Os corvos não dão trégua...


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Os corvos não dão trégua...
I corvi non danno tregua...


Os corvos não dão trégua
E querelam, negros.
De súbito, num país de chuva,
De árvores descarnadas,
Um canto diz onde está o céu.
Todos o procuram debicando a terra,
Mas ei-lo, imerso no ar de alumínio.
Num país de corvos
A única riqueza
É ouvir um melro.

I corvi non danno tregua
E gracchiano, neri.
D’un tratto, in un paese di pioggia,
Di alberi sparuti,
Un canto dice dove sta il cielo.
Tutti lo cercano becchettando per terra,
Ma eccolo, immerso nell’aria d’alluminio.
In un paese di corvi
L’unica ricchezza
È dar ascolto a un merlo.

________________

Vincent van Gogh
Campo di grano con volo di corvi (1890)
...

António Nobre


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António Nobre
António Nobre


I.
Nas grutas do teu peito, a vocação
De um adeus outonal, da nostalgia
Da dor irrefragável, sem desvão
E, aí, o canto, como estalactite,
 
Moldava-se no tempo, nas imagens,
Na vida, que tu vias, te fugia,
Medida nos teus versos, nobres viagens,
E a dor que o coração ao ser permite.
 
O longe que a saudade fazia maior,
Nascia dos teus versos naturais,
Como eles jamais fossem escritos
Mas nascessem da terra, de uma dor,
De um horror que crescia e produzia
O feitiço do ritmo e melodia.
 
II.
Em ti, a vocação de um adeus outonal,
De outonal nostalgia,
De dor, mal outonal,
De um pranto, pétreas gotas desse canto,
Crescendo de um quebranto negro que te doía.
 
Vias medida a vida fugitiva, vida
Ida em marés de tempo,
No tempo, essa eterna ida,
Vida medida em versos de saudade e vento,
Leves de vento, leves como a infância ida.
 
 (A língua obediente
  Seguia a tua mágoa
  Até à voz do poente,
  Ao verso – a tua frágua.)
 
  No verso, poderosa,
  Esguia, a dor erguia
  O feitiço da rosa
  De ritmo e melodia.

I.
Nelle caverne del tuo petto, la vocazione
Per l’addio autunnale, per la nostalgia
Del dolore imprescindibile, senza soluzione
E, da lì, simile a stalattite, il tuo poetare
 
Si plasmava nel tempo, nelle immagini,
Nella vita, che tu vedevi fuggir via,
Misurata dai tuoi versi, viaggi nobili,
E dalla pena d’esistere che dispensa il cuore.
 
La distanza, accresciuta dal rimpianto,
Nasceva dai tuoi versi naturali,
Come se mai fossero stati scritti
Ma nascessero dalla terra, da un tormento,
Da un orrore che s’ampliava e produceva
L’incanto del ritmo e della melodia.
 
II.
In te, la vocazione per un addio autunnale,
Per un’autunnale nostalgia,
Per il dolore, male autunnale,
Per il pianto, pietrose gocce di quel canto,
Crescendo d’un cupo scoramento che ti faceva male.
 
Vedevi misurata la vita fuggitiva, vita
Partita con le maree del tempo,
Nel tempo, questa eterna andata,
Vita misurata in versi di rimpianto e vento,
Lievi di vento, lievi come l’infanzia andata.
 
 (La lingua ubbidiente
  Accompagnava la tua tristezza
  Fino alla voce del tramonto,
  Al verso – tua forgia d’amarezza.)
 
  Nel verso, poderosa,
  La pena creava con armonia
  L’incanto della rosa
  Del ritmo e della melodia.

________________

Vassily Kandinsky
Autunno in Baviera (1908)
...

Pet shop


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Pet shop
Pet shop

Os materiais são muitos, rígidos ou precários.
Alguns bebem água.
Outros ruminam grãos de areia
ou se distraem desenhando sombras.
 
Há também esses robustos gladiadores
com peito de puro aço.
E ainda os modernos automatismos
que trazem no âmago
silenciosos cristais de silício.
 
  Mas
 
nenhum relógio diz a hora certa
porque todos mentem a circunstância.
 
Todos ocultam de ti
a hora do caos
o instante em que os cães
agitam as narinas rubras
e assoviam como gatos asmáticos.
 
Nenhum relógio
provê a graça e a franqueza
de revelar
quanto falta para o derradeiro pôr do sol.
 
*
Eles estão em toda parte. Na parede,
no bolso, no pulso e em cada uma dessas máquinas
estranhas — embora íntimas —
que arrastamos pelos corredores
como extensões de nossa própria carne.
 
*
O tempo é nosso bicho de estimação,
do qual nunca nos apartamos.
 
Ou, sejamos sinceros,
nós é que somos seus artefatos de brinquedo.
 
Soldados de chumbo?
ursos de pelúcia?
helicópteros de controle remoto?
 
Não, ele nos prefere bichos orgânicos
brinquedos com alma,
desses que se acreditam donos do próprio rumo.
 
Desses que ele,
Chronos,
expõe na vitrine de sua pet shop

I materiali sono molti, rigidi o precari.
Alcuni bevono acqua.
Altri ruminano granelli di sabbia
o si svagano disegnando ombre.
 
Ci sono anche quei robusti gladiatori
col petto di puro acciaio.
Ed ancora i moderni automatismi
che in grembo albergano
silenziosi cristalli di silicio.
 
  Ma
 
nessun orologio dice l’ora esatta
perché tutti falsano la circostanza.
 
Tutti di te tacciono
l’ora del caos
l’istante in cui i cani
agitano le rosse narici
e soffiano come gatti asmatici.
 
Nessun orologio
ha la cortesia e la franchezza
di rivelare
quanto manca al tramonto finale.
 
*
Loro stanno dappertutto. Sulla parete,
in tasca, al polso e in ciascuna di quelle macchine
strane — seppure intime —
che ci trasciniamo lungo i corridoi
come estensioni della nostra stessa carne.
 
*
Il tempo è il nostro animale da compagnia,
da cui non ci separiamo mai.
 
Oppure, siamo sinceri,
siamo noi ad essere i suoi articoli ludici.
 
Soldatini di piombo?
orsetti di peluche?
elicotteri col telecomando?
 
No, lui preferisce bestie organiche
giocattoli con l’anima,
di quelli che si credono padroni del proprio destino.
 
Di quelli che lui,
Chronos,
espone nella vetrina del suo pet shop

________________

Salvador Dalí
La persistenza della memoria (1931)
...

Memória


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Memória
Memoria

desfiladeiros
precipícios
ruas sem nome

uma lagartixa antiquíssima
diz sim com a cabeça

há sol
mas nunca será meio-dia
e uma lixa grossa
permanente
se arrasta na pele da paisagem

*

não há meio-dia:
é preciso curvar os olhos
para divisar as figuras
semidispersas na sombra

a lagartixa diz sim?
talvez — o ouvido é mouco
quando se escuta daqui

(a lixa de sono e silício
aplaina as cordilheiras do som)

foi bom? foi escasso?
algum mel ainda incendeia
o regaço da nuvem?
ou tudo não passa de rara
penugem no braço da imaginação?

de vez em quando
tempestades de areia
desenham
na foto sépia
regiões antes secretas

aí descobre-se a cornucópia
felicidade póstuma

mas aí também se abrem
os sótãos
as fossas submarinas
e surgem monstros de família
anacondas que dão a volta no equador

  *

toda dor se dilui
ao sol
mesmo ao crepúsculo

terras vermelhas
um breve roçar
de coxas
antigas rixas se apagam

e a lixa estende seus músculos
para forçar as planícies do único
a cicatriz
o silêncio

valichi
precipizi
vie senza nome

un’antichissima lucertola
dice sì con la testa

c’è il sole
ma non sarà mai mezzogiorno
e una grossa lima
persistente
raschia la pelle del paesaggio

  *

non c’è mezzogiorno:
bisogna abbassare gli occhi
per distinguere le figure
semidisperse nell’ombra

la lucertola dice sì?
forse — l’orecchio è sordo
quando si ascolta da qui

(la lima di sonno e di silicio
livella le cordigliere del suono)

è stato bello? o scadente?
un po’ di miele ancora incendia
il grembo della nuvola?
o tutto ciò non è che la rada
peluria sul braccio dell’immaginazione?

di tanto in tanto
tempeste di sabbia
disegnano
sulla foto seppiata
regioni un tempo segrete

là si scopre la cornucopia
felicità postuma

ma là s’aprono anche
le soffitte
le fosse sottomarine
e spuntano mostri familiari
anaconde che fanno il giro dell’equatore

  *

ogni dolore si stempera
al sole
anche al crepuscolo

terre vermiglie
un breve sfregare
di cosce
vecchie dispute si placano

e la lima stende i suoi muscoli
per forzare le pianure dell’unico
la cicatrice
il silenzio

________________

Olaus Magnus
Carta Marina (1539)
...

Unhas


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Unhas
Unghie

A alegria é privilégio
dos puros,
de quem nunca sentiu
as unhas laqueadas do acaso.

Rubras e afiadas,
têm a natureza das navalhas
e olímpico desprezo
pelas consêquências de seus cortes.

A alegria é verde.
Aquela canção sem motivo
que aparece na garganta.
Aquele assobio impreciso
que sai do peito,
discreto,
e se dissolve sem ponto de chegada.

Mas existe o acaso.
Unhas. Golpes sem aviso.

Pouco a pouco
quem cantava perde o solfejo.

Passarinho e realejo
são privilégios dos crédulos,
ingênuos,
amantes de primeira viagem,
crianças e animais de plácido convívio.

La gioia è il privilegio
dei puri,
di chi non ha mai sentito
le unghie laccate del caso.

Rosse e affilate,
hanno la natura dei coltelli
e un olimpico disprezzo
per le conseguenze dei loro tagli.

La gioia è verde.
È quella canzone senza motivo
che compare in gola.
È quel fischio impreciso
che sgorga dal petto,
discreto,
e si dissolve senza punto d’arrivo.

Ma esiste il caso.
Unghie. Colpi senza preavviso.

A poco a poco,
chi cantava perde il solfeggio.

Pappagallo e organetto
son privilegio dei creduli,
degli ingenui,
di amanti di primo pelo,
di bimbi e animali in placida armonia.

________________

Lucio Fontana
Concetto Spaziale: Attese (Rosso) (1967)
...

Origâmi


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Origâmi
Origami

Uma tesoura
cega
recorta origâmis.

É Chronos
em sua oficina.

A máquina precária
não supõe prodígios
mesmo em mãos
divinas

– salvo se o segredo
desse deus ambíguo
seja o próprio corte
indulgente.

Figuras de papel
cortadas pelas mãos
de Chronos,
dançamos ao vento.

Una tijera
ciega
recorta origamis.

Es Crono
en su oficina.

La maquina precaria
no supone prodigios
mismo entre manos
divinas

– salvo si el secreto
de ese dios ambiguo
sea su propio corte
indulgente.

Figuras de papel
cortadas por las manos
de Crono,
bailamos en el viento

________________

Alexander Calder
Escultura móvil (1947)
...

Origâmi


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Origâmi
Origami

Uma tesoura
cega
recorta origâmis.

É Chronos
em sua oficina.

A máquina precária
não supõe prodígios
mesmo em mãos
divinas

– salvo se o segredo
desse deus ambíguo
seja o próprio corte
indulgente.

Figuras de papel
cortadas pelas mãos
de Chronos,
dançamos ao vento.

Forbici
spuntate
ritagliano origâmi.

È Chronos
nella sua officina.

La macchina precaria
non pretende prodigi
pur se in mani
divine

– a meno che il segreto
di questo dio ambiguo
sia il taglio stesso
indulgente.

Figure di carta
tagliate dalle mani
di Chronos,
noi danziamo al vento.

________________

Alexander Calder
Scultura mobile (1947)
...

Tango


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Tango
Tango

Bem que eu desconfiava:
o passo do tempo
não é constante
nem fiel ao
milho seco do relógio
— ração ofertada,
de grão em grão, a um
pássaro invisível.

Serpente elástica,
o tempo se expande
e contrai como
corda de trapézio
circense
e arrasta o espaço
num laço dodecafônico.

Para Einstein
ao tempo se permite
uma dança,
e o espaço vai
passo a passo com ele.

Os dois parceiros,
num tango
cósmico, vibram
no desconcerto desse
trapézio-violino,
que os maestros nunca
saberão se está
dentro ou fora do tom.

Ma io già lo sospettavo:
il passo del tempo
non è costante
né fedele al
miglio secco dell’orologio
— razione offerta,
grano per grano, ad un
uccello immateriale.

Serpente elastico,
il tempo s’espande
e si contrae come
corda di trapezio
circense
e trascina lo spazio
in un cappio dodecafonico.

Per Einstein
al tempo si concede
una danza,
e lo spazio va
passo a passo con lui.

I due partner,
in un tango
cosmico, vibrano
nel disaccordo di questo
trapezio-violino,
che i maestri mai
sapranno se sta
dentro o fuori tono.

________________

Mimmo Paladino
Tango (1983)
...

Galope


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Galope
Galoppo

não há poros
na pele
das horas

o instante
segue
sempre avante

sem soluços
saltos
ou titubeios

e depois de
um sempre vem
o próximo

e depois de
um sempre vem
o próximo

em galope
único igual rígido
e certeiro

Non ci son pori
nella pelle
delle ore

l'istante
continua
sempre avanti

senza singhiozzi
salti
o titubanze

e dopo l’uno
sempre viene
il prossimo

e dopo l’uno
sempre viene
il prossimo

al galoppo
unico uguale rigido
e sicuro

________________

Gino Severini
Lancieri al galoppo (1915)
...

O tempo e o nada


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O tempo e o nada
Il tempo e il nulla

É fácil imaginar
o nada físico
o vácuo
um buraco no osso da matéria.

Basta pensar
no interior de um coco-da-baía
sem ar sem água
sem polpa:
o coco e seu oco absoluto.

Mas é espantoso
conceber um não-momento
um traço
vazio
no fio do tempo
– ou um tempo sem fio.

Como figurar o nada
no fluxo contínuo
de horas e eras que inventamos
esse cabo de aço indestrutível

que julgamos prosseguir
para sempre
antes e depois de nós?

Um buraco na pele das horas.
Quem ousa pensar
no tempo
como rota interrompida?

Quem se atreve a dizer
que ontem não existiu?
E que o próximo
sábado
vai cair no oco e ficar suspenso
do calendário?

È facile immaginare
il nulla fisico
il vuoto
un buco nell’osso della materia.

Basta pensare
all’interno di una noce di cocco
senz’aria senz’acqua
senza polpa:
il cocco e il suo vuoto assoluto.

Ma è spaventoso
concepire un non-momento
un tratto
vuoto
sul filo del tempo
– o un tempo senza filo.

Come rappresentare il nulla
nel flusso continuo
delle ore e delle ere che inventiamo
questo cavo d’acciaio indistruttibile

che riteniamo prosegua
per sempre
prima e dopo di noi?

Un buco nella pelle delle ore.
Chi osa pensare
al tempo
come una ruota interrotta?

Chi s’arrischia a dire
che ieri non è esistito?
E che il prossimo
sabato
cadrà nel vuoto e sarà revocato
dal calendario?

________________

Azuma Kengiro
La vita infinita (2015)
...

Runas


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Runas
Rune

Se o Senhor, deus
do sim e do senão,
ás vezes abandona
suas desalmadas
criaturas, Chronos
jamais comete
tais imposturas.

Chronos, primeiro
e único, está
sempre presente.
Nunca abandona
a cena, embora
escreva torto, em
alfabeto rúnico.

Se il Signore, dio
del sì e del sennò,
talvolta abbandona
le sue disumane
creature, Chronos
giammai commette
tali imposture.

Chronos, primo
e unico, è
sempre presente.
Non abbandona mai
la scena, sebbene
scriva storto, in
alfabeto runico.

________________

Pietra runica di  Ljungby (Svezia)
(XI secolo d.C.)
...

E-mail ao tempo


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E-mail ao tempo
E-mail al tiempo

dentro da casca de meu grito
eu te chamaria de
casa
carapaça
lençol infinito

também te diria carrasco
pai
mãe drástica
continente absoluto

e talvez te desse
o nome de irmão-juiz
anjo vingador

mas não te chamaria
jamais
meu amigo

dentro de la casca de mi grito
yo te llamaría de
casa
caparazón
mortaja infinita

también te diría verdugo
padre
madre drástica
continente absoluto

y tal vez te diera
el nombre de hermano-juez
ángel vengador

pero no te llamaría
nunca
mi amigo

________________

Aldo Romano
Tortuga-laberinto (1988)
...

E-mail ao tempo


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E-mail ao tempo
E-mail al tempo

dentro da casca de meu grito
eu te chamaria de
casa
carapaça
lençol infinito

também te diria carrasco
pai
mãe drástica
continente absoluto

e talvez te desse
o nome de irmão-juiz
anjo vingador

mas não te chamaria
jamais
meu amigo

dentro la scorza del mio grido
io ti chiamerò
casa
carapace
lenzuolo infinito

ti dirò anche boia
padre
madre drastica
continente assoluto

e ti darò chissà
il nome di fratello-giudice
angelo vendicatore

ma non ti chiamerò
mai
amico mio

________________

Aldo Romano
Tartaruga-labirinto (1988)
...

Em nenhum lugar, a morte...


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Em nenhum lugar, a morte...
In nessun luogo, la morte...


Em nenhum lugar, a morte é mais fácil:
A morte sempre horizonte,
Sempre presente, sempre prometida;
Os lugares, fugazes
Secam da magia que algum viver
Ou alguma memória lhes infundiu
Morrer na pátria? Ser sepultado na pátria?
Pátria é essa que em nós sonhamos,
E que, sabiamente, nunca enflora
Mais além do que o sonhar
É certo que os versos de um poeta
São o seu sonho de pátria,
A sua pátria de sonho,
Os versos do poeta são a sua sepultura,
O lugar infindo onde se deita
Para não morrer.
Por isso, onde o homem ancorou na morte,
Aí fique, matéria gerando matéria.
Ao poeta, deixe-se a voz
Que ninguém pode sepultar.

In nessun luogo, la morte è più facile:
La morte sempre all’orizzonte,
Sempre presente, sempre promessa;
I luoghi, fugaci,
Si svuotano della magia che un certo vivere
O una certa memoria ha loro infuso
Morire in patria? Esser sepolto in patria?
Patria è quella che sogniamo in noi,
E che, saggiamente, non dà mai fiori
Al di là di quello che si sogna
È certo che i versi d’un poeta
Sono il suo sogno di patria,
La sua patria di sogno,
I versi del poeta sono la sua sepoltura,
Il luogo illimitato ove si stende
Per non morire.
Perciò, dove l’uomo s’è ancorato alla morte,
Lì rimanga, materia che genera materia.
Al poeta, si lasci la voce
Che nessuno potrà seppellire.

________________

Meister des Codex Manesse
Walther von der Vogelweide (1305-1315)
...

Chronos


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Chronos
Cronos

Se existe um Deus, seu nome é Chronos
e nos pôs aqui a caminhar sobre um fio
de navalha. Os pés sangrando, passos
indecisos, não somos nossos legítimos
donos. E o que julgamos aço é pó, é palha.
Vamos, todos, escravos desse deus
sem rosto. Não o vemos nas sombras
do amanhecer. Dele não temos sinais
nas cinzas do sol posto. Mas ele está
presente em cada suspiro de gozo, cada revés.
Vamos, muitos. Cada um por si e com
as próprias chagas nos pés. Às vezes,
armados de cifras e cronômetros,
sofremos o delírio do comando.
Mas Chronos, o Implacável, o Cruel
entre os Cruéis, sempre dá as cartas
no derradeiro e verdadeiro instante.

Si existe un Dios, su nombre es Cronos
y nos puso aquí a caminar sobre un hilo
de navaja. Los pies sangrados, pasos
indecisos, no somos nuestros legítimos
dueños.Y lo que juzgamos acero es polvo, es paja.
Vamos, todos, esclavos de ese dios
sin rostro. No lo vemos en las sombras
del amanecer.De él no tenemos señales
en las cenizas del atardecer.Pero el está
presente en cada suspiro de gozo, cada revés,
Vamos, muchos. Cada uno por sí mismo y con
las propias llagas en los pies.A veces,
armados de cifras y cronómetros,
sufrimos del delirio de mando.
Pero Cronos, el implacable, el cruel
de entre los crueles, siempre da las cartas
en el último y verdadero instante.

________________

Kathlyn Sweeny
Funámbulo (2015)
...

Chronos


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Chronos
Chronos

Se existe um Deus, seu nome é Chronos
e nos pôs aqui a caminhar sobre um fio
de navalha. Os pés sangrando, passos
indecisos, não somos nossos legítimos
donos. E o que julgamos aço é pó, é palha.
Vamos, todos, escravos desse deus
sem rosto. Não o vemos nas sombras
do amanhecer. Dele não temos sinais
nas cinzas do sol posto. Mas ele está
presente em cada suspiro de gozo, cada revés.
Vamos, muitos. Cada um por si e com
as próprias chagas nos pés. Às vezes,
armados de cifras e cronômetros,
sofremos o delírio do comando.
Mas Chronos, o Implacável, o Cruel
entre os Cruéis, sempre dá as cartas
no derradeiro e verdadeiro instante.

Se un Dio esiste, il suo nome è Chronos
e lui ci ha messi qui a camminare sul filo
d'una lama. Coi piedi sanguinanti, a passi
indecisi, non siamo legittimi padroni di noi stessi.
Ciò che crediamo acciaio è polvere, è paglia.
Procediamo, tutti, schiavi di questo dio
senza volto. Non lo vediamo tra le ombre
dell’aurora. Di lui non vi son tracce
tra le ceneri del tramonto. Ma egli è
presente in ogni sospiro di gioia, in ogni sciagura.
Procediamo, in tanti. Ciascuno per sé e con
le proprie piaghe ai piedi. Talvolta,
armati di cifre e cronometri,
ci struggiamo in deliri di comando.
Ma è sempre Chronos, l'Implacabile,
il Crudele tra i Crudeli, a dare le carte
nell’attimo veritiero e conclusivo.

________________

Kathlyn Sweeny
Funambolo (2015)
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Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (433) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (7) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)