Antes que o mundo acabe...


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Antes que o mundo acabe...
Prima che finisca il mondo...


Antes que o mundo acabe, Túlio,
Deita-te e prova
Esse milagre do gosto
Que se fez na minha boca
Enquanto o mundo grita
Belicoso. E ao meu lado
Te fazes árabe, me faço israelita
E nos cobrimos de beijos
E de flores

Antes que o mundo se acabe
Antes que acabe em nós
Nosso desejo.
Prima che finisca il mondo, Tullio,
Sdraiati e assaggia
Questo miracolo del gusto
Che è accaduto nella mia bocca
Mentre il mondo grida
Bellicoso. E al mio fianco
Tu ti fai arabo, io mi faccio semita
E ci copriamo di baci
E di fiori

Prima che finisca il mondo
Prima che in noi finisca
Il nostro desiderio.
________________

Frida Kahlo
L'Amore abbraccia l'Universo (1949)
...

Ama-me. É tempo ainda...


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Ama-me. É tempo ainda...
Amami. È ancora tempo...


Ama-me. É tempo ainda. Interroga-me.
E eu te direi que o nosso tempo é agora.
Esplêndida altivez, vasta ventura
Porque é mais vasto o sonho que elabora
Há tanto tempo sua própria tessitura.
Ama-me. Embora eu te pareça
Demasiado intensa. E de aspereza.
E transitória se tu me repensas.
Amami. È ancora tempo. Interrogami.
E io ti dirò che il nostro tempo è adesso.
Splendida alterigia, grande ventura
perché è più grande il sogno che prepara
ormai da tanto tempo la propria tessitura.
Amami. Pur se ti sembro
troppo accesa. E con durezza.
Ed effimera se tu mi rammenti.
________________

Giovanni Maranghi
Mastica e sputa (1955)
...

Amada vida


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Amada vida
Amata vida


Amada vida, minha morte demora.
Dizer que coisa ao homem,
Propor que viagem? Reis, ministros
E todos vós, políticos,
Que palavra além de ouro e treva
Fica em vossos ouvidos?
Além de vossa RAPACIDADE
O que sabeis
Da alma dos homens?
Ouro, conquista, lucro, logro
E os nossos ossos
E o sangue das gentes
E a vida dos homens

Entre os vossos dentes.
Amata vita, la mia morte indugia.
Che cosa dire all’uomo,
Quale viaggio proporre? Re, ministri
E voi tutti, politici,
Quale parola oltre a oro e tenebra
Rimane nei vostri orecchi?
Al di là della vostra RAPACITÀ
Che ne sapete
Dell’anima umana?
Oro, conquista, profitto, frode
E le nostre ossa
E il sangue delle genti
E la vita umana

Tra i vostri denti.
________________

George Grosz
Germania, un racconto d'inverno (1917)
...

A minha Casa é guardiã do meu corpo...


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A minha Casa é guardiã do meu corpo...
La mia Casa è custode del mio corpo...


A minha Casa é guardiã do meu corpo
E protetora de todas minhas ardências.
E transmuta em palavra
Paixão e veemência

E minha boca se faz fonte de prata
Ainda que eu grite à Casa que só existo
Para sorver a água da tua boca.
A minha Casa, Dionísio, te lamenta
E manda que eu te pergunte assim de frente:
À uma mulher que canta ensolarada
E que é sonora, múltipla, argonauta

Por que recusas amor e permanência?
La mia Casa è custode del mio corpo
E protettrice d’ogni mia bramosia.
E trasforma in parola
Passione e frenesia

E la mia bocca si fa fonte d’argento
Pur se grido alla Casa che esisto soltanto
Per sorbire l’acqua dalla tua bocca.
La mia Casa, Dioniso, con te si lamenta
E ordina che io ti venga a domandare:
A una donna che canta così ispirata
Ed è armoniosa, multipla, argonauta

Perché rifiuti amore e persistenza?
________________

Henri Matisse
Odalisca con pantaloni rossi (1925)
...

Morremos sempre...


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Ode fragmentária (1961) »»
 
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Morremos sempre...
Moriamo sempre...


Morremos sempre.
O que nos mata
São as coisas nascendo:
Hastes e raízes inventadas
E sem querer e por tudo se estendendo
Rondando a minha
Subindo vossa escada.
Presenças penetrando
Na sacada.
 
Invasões urdindo
Tramas lentas.
 
Insetos invisíveis
Nas muradas.
 
Eis o meu quarto agora:
Cinza e lava.
Eis-me nos quatro cantos
(Morte inglória)
Morrendo pelos olhos da memória.
Aproximam-se.
E libertos de presença da carne
Se entreolham.
 
O teu nascer constante
Traz castigo.
Os teus ressuscitares
Serão prantos.
Moriamo sempre.
Quel che ci uccide
Sono le cose che nascono:
Steli e radici inventate
Senza volerlo e in continuo propagarsi
Avvolgendo le mie
Risalendo le vostre scale.
Presenze che penetrano
Nella veranda.
 
Invasioni che ordiscono
Lente trame.
 
Insetti invisibili
Dentro i muri.
 
Ecco la mia stanza adesso:
Cenere e lava.
Eccomi ai quattro angoli
(Morte ingloriosa)
Morendo negli occhi della memoria.
S’avvicinano.
E liberi dalla presenza della carne
Si osservano.
 
Il tuo costante nascere
Attira il castigo.
Ogni tuo resuscitare
Porterà lacrime.
________________

Tobia Ravà
L'albero pitagorico (1998)
...

Roteiro do Silêncio


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Roteiro do Silêncio (1959) »»
 
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Roteiro do Silêncio
Regola del silenzio


Não há silêncio bastante
Para o meu silêncio.
Nas prisões e nos conventos
Nas igrejas e na noite
Não há silêncio bastante
Para o meu silêncio.

Os amantes no quarto.
Os ratos no muro.
A menina
Nos longos corredores do colégio.
Todos os cães perdidos
Pelos quais tenho sofrido:
O meu silêncio é maior
Que toda solidão
E que todo o silêncio.
Non c’è silenzio che basti
Al mio silenzio.
Nelle prigioni e nei conventi
Nelle chiese e nella notte
Non c’è silenzio che basti
Al mio silenzio.

Gli amanti dentro la stanza.
I topi dentro il muro.
La bambina
Nei lunghi corridoi del collegio.
Tutti i cani perduti
Per i quali ho sofferto:
Il mio silenzio è più grande
Di tutta la solitudine
E di tutto il silenzio.
________________

Pablo Picasso
Donna accovacciata (1954)
...

Nós, poetas e amantes...


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Nós, poetas e amantes...
Noi, poeti e amanti...


Nós, poetas e amantes
o que sabemos do amor?
Temos o espanto na retina
diante da morte e da beleza.
Somos humanos e frágeis
mas antes de tudo, sós.

Somos inimigos.
Inimigos com muralhas
de sombra sobre os ombros.
E sonhamos. Às vezes
damos as mãos àqueles
que estão chorando.
(os que nunca choraram por nós)

Ah, meus irmãos e irmãs…
Ai daqueles que nos amam
e que por amor de nós se perdem.
Ah, pudéssemos amar um homem
ou uma mulher ou uma coisa…
Mas diante de nós, o tempo
se consome, desaparece e não para.

Ouvi: que vossos olhos se inundem
de pranto e água de todo o mundo!
Somos humanos e frágeis
mas antes de tudo, sós.
Noi, poeti e amanti
che ne sappiamo dell’amore?
Abbiamo la sorpresa sulla retina
di fronte alla morte e alla bellezza.
Siamo umani e fragili
ma soprattutto, soli.

Siamo nemici.
Nemici con muri
d’ombra sulle spalle.
E sogniamo. Talvolta
porgiamo le mani a quelli
che stan piangendo.
(quelli che mai hanno pianto per noi)

Ah, sorelle e fratelli miei…
Ci son quelli che ci amano
E che per amarci si perdono.
Ah, se potessimo amare un uomo
o una donna o una cosa…
Ma dinanzi a noi, il tempo
si logora, scompare e non si ferma.

Ho sentito: che i vostri occhi siano sommersi
Dal pianto e dall’acqua di tutto il mondo!
Siamo umani e fragili
ma soprattutto, soli.
________________

Jason de Caires Taylor
Silent Evolution - II (2009)
...

Haverá sempre o medo...


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Haverá sempre o medo...
Sempre ci sarà la paura...


Haverá sempre o medo 
e o escondido pranto 
no meu canto de amor.

Dos homens e da morte 
mais noite que auroras 
em verso e pensamento 
concebi. Nas crianças 
amei os olhos e o riso
o clamor sem ouvido
o medo, o medo, o medo.

Se a fantasia
aproximar de mim
a tua presença,
fica. A teu lado,
serei amante sem desejo: 
Pássaro sem asa. 
Submerso leito.
Sempre ci sarà la paura 
e il pianto latente
nel mio canto d’amore.

Sugli uomini e sulla morte
più notti che aurore 
nel verso e nel pensiero 
ho immaginato. Dei bimbi 
ho amato gli occhi e il riso
l’assordante cagnara
e la paura, sì la paura.

Se con la fantasia
saprò trarre a me
la tua presenza,
tu rimani. A te accanto,
sarò amante senza desiderio: 
Uccello senz’ali. 
Letto sommerso.
________________

Gianfranco Ferroni
Lettino (1984)
...

Haste pensativa e débil...


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Haste pensativa e débil...
Stelo pensieroso e debole...


Haste pensativa e débil
da rosa que tenho na memória.
Te pareces comigo na efêmera vontade
de ser mais vida e menos morte.
Só nos falta o amor. Grande. Sem mácula. 
O poema infinito para mim,
a eternidade para a tua rosa.
Stelo pensieroso e debole
della rosa che serbo nella memoria.
Tu m’assomigli nell’effimera volontà
d’esser più vita e meno morte.
Manca solo l’amore. Grande. Senza macchia. 
Poesia infinita per me,
eternità per la tua rosa.
________________

Annalaura Pretaroli
Ritratto di una rosa appassita (2020)
...

Me mataria em março...


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Me mataria em março...
Mi ammazzerei a marzo


Me mataria em março
se te assemelhasses
às cousas perecíveis.
Mas não. Foste quase exato:
doçura, mansidão, amor, amigo.

Me mataria em março
se não fosse a saudade de ti
e a incerteza de descanso.
Se só eu sobrevivesse quase nula,
inerte como o silêncio:
o verdadeiro silêncio de catedral vazia,
sem santo, sem altar. Só eu mesma.

E se não fosse verão,
e se não fosse o medo da sombra,
e o medo da campa na escuridão,
o medo de que por sobre mim
surgissem plantas e enterrassem
suas raízes nos meus dedos.

Me mataria em março
se o medo fosse amor.
Se março, junho.
Mi ammazzerei a marzo
se tu somigliassi
alle cose fuggevoli.
Ma no. Sei stato quasi perfetto:
soavità, mitezza, amore, amico.

Mi ammazzerei a marzo
se non fosse il rimpianto di te
e l’incertezza della quiete.
Se sopravvivessi solo io quasi inetta,
inerte come il silenzio:
il vero silenzio di cattedrale vuota,
senza santo, senza altare. Io sola e basta.

E se non fosse estate,
e se non fosse l’angoscia dell’ombra,
e l’angoscia della tomba nella tenebra,
l’angoscia che su di me
nascessero piante e interrassero
le loro radici tra le mie dita.

Mi ammazzerei a marzo
se l’angoscia fosse amore.
Se marzo, giugno.
________________

Emilio Vedova
Senza titolo (1942)
...

Estou viva


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Estou viva
Sono viva


Estou viva.
Mas a morte é música.
A vida, dissonância.
Minha alegria é como
fim de outono porque
tive nas mãos ainda flores
mas flores estriadas de sangue.

Há cristais coloridos
nos teus olhos.
Vida viva nos teus dedos.

Estou morta.
Mas a morte é amor.

Não fiz o crime dos filhos
mas sonhei bonecos quebrados
sonhei bonecos chorando.

Alguns dias mais
e serei música.
Serás ao meu lado
a nota dissonante.
Sono viva.
Ma la morte è musica.
La vita, dissonanza.
La mia gioia è come
un tardo autunno perché
avevo ancora fiori tra le mani
ma fiori striati di sangue.

Ci sono cristalli colorati
nei tuoi occhi.
Vita vivida tra le tue dita.

Io sono morta.
Ma la morte è amore.

Non ho commesso il crimine di far figli
ma ho sognato bambole rotte
ho sognato bambole piangenti.

Ancora qualche giorno
e sarò musica.
Accanto a me tu sarai
la nota dissonante.
________________

Franciscus Gijsbrechts
Vanitas (1672-1676)
...

Elogios de Hilda Hilst - III


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Elogios de Hilda Hilst - III
Elogio di Hilda Hilst - III


  Uma coisa é ser herói pela graça de Deus,
  outra é sê-lo pela sua própria luta
  Carta a Greco, Nikos Kazantzákis

Se o tropel do amor for de loucas patas
Que eu suba a montanha e me equilibre
No abismo. Porque é do mais alto que
Se pode ver o mundo. E respirar puro.
O que na vida é arremedo e passagem
Não me agrada. Que contente a outros
Que de si pouco esperam. Ou nada.

Aqui a tarde morre em rutilâncias tais
Que me embriago. De vinho e de palavras.
E foi o que o destino e exílio me deram:
Poder amar, do meu jeito, e meditar,
Esta ponte entre a beleza e o palpável.
  Un conto è esser eroi per grazia di Dio,
  un altro è esserlo per la propria causa
  Carta a Greco, Nikos Kazantzákis

Se scalpitasse l’amore al gran galoppo
Ch’io possa salire sul monte e bilanciarmi
Sull’abisso. Perché è dal culmine che
Si domina il mondo. E s’inspira profondo.
Ciò che nella vita è apparenza e passaggio
Non mi garba. Che accontenti altri
Che da sé poco s’aspettano. O nulla.

Qui la sera si spegne in rutilanze tali
Da inebriarmi. Di vino e di parole.
Ed è ciò che il destino e l’esilio m’han dato:
Poter amare, a modo mio, e meditare,
Questo ponte tra la bellezza e il tangibile.
________________

Ernst Ludwig Kirchner
Davos in estate (1925)
>

Elogios de Hilda Hilst - II


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Elogios de Hilda Hilst - II
Elogio di Hilda Hilst - II


Gosto do soluço do gargalo vertendo
uisque no copo. A flor do gelo.
O cheiro.
Um calor se espraia pelo mar do corpo. Ondas
de júbilo.
Baco é jubiloso.
Abre a larga ánfora do conforto e esconde as
nossas misérias. Distribui o riso.
E todos rimos.
Não um riso de adorno mas o que vem
lá de dentro. Do oco das vísceras.
O sorriso mais pleno. De ouro.
Do único animal que ri
e nenhum outro.
Amo il singulto del collo della bottiglia nel versare
whisky nel bicchiere. A fior del ghiaccio.
Il profumo.
Un calore s’espande per il mare del corpo. Onde
di gaudio.
Bacco è gaudioso.
Apre l’ampia anfora del conforto e nasconde le
nostre miserie. Distribuisce il riso.
E tutti ridiamo.
Non un riso decorativo ma quello che viene
da là dentro. Dall’incavo delle viscere.
Il sorriso più completo. D’oro.
Dell’unico animale che ride
e nessun altro.
________________

Umberto Boccioni
La risata (1911)

Elogios de Hilda Hilst - I


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Elogios de Hilda Hilst - I
Elogio di Hilda Hilst - I


Perpassa na brisa um leve sorriso
das coisas. Tudo parece contente
nesta manhã calma. Aérea.
Debaixo da figueira, na Casa do Sol,
onde permaneço forma-se uma bolha
de silêncio. Que ninguém vê.

Só eu também escuto as vozes
dos mortos chamando meu nome.

E nos olhos dos cães sempre percebo
a inquirição de Deus,
pois Ele também está nos seres mais
simples e em tudo Ele se oculta.
Minha casa e meu quintal são altares
onde ocorrem variados milagres,
e eu uma santa velha e desbocada
que se encanta bebe amaldiçoa e ri.
Aleggia nel vento il lieve sorriso
delle cose. Tutto appare contento
in questo calmo mattino. Aereo.
All’ombra del fico, nella Casa del Sole,
ove m’attardo si forma una bolla
di silenzio. Che nessuno vede.

Io sola però ascolto le voci
dei morti che chiamano il mio nome.

E negli occhi dei cani sempre avverto
lo sguardo inquisitore di Dio,
poiché Egli dimora anche negli esseri più
semplici e in tutto Egli s’occulta.
La mia casa e il mio giardino sono altari
ove avvengono diversi miracoli,
ed io una santa vecchia e sguaiata
che si esalta beve impreca e ride.
________________

Giacomo Balla
Dinamismo di un cane al guinzaglio (1912)

Ela escondia-o tão bem em si... 


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Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (ottobre 2022) »»
 
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Ela escondia-o tão bem em si...
Ella l’aveva nascosto così bene in sé...


Ela escondia-o tão bem em si,
Sem mãos e sem lábios,
Em ruas sem nome, portas sem número,
Que o rosto dele dispersou como pó
E é uma impossibilidade;
Ela escondia-o tão bem em si,
A ponto de a carne dele ser uma mentira
Que o corpo não bastava para desmentir.
Agora, atingido este conforto,
Verdade alguma o pode encontrar
E tudo acaba bem, com ela a esquecer
Que alguma vez o escondeu,
E ele mesmo esquecido de si.

Ella l’aveva nascosto così bene in sé,
Senza mani e senza labbra,
In strade senza nome, porte senza numero,
Che il volto di lui si disperse come polvere
Ed è un fatto impossibile;
Ella l’aveva nascosto così bene in sé,
Al punto da ridurre la carne di lui a una menzogna
Che il corpo non era in grado di smentire.
Adesso, raggiunto questo conforto,
Nessuna verità lo può riguardare
E tutto finisce bene, con lei dimentica
D’averlo mai nascosto,
E lui stesso immemore di sé.

________________

Isabel Ruiz Perdiguero
Carnale (2013)
...

Improviso para Frederico


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O tratador de canários (2010) »»
 
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Improviso para Frederico
Improvviso per Federico


Dentro do teu sonho - o violoncelo -
com seus graves e belos lamentos.
A música que Schopenhauer pensou
como a linguagem da vontade
na representação do mundo.
E que pulsava dentro da tua alma
sem que eu nada percebesse.
Ainda que fóssemos parecidos
na aparência e nos gestos,
pois quem te olhar caminhando
na rua, em qualquer rua,
e me conhecer um pouco,
saberá que caminho contigo,
no próprio passo do teu corpo.
Pai e filho, nesta vida,
estamos ligados por mil fios.
Eu quase nada sei,
mas fico pensando onde começamos,
em que livro improvável
tudo estaria escrito nos detalhes,
desde o início dos tempos.
Nas terras distantes dos teus avós,
com pessoas e línguas diferentes,
que nem posso imaginar completamente.
E que se estendem da Fenícia ao mar Tirreno,
dos áridos desertos às verdes planícies,
com seus ocasos de incêndio
e estranhas miragens.
E que os nosssos mortos viram,
onde por séculos viveram,
e geraram os filhos
e os folhos dos filhos dos filhos
de nossos ancestrais,
para que desses instantes sucessivos,
e desses seres longinquos,
sem que um só elo se perdesse,
eu fosse o teu pai, Frederico,
e fosses o meu único filho.
Dentro il tuo sogno - il violoncello -
coi suoi gravi e sublimi lamenti.
La musica che Schopenhauer considerò
come il linguaggio della volontà
nella rappresentazione del mondo.
E che pulsava dentro la tua anima
senza che io m’accorgessi di niente.
Benché fossimo somiglianti
nell’aspetto e nei gesti,
infatti chi ti osserva camminare
per la via, in una via qualunque,
e mi conosce un poco,
capirà che sto camminando con te,
nello stesso ritmo del tuo corpo.
Padre e figlio, in questa vita,
siamo legati da mille fili.
Io non ne so quasi nulla,
ma sto pensando a dove abbiamo cominciato,
in quale libro incredibile
tutto starebbe scritto nei dettagli,
fin dalla notte dei tempi.
Nelle terre distanti dei tuoi nonni,
con persone e lingue differenti,
che neanche posso immaginare interamente.
E che s’estendono dalla Fenicia al mar Tirreno,
dagli aridi deserti alle verdi pianure,
coi loro tramonti d’incendio
e con strani miraggi.
E che videro i nostri morti,
là dove per secoli vissero,
e generarono i figli
e i figli dei figli dei figli
dei nostri antenati,
affinché da quegli istanti successivi,
e da quelle creature lontane,
senza che alcun anello si perdesse,
io diventassi tuo padre, Federico,
e tu fossi il mio unico figlio.
________________

Oskar Kokoschka
Ritratto di Pablo Casals (1954)

Variação


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Altra traduzione:
Gastão Cruz »»
 
Existência (2017) »»
 
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Variação
Variazione


Depois da morte que realidade
é a de termos existido? Há

porventura um passado para a morte?
O que é ter existido quando o real

se moveu para o mundo seu contrário?
Vive ainda a linguagem

quando os órgãos da fala que produzem
o canto se perderam e os lábios

vivem só na memória de por eles
passarem as palavras?
Dopo la morte che realtà
è quella d’essere esistiti? C’è

per caso un passato per la morte?
Cos’è mai l’essere esistiti se ciò che è reale

s’è spostato verso un mondo al suo opposto?
Vive ancora il linguaggio

se gli organi fonatori che producono
il canto sono andati perduti e le labbra

vivono solo nella memoria d’esser servite
a far passare le parole?
________________

Fabio Viale
Souvenir David - 2 (2020)
...

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