A meu favor


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A meu favor
A mio favore


A meu favor
Tenho o verde secreto dos teus olhos
Algumas palavras de ódio algumas palavras de amor
O tapete que vai partir para o infinito
Esta noite ou uma noite qualquer

A meu favor
As paredes que insultam devagar
Certo refúgio acima do murmúrio
Que da vida corrente teime em vir
O barco escondido pela folhagem
O jardim onde a aventura recomeça

A meu favor tenho uma rua em transe
Um alto incêndio em nome de nós todos

A mio favore
Ho il verde furtivo dei tuoi occhi
Qualche parola d'odio qualche parola d'amore
Il tappeto in partenza per l'infinito
Questa o qualunque altra notte

A mio favore
Le pareti che insultano adagio
Fido riparo sopra il mormorio
Che insiste a venire dalla vita che passa
La barca al riparo tra il fogliame
Il giardino dove l'avventura riparte

A mio favore ho una strada in estasi
Un alto incendio a nome di noi tutti

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Pierre Bonnard
Il paradiso terrestre (~1920)

Estamos ambos condenados...


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Estamos ambos condenados...
Noi due siamo condannati...


Estamos ambos condenados a observar
E a ser observados.
O nosso inferno são estas margens
Separadas por águas negras,
Caudalosas, torrenciais.
Caminhamos ao longo das margens,
Cada um na sua, fitamo-nos
Como inimigos que não sabemos se somos,
Cientes de que nunca chegaremos
A lado algum, a palavra alguma.
De vez em quando, ao crepúsculo, a figura do outro lado
Lança-se às águas e logo desaparece,
E apodera-se de mim um terror.
Corro pela margem, esperando ardentemente
Ver o seu corpo afogado.
De manhã, vejo-o de novo diante de mim,
Na sua margem; repelido pelas águas,
E, de cada vez, parece odiar-me.
Nunca me lanço às águas,
Mas a verdade é que, de manhã,
Acordo sempre encharcado.
Lançar-me às águas para quê?
Não quero trocar de margem.
A figura do outro lado
Parece-me a mais perfeita indiferença.
Só temo que esse vulto
Alcance a minha margem
E se apodere de mim, dos meus olhos,
Que continuarão a ver
Uma figura na outra margem.
Não quero trocar de margem.

Noi due siamo condannati a osservarci
E a essere osservati.
Sono il nostro inferno queste rive
Separate da acque nere,
Travolgenti, torrenziali.
Avanziamo lungo le rive,
Ciascuno sulla propria, ci fissiamo
Come nemici, senza sapere se lo siamo,
Consci che mai arriveremo
da nessuna parte, a nessuna parola.
Di tanto in tanto, al crepuscolo, la figura dall’altro lato
Si getta in acqua e subito scompare,
E un terrore s’impadronisce di me.
Corro lungo la riva, sperando ardentemente
Di vedere il suo corpo affogato.
Al mattino, lo vedo nuovamente davanti a me,
Sulla sua riva; respinto dalle acque,
E, ogni volta, sembra che mi odi.
Io non mi getto mai in acqua,
Ma la verità è che, al mattino,
Io mi risveglio fradicio.
Lanciarmi in acqua, perché?
Non voglio cambiare riva.
La figura dall’altra parte
Mi dimostra la più assoluta indifferenza.
Ho soltanto timore che quest’ombra
Raggiunga la mia riva
E s’impadronisca di me, dei miei occhi,
Che continueranno a vedere
Una figura sull’altra riva.
Io non voglio cambiare riva.

________________

Tomba del Tuffatore
Paestum (470-480 a.C.)
...

Temo que, um dia...


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Temo que, um dia...
Temo che, un giorno...


Temo que, um dia, realmente,
Uma criança se abeire de mim
E me pergunte o que é a erva,
Um urso, um lobo, um lince.
Temo que, um dia, estas criaturas
Apenas vivam no redil das fábulas
E não passem de palavras
Que já não captam o mover de um corpo.
Temo que, um dia, uma criança me pergunte
O que são índios ou florestas tropicais,
O que são baleias ou golfinhos,
Castores ou florestas oceânicas.
Temo que, um dia, talvez já amanhã,
Ou talvez ainda hoje,
Acordemos sozinhos aqui,
Num mundo povoado apenas por nós,
Pelos nossos anjos ou demónios,
Num mundo apodrecido
Pela odiosa peste maiusculada
Do nosso bem e do nosso mal.
Temo che, un giorno, davvero,
Mi si avvicini un bambino
E mi chieda che cos’è l’erba,
Un orso, un lupo, una lince.
Temo che, un giorno, queste creature
Appartengano solo al mondo delle fiabe
E non siano altro che parole
Ormai incapaci di cogliere le movenze d’un corpo.
Temo che, un giorno, un bambino mi chieda
Che cosa sono gli indios o le foreste tropicali,
Che cosa sono le balene o i delfini,
I castori o le foreste oceaniche.
Temo che, un giorno, forse già domani,
O forse oggi stesso,
Ci ridesteremo qui da soli,
In un mondo popolato solo da noi,
Dai nostri angeli o demoni,
In un mondo reso putrido
Dall’odiosa peste maiuscolizzata
Dal nostro bene e dal nostro male.
________________

Pietro Longhi
Il Rinoceronte (1751)
...

Perplexidades


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Perplexidades
Perplessità


a parte mais efêmera
de mim
é esta consciência de que existo

e todo o existir consiste nisto

é estranho!
e mais estranho
ainda
me é sabê-lo
e saber
que esta consciência dura menos
que um fio de meu cabelo

e mais estranho ainda
que sabê-lo
é que
enquanto dura me é dado
o infinito universo constelado
de quatrilhões e quatrilhões de estrelas
sendo que umas poucas delas
posso vê-las
fulgindo no presente do passado

la parte più effimera
di me
è la coscienza del fatto che esisto

e tutto l’esistere consiste in questo

è strano!
e più strano
ancora
è il fatto di saperlo
e sapere
che questa coscienza dura meno
d’ogni mio singolo capello

e ancor più strano
che saperlo
è che
finché dura a me viene elargito
l’infinito universo costellato
da quadrilioni e quadrilioni di stelle
di cui solo una minima parte
m’è dato di veder
rifulgere nel presente del passato

________________

Anselm Kiefer
Athanor (2007)
...

O que se foi


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O que se foi
Quel ch’è stato


O que se foi se foi.
Se algo ainda perdura
é só a amarga marca
na paisagem escura.

Se o que se foi regressa,
traz um erro fatal:
falta-lhe simplesmente
ser real.

Portanto, o que se foi,
se volta, é feito morte.

Então por que me faz
o coração bater tão forte?

Quel ch’è stato è stato.
Se qualcosa persiste ancora
non è che una traccia amara
in questa valle oscura.

Se quel ch’è stato ritorna,
reca un errore fatale:
difetta semplicemente
d’essere reale.

Pertanto, quel ch’è stato,
se torna, è come la morte.

Allora, perché fa sì che il cuore
mi batta così forte?

________________

Joan Miró
Personaggio (1960)
...

Inseto


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Inseto
Insetto


Um inseto é mais complexo que um poema
Não tem autor
Move-o uma obscura energia

Um inseto é mais complexo que uma hidrelétrica

Também mais complexo
que uma hidrelétrica
é um poema
(menos complexo que um inseto)

e pode às vezes
(o poema)
com sua energia
iluminar a avenida
ou quem sabe
uma vida


Un insetto è più complesso di una poesia
Non ha autore
Lo muove un’oscura energia

Un insetto è più complesso di una centrale idroelettrica

E pure più complessa
di una centrale idroelettrica
è una poesia
(meno complessa di un insetto)

e può a volte
(la poesia)
con la sua energia
illuminare tutta la via
o chissà
una vita

________________

Jan Fabre
Scarabeo gigante (2014)
...

Falar


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Falar
Parlare


A poesia é, de fato, o fruto
de um silêncio que sou eu, sois vós,
por isso tenho que baixar a voz
porque, se falo alto, não me escuto.

A poesia é, na verdade, uma
falta ao revés da fala,
como um silêncio que o poeta exuma
do pó, a voz que jaz embaixo
do falar e no falar se cala.
Por isso o poeta tem que falar baixo
baixo quase sem fala em suma
mesmo que não se ouça coisa alguma.

La poesia è, in effetti, il frutto
d’un silenzio che sono io, che siete voi,
perciò devo abbassare la voce
perché, se parlo forte, non mi sento.

La poesia, in verità, è una
carenza al contrario della parola,
come un silenzio che il poeta esuma
dalla polvere, la voce che soggiace
alla parola e parlando torna a tacere.
Per questo il poeta deve parlare piano
piano quasi senza parola insomma
anche se poi non si sente proprio niente.

________________

Francis Bacon
Due studi per un autoritratto (1970)
...

Os novos profetas


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Os novos profetas...
I nuovi profeti...


Os novos profetas
Não são diferentes dos antigos:
Esperam o apocalipse
Como uma espécie de salvação
Talvez apenas para poderem dizer
Que estavam certos.

I nuovi profeti
Non sono diversi dagli antichi:
Aspettano l’apocalisse
Come una sorta di salvazione
Magari solo per poter dire
Che ne erano già sicuri.

________________

Paolo Colombo
L'Apocalisse di San Giovanni (2019)
...

Canta, traz-me a serenidade...


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Canta, traz-me a serenidade...
Canta, donami la serenità...


Canta, traz-me a serenidade
De uma qualquer serenata,
Um som qualquer, assobio,
Motor, dor que se esgueira
Por entre os lábios da contenção,
Algo que faça recuar estas paredes,
Canta ou conta fábulas,
Abre portas rangentes de mistério
E antiguidade nas lendas,
Canta ou rememora,
Que o brilho de uma evocação
Ocupe algum som,
Canta ou fala ou grita até,
Para que em mim a maré
De uma paz imensa desça,
A paz de um sonho de silêncio.

Canta, donami la serenità
Di certe serenate,
Un suono qualsiasi, un fischio,
Un motore, un dolore che sfugge
Dalla labbra che lo reprimono,
Qualcosa che faccia arretrare questi muri,
Canta o racconta favole,
Apri porte stridenti di mistero
E della vetustà delle leggende,
Canta o rammenta,
Che il bagliore d’un’evocazione
Occupi qualche suono,
Canta o parla oppure grida,
Perché in me discenda
La marea d’una pace immensa,
La pace d’un sogno di silenzio.

________________

Mimmo Paladino
San Francesco (1993)
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A propósito do nada


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A propósito do nada
A proposito di niente


sou
para o outro
este corpo esta
voz
sou o que digo
e faço
enquanto passo

mas
para mim
só sou
se penso que sou
enfim
se sou
a consciência
de mim

e quando
vinda a morte
ela se apague
serei o que alguém acaso
salve
do olvido

já que
para mim
(lume apagado)
nunca terei existido

io sono
per l’altro
questo corpo questa
voce
sono quel che dico
e faccio
mentre passo

ma
per me
io sono soltanto
se penso che sono
insomma
se sono
la coscienza
di me

e quando
giunta la morte
quella svanisca
io sarò quel che qualcuno per caso
salverà
dall’oblio

giacché
per me
(lume svanito)
io non sarò mai esistito

________________

Bruno Bruni
Tutto finito (2012)
...

Pintura


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Relâmpagos (2003) »»
 
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Pintura
Pittura


Eu sei que se tocasse
com a mão aquele canto do quadro
onde um amarelo arde
me queimaria nele
ou teria manchado para sempre de delírio
a ponta dos dedos

Io so che se sfiorassi
con la mano quel lembo del quadro
ove un giallo divampa
ne resterei ustionato
o per sempre mi sarei macchiato di delirio
la punta delle dita.

________________

Nicolas de Staël
Agrigento (1953)
...

O ronron do gatinho


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Um Gato chamado Gatinho (2000) »»
 
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O ronron do gatinho
Le fusa del gattino


O gato é uma maquininha
que a natureza inventou;
tem pêlo, bigode, unhas
e dentro tem um motor.

Mas um motor diferente
desses que tem nos bonecos
porque o motor do gato
não é um motor elétrico.

É um motor afetivo
que bate em seu coração
por isso faz ronron
para mostrar gratidão.

No passado se dizia
que esse ronron tão doce
era causa de alergia
pra quem sofria de tosse.

Tudo bobagem, despeito,
calúnias contra o bichinho:
esse ronron em seu peito
não é doença - é carinho.

Il gatto è un macchinino
inventato dalla natura;
ha pelo, baffi, unghie
e dentro ha un motorino.

Ma è un motore differente
da quello che ha un bambolotto
perché il motore del gatto
non si aziona con lo spinotto.

È un motore affettivo
quello che gli batte in cuore
per questo fa ron ron
per dimostrare il suo amore.

In passato si diceva
che questo ron ron così dolce
fosse causa d’allergia
per chi soffriva di tosse.

Tutte sciocchezze, dispetto,
calunnie contro il micetto:
questo ron ron nel suo petto
non è malattia - è affetto.

________________

Ivan Nikolaevič Kramskoj
Ragazza con gatto (1882)
...

Fotografia de Mallarmé


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Fotografia de Mallarmé
Fotografia di Mallarmé


é uma foto
premeditada
como um crime

basta
reparar no arranjo
das roupas os cabelos
a barba tudo
adrede preparado
- um gesto e a manta
equilibrada sobre
os ombros
cairá - e
especialmente a mão
com a caneta
detida
acima da
folha em branco: tudo
à espera
da eternidade

sabe-se:
após o clique
a cena se desfez
na rue de Rome a vida voltou
a fluir imperfeita
mas
isso a foto não
captou que a foto
é a pose a suspensão
do tempo
agora
meras manchas
no papel raso

mas eis que
teu olhar
encontra o dele
(Mallarmé) que
ali
do fundo
da morte
olha.

è una foto
premeditata
come un crimine

basta
osservare la finezza
dei vestiti i capelli
la barba tutto
appositamente allestito
- un gesto e la coperta
ben bilanciata
sulle spalle
cadrà - e
soprattutto la mano
con la penna
trattenuta
sopra il
foglio bianco: tutto
in attesa
dell’eternità

si sa:
dopo il clic
la scena fu smontata
sulla rue de Rome la vita tornò
a fluire imperfetta
ma
questo la foto non lo
colse poiché la foto
è la posa la sospensione
del tempo
ora
nient’altro che macchie
sulla carta liscia

ma ecco che
il tuo sguardo
incontra quello di lui
(di Mallarmé) che

dal fondo
della morte
guarda.

________________

Stéphane Mallarmé fotografato da
Nadar (1895)
...

Redundâncias


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Redundâncias
Ridondanze


Ter medo da morte
é coisa dos vivos
o morto está livre
de tudo o que é vida

Ter apego ao mundo
é coisa dos vivos
para o morto não há
(não houve)
raios rios risos

E ninguém vive a morte
quer morto quer vivo
mera noção que existe
só enquanto existo

Temere la morte
è roba da vivi
il morto è libero
da tutto ciò che è vita

Attaccarsi al mondo
è roba da vivi
per il morto non ci sono
(né ci furono)
raggi rivi risa

E nessuno vive la morte
né da morto né da vivo
mera nozione che esiste
solo finché io esisto

________________

Paul Klee
Morte e fuoco (1940)
...

Os mortos


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Os mortos
I morti


os mortos vêem o mundo
pelos olhos dos vivos

eventualmente ouvem,
com nossos ouvidos,
certas sinfonias
algum bater de portas,
ventanias

Ausentes
de corpo e alma
misturam o seu ao nosso riso
se de fato
quando vivos
acharam a mesma graça

i morti vedono il mondo
con gli occhi dei vivi

talvolta sentono,
con le nostre orecchie,
alcune sinfonie
qualche bussar di porte,
folate di vento

Assenti
d’anima e corpo
mischiano il loro al nostro riso
se di fatto
da vivi
risero per lo stesso motivo

________________

Giacomo Borlone de Buschis
Danza macabra (particolare) (1484-1485)
...

Mau despertar


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________________


Mau despertar
Cattivo risveglio


Saio do sono como
de uma batalha
travada em
lugar algum

Não sei na madrugada
se estou ferido
se o corpo
tenho
riscado
de hematomas

Zonzo lavo
na pia
os olhos donde
ainda escorre
uns restos de treva.


Esco dal sonno come
da una battaglia
combattuta
da qualche parte

All’alba non so
se sono ferito
se il mio corpo
è ora
cosparso
d’ematomi

Stordito lavo
nel lavabo
gli occhi da cui
ancora scorrono
dei residui di tenebra.

________________

Lucian Freud
Riflesso (autoritratto) (1985)
...

Lição de um gato siamês


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Lição de um gato siamês
Lezione di un gatto siamese


Só agora sei
que existe a eternidade:
é a duração
finita
da minha precariedade

O tempo fora
de mim
é relativo
mas não o tempo vivo:
esse é eterno
porque afetivo
— dura eternamente
enquanto vivo

E como não vivo
além do que vivo
não é
tempo relativo:
dura em si mesmo
eterno (e transitivo)

Solo ora io so
che esiste l’eternità:
è la durata
finita
della mia precarietà

Il tempo al di fuori
di me
è relativo
ma non il tempo vivo:
quello è eterno
poiché affettivo
— dura eternamente
finché vivo

E dato che non vivo
al di là di quel che vivo
non è
tempo relativo:
dura in se stesso
eterno (e transitivo)

________________

Gatto egizio
Statuetta bronzea (722-332 a.C.)
...

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