Répteis pelos escombros...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Caio Fernando Abreu »»
 
Poesias nunca publicadas de... (2012) - Década de 70 »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Répteis pelos escombros...
Rettili tra le macerie...


(Répteis pelos escombros gelados
da casa demolida.)
Minhas paredes caíram:
entre a desordem da grama
pelos restos de argamassa
nas sombras do que foi: verde
passeiam coisas viscosas.

(Sopra o vento, cai a noite.)
Gelado sangue de répteis
aconchegados no inútil.
Caíram minhas paredes
como caíam os anjos:
mas minha queda é sem asas
e nunca habitei os céus.

Inútil sangue gelado
pelas sombras da argamassa
uns restos do que foi grama
entre as sombras que eram verdes:
passeio pelo visgo da quedaa
conchegado de répteis.

(Cai o vento, sopra a noite.)
Dar asas que não habito
uns céus que nunca pisei
a queda brusca dos anjos
por sobre minhas paredes brancas.
(Rettili tra le macerie gelate
della casa demolita.)
Sono caduti i miei muri:
nello scompiglio dell’erba
tra i resti d’intonaco
all’ombra di ciò che fu: verde
vi passeggiano cose vischiose.

(Soffia il vento, cade la notte.)
Gelido sangue di rettili
accoccolati inutilmente.
Sono caduti i miei muri
come cadevano gli angeli:
ma la mia caduta è senz’ali
e mai ho dimorato nei cieli.

Inutile sangue gelato
all’ombra dell’intonaco
qualche resto di ciò che fu erba
tra ombre che erano verdi:
passeggio sul vischio della caduta
tra rettili accoccolati.

(Cade il vento, soffia la notte.)
Dar ali a ciò che non abito
cieli che non ho mai solcato
la brusca caduta degli angeli
sopra i miei muri bianchi.
________________

Jackson Pollock
Number 27 (1950)
...

Realista 2


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Caio Fernando Abreu »»
 
Poesias nunca publicadas de... (2012) - Década de 70 »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Realista 2
Realista 2


Teve um tempo que amor
era tia Clara vestida de branco na janela do trem
que levava a Porto Alegre. Com baldeação
em Santa Maria da Boca do Monte...

Hoje é supositório contra hemorroidas:
sete e quinhentos a caixinha na farmácia
mais suja do Arouche.
Ci fu un tempo che l’amore
era zia Clara vestita di bianco al finestrino del treno
che portava a Porto Alegre. Con coincidenza
a Santa Maria da Boca do Monte...

Oggi è la supposta contro le emorroidi:
settemilacinquecento la confezione nella farmacia
più sporca di Arouche.
________________

Heinz Werner van der Porten
Il farmacista (1970 ca.)
...

Realista


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Caio Fernando Abreu »»
 
Poesias nunca publicadas de... (2012) - Década de 70 »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Realista
Realista


De manhã
quando abri o quarto dele meio dormindo
encontrei um negro nu sobre a cama.
Falei muito prazer e sorri
Depois esquentei o café, comi uma maçã verde
(a mais ácida que encontrei).
Enfiei os óculos escuros e saí para o sol.
Na rua
ninguém percebe o segredo ácido que carrego
insustentável
atrás do negro dos óculos.
La mattina
quando aprii la sua stanza mezzo addormentato
trovai un nero nudo sopra il letto.
Dissi molto piacere e sorrisi
Poi riscaldai il caffè, mangiai una mela verde
(la più aspra che trovai).
Infilai gli occhiali scuri e uscii incontro al sole.
Per strada
nessuno s’immagina l’aspro segreto che porto con me
insopportabile
dietro il nero degli occhiali.
________________

Francis Bacon
Uomo dormiente (1968)
...

Press to open


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Caio Fernando Abreu »»
 
Poesias nunca publicadas de... (2012) - Década de 70 »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Press to open
Press to open


Estavam ali as portas
janelas e varandas.
Estavam ali
na fronteira do olhar
onde o de dentro encontra
justamente
com o de fora.
 
Nesse ponto exato
elas estavam.
 
Bastava um gesto.
 
Mas o meu estar parado
era maior do que eu.
Estar parado/estar vivo:
a mesma incompreensão
e medo
entre mim e aquele estar das coisas.
 
Estar ali
como nunca ter chegado.
Estar ali
como ter visto absolutamente tudo.
Estar ali
por estar ali.
E além de mim
o que eu não ousava.
 
Ah:
relembro a amplidão dessas varandas
os pequenos raios de luz
nos vidros coloridos das janelas.
Revejo a dura consistência da porta
cerrando seu segredo. E me retomo
ali
no imóvel do gesto que não fiz.
Como se pudesse
agora
escancarar portas e janelas
para sair nu pelas varandas
desvairado e nu
— um profeta, um louco, um santo.
Sair para o vento, o sol, as tempestades,
as neves, as quedas de estrelas e Bastilhas,
o cheiro de jasmins entontecendo os quintais.

(Pudesse retomar manhãs, amigo,
manhãs perdidas como o que não fui.)

Mas continuo
ali.
Aqueles espaços
permanecem tão mortos de mim
como um corpo que se ama
e não se toca.
Stavano lì le porte
le finestre e le verande.
Stavano lì
al limite dello sguardo
dove ciò che sta dentro incontra
precisamente
ciò che sta fuori.

In quel punto preciso
si trovavano.

Basterebbe un gesto.

Ma il mio stare immobile
era più grande di me.
Stare immobile/essere vivo:
la stessa incomunicabilità
e paura
tra me e quello stare delle cose.

Stare lì
come se mai fossi arrivato.
Stare lì
come se avessi visto assolutamente tutto.
Stare lì
per stare lì.
E al di là di me
ciò che io non osavo.

Ah:
ricordo la grandezza di quelle verande
i piccoli raggi di luce
sui vetri variegati delle finestre.
Rivedo la salda robustezza della porta
nel rinserrare il suo segreto. E mi ritrovo

nel gesto immobile che non ho fatto.
Come se potessi
adesso
spalancare porte e finestre
per uscire nudo sulle verande
stralunato e nudo
— un profeta, un folle, un santo.
Espormi al vento, al sole, alle tempeste,
alle nevi, alle piogge di stelle e di Bastiglie,
alla fragranza di gelsomini che frastornano i cortili.

(Potessi riappropriarmi delle mattine, amico,
mattine perdute come ciò che non sono stato.)

Ma rimango
lì.
Quegli spazi
seguitano ad essere così morti di me
quanto un corpo che si ama
e non si tocca.
________________

Gianfranco Ferroni
Porta chiusa (1974)
...

Porque tudo é um procurar-te...


Nome:
 
Collezione:
Fonte:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (dicembre 2022) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Porque tudo é um procurar-te...
Perché ogni cosa è ricerca di te...


Porque tudo é um procurar-te,
Um revolver a terra funda
Da ausência, onde te desvaneces,
Onde deixas de existir.
Porque tudo é um procurar-te,
Até o tempo.

Perché ogni cosa è ricerca di te,
Un rivangare nella terra profonda
Dell’assenza, ove tu svanisci,
Ove cessi d’esistere.
Perché ogni cosa è ricerca di te,
Persino il tempo.

________________

Francis Bott
Senza titolo (1951)
...

Para um amor que não veio


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Caio Fernando Abreu »»
 
Poesias nunca publicadas de... (2012) - Década de 70 »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Para um amor que não veio
Per un amore che non è venuto


Tenho sede de ti
meu amor
mas desconheço o som de teus passos
desconheço
a textura (provavelmente morna)
de teus cabelos – desconheço.

Tenho tanta sede de ti
amor – areia soprada pelo vento
teia esgarçada, sonho desperto
bruscamente –tanta sede
e tão abissal
e tão atávica
e tão desencontrada
nestes vinte e seis anos de procuras
vãs.

Ah
quero fechar meus olhos
quero despertar logo e
bruscamente
deste denso sono sem ti:
amado, amada
– desconhecidos
alados.
Ho sete di te
amore mio
ma ignoro il suono dei tuoi passi
ignoro
la tattilità (probabilmente tiepida)
dei tuoi capelli – ignoro.

Ho tanta sete di te
amore – sabbia soffiata via dal vento
tela disfatta, brusco risveglio
dal sogno – tanta sete
e così abissale
e così atavica
e così inappagata
in questi ventisei anni di ricerche
vane.

Ah
voglio chiudere i miei occhi
voglio risvegliarmi presto e
bruscamente
da questo denso sonno senza di te:
amato, amata
– sconosciuti
alati.
________________

Jean Dubuffet
Autoportrait VI m267
...

Oriente


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Caio Fernando Abreu »»
 
Poesias nunca publicadas de... (2012) - Década de 70 »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Oriente
Oriente


manda-me verbena ou benjoim no próximo
 crescente
e um retalho roxo de seda alucinante
e mãos de prata ainda (se puderes)
e se puderes mais, manda violetas
(margaridas talvez, caso quiseres)

manda-me Osíris no próximo crescente
e um olho escancarado de loucura
(um pentagrama, asas transparentes)

manda-me tudo pelo vento;
envolto em nuvens, selado com estrelas
tingindo de arco-íris, molhado de infinito
(lacrado de oriente, se encontraste)
mandami verbena o benzoino nella prossima luna
 crescente
e uno scampolo viola di seta allucinante
e anche mani d’argento (se potrai)
e se potrai di più, manda violette
(magari margherite, se vorrai)

mandami Osiride nella prossima luna crescente
e un occhio spalancato di pazzia
(un pentagramma, ali trasparenti)

mandami tutto col vento;
avvolto in nuvole, affrancato con stelle
tinto d’arcobaleno, bagnato d’infinito
(sigillato con lacca d’oriente, se ci sei arrivato)
________________

Paul Klee
Strong Dream (1929)
...

Ninguém saberá da secura de nossos olhos...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Caio Fernando Abreu »»
 
Poesias nunca publicadas de... (2012) - Década de 70 »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Ninguém saberá da secura de nossos olhos...
Nessuno saprà dell’arsura dei nostri occhi...


Ninguém saberá da secura de nossos olhos
da dureza de nossa boca ninguém saberá
do fio das unhas da dor no dente
do sangue guardado no fundo da gaveta

ninguém adivinhará os jardins atrás do muro fechado
ninguém quebrará o ferro do portão
ninguém violentará o secreto
ninguém te tocará profundamente
ninguém te saberá
ninguém.

Por isso olhamos as nuvens
sentados ao vento que não sopra
enquanto os balanços rangem
os rádios cantam
e a rua intocável como um quadro
pintado por outro.

Por isso olhamos em volta
e o que se passa além de nossa [uma palavra ilegível]
não nos soluciona
(ninguém sabe
ninguém saberá).

O caule quebrado do girassol
o livro de Toynbee sobre os degraus
a caneta riscando o papel
as nuvens
a tarde
a rua

o medo.
Nessuno saprà dell’arsura dei nostri occhi
dell’asprezza della nostra bocca nessuno saprà
del filo delle unghie del male al dente
del sangue custodito nel fondo del cassetto

nessuno immaginerà i giardini dietro il muro chiuso
nessuno spezzerà il chiavistello del portone
nessuno violerà il segreto
nessuno ti toccherà nel profondo
nessuno ti riconoscerà
nessuno.

Perciò osserviamo le nuvole
seduti nel vento che non spira
mentre cigolano le altalene
le radio cantano
e la strada è intangibile come un quadro
dipinto da un altro.

Perciò ci guardiamo attorno
e ciò che succede al di là della nostra [parola illeggibile]
non ci dà soluzioni
(nessuno sa
nessuno saprà).

Lo stelo spezzato del girasole
il libro di Toynbee sopra i gradini
la penna che graffia la carta
le nuvole
la sera
la strada

la paura.
________________

Vassily Kandinsky
Einige Spitzen (1925)
...

Não me mande cartas agressivas...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Caio Fernando Abreu »»
 
Poesias nunca publicadas de... (2012) - Década de 70 »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Não me mande cartas agressivas...
Non mandarmi lettere aggressive...


Não me mande cartas agressivas de tão longe
só porque não gostei de seus originais-inéditos
eu devia ter avisado que odeio originais-inéditos, inclusive
 os meus
que nunca nunca tive paciência para originais-inéditos
que tenho vontade de vomitar e passo mal só de ver
uma única frase de uma só página de um original-inédito
eu devia ter avisado
eu devia ter
eu devia
eu
mas só por isso não me mande tantas cartas furiosas
 assim, meu bem
a vida é assim
algumas pessoas adoram originais-inéditos
outras não
é tudo tão simples quando se é maniqueísta
e ou proselitista elitista entreguista
ou qualquer outra dessas palavrinhas boas
de dizer em entrevista
são assim as coisas são assim o mundo é assim,
 meu filho
e você tem que se conformar
Non mandarmi lettere aggressive da così distante
solo perché non mi sono piaciuti i tuoi originali-inediti
dovrei averti avvisato che odio gli originali-inediti, compresi
 i miei
che non ho mai avuto pazienza per gli originali-inediti
che mi viene voglia di vomitare e sto male solo a vedere
un’unica frase di una sola pagina di un originale-inedito
io dovrei averti avvisato
io dovrei averti
io dovrei
io
ma solo per questo non mandarmi delle lettere così furiose,
 amor mio
la vita è così
ci sono persone che adorano gli originali-inediti
altre no
è tutto molto semplice quando si è manicheisti
e/o proselitisti elitisti opportunisti
o qualunque altra di queste belle paroline
da dire in un’intervista
stanno così le cose stanno così il mondo è fatto così,
 figlio mio
e tu devi fartene una ragione
________________

A.R. Penck
Another R.C. (1983)
...

Fever 77°


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Caio Fernando Abreu »»
 
Poesias nunca publicadas de... (2012) - Década de 70 »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Fever 77°
Febbre 77°


Deixa-me entrelaçar margaridas
nos cabelos de teu peito.
Deixa-me singrar teus mares
mais remotos
com minha língua em brasa.

Quero um amor de suor e carne
agora:
enquanto tenho sangue.

Mas deixa-me sangrar teus lábios
com a adaga de meus dentes.
Deixa-me dilacerar teu flanco
mais esquivo
na lâmina de minhas unhas.

Quero um amor de faca e grito
agora:
enquanto tenho febre.
Lascia che intrecci margherite
tra i peli del tuo petto.
Lascia che veleggi sui tuoi mari
più remoti
con la mia lingua ardente.

Voglio un amore di sudore e carne
adesso:
finché ho sangue.

Ma lascia che ti morda a sangue le labbra
con la sciabola dei miei denti.
Lascia che ti laceri il fianco
più riluttante
con la lama delle mie unghie.

Voglio un amore di lama e grido
adesso:
finché ho febbre
________________

Francis Bacon
Ritratto di Lucian Freud (1964)
...

Eu quero a vida


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Caio Fernando Abreu »»
 
Poesias nunca publicadas de... (2012) - Década de 70 »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Eu quero a vida
Io voglio la vita


Eu quero a vida.
Com todo o risco
eu quero a vida.
Com os dentes em maus estado
eu quero a vida
insone, no terceiro comprimido para dormir
no terceiro maço de cigarro
depois do quarto suicídio
depois de todas as perdas
durante a calvície incipiente
dentro da grande gaiola do país
da pequena gaiola de meu corpo
eu quero a vida
eu quero porque quero
a vida.
É uma escolha. Sozinho ou acompanhado, eu quero, meu
 deus, como eu quero, com uma tal ferocidade, com
  uma tal certeza.
É agora. É pra já. Não importa depois. É como a quero.
Viajar, subir, ver. Depois, talvez Tramandaí. Escrever.
 Traduzir.
Em solidão. Mas é o que quero. Meu deus, a vida, a vida,
 a vida.
A VIDA.
À VIDA.
Io voglio la vita.
Con tutti i suoi rischi
io voglio la vita.
Coi denti in cattivo stato
io voglio la vita
insonne, alla terza pastiglia per dormire
al terzo pacchetto di sigarette
dopo il quarto suicidio
dopo tutte le batoste
anche con la calvizie incipiente
dentro la grande gabbia del paese
e la piccola gabbia del mio corpo
io voglio la vita
io voglio perché voglio
la vita.
È una scelta. Solo o accompagnato, io voglio, mio dio,
 come la voglio, con una tale ferocia, con una tale
  certezza.
Adesso. Subito. Non importa il dopo. È così che la voglio.
Viaggiare, salire, vedere. Dopo, forse Tramandaí.
 Scrivere. Tradurre.
In solitudine. Ma è quel che voglio. Mio dio, la vita, la vita,
 la vita.
LA VITA.
ALLA VITA.
________________

Marc Chagall
La vita (1964)
...

Escuta...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Caio Fernando Abreu »»
 
Poesias nunca publicadas de... (2012) - Década de 70 »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Escuta...
Ascolta...


Escuta:
foram muitos os momentos
em que te pensei em mim
não sei se foram bons
maus infâncias temores
mas sei que foram.

Ninguém me tira
a certeza de ter te habitado.

Escuta:
não sei escrever poemas
quando estou dentro dum poema
vivo e sem palavras
mas se penso em te dizer
aqui agora assim
forço rimas formas talvez mortas
porque não me esquivo.

Não compreendo nada.
Estou perdido neste apartamento desconhecido. Estou sozinho nesta sala com Villa-Lobos ficando, e pouco sei de mim, de ti. Escrevo para não sentir medo, ainda que não seja bom o que escrevo, ainda que não haja coerência no que sou agora. Não me importa a coerência. Falo um poema em voz alta, apenas para ouvir minha voz. Mas no meio do poema descubro verdades que eu te diria.
Ascolta:
son stati tanti i momenti
in cui ti ho pensato con me
non so se sono stati belli
brutti infanzie timori
ma so che ci son stati.

Nessuno mi toglie
la certezza di averti abitato.

Ascolta:
non so scrivere poesie
quando mi trovo dentro una poesia
io vivo, senza parole,
ma se penso di parlarti
qui ora così
esagero con le rime forme forse morte
perché non so rinunciare.

Non capisco niente.
Sono perso in questo appartamento sconosciuto. Sono solo in questa stanza con la presenza di Villa-Lobos, e so poco di me, di te. Scrivo per non aver paura, anche se non è buono quello che scrivo, anche se non c’è coerenza in quello che io sono ora. Non m’importa la coerenza. Recito una poesia ad alta voce, soltanto per sentire la mia voce. Ma nel mezzo della poesia scopro delle verità che ti direi.
________________

Pablo Picasso
Il poeta (1912)
...

Preparo um desamor...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Caio Fernando Abreu »»
 
Poesias nunca publicadas de... (2012) - Década de 60 »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Preparo um desamor...
Maturo un disamore...


Preparo um desamor
bem mais violento
que esta sede de ti
que me não passa.
Revelarei em breve
num só grito
outra sede maior
outras carências
outra fome de outros
que não tu.

Porque no peito me lacera e sangra
um ser mais amplo do que o teu
e do que o meu, sozinhos.
Falo dos homens,
não de um deus remoto.
Falo de guerras
e de proezas muito mais intensas
que esta minha e essa tua
tão pequenas.

Falo dos arrozais
esses distantes,
das papoulas de sangue sobre o verde
e dos olhos devorados
das crianças
nos braços famintos deste tempo.

Já não quero tenazes no meu peito.
Tenho um outro querer
mais machucado
- não de penares, mas de asperezas:
quero cantar o tempo
e uma fome maior dentro de nós.
Maturo un disamore
assai più violento
di questa sete di te
che non mi passa.
Presto rivelerò
in un sol grido
un’altra sete maggiore
altre carenze
altra fame d’altri
che non sei tu.

Perché nel petto mi lacera e ferisce
un essere più grande del tuo
e del mio, solitari.
Parlo di uomini,
non di un dio remoto.
Parlo di guerre
e di avventure molto più ardenti
di questa mia e di quella tua
così piccine.

Parlo delle risaie
quelle distanti,
dei papaveri di sangue sopra il verde
e degli occhi divorati
dei bambini
tra le braccia fameliche di questo tempo.

Non desidero più tenaglie nel mio petto.
Ho un’altra ambizione
più struggente
- non di patimenti, ma di asprezze:
voglio cantare il tempo
e una fame più grande dentro di noi.
________________

Friedrich Dürrenmatt
Prometeo modella uomini (1988)
...

Me fiz em pedra...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Caio Fernando Abreu »»
 
Poesias nunca publicadas de... (2012) - Década de 60 »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Me fiz em pedra...
Mi son fatto di pietra...


Me fiz em pedra.
É assim que te falo
desta vontade lenta
desta mansa espera.
Mas não me canso.
E se é feita de rudezas
minha voz,
um dia não será.
Tenho certeza.
Mi son fatto di pietra.
È così che ti parlo
di questa voglia pigra
di questa quieta attesa.
Ma non mi stanco.
E se è fatta di durezza
la mia voce,
un giorno non lo sarà più.
Ne ho la certezza.
________________

Aldo Romano
Il labirinto di Omero (1989)
...

Gesto


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Caio Fernando Abreu »»
 
Poesias nunca publicadas de... (2012) - Década de 60 »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Gesto
Gesto


onde risco a espera
nesta pausa morta?
só arranho o espelho
e o gesto se estilhaça
quero gravar teu rosto
e o vento se apaga
quero gravar teu nome
e o tempo nos devassa.
dove raffiguro l’attesa
in questa pausa morta?
scalfisco appena lo specchio
e il gesto si frantuma
vorrei incidere il tuo viso
e il vento viene meno
vorrei incidere il tuo nome
e il tempo ci mortifica.
________________

Michelangelo Pistoletto
La cancellazione dello specchio (1995)
...

Breve memória


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Caio Fernando Abreu »»
 
Poesias nunca publicadas de... (2012) - Década de 60 »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Breve memória
Breve memoria


De ausências e distâncias te construo
amigo
amado.
E além da forma
nem mão
nem fogo:
meu ser ausente do que sou
e do que tenho, alheio.

Na dimensão exata de teu corpo
cabe meu ser
cabe meu voo mais remoto
cabem limites, transcendências.
Na dimensão do corpo que tu tens
e que eu não toco
cabe o verso torturado
e um espesso labirinto de vontades.
Di assenze e distanze ti edifico
amico
amato.
E al di là della forma
né mano
né fuoco:
il mio essere assente da ciò che sono
e da ciò che possiedo, estraneo.

Nella dimensione precisa del tuo corpo
rientra l’essere mio
rientra il mio volo più remoto
rientrano confini, trascendenze.
Nella dimensione del corpo che tu hai
e che io non sfioro
rientra il verso torturato
e un fitto labirinto di desideri.
________________

Richard Anuszkiewicz
Orange, Rose and Magenta Knot (1986)
...

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (433) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (8) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)