Solidão


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Pedro, lembrando Inês (2001) »»
 
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Solidão
Solitudine


Um mar rodeia o mundo de quem está só. É
o mar sem ondas do fim do mundo. A sua água
é negra; o seu horizonte não existe. Desenho
os contornos desse mar com um lápis de
névoa. Apago, sobre a sua superfície, todos
os pássaros. Vejo-os abrigarem-se da borracha
nas grutas do litoral: as aves assustadas da
solidão. «É um mundo impenetrável», diz
quem está só. Senta-se na margem, olhando
o seu caso. Nada mais existe para além dele, até
esse branco amanhecer que o obriga a lembrar-se
que está vivo. Então, espera que a maré suba,
nesse mar sem marés, para tomar uma decisão.

Un mare cinge il mondo di chi sta solo. È
il mare senza onde della fine del mondo. È nera
la sua acqua; non esiste orizzonte. Disegno
i contorni di questo mare con una matita di
nebbia. Cancello dalla sua superficie tutti
gli uccelli. Li vedo cercar riparo dalla gomma
nelle grotte del litorale: gli uccelli atterriti dalla
solitudine. “È un mondo impenetrabile”, dice
chi sta solo. Si siede al margine, pensando
alla propria sorte. Nulla più esiste al di là di questo,
neppure questo bianco albeggiare che lo obbliga a ricordarsi
d’esser vivo. Frattanto, aspetta che salga la marea,
in questo mare senza maree, per prendere una decisione.


________________

Gino Marotta
Alluminio (1957)
...

A infância vem da eternidade...


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Poesia liberdade (1947) »»
 
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A infância vem da eternidade...
L’infanzia viene dall’eternità...


A infância vem da eternidade.
Depois só a morte magnífica
- Destruição da mordaça:
E talvez já a tivesses entrevisto
Quando brincavas com o pião
Ou quando desmontaste o besouro.

Entre duas eternidades
Balançam-se espantosas
Fome de amor e a música:
Rude doçura,
Última passagem livre.

Só vemos o céu pelo avesso.
L’infanzia viene dall’eternità.
Dopo solo la morte magnifica
Distruzione dei bavagli:
E forse tu già l’avevi intravista
Quando giocavi con la trottola
O quando hai sezionato lo scarabeo.

Tra due eternità
Oscillano splendide
La brama d’amore e la musica:
Grezza dolcezza,
Ultimo passaggio libero.

Solo all’inverso noi vediamo il cielo.
________________

Juan Gris
Chitarra e clarinetto (1920)

Eu fecho os olhos e vejo a casa...


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Percurso da Ausência (2006) »»
 
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Eu fecho os olhos e vejo a casa...
Io chiudo gli occhi e vedo la casa...


  Provera que eu, nesta casa, não entrasse,
  Feita que é, toda ela, de prestígio e solidão.
  Dantas Mota “Elegias do País das Gerais”

Eu fecho os olhos e vejo a casa
suspensa no ar feito um navio.
Ancorada na memória ela flutua,
quase sem náusea, ruído ou marulho.
Na horta o luar ainda ilumina as couves,
os pés de funchos, desde minha avó.
Cortadas as amarras elétricas, os telefones,
esta é uma nave escura e silenciosa.
Empreenderá uma longa viagem,
ou somente se apressa para o naufrágio?

Não espanaram o pó das cadeiras,
nem estenderam toalhas na sala,
e mesmo assim os filhos se reúnem,
no exato lugar onde a velaram:
Testamento, partilha e espólio.
Então, é preciso inventariar tudo:
o quanto de lágrimas vertidas,
a agonia e as ampolas de morfina,
os bens móveis e os bens imóveis,
o guarda-roupas e as poucas jóias.

Mas no cofre nada procurem.
Embora preciosas, só cartas e lembranças.
Porque esta é a ironia das exéquias,
e a impropriedade dos inventários:
o bem mais valioso quem o herda?
Quem acumulou mais ternura ou discórdia?
Da partilha, a mim, coube a dor mais funda,
e o sentido da privação e do mistério.
Das vigias tristes deste navio,
me observa uma lua opaca.

Desço as escadas pensativo,
e visito a coleção inusitada das coisas,
que durante a vida minha mãe recolheu:
retratos dos filhos, dos pais, dos avós,
aprisionados em velhas molduras;
tachos, santos, troféus, baús,
um moedor de café, um grande tijolo
com a data gravada: 1885.
E a presença dela se fragmenta
em perdidas ressonâncias de museu.

No jardim inventario as rosas,
as dálias, violetas e orquídeas,
as dezenas de jarros floridos.
Os pés delicados de lírios,
cuidados com tanto carinho.
Mas as mãos dela sumiram,
esquecidas de pétalas e raízes.
E pouco a pouco os canteiros,
ficarão também esquecidos,
pois tudo é esquecimento e olvido.

  Meglio che io, in questa casa, non entrassi,
  Fatta com’è, tutta d’incanto e solitudine.
  Dantas Mota “Elegias do País das Gerais”

Io chiudo gli occhi e vedo la casa
sospesa in aria come una nave.
Ancorata alla memoria fluttua,
quasi senza nausea, rumore o sciabordio.
Nell’orto il chiar di luna illumina i cavoli,
le piante di finocchi, dai tempi di mia nonna.
Tagliati gli allacci elettrici, i telefoni,
questa è una nave scura e silenziosa.
S’accinge ad affrontare un lungo viaggio,
o s’affretta soltanto verso il naufragio?

Non han tolto la polvere dalle sedie,
né hanno steso tovaglie nella sala,
malgrado ciò i figli si riuniscono,
nel posto stesso in cui la vegliarono:
Testamento, spartizione e spoglio.
Dunque, bisogna inventariare tutto:
la quantità di lacrime versate,
l’agonia e le fiale di morfina,
i beni mobili e i beni immobili,
il guardaroba e i pochi gioielli.

Ma nel forziere non cercate nulla.
Benché preziose, solo lettere e ricordi.
Perché questa è l’ironia delle esequie,
e l’imprecisione degli inventari:
il bene più prezioso chi l’eredita?
Chi ha accumulato più tenerezza o discordia?
Della spartizione, a me, spetta il dolore più profondo,
e la sensazione di privazione e di mistero.
Dai tristi oblò di questa nave,
mi osserva una luna opaca.

Scendo le scale pensieroso,
e visito l’inconsueta collezione delle cose,
che mia madre ha raccolto in vita:
ritratti dei figli, dei genitori, dei nonni,
imprigionati in vecchie cornici;
vasi, santi, trofei, bauli,
un macinacaffè, un grande mattone
con la data incisa: 1885.
E la sua presenza si frammenta
in perdute risonanze da museo.

In giardino inventario le rose,
le dalie, le violette e le orchidee,
le decine di vasi fioriti.
Le delicate piantine di giglio,
curate con tante premure.
Ma le sue mani sparirono,
dimentiche di petali e radici.
E a poco a poco le aiuole,
verranno a loro volta scordate,
perché tutto è dimenticanza e oblio.

________________

Carl Vilhelm Holsoe
Interno con giardino (1920)
...

Religião


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Religião
Religione


  If I were called in
  to construct a religion
  I should make use of water
  (Philip Larkin, ‘Water’)

Inaugurar uma religião
adorar os pontos em que se formam
as estações do ano
os gestos de desnudar-se
o dia depois da chuva
a distância: entre uma árvore e outra árvore
entre cidades com o mesmo nome
em diferentes continentes.
Criar relíquias:
os táxis ao entardecer, as colheres
brilhando ao sol, toda tecnologia
tornada obsoleta
esboços de mãos e pés
de pintores antigos
as presas ensanguentadas
que nos trazem os gatos.
E ainda outras, íntimas, insensatas
a luz nos seus cabelos
fotografias de parentes
que não sabemos quem são.
Adotar novas bíblias:
longos romances inacabados
palavras lidas sobre os ombros
de alguém no metrô
poemas clássicos traduzidos
por tradutores automáticos.
Reconhecer enfim o divórcio
como um sacramento.
Na liturgia
tocar como partituras
os mapas das cidades.
E no Natal
só celebrar o que nasce
do sexo
para morrer
de fato.

Porque um barco volta a ser madeira
e mesmo uma casa volta a ser pedra
porque as coisas tecidas um dia se destecem
porque não é eterno o amor entre as coisas
porque mesmo o vidro mesmo o metal
perecerão
os seus olhos lentos a sua carne violenta
a eletricidade do seu pensamento
seu pequeno sorriso mesmo quando você se esforça
para disfarçar sua alegria
perecerão
restará a cinza dos seus caprichos
as coisas tolas sobre você
de que se lembrarão
seus conhecidos mais jovens
aqueles que nunca foram a sua casa
aqueles que não conheceram os seus avós
aqueles que não dividiram com você a sua cama
aqueles que mal leram os seus poemas…
  If I were called in
  to construct a religion
  I should make use of water
  (Philip Larkin, ‘Water’)

Inaugurare una religione
adorare i punti in cui si formano
le stagioni dell’anno
le mosse del denudarsi
il giorno dopo la pioggia
la distanza: tra un albero e un altro albero
tra città con lo stesso nome
in continenti diversi.
Concepire reliquie:
i taxi verso sera, i cucchiai
che brillano al sole, tutta la tecnologia
fattasi obsoleta
bozzetti di mani e piedi
di pittori antichi
le prede insanguinate
che ci portano i gatti.
E anche altre, intime, insensate
la luce nei tuoi capelli
fotografie di parenti
che non sappiamo chi sono.
Adottare nuove bibbie:
lunghi romanzi incompiuti
parole lette sopra le spalle
di qualcuno sulla metro
poemi classici tradotti
da traduttori automatici.
Riconoscere infine il divorzio
come un sacramento.
Nella liturgia
suonare come partiture
le piante delle città.
E a Natale
celebrare solo ciò che nasce
dal sesso
per morire
sul serio.

Perché una barca tornerà ad esser legno
e persino una casa tornerà ad esser pietra
perché le cose tessute un giorno si sbroglieranno
perché non è eterno l’amore tra le cose
perché anche il vetro anche il metallo
periranno
i tuoi occhi pigri la tua carne violenta
l’elettricità del tuo pensiero
quel tuo sorrisetto proprio quando ti sforzi
di dissimulare la tua gioia
periranno
resterà la cenere dei tuoi capricci
le cose folli su di te
di cui si ricorderanno
i tuoi conoscenti più giovani
quelli che non sono mai venuti a casa tua
quelli che non hanno conosciuto i tuoi nonni
quelli che non hanno condiviso con te il tuo letto
quelli che a stento hanno letto le tue poesie…
________________

Igor Mitoraj
Eros Bendato (1999)
...

Pequeno léxico


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Pequeno léxico
Piccolo lessico


A melancolia espalha a sua bruma
Melosa, melómana,
Fica a ouvir as vértebras
De uma mesma palavra.
Ambos dissemos amor,
Mas eram palavras diferentes,
Não aceitavam ser uma pela outra
Apontavam sentidos diversos
E cada uma queria regressar
À sua própria língua
Levando a outra por troféu.

La malinconia spande la sua bruma
Mielosa, melomane,
E resta all’ascolto delle vertebre
D’una stessa parola.
Tu ed io abbiamo detto amore,
Ma erano parole differenti,
Non accettavano d’essere intercambiabili
Si riferivano a sentimenti diversi
E ciascuna voleva ritornare
Alla propria lingua
Portando l’altra come trofeo.

________________

Pablo Picasso
Coppia in un caffè (1903)
...

Prosa


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Prosa
Prosa


Num evento literário
a romancista conta
que tinha sido casada com um poeta
eu passava anos trabalhando num livro
ela diz
todo o tempo
muitas horas por dia
pensava nisso
o dia inteiro
falava nisso
quase o tempo todo
fizemos juntos uma viagem
curta
ela diz
ele tinha um livro

Num ensaio sobre Marina Tsvetáieva
Joseph Brodsky diz
que ninguém sabe o que perde a poesia
quando um poeta se volta para a prosa
mas é certo que a prosa
ganha muito

Afinal a poesia
― a imagem também é de Brodsky - é aviação
e a prosa, infantaria

Numa entrevista
João Cabral de Melo Neto diz
que a poesia tem alguma coisa de laboratório
― é como se a literatura fosse uma fábrica ― ele diz
― que produz romances, contos, ensaios
mas tem um laboratório onde se faz pesquisa
para todas essas coisas ― esse laboratório
é a poesia

Na livraria
quando pergunto
sobre a estante de poesia
o livreiro aponta
e diz
os livros de poemas ficam ali
perto do chão

Tudo isso foi dito
em prosa
In un evento letterario
la romanziera racconta
d’essere stata sposata con un poeta
io passavo degli anni lavorando ad un libro
dice lei
tutto il tempo
molte ore al giorno
ci pensavo
tutta la giornata
ne parlavo
quasi di continuo
abbiamo fatto insieme un viaggio
corto
dice lei
e lui aveva un libro

In un saggio su Marina Cvetaeva
Joseph Brodsky dice
che nessuno sa quanto perde la poesia
quando un poeta si converte alla prosa
ma è certo che la prosa
ci guadagna molto

In definitiva la poesia
― anche questa immagine è di Brodsky - è aviazione
e la prosa, fanteria

In un’intervista
João Cabral de Melo Neto dice
che la poesia ha un che di laboratorio
― è come se la letteratura fosse una fabbrica ― dice
― che produce romanzi, racconti, saggi
ma ha un laboratorio in cui si fa ricerca
per tutte queste cose ― questo laboratorio
è la poesia

In una libreria
quando domando
dove sia lo scaffale della poesia
il libraio indica
e dice
i libri di poesie si trovano lì
vicino al suolo

Tutto questo è stato detto
in prosa
________________

Enrico Baj
Tubi di tutti i motori (2003)
...

História


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História
Storia


Tenho 39 anos.
Meus dentes têm cerca de 7 anos a menos.
Meus seios têm cerca de 12 anos a menos.
Bem mais recentes são meus cabelos
e minhas unhas.
Pela manhã como um pão.
Ele tem uma história de 2 dias.
Ao sair do meu apartamento,
que tem cerca de 40 anos,
vestindo uma calça jeans de 4 anos
e uma camiseta de não mais do que 3,
troco com meu vizinho
palavras
de cerca de 800 anos
e piso sem querer numa poça
com 2 horas de história
desfazendo
uma imagem
que viveu
alguns segundos.
Ho 39 anni.
I miei denti hanno circa 7 anni di meno.
I miei seni hanno circa 12 anni di meno.
Assai più recenti sono i miei capelli
e le unghie.
La mattina mangio un panino,
che ha una storia di 2 giorni.
Uscendo dal mio appartamento,
che ha circa 40 anni,
vestita con un paio di jeans di 4 anni
e una camicetta di non più di 3,
scambio col mio vicino
parole
di circa 800 anni
e senza volere finisco in una pozzanghera
con 2 ore di storia
dissolvendo
un’immagine
che ha vissuto
pochi secondi.
________________

Ugo Nespolo
Account (1988)
...

Deixo-me cair...


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Deixo-me cair...
Mi lascio cadere...


Deixo-me cair. Chove.
A mágoa tenta ser demasiada,
A resignação, voz velha e sábia,
Procura confortar-me
Com todos os exemplos que vai tirando do baú.
As ilusões estouram, o coração pode menos,
Sempre um pouco menos, coberto de goteiras,
É possível que tantas impossibilidades
Acabem por vencer
E façam vingar a sua lei.
Talvez nas veias da tragédia
O sangue seja de farsa chocarreira.
Que, então, tudo se desminta, se deslace,
Que nunca tenhamos merecido
Com lágrimas fundar amor,
Que o ridículo não se apiede de nós.
Uma razão qualquer argumenta
Que um homem também se alimenta de pontapés.
Deixo-me cair, mas, então, ao principio muito longe,
Depois cada vez mais perto,
Com forças maiores e maiores,
Há uma voz que soa límpida
E que pelos caminhos distribui a abundância
Equivoca um “talvez não, talvez não”
Até que em mim há espaço
Para de pé repetir: talvez não, talvez não.

Mi lascio cadere. Piove.
Il tormento si sta spingendo all’eccesso,
La rassegnazione, vecchia e saggia voce,
Cerca di darmi conforto
Con tutti gli esempi che riesce a estrarre dal baule.
Esplodono le illusioni, il cuore ha meno vigore,
Sempre un po’ meno, coperto di goccioline,
È probabile che tante impossibilità
Finiscano per prevalere
E facciano vincere la propria legge.
Forse nelle vene della tragedia
Scorre il sangue di una farsa giullaresca.
Che, allora, tutto si sconfessi, si rimuova,
Ché non abbiamo mai meritato
Di fondare l’amore sulle lacrime,
Che il ridicolo non abbia pietà di noi.
Un poco di raziocinio dimostra
Che un uomo si alimenta anche di pedate.
Mi lascio cadere, ma, ecco, dapprima molto lontano,
Poi sempre più vicino,
Con vigore sempre più e più grande,
Vi è una voce che risuona limpida
E che lungo le strade distribuisce l’abbondanza
M’illude con un “forse no, forse no”
Fin quando c’è spazio in me
Per ripetere in piedi: forse no, forse no.

________________

Oswaldo Guayasamin
I disperati (1974)
...

Um jardim para Wisława


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Um jardim para Wisława
Un giardino per Wisława


E o que farias
se a pedra
somente para ti
abrisse sua porta
(como se a ti
fizesse falta
uma porta)
e te recebesse
em seus salões
amplos
vazios?
E o que farias
se a planta respondesse
e se apresentasse a ti
com o nome que não tem
e te contasse com que classificações
somos dela conhecidos?

Com que palavras então
darias a conhecer
a fala da folha
o pensamento da pedra
(quiçá a mesma língua com que fala
a mulher de Lot
após olhar para trás)
os aforismos do ouriço
os sentimentos do serrote
e todas as pequenas palavras
trocadas
com os animais pequenos?
E che cosa faresti
se la pietra
soltanto per te
aprisse la sua porta
(come se a te
mancasse
una porta)
e ti ricevesse
nei suoi saloni
ampi
e vuoti?
E che cosa faresti
se la pianta rispondesse
e se ti si presentasse
con il nome che non ha
e ti dicesse con che classificazioni
siamo da lei conosciuti?

Con che parole poi
faresti conoscere
il linguaggio della foglia
il pensiero della pietra
(magari la stessa lingua con cui parla
la moglie di Lot
dopo aver guardato indietro)
gli aforismi del riccio
i sentimenti della sega
e tutte le piccole parole
scambiate
con gli animali piccini?
________________

Giuseppe Penone
Idee di pietra (2003)
...

Um jardim para Sylvia


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Um jardim para Sylvia
Un giardino per Sylvia


Papoulas
você diz
deviam estar atrás das grades
como as feras
já as rosas provavelmente
mandaríamos a um hospício
Salpêtrière certamente
era um bom lugar para rosas
especialmente as vermelhas
(toda essa te-a-tra-li-da-de)
os lírios deviam ser caçados
a laço
e as camélias enclausuradas
em conventos
e as dálias
queimadas
em fogueiras

(veja o dorso das dálias
reluzente
veja as margaridas
como nos mostram os dentes)
Quem coloca girassóis na jarra
toca fogo no próprio apartamento
como pode querer passar o dia
sem alarme
após incendiar a casa por dentro?
Instalam pequenas feras
na sala de estar
pequenos corações abertos
crus
e depois não querem que doa
I papaveri
dici tu
dovrebbero stare dietro le sbarre
come le belve
già le rose probabilmente
le manderemmo in un ospizio
la Salpêtrière certamente
sarebbe un buon posto per le rose
specialmente quelle rosse
(tutta questa te-a-tra-li-tà)
i gigli dovrebbero essere presi
al laccio
e le camelie rinchiuse
nei conventi
e le dalie
bruciate
sui roghi

(guarda il dorso delle dalie
rilucente
guarda le margherite
come ci mostrano i denti)
Chi mette i girasoli nel vaso
dà fuoco al proprio appartamento
come pretende poi di passare la giornata
senza allarme
dopo aver incendiato l’interno della casa?
Mettono delle piccole belve
nel soggiorno
piccoli cuori aperti
crudi
e poi non vogliono che faccia male
________________

David Hockney
La mia finestra (2010)
...

Um jardim para Ingeborg


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Um jardim para Ingeborg
Un giardino per Ingeborg


Deste lado
da cerca do jardim
estamos
do outro lado
o mundo
dias inteiros
bateram contra a cerca
e vemos agora seus pedaços
entre os cogumelos podres
no chão
pássaros voltam do inverno
o tempo é de recomeço
e o jardim sobreviveu
ao moinho das estações
também nós
nos reerguemos
sobre as cinzas e as bombas e os cadáveres
nenhum jardim
é inocente

não se misturam
as coisas e as palavras
intraduzíveis umas pelas outras:
de nada vale colocar um seixo no lugar de um nome
que falta
ou adornar um verso
com uma flor de laranja
o gelo que um dia destruiu o jardim
deixou intacto este poema
silenciosos
estranhos
andamos ladeando
a cerca
sentindo sobre os ombros
o peso novo do verão
usamos palavras antigas
pedra folha e noite
só nelas ainda
confiamos.
Da questo lato
della cinta del giardino
stiamo noi
Dall’altro lato
il mondo
Per giorni interi
hanno picchiato contro la cinta
e adesso ne vediamo le macerie
in mezzo ai funghi marci
sul suolo
Gli uccelli tornano dall’inverno
è tempo di rinascita
e il giardino è sopravvissuto
al vortice delle stagioni
anche noi
ci rialziamo
dalle ceneri e dalle bombe e dai cadaveri
Nessun giardino
è innocente

Non si mischiano
le cose e le parole
intraducibili le une per le altre:
non serve a nulla mettere un sasso al posto d’un nome
che manca
o abbellire un verso
con un fiore d’arancio
il gelo che un giorno ha distrutto il giardino
ha lasciato intatta questa poesia
Silenziosi
estranei
camminiamo lungo
la cinta
sentendo sulle spalle
il peso nuovo dell’estate
Usiamo parole antiche
pietra foglia e notte
solo di queste ancora
ci fidiamo.
________________

Carlo Mattioli
Papaveri in Versilia (1974)
...

Jardim japonês


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Jardim japonês
Giardino giapponese


Arqueio-me como uma ponte de madeira
sobre um lago aceso por carpas vermelhas
sou dura e seca e quase sem enfeites
como um jardim de areia
(mas há pedras que florem
como flores)
silenciosa como um papel de arroz
em que ainda
nada
foi escrito
M’inarco come un ponte di legno
sopra un lago acceso da carpe vermiglie
sono rigida e secca e quasi spoglia
come un giardino di sabbia
(ma ci son pietre che fioriscono
come fiori)
silenziosa come carta di riso
su cui ancora
nulla
è stato scritto
________________

Kiyoshi Saito
Sentiero in un giardino giapponese (1995)
...

Jardim inglês


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Jardim inglês
Giardino all’inglese


Aprendi que tudo o que vive
tudo o que cresce
vive e cresce
contra o cálculo
 
desde então
alamedas amplas me dividem
não exatamente
ao meio
Ho appreso che tutto ciò che vive
tutto ciò che cresce
vive e cresce
senza affidarsi al calcolo
 
da allora
ampi viali mi dividono
non esattamente
a metà
________________

Vassily Kandinsky
Monaco, Giardino all'inglese (1901)
...

Podemos atear fogo...


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Podemos atear fogo...
Possiamo appiccare il fuoco...


Podemos atear fogo
à memória da casa
desaprender um idioma
palavra por palavra
podemos esquecer uma cidade
suas ruas pontes armarinhos
armazéns guindastes teleféricos
e se ela tiver um rio
podemos esquecer o rio
mesmo contra a correnteza
mas não podemos proteger com o corpo
um outro corpo do envelhecimento
lançando-nos sobre a lembrança dele
Possiamo appiccare il fuoco
alla memoria della casa
disimparare un idioma
parola per parola
possiamo dimenticare una città
le sue strade i ponti i mercati
gli empori gli argani le teleferiche
e se c’è un fiume
possiamo dimenticarci del fiume
pur contro la corrente
ma non possiamo difendere col corpo
un altro corpo dal decadimento
buttandoci sopra il suo ricordo
________________

William Turner
L'incendio delle Camere dei Lord e dei Comuni (1835)
...

O que eu sei?


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O que eu sei?
Che cosa so?


Sei poucas coisas sei que ler
é uma coreografia
que concentrar-se é distrair-se
sei que primeiro se ama um nome sei
que o que se ama no amor é o nome do amor
sei poucas coisas esqueço rápido as coisas
que sei sei que esquecer é musical
sei que o que aprendi do mar não foi o mar
que só a morte ensina o que ela ensina
sei que é um mundo de medo de vizinhança
de sono de animais de medo
sei que as forças do convívio sobrevivem no tempo
apagando-se porém
sei que a desistência resiste
que esperar é violento
sei que a intimidade é o nome que se dá
a uma infinita distância
sei poucas coisas
So poche cose so che leggere
è una coreografia
che concentrarsi è distrarsi
so che prima si ama un nome so
che quel che si ama nell’amore è il nome dell’amore
so poche cose dimentico subito le cose
che so so che dimenticare è musicale
so che quel che ho appreso sul mare non era il mare
che solo la morte insegna quel che insegna
so che è un mondo di paura di vicinanza
di sonno di animali di paura
so che le forze della convivenza sopravvivono nel tempo
eppure si cancellano
so che la rinuncia resiste
che sperare è violento
so che l’intimità è il nome che si dà
a un’infinita distanza
so poche cose
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Arnaldo Pomodoro
L’inizio del tempo n. 2 (1958)
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