À tua espera


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Ana Hatherly »»
 
A Neo-Penélope (2007) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


À tua espera
In attesa di te


Estou à tua espera
Estou sempre à espera
De esse outro
Que me consome
Que me enche de sonho
E controvérsia.

O outro é TU-EU
Paradoxal oximoro
Impossibilidade ansiosa.

Amar é uma tempestade de areia
Uma bruma vítrea.

Não menos que Penélope
Espero
Vagarosa e muda
Em minhas tarefas.
Sono in attesa di te
Sono sempre in attesa
Di quest’altro
Che mi consuma
Che mi riempie di sogni
E controversia.

L’altro è TU-IO
Paradossale ossimoro
Ansiosa impossibilità.

Amare è una tempesta di sabbia
Una vitrea foschia.

Non dissimile da Penelope
Attendo
Apatica e muta
Alle mie faccende.
________________

Ana Hatherly
Senza titolo (1971)
...

A silenciosa força das flores


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Ana Hatherly »»
 
A Neo-Penélope (2007) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


A silenciosa força das flores
La silenziosa forza dei fiori


A silenciosa força das flores
Emana de suas cores
Que são a sua voz
Os seus anúncios
O seu mosaico de intenções
E digressões
Vitais em seus prenúncios

Sua beleza
Sua inestimável fineza
Está
Em seu corpo a corpo com o desejo
Sua façanha é
Inspirar o beijo
Do errante visitante que as fecunda

Silentes
Apelam
Dando gritos de perfume
La silenziosa forza dei fiori
Emana dai loro colori
Che sono la loro voce
I loro annunci
Il loro mosaico d’intenzioni
E divagazioni
Vitali nei loro segnali

La loro bellezza
La loro inestimabile finezza
Sta
Nel loro corpo a corpo col desiderio
Il loro capolavoro è
Ispirare il bacio
Dell’errante visitatore che li feconda

Tacitamente
Richiamano
Levando grida di profumo
________________

Ana Hatherly
3 melagrani (1971)
...

Como nós


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Ana Hatherly »»
 
463 tisanas (2006) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Como nós
Come noi


Os livros estão sempre sós. Como nós.
Sofrem o terrível impacto do presente. Como nós.
Têm o dom de consolar, divertir, ferir, queimar.
  Como nós.
Calam a sua fúria com a sua farsa. Como nós.
Têm fachadas lisas ou não. Como nós.
Formosas, delirantes, horrorosas. Como nós.
Estão ali sendo entretanto. Como nós.
No limiar do esquecimento. Como nós.
Cheios de submissão ao serviço do impossível. Como nós.
I libri sono sempre soli. Come noi.
Soffrono per il terribile impatto col presente. Come noi.
Hanno il dono di consolare, divertire, ferire, bruciare.
 Come noi.
Fanno tacere la loro furia con la loro commedia. Come noi.
Hanno un aspetto semplice o meno. Come noi.
Magnifici, deliranti, spaventosi. Come noi.
Stanno lì ma operanti. Come noi.
Al limite dell’oblio. Come noi.
Del tutto sottomessi al servizio dell’impossibile. Come noi.
________________

Ana Hatherly
Senza titolo (1971)
...

Tisanas (346, 387, 404)


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Ana Hatherly »»
 
463 tisanas (2006) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Tisanas (346, 387, 404)
Tisane (346, 387, 404)


346
A noite deslumbrava tão grande era a cintilação do céu. Penso em ti. Quero escrever-te, enviar-te meus pensamentos, a tranquila diferença longe do meu corpo que explode na minha escrita levemente selvática. Mas depois desisto. - A renúncia ao desejo é o mais requintado gozo.
346
La notte abbagliava tanto era grande la luminescenza del cielo. Penso a te. Voglio scriverti, mandarti i miei pensieri, la tranquilla differenza lontano dal mio corpo che esplode nella mia scrittura lievemente selvaggia. Ma poi desisto. - La rinuncia al desiderio è il godimento più raffinato.

387
Estou triste e só. Ligo o rádio. Oiço duas das últimas Canções de Strauss. Sinto de uma maneira profunda a sua fluidez cromática, a sua riqueza orquestral. Os metais soam como vibrantes florestas. A voz da cantora é a de uma grande ave solitária. Sinto-me um lobo sem alcateia. Quando se está muito só o gemido transforma-se em uivo.

387
Sono triste e sola. Accendo la radio. Ascolto due degli Ultimi Lieder di Strauss. Sento profondamente la loro fluidità cromatica, la loro ricchezza orchestrale. Gli ottoni risuonano come vibranti foreste. La voce della cantante è quella d’un grande uccello solitario. Mi sento un lupo senza branco. Quando si sta molto soli il gemito si trasforma in ululato.

404
Quando eu era uma criança a minha avó levava-me a ver filmes de Buster Keaton, Harold Loyd e Chaplin. Nunca me levou a ver Branca de Neve. Foi um erro. Mas como haveria ela de saber que eu estava condenada a viver rodeada de anões?

404
Quando ero una bambina la mia nonna mi portava a vedere i film di Buster Keaton, Harold Loyd e Chaplin. Non mi portò mai a vedere Biancaneve. Fu un errore. Ma come avrebbe potuto sapere che io ero stata condannata a vivere circondata da nani?
________________

Ana Hatherly
Senza titolo (1972)
...

Visão (Nem céu nem terra...)


Nome :
 
Collezione :
Fonte :
 
Altra traduzione :
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (settembre 2021) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Visão (Nem céu nem terra...)
Visione (Né cielo, né terra...)


Nem céu nem terra, só mar e luz,
Como asseveravam os prospectos,
E a solidão alta de uma mulher
À beira-mar. Não pensa em nada.
Dentro dela, só este mar e esta luz.
No hotel, tudo ficou na perfeita ordem
De gavetas pacificas, do armário,
Felizes os postais já escritos,
Tudo perfeito nas escalas e proporções,
A compostura resistiu ao verde hiperbólico
Do pequeno país tropical
Com dupla personalidade.
Não pensa em nada disso a mulher à beira-mar.
A sua calma converge para uma harmonia
Histriónica, ocultando uma desordem unânime
A cuja vontade responde o mar,
Com correntes que puxam a mulher,
Areias que vão traindo a serenidade.
Nada resiste à vontade maior clamando do largo
No dorso de um instante, a mulher cai,
Levada na onda silenciária,
Reconhecendo na areia turbilhonante,
Negra, a matéria última de dias, noites,
Um túnel até ao seu próprio pensamento,
Longínquo, tão ao largo.
E, no interior da onda, no dorso do instante,
Percebe que talvez não tenha agradecido tudo
E a sua vida surge-lhe necessária, mas ausente,
Não há ninguém, ninguém que a resgate.
Então furando a onda, desce a mão,
A mão que a puxa para cima,
Para o céu, para a terra,
Para onde a sua vida a espera,
De pé, à beira-mar.
Enquanto recobra o fôlego,
A mulher procura um rosto.
A quem agradecer a mão:
Olha à volta e não há ninguém.

Né cielo, né terra, solo mare e luce,
Come garantivano i prospetti,
E la somma solitudine d’una donna
In riva al mare. Non pensa a nulla.
Dentro di lei, solo questo mare e questa luce.
In hotel, tutto è rimasto nel perfetto ordine
Dei cassetti pacifici, dell’armadio,
Delle liete cartoline già scritte,
Tutto perfetto nelle misure e nelle proporzioni,
La compostezza ha resistito al verde iperbolico
Del piccolo paese tropicale
Dalla doppia personalità.
Non pensa a nulla di tutto ciò la donna in riva al mare.
La sua calma converge verso un’armonia
Istrionica, occultando un disordine unanime
Alla cui volontà risponde il mare,
Con correnti che attraggono la donna,
Sabbie che tradiscono la serenità.
Nulla resiste alla volontà superiore che dal largo mugghia
Sul dorso dell’istante, la donna cade,
Portata dall’onda silenziaria,
Riconoscendo nella sabbia vorticante,
Nera, la materia ultima dei giorni, delle notti,
Un tunnel fino al suo stesso pensiero,
Lontano, così al largo.
E, all’interno dell’onda, sul dorso dell’istante,
Avverte di non aver forse ringraziato per tutto
E la sua vita le appare necessaria, ma assente,
Non c’è nessuno, nessuno che la riscatti.
Ecco che forando l’onda, abbassa la mano,
La mano che l’attira verso l’alto,
Verso il cielo, verso la terra,
Verso dove la sua vita l’aspetta,
In piedi, in riva al mare.
Mentre riprende fiato,
La donna cerca un volto.
Qualcuno a cui tendere la mano:
Si guarda in giro e non c’è nessuno. 

________________

Pierre Cécile Puvis de Chavannes
Donna in riva al mare (1887)
...

Tisanas (237 à 243)


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Ana Hatherly »»
 
463 tisanas (2006) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Tisanas (237 à 243)
Tisane (da 237 a 243)


237
Parcialmente, a santidade consiste na capacidade de praticar transgressões bem orientadas. Por exemplo: matando em nós os fantasmas tutelares. Sem ternura. É assim que se atinge a múltipla orfandade.
237
In parte, la santità consiste nella capacità di commettere trasgressioni ben mirate. Per esempio: uccidendo in noi i fantasmi tutelari. Senza cedevolezza. È così che si raggiunge la multipla orfanità.

238
O que pensará uma formiga ao ser contemplada por uma mosca poisada na parede? Quanto mais se pensa no sofrimento mais se compreende que tudo é devido a um incomensurável não-saber.

238
Che cosa penserà una formica nell’essere osservata da una mosca posata sulla parete? Quanto più si pensa alla sofferenza, più si comprende che tutto è dovuto a un’incommensurabile non-sapere.

239
Tudo está aqui para alguma coisa, para desempenhar um papel, uma missão, pensamos utilitariamente. Eu, gosto das portas. A porta entreaberta, por exemplo: irá fechar-se? irá abrir-se? dar passagem? Oh subtil porta que tão indiferentemente abres-fechas: nem sei se olho para dentro ou de dentro.

239
Tutto sta qui per qualche motivo, per svolgere un compito, una missione, noi pensiamo in termini di utilitarismo. A me piacciono le porte. Una porta socchiusa, per esempio: si chiuderà? si aprirà? lascerà passare? O porta sottile, che così indifferentemente t’apri o ti chiudi: non so neppure se sto guardando verso l’interno o dall’interno.

240
Os livros quando são lidos por leitores apaixonados, alegres soltam suas folhas coloridas pelos ares da mente, guardião involuntário em todas as ocasiões. Este é um discurso cuja antiguidade reconstituo ludicamente enquanto escondo a ferida do tempo.


240
I libri, quando sono letti da lettori appassionati, con gioia sciolgono le loro pagine colorate ai respiri dell’intelletto, involontario guardiano in tutte le occasioni. Questa è una riflessione la cui inattualità rievoco per gioco mentre nascondo le ferite del tempo.


241
Era uma vez uma pessoa que andava sempre com uma palavra debaixo da língua. Quando a tinha na ponta falava, dando pequenos estalos de prazer. Depois lambia os beiços gulosamente. Estamos aqui à espera de quê? Imagina-acção.

241
C’era una volta un tale che teneva sempre una parola sotto la lingua. Quando gli arrivava sulla punta parlava, dando piccoli schiocchi di piacere. Poi si leccava le labbra con golosità. Stiamo qui in attesa di che? Immagina-azione.

242
Vou de comboio. Penso no terror que nos habita, que nos segue como imensa ignorada cauda. Chegando à estação vejo o meu rosto reflectido no vidro da janela. Olho fixamente o meu próprio rosto.

242
Sto viaggiando in treno. Penso al terrore che ci abita, che ci segue come un’immensa incognita coda. Arrivando alla stazione, vedo il mio viso riflesso nel vetro del finestrino. Osservo fissamente il mio stesso viso.

243
Ia pela rua fora, como de costume, quando vejo uma porta entreaberta que dava para um corredor muito comprido. Entro. No fundo há uma porta fechada. Bato à porta. Uma voz pergunta: quem é? Sou eu, digo. Eu quem? respondem. E não abrem a porta.


243
Me ne andavo per la strada, come al solito, quando vedo una porta socchiusa che dà su un corridoio molto lungo. Entro. In fondo c’è una porta chiusa. Busso alla porta. Una voce chiede: chi è? Sono io, dico. Io chi? rispondono. E non aprono la porta.

________________

Ana Hatherly
Città (1971)
...

Tisanas (80, 103, 205, 231)


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Ana Hatherly »»
 
463 tisanas (2006) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Tisanas (80, 103, 205, 231)
Tisane (80, 103, 205, 231)


80
Era uma vez uma história tão impressionante que quando alguém a lia o livro começava a transpirar pelas folhas. Se o leitor fosse muito bom o livro soltava mesmo algumas pequeninas gotas redondas de sangue.
80
C’era una volta una storia tanto impressionante che quando qualcuno la leggeva il libro cominciava a sudare dalle pagine. Se il lettore era molto abile il libro trasudava persino alcune tonde goccioline di sangue.

103
Sento-me e escrevo. É a minha tisana matinal. Penso no acto de escrever. O real é uma retrospectiva: registar recolher nomear esquecer. A mão obedece é uma bobina de seis pontas quando escreve. Esse é o mundo natural do escritor.

103
Mi siedo e scrivo. È la mia tisana del mattino. Penso all’atto di scrivere. Il reale è una retrospettiva: registrare raccogliere menzionare dimenticare. La mano ubbidisce è una bobina a sei punte quando scrive. Questo è il mondo naturale dello scrittore.

205
Era uma vez um gato preto com uns olhos tão verdes que quando passeava pelo bosque dir-se-ia que era uma sombra em que se tinham aberto dois buracos para se poder ver a verdura do verde.

205
C’era una volta un gatto nero con degli occhi così verdi che quando passeggiava per il bosco si sarebbe detto che era un’ombra in cui s’erano aperti due buchi perché si potesse vedere il verdeggiare del verde.

231
Dizem alguns: Só aos artistas deveria ser permitido falar acerca da obra de arte. Com efeito, só eles conhecem a desordem, os crimes que ela reclama. Mas tudo são clausuras e a obra deve falar por si.


231
Certi dicono: Solamente agli artisti dovrebbe essere consentito di parlare dell’opera d’arte. Infatti, solo loro conoscono il subbuglio, i crimini che essa reclama. Ma sono tutte clausure e l’opera deve parlare per se stessa.

________________

Ana Hatherly
Senza titolo (1971)
...

Tisanas (17, 72, 112, 126)


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Ana Hatherly »»
 
463 tisanas (2006) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Tisanas (17, 72, 112, 126)
Tisane (17, 72, 112, 126)


17
Era uma vez uma chave que vivia no bolso de um homem. Durante muito tempo desempenhou com honestidade o seu trabalho de abrir portas. Até que um dia descobriu que todo o seu trabalho tinha consistido sempre em abrir portas que já estavam abertas. Quando descobriu isso lançou-se corajosamente para fora do bolso. Caiu no chao. Ficou ali. Passa uma criança vè a chave e diz que coisa tào engraçada
17
C’era una volta una chiave che viveva nella tasca di un uomo. Per molto tempo svolse con onestà il suo lavoro di aprire porte. Finché un giorno scoprì che tutto il suo lavoro era sempre consistito nell’aprire porte già aperte. Quando lo scoprì si gettò coraggiosamente fuori dalla tasca. Cadde a terra. E lì rimase. Ecco che passa un bambino vede la chiave e dice ma che cosa buffa per farci una macchinina.

72
Era uma vez uma ausencia que andava em missào de viagem. Quando chegava a uma encruzilhada dava tres voltas sobre si própria para perder por completo a noçào do caminho por onde viera atingindo assim com regularidade as regioes efémeras do esquecimento. Depois regressava a casa.

72
C’era una volta un’assenza che andava in viaggio di lavoro. Quando giungeva ad un incrocio faceva tre giri su se stessa per perdere completamente la nozione del cammino da cui era arrivato raggiungendo così con regolarità le effimere regioni dell’oblio. Poi ritornava a casa.

112
E de noite. Deito-me no chao e penso no meu corpo. Estou no meu corpo a seu lado. Estou do seu lado. Interrogo que queres. Querer é a lei da boca.

112
E di notte. Mi sdraio a terra e penso al mio corpo. Sto nel mio corpo al suo fianco. Sto al suo fianco. Domando che cosa vuoi. Volere è la legge della bocca.

126
O autor e o leitor: estamos no limiar do prazer. Um de cada lado como anfitrioes esperando tensos. Vivemos a problemática do segredo - se for divulgado deixa de existir se nào for torna-se um horrível tormento. Alguns mestres dizem que o próprio do prazer é nào poder ser dito.


126
L’autore e il lettore: stiamo sulla soglia del piacere. Ciascuno dalla sua parte come anfitrioni in trepidante attesa. Viviamo la problematica del segreto - se è divulgato cessa d’esistere se non lo è diventa un orribile tormento. Alcuni maestri dicono che l’essenza del piacere sta nel non poter esser detto.

________________

Ana Hatherly
I misteri della mente (1971)
...

Utopias privadas


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Ana Hatherly »»
 
O Pavão Negro (2003) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Utopias privadas
Utopie private


Utopias privadas
as palavras
são micro-horizontes
revelação
de um deserto-oceano
que nos enche
de um vazio sem fundo

Embalados por palavras
escutamos
em imagens-falas
o atrevimento do amor
que nos move
 comove
  estrangula

Enlouquecidos pela dor
cobrimo-nos com o barro das palavras
Utopie private
le parole
sono micro-orizzonti
rivelazione
di un deserto-oceano
che ci riempie
di un vuoto senza fondo

Cullati dalle parole
ascoltiamo
in immagini-discorso
l’impulsività dell’amore
che ci muove
 commuove
  strangola

Impazziti per il dolore
ci copriamo con l’argilla delle parole
________________

Ana Hatherly
Escuta o conto profano (1998)
...

Um rio de luzes


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Ana Hatherly »»
 
O Pavão Negro (2003) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Um rio de luzes
Un fiume di luci


Um rio de escondidas luzes
atravessa a invenção da voz:
avança lentamente
mas de repente
irrompe fulminante
saindo-nos da boca

No espantoso momento
do agora da fala
é uma torrente enorme
um mar que se abre
na nossa garganta

Nesse rio
as palavras sobrevoam
as abruptas margens do sentido
Un fiume di luci nascoste
attraversa l’invenzione della voce:
avanza lentamente
ma improvvisamente
irrompe fulminante
sfuggendoci dalla bocca

Nel portentoso momento
del presente della parola
c’è un torrente enorme
un mare che si apre
nella nostra gola

In questo fiume
le parole sorvolano
le ripide sponde del senso
________________

Ana Hatherly
Senza titolo (1974)
...

É evidente...


Nome :
 
Collezione :
Fonte :
 
Altra traduzione :
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (settembre 2021) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


É evidente...
È evidente...


É evidente, há coisas que não se podem dizer
Para não detonar inconveniências,
Cidades em que é preciso não tropeçar,
Esconder quadros com formas proibidas
Não pelo que se vê, mas pelos olhos que os viram
Sobretudo, muitos pensamentos barbitúricos,
Países que importa não deixar adivinhar
Debaixo de janelas que, para todos os efeitos,
Esgotaram todos os dias e noites.
É evidente, decretar que a abundância da terra
Se reduza a cinzas contritas,
Ouvir-te dizer que não queres, não podes
Saber mais nada de mim
E, depois, essa calmaria sem tempestade,
A calmaria sem ser por nada,
Um restolhar de putrescência
Lá onde não resta alma alguma
Ou, então, o secreto relevo do choro,
A sua orografia na respiração,
O seu súbito rapto por falta de ar.
Tudo muito bonito, até esta tristeza jogral,
Vagamente absurda e que dizes sem objecto.
Veremos, veremos se resulta,
Veremos se alguém escapa
Ao cerco de quanto cala
Ou se alguma traição guiará
Palavras incendiárias por uma poterna do coração.

È evidente, ci sono delle cose che non si possono dire
Per non scatenare discordie,
Città in cui è meglio non imbattersi,
Quadri con forme proibite che vanno nascosti
Non per ciò che si vede, ma per gli occhi che li han visti
Soprattutto, molti pensieri barbiturici,
Paesi il cui nome è importante non lasciarsi sfuggire
Dietro porte che, in ogni caso,
Hanno spifferato tutti i giorni e le notti.
È evidente, decretare che l'abbondanza della terra
Si riduca a ceneri contrite,
Sentirti dire che non puoi, che non vuoi più
Sapere niente di me
E, poi, questa calma senza tempesta,
Questa calma immotivata,
Un gorgogliare di putrescenza
Là dove non rimane più anima alcuna
Neppure il segreto rilievo del pianto,
La sua orografia nel respiro,
Il suo repentino raptus per mancanza d’aria.
Tutto molto bello, persino questa tristezza buffonesca,
Vagamente assurda e, come si dice, senza oggetto.
Vedremo, vedremo se finirà così,
Vedremo se qualcuno sfuggirà
All’assedio di quanto passa sotto silenzio
O se qualche tradimento guiderà
Parole incendiarie dentro un cunicolo del cuore.

________________

Karl Schmidt-Rottluff
La svolta nella diga (1910)
...

Quando penso...


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Ana Hatherly »»
 
O Pavão Negro (2003) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Quando penso...
Quando penso...


Quando penso
cai a neve em mim
com uma lentidão sobrenatural
 
Não bate leve
como quem chama por mim:
Não bate
não chama
nem sequer cai
 
Paira
suspensa do tecido da matéria
onde só a luz cria o espaço
 
Mas sem luz não há espaço
e devorada por uma réstea de sol
imagino o meu pequeno vulto
lutando com o infinito desacerto-acerto
 
Quando penso
no meu peito estremece
a oferenda íntima
duma fractura oculta
Quando penso
cade la neve in me
con una lentezza soprannaturale

Non bussa lieve
come chi chiede di me:
Non bussa
non chiede
neppur cade

Fluttua
appesa al tessuto della materia
ove solo la luce crea lo spazio

Ma senza luce non v’è spazio
e colpita da una lama di sole
immagino la mia piccola figura
in lotta con l’infinito disaccordo-accordo

Quando penso
nel mio petto freme
l’intima offerta
d’una frattura occulta
________________

Ana Hatherly
Sem titulo (1975)
...

Pensar é encher-se de tristeza...


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Ana Hatherly »»
 
O Pavão Negro (2003) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Pensar é encher-se de tristeza...
Pensare è colmarsi di tristezza...


To think is to be full of sorrow
Keats, Ode to a nightgale

Pensar é encher-se de tristeza
e quando penso
não em ti
mas em tudo
sofro

Dantes eu vivia só
agora vivo rodeada de palavras
que eu cultivo
no meu jardim de penas

Eu sigo-as
e elas seguem-me:
são o exigente cortejo
que me persegue

Em toda a parte
ouço seu imenso clamor
To think is to be full of sorrow
Keats, Ode to a nightgale

Pensare è colmarsi di tristezza
e quando penso
non a te
ma a tutto
soffro

Un tempo io vivevo sola
ora vivo attorniata di parole
che io coltivo
nel mio giardino di dolore

Io le seguo
e loro seguono me:
sono l’esigente corteo
che mi tormenta

Ovunque
sento il loro immenso clamore
________________

Ana Hatherly
Senza titolo (1996)
...

Os gumes da palavra


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Ana Hatherly »»
 
O Pavão Negro (2003) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Os gumes da palavra
Le lame della parola


A fala
dá a conhecer
o ardor da palavra
o frio fio de seus gumes

A palavra percorre o ar
entra em nosso peito docemente
ou então agudamente
ferindo
agredindo
destruindo tudo

A palavra é
uma vertigem de espuma
mas quando quer
penetra a fractura íntima do sentir
desvenda o imenso mal
o puro escândalo de existir.
L’eloquio
fa comprendere
l’impeto della parola
il freddo filo delle sue lame

La parola percorre l’aria
entra nel nostro petto dolcemente
oppure penetrante
ferendo
aggredendo
distruggendo tutto

La parola è
una vertigine di spuma
ma quando vuole
trapassa l’intima fenditura del sentire
rivela l’immenso male
il puro scandalo d’esistere.
________________

Ana Hatherly
Pax (1987)
...

As raízes...


Nome :
 
Collezione :
Fonte :
 
Altra traduzione :
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (settembre 2021) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


As raízes...
Le radici...


As raízes tornaram-se tão aéreas
Como a folhagem
E tu és agora uma das Mães.
Erro de túnel em túnel,
As vísceras da terra,
E cada escuridão é apenas o umbral
De uma outra ainda mais profunda.
Procuro-te - se não te encontro
É porque não sentes a minha falta.

Le radici si son fatte aeree
Quanto il fogliame
E tu ora sei una delle Madri.
Vago di tunnel in tunnel,
Nelle viscere della terra,
Ed ogni oscurità non è che la soglia
Di un’altra ancora più profonda.
Vado in cerca di te - se non ti trovo
È perché tu non senti la mia mancanza.

________________

Sylvie Loeb
Arbre - 19 (2010)
...

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (433) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (11) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)