazze
due ragazzoni
orgogliosi dei loro
calzoni con le bretelle

sette fratelli e sorelle
nella fotografia
posata sul piano

le due sorelle —
morte in incidenti —
continuano a esistere
fiere e composte
sopra il nero
piano chiuso

i rimanenti
irreversibilmente
invecchiano
________________

Massimo Campigli
Donne al piano (1947)
...

Jaz


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Jaz
Qui giace


teremos sempre
– de novo –
avós bisavós tios
mãe e pai
enquanto cultivarmos
nossos álbuns
de fotografias
avremo sempre
– nuovamente –
nonni bisnonni zii
madre e padre
finché coltiveremo
i nostri album
di fotografie
________________

Pepi Merisio
Carona, malga del lago Rotondo (1967)
...

Sofro esta turbulência cega...


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Sofro esta turbulência cega...
M’affligge questa cieca turbolenza...


Sofro esta turbulência cega,
O choque de astros e pássaros e ventos,
O redemoinho de folhas e silêncios.
Nada sei do que estas saudades desenterram e choram,
Silhuetas escuras que passam e voltam
E voltam a passar, no circuito fechado
De uma tristeza que aboliu todas as lágrimas –
Queimadas por dentro pela nascente –
E se concentra apenas em si mesma,
Sem se multiplicar, embora pudesse ser
Esta rua, este vento, estas folhas e o silêncio
De um mundo desmantelado.
Que me quereis perpétuas saudades?
M’affligge questa cieca turbolenza,
L’impatto di astri, uccelli e venti,
Il vortice di foglie e silenzi.
Nulla so di ciò che questi rimpianti esumano e piangono,
Oscuri contorni che passano e tornano
E tornano a passare, nel circuito chiuso
D’una tristezza che ha soppresso tutte le lacrime –
Riarse da dentro già alla sorgente –
E si concentra soltanto in se stessa,
Senza moltiplicarsi, seppure possa essere
Questa via, questo vento, queste foglie e il silenzio
Di un mondo devastato.
Che volete da me, eterni rimpianti?
________________

Ernst Steiner
Nascita della luce (1980)
...

Instantâneo #5


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Instantâneo #5
Istantanea #5


Só mesmo uma foto
para nos flagrar
no auge
de um quase
Una foto soltanto
per coglierci
al culmine
di un quasi
________________

Henri Cartier-Bresson
Paris (1989)
...

Impróprio


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Impróprio
Improprio


penteamos os cabelos
de um jeito inusual
pintamos os lábios
as bochechas as pálpebras
de um jeito improvável
posamos para a foto
de um jeito incomum
e não éramos bem nós
 
mas todos sempre soubemos
explicar aquela foto
no álbum
como um flagrante
da impropriedade
ci pettinammo i capelli
in maniera inconsueta
colorammo le labbra
le guance le palpebre
in modo improbabile
posammo per la foto
in una postura insolita
e non eravamo davvero noi
 
tutti però abbiamo sempre saputo
spiegare quella foto
dell’album
come un fotogramma
dell’improprio
________________

Emiliano di Cavalcanti
Carnaval (1954)
...

Fotonovela


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Fotonovela
Fotoromanzo


Os homens pegam peso,
carregam fardos e
empunham armas que dão coices;
os homens levantam caixas,
fazem o transporte dos seixos;
os homens se unem
e puxam carretas emperradas;
os homens movem mesmo
montanhas;
os homens usam cordas
e laços
e arrastam pedras barcos
metais madeiras e máquinas;
os homens carregam
fardos;

mas só as mulheres
carregam o filho morto
no ventre
por mais de uma semana.
Gli uomini alzano pesi,
portano fardelli e
impugnano armi con rinculo;
gli uomini sollevano casse,
trasportano sassi;
gli uomini si uniscono
e tirano carretti ingolfati;
gli uomini muovono perfino
le montagne;
gli uomini usano corde
e lacci
e trascinano pietre barche
metalli legname e macchine;
gli uomini portano
fardelli;

ma solo le donne
portano il figlio morto
nel ventre
per più di una settimana.
________________

Fernand Léger
Studio per manovali (1955)
...

fotografia 6


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fotografia 6
fotografia 6


as palmas
flagradas
no ar
não capturam
sua imensa alegria
ao completar
6 anos
l’applauso
immortalato
nell’aria
non basta a cogliere
la tua immensa gioia
nel compiere
6 anni
________________

Fortunato Depero
Costume cifrato (1929)
...

Epifania


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Epifania
Epifania


    para S
 
segunda despedida
desta vez, temos uma fotografia
com isso poderemos sempre mirar
a rambla, os prédios & nossa alegria
 
o que será nossa vida, além de
um cordão de despedidas?
fio de adeus às vezes próximos
– outra vez raros feito o tempo
 
que desafortunada
a velhice demente de minha bisavó:
que acordava sempre
no mesmo dia
da morte do marido
 
tempo vindo, tempo ido
nosso patrimônio seja
qualquer lembrança vívida
à luz de sorriso e muito livro
    per S
 
secondo addio
questa volta abbiamo una fotografia
così potremo sempre rivedere
la rambla, gli edifici & la nostra gioia
 
che mai sarà la nostra vita, al di là di
una sequela di addii?
catena di adeus alle volte prossimi
– altre volte rari come il tempo
 
che sfortunata
la vecchiaia demente della mia bisnonna:
che si risvegliava sempre
nello stesso giorno
della morte del marito
 
tempo venuto, tempo andato
che il nostro patrimonio sia
qualunque ricordo vissuto
alla luce di un sorriso e molti libri
________________

Giovanni Maranghi
L'incontro (1999)
...

Cien años de soledad


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Cien años de soledad
Cien años de soledad


Mal abri os olhos
Vieram você seu nome seu rosto
Seu corpo sua voz sua vida
Suas palavras sua risada sua canção preferida
Seus olhos sua boca suas mãos
Seu andar e seus pés seu cabelo atrapalhado
Seus óculos seus palavrões mais típicos
Suas leituras dos últimos dias
Suas manchas seus vincos
Mal abri os olhos
E queria te dar um abraço um beijo
Chorar escondida em seu ombro
Pensando no nome daquele livro
que nos toca tanto.
Avevo appena aperto gli occhi
Mi siete apparsi tu il tuo nome il tuo viso
Il tuo corpo la tua voce la tua vita
Le tue parole la tua risata la tua canzone preferita
I tuoi occhi la tua bocca le tue mani
La tua andatura e i tuoi piedi i tuoi capelli arruffati
I tuoi occhiali le tue parolacce più tipiche
Le tue letture degli ultimi giorni
Le tue macchie le tue rughe
Avevo appena aperto gli occhi
E volevo darti un abbraccio un bacio
Piangere di nascosto sulla tua spalla
Pensando al nome di quel libro
che ci affascina tanto.
________________

Dante Saboga
Gabo (2008)
...

Burkeana


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Burkeana
Burkeana


aprendemos a ler fotografias
com um historiador:
os detalhes dos cenários
das mãos das poses
dos ângulos e dos objetos
nas paredes ou que repousavam
em mesas, menos ou mais adornadas
 
nas fotos da família
os uniformes eram novos
e as joias reluziam
até em preto e branco
 
já o outro ramo dos parentes
guardava uma pequena caixa
de fotos que quase não nos mostravam
 
para que não gastássemos
— com os olhos e as mãos sujas —
aquelas relíquias
impariamo a leggere le fotografie
con uno storiografo:
i dettagli delle inquadrature
delle mani delle pose
delle angolature e degli oggetti
alle pareti o appoggiati
sui tavoli, più o meno adornati
 
nelle foto di famiglia
le uniformi erano nuove
e i gioielli luccicavano
persino in bianco e nero
 
già l’altro ramo della parentela
conservava una piccola scatola
di foto che malvolentieri ci mostravano
 
perché non sciupassimo
— con gli occhi e con le mani sporche —
quelle reliquie
________________

Antonio Donghi
Battesimo (1930)
...

Aprenda a ler #1


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Aprenda a ler #1
Impara a leggere #1


aprenda a olhar ao redor:
a casa a cortina o piano – fechado –
os sofás os sapatos as almofadas
as janelas abertas e um sol entardecido
as roupas o cinzeiro cheio
as sombras de quem não posou
mas ficou a angariar sorrisos dos outros
os lembrados e os esquecidos
os vistos e os que dependerão da memória alheia

aprenda a observar:
a pompa as poses os cabelos da moda
os cortes de colarinho e as poucas gravatas
as calças os lenços os esmaltes
as peças em cima das mesas pequenas
os copos com restos de bebidas claras
os olhares esparsos para fora da foto

faltam apenas as cores
roubadas desde o clique
em um filme que só poderia
obter a cena em cinza

a sua memória
será capaz das cores?
impara a guardarti intorno:
la casa la tenda il piano – chiuso –
i divani le scarpe i cuscini
le finestre aperte e un sole che indugia
i vestiti il portacenere pieno
le ombre di chi non s’è messo in posa
ma è rimasto a pretendere sorrisi dagli altri
quelli ricordati e quelli dimenticati
quelli noti e quelli che dipenderanno dalla memoria altrui

impara ad osservare:
il lusso le pose i capelli alla moda
il taglio dei colletti e le poche cravatte
i calzoni i fazzoletti gli smalti
gli oggetti sopra i tavolini
i bicchieri con resti di bevande chiare
gli sguardi diretti al di fuori della foto

mancano appena i colori
rubati al momento dello scatto
in un film che potrebbe soltanto
esser girato in bianco e nero

la tua memoria
ce la farà coi colori?
________________

Justin Samson
Stanza rosa in primavera (2020)
...

Era uma vez...


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Poemas dos dias (2022) »»
 
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Era uma vez...
C’era una volta...


“Era uma vez”:
Aqui começa o tempo anulado,
O oásis, a cidade
Que surge perante a caravana
Vergada pelo peso do deserto
E do céu nítido.
Aqui começam as danças verdes,
Aqui começa a escorrer a origem.
Aqui “era uma vez”:
Aqui a gárgula das palavras,
Aqui começa uma lenta leveza,
Um esvoaçar de espanto,
Aqui começam os alfabetos
Das línguas como tapetes voadores,
Casas de açúcar, florestas.
Aqui começa a voz nascida
Dentro de tudo: animais, casas,
Árvores, águas, ventos.
“Era uma vez”:
Aqui se sepulta o pensamento,
Aqui se combinam os quatro elementos
De não se existir
Na redoma de uma vida caducifólia.
“Era uma vez”, “Era uma vez”:
Aqui se abrem os céus do voo,
Aqui se recomeça a alquimia da infância,
Aqui se aboliu toda a idade.

“C’era una volta”:
Comincia qui il tempo abolito,
L’oasi, la città
Che sorge davanti alla carovana
Piegata dal peso del deserto
E dal cielo limpido.
Qui cominciano le verdi danze,
Qui comincia a scorrere l’origine.
Qui “c’era una volta”:
Qui è il doccione delle parole,
Qui comincia una lenta levità,
Uno sfarfallio di sorprese,
Qui cominciano gli alfabeti
Delle lingue come tappeti volanti,
Case di zucchero, foreste.
Qui comincia la voce nata
Dentro ogni cosa: animali, case,
Alberi, acque, venti.
“C’era una volta”:
Qui si seppellisce il pensiero,
Qui si combinano i quattro elementi
Per non continuare ad esistere
Nella campana di vetro di una vita fugace.
“C’era una volta”, “C’era una volta”:
Qui si spalancano i cieli del volo,
Qui ricomincia l’alchimia dell’infanzia,
Qui sono rimosse tutte le età.

________________

La volpe e la cicogna
Incisione da "Fables from incunabula" (1479)
...

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