Oração natural


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Donizete Galvão »»
 
Mundo Mudo (2003) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Oração natural
Preghiera naturale


Fique atento
ao ritmo,
aos movimentos
do peixe no anzol.

Fique atento
às falas
das pessoas
que só dizem
o necessário.

Fique atento
aos sulcos
de sal
de sua face.

Fique atento
aos frutos tardios
que pendem
da memória.

Fique atento
às raízes
que se trançam
em seu coração.

Fique atento.
A atenção
é sua forma natural
de oração.

Stai attento
al ritmo,
ai movimenti
del pesce all’amo.

Stai attento
alle parole
delle persone
che dicono solo
il necessario.

Stai attento
ai solchi
di sale
sul tuo viso.

Stai attento
ai frutti tardivi
che pendono
dalla memoria.

Stai attento
alle radici
che s’intrecciano
nel tuo cuore.

Stai attento.
L’attenzione
è la tua forma naturale
di pregare.

________________

Maurits Cornelis Escher
Pesci (1942)
...

Cisterna


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Donizete Galvão »»
 
Mundo Mudo (2003) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Cisterna
Cisterna


Água parada de poço.
Só um feixe de luz da lua
vem tocar-lhe a superfície.

Não mais se ouve
a música da carretilha.
Não mais se ouve
o balde batendo nas paredes de tijolos
e a água a se derramar.
Ninguém mais lava o rosto
e a bebe com sofreguidão.

Água parada de poço:
ambos estamos estáticos,
imersos
no negrume da noite.


Acqua ferma di pozzo.
Solo una lama di luce lunare
viene a sfiorarle la superficie.

Più non si sente
la musica della carrucola.
Più non si sente
il secchio che batte sulle pareti di mattoni
e l’acqua che si versa.
Nessuno più ci si lava il viso
e beve con avidità.

Acqua ferma di pozzo:
ambedue stiamo immobili,
immersi
nel tenebrore della notte.

________________

Paul Klee
Blue Night (1937)

Figuras de Giacometti


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Donizete Galvão »»
 
Pelo corpo (2002) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Figuras de Giacometti
Figure di Giacometti


Corpos sem entranhas.
Corpos sem linfa.
Famintos por miragens
que engolem inteiras.

Corpos como hastes
arqueadas pelo cansaço.
Corpos como um traço,
um risco de carvão.

Corpos sem encarnação.

Corpi senza viscere.
Corpi senza linfa.
Assetati di miraggi
che ingoiano per intero.

Corpi come steli
curvati dalla fatica.
Corpi come un tratto,
uno schizzo di carboncino.

Corpi senza incarnazione.

________________

Alberto Giacometti
Uomo che cammina (1960)
...

A cidade no corpo


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Donizete Galvão »»
 
Pelo corpo (2002) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


A cidade no corpo
La città nel corpo


A cidade perfura
o corpo
até a medula.
Contamina os ossos
com seus crimes.
Bica o fígado,
pesa sobre os rins.
Imprime seu labirinto de cinzas
na árvore dos pulmões.
A cidade finca raízes
no espaço das clavículas.
Esta cidade: minha cela.
Habita em mim
sem que eu habite nela.

La città perfora
il corpo
fino al midollo.
Contamina le ossa
coi suoi crimini.
Dilania il fegato,
grava sui reni.
Imprime il suo labirinto di ceneri
nell’albero dei polmoni.
La città conficca radici
nell’incavo delle clavicole.
Questa città: la mia cella.
Abita in me
senza che io la abiti.

________________

Georg Grosz
Metropoli (1916-1917)

Escoiceados


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Donizete Galvão »»
 
Ruminações (1999) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Escoiceados
Disarcionati


Meu pai e eu
nunca subimos
num alazão
que galopasse
ao vento.

Tínhamos
um burro
cinza malhado:
o Ligeiro.

Foi apanhado
de um conhecido
por ninharia.

Chegou com fama
de sistemático,
cheio de refugos.

De trote tão curto
que dava dor
nas costelas.

De certa vez,
caímos do burro.
Meu pai e eu.

Eu e meu pai.
Embolados.
Joelhos esfolados
no pedregulho.

Levamos
bons coices.
Meu pai e eu.

Os dois
nunca subimos
na vida.

Mio papà ed io
mai salimmo
su un baio
che galoppasse
nel vento.

Avevamo
un asino
grigio pezzato:
il Ligeiro.

L’aveva preso
un conoscente
per una fesseria.

Giunse con fama
di ostinato,
scartato da tutti.

Così corto il trotto
da far male
alle costole.

Un bel giorno,
cademmo dall’asino.
Mio papà ed io.

Io e mio papà.
Ruzzolati.
Ginocchia sbucciate
sul pietrisco.

Ci beccammo
dei bei calci.
Mio papà ed io.

Noi due
non ci elevammo mai
nella vita.

________________

Franz Marc
Cavallo e asino (1912)

Solilóquio de Vitorino Nemésio


Nome:
 
Collezione:
Fonte:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Galeria (2016) »»
Sito dedicato all'autore »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Solilóquio de Vitorino Nemésio
Soliloquio di Vitorino Nemésio


Sabes que envelheceste,
Porque o sangue nas tuas veias
Vai irrigando também a morte.
É curioso como um homem que envelhece
Se assemelha à giesta, à urze.
Os seus sonhos são o tropel
De cavalos há muito mortos,
Que ficaram a dormir nas sombras
Que a infância ainda projecta;
O latir de cães companheiros de infância
E que nela ficaram, dormindo ao sol.
Um homem que envelhece
Reúne-se, em certas tardes,
Com parentes desaparecidos,
Retoma hábitos intocados,
Volta atrás em amores ressequidos
E inflecte para palavras
Que terá calado ou perdido.
Um homem que envelhece
Permite-se revisitar todas as vidas
Que poderia ter tido,
Como se divisões vazias de uma casa,
Ou melhor, como se ilhas desertas
De um arquipélago de vidas.
Um homem que envelhece
Pensa “Oxalá o meu Deus seja verdadeiro”
E tu sabes que envelheceste,
Sabes porque nunca o sangue
Te pareceu tão transitório,
Artérias que o levam,
Veias que o não trazem
Contaminado com os venenos de existir.
Sabes que envelheceste
Porque o teu corpo já não se recusa
A ser efémero: resigna-se.

Sai d’essere invecchiato,
Perché il sangue nelle tue vene
Sta irrorando anche la morte.
È curioso come un uomo che invecchia
Venga ad assomigliare alla ginestra, all’erica.
I suoi sogni sono lo scalpitio
Di cavalli morti da tempo,
Rimasti a dormire tra le ombre
Che l’infanzia ancora proietta;
I latrati di cani compagni d’infanzia
Che là sono rimasti, dormendo al sole.
Un uomo che invecchia
Si riunisce, certe sere,
Con parenti scomparsi,
Riprende abitudini intatte,
Fa ritorno ad amori inariditi
E si riappropria di parole
Che avrà taciuto o perduto.
Un uomo che invecchia
Si permette di rivisitare tutte le vite
Che potrebbe aver vissuto,
Come se fossero locali vuoti d’una casa,
O meglio, come fossero isole deserte
D’un arcipelago di vite.
Un uomo che invecchia
Pensa “Voglia il cielo che il mio Dio sia vero”
E tu sai d’essere invecchiato,
Lo sai perché mai il sangue
T’è parso tanto precario,
Arterie che lo incanalano,
Vene che non lo trasportano
Contaminato dai veleni del vivere.
Sai d’essere invecchiato
Perché il tuo corpo più non si rifiuta
D’esser effimero: si rassegna.

________________

Marie-Christine Palombit
Duello II (1994)
...

Ostras


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Donizete Galvão »»
 
Ruminações (1999) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Ostras
Ostriche


A ostra
e a aspereza
de sua crosta.
O acúmulo
de craca
nas rugas
da carapaça.
O cheiro podre
de mangue
entranha-se nas digitais
e no tecido das narinas.
Lembram ao homem
seu invólucro de lama.

A ostra
é metade pedra,
calcárias escaras
brancas que se abrem
aos golpes da faca.
Por fora, objeto
coberto por perebas.
Por dentro, fêmea
líquida em leito
de nácar.
Trêmula rosa,
íntima e recém-nascida,
envolta em gosma.

A ostra
se fecha
e na sua
caixa tosca
purifica-se,
protege-se
do lodo.
Oculta,
eleva
sua carne
ao limite
da sólida
pérola.

L’ostrica
e la scabrosità
della sua crosta.
L’accumulo
di concrezioni
nelle rughe
del carapace.
L’odore putrido
di mangrovia
penetra nelle dita
e nel tessuto delle narici.
Ricordano all’uomo
il suo involucro di melma.

L’ostrica
è mezza pietra,
scabro calcare
bianco che si apre
ai colpi del coltello.
Di fuori, oggetto
coperto di grumi.
Di dentro, femmina
liquida in un letto
di madreperla.
Tremula rosa,
intima e neonata,
avvolta in mucosa.

L’ostrica
si chiude
e nella sua
scatola grezza
si purifica,
si protegge
dal fango.
Occulta,
eleva
la sua carne
all’apice
della solida
perla.

________________

Gustave Caillebotte
Natura morta con ostriche (1881)

O grito


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Donizete Galvão »»
 
Ruminações (1999) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


O grito
Il grido


O porco guincha
e sob a pata dianteira
sai a golfada de sangue
que enche a bacia.

Horas depois,
pronto o chouriço,
comemos o sangue preto,
as tripas, o grito.

Il porco strilla
e sotto la zampa anteriore
schizza il fiotto di sangue
che riempie il bacile.

Ore più tardi,
è pronto il chorizo,
mangiamo il sangue nero,
le trippe, il grido.

________________

Francis Bacon
Figura con carne (1954)




Tapera


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Donizete Galvão »»
 
A Carne e o Tempo (1997) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Tapera
Tugurio


Deixe que os morcegos
ocupem o forro
e as caixas de marimbondo
tomem conta dos seus cantos.
Deixe que a macega
suba pela escada até o alpendre
e prolifere nas rachaduras do reboco.
Deixe que o musgo
cubra o tampo da cisterna
e que os escorpiões
armazenem veneno sob os tijolos.
Nada dói mais do que a lembrança da casa,
encravada como um prego
que lateja na memória.

Lascia che i pipistrelli
s’appendano alle travi
e le casette delle vespe
occupino tutti gli angoli.
Lascia che la gramigna
salga lungo la scala fino alla tettoia
e proliferi nelle fessure dell'intonaco.
Lascia che il muschio
ricopra il chiusino della cisterna
e che gli scorpioni
accumulino veleno sotto i mattoni.
Niente fa più male del ricordo della casa,
piantato come un chiodo
che martella nella memoria.

________________

Carlo Carrà
Dopo il tramonto (1927)

Deveria ser dado que morrêssemos...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Últimos Poemas (2009) »»
 
Francese »»
«« 60 / Sommario (62) / 63 »»
________________


Deveria ser dado que morrêssemos
Ci dovrebbe esser concesso di morire


Deveria ser dado que morrêssemos
Com um amor ainda vivo em nós,
Como deveria ser dado a um pássaro
Morrer naturalmente em pleno voo

Ci dovrebbe esser concesso di morire
Con un amore ancora vivo in noi,
Come un uccello dovrebbe poter morire
Secondo la sua natura in pieno volo

________________

Joan Miró
Il volo dell'uccello sulla pianura II
(1939)
...

Ao teu lado, mudo


Nome:
 
Collezione:
Fonte:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Últimos Poemas (2009) »»
Luso Poemas »»
 
Francese »»
«« 51 / Sommario (52) / 53 »»
________________


Ao teu lado, mudo
Accanto a te, muto


“Invadiu-me uma sensação de calma,
de tristeza e de fim”

Virginia Woolf

Ao teu lado, mudo.
Suponho que pousei a mão
No teu ombro, não sei,
Ausentes ambos,
Tu do ombro, eu da mão.
Lá fora, não muito longe
Do vidro, a manhã passa
E é calma, tristeza, fim.

“M’invase una sensazione di calma,
di tristezza e di fine”

Virginia Woolf

A te accanto, muto.
Penso d’aver posato la mano
Sulla tua spalla, non so,
Entrambi assenti,
Tu dalla spalla, io dalla mano.
Là fuori, non molto lontano
Dal vetro, passa il mattino
Ed è calma, tristezza, fine.

________________

Henry Moore
Re e Regina (1952-53)

...

Segunda meditação da carne


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Donizete Galvão »»
 
A Carne e o Tempo (1997) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Segunda meditação da carne
Seconda meditazione sulla carne


Véu de penugem,
que se ergue
ao balançar dos lençóis.
Corpo nu, iluminado
pela réstia de luz
que vara o quarto.
Desenho de ancas,
fluidez das pernas,
cálido hálito de boca
entreaberta.

Inda que imperfeita,
quem sabe por isso mesmo,
sua figura de mulher
resplandece como pera madura.

De onde flui este desejo
que dói como fratura exposta?
A alma quer mais do corpo.
Quer que ele se gaste.
Quer que definhe,
sem nada que lhe baste.
Quer que se desespere
por nunca estar saciado.
Quer que ele procure em vão,
sem encontrar a resposta.

Velo di peluria,
che si drizza
nell’ondeggiare dei lenzuoli.
Corpo nudo, illuminato
dalla lama di luce
che trafigge la stanza.
Disegno di anche,
flessuosità delle gambe,
caldo alito di bocca
semiaperta.

Pur se imperfetta,
ma forse proprio per questo,
la tua figura di donna
risplende come pera matura.

Da dove fluisce questa smania
che duole come frattura esposta?
L’anima vuole di più dal corpo.
Vuole che si consumi.
Vuole che s’esaurisca,
senza che mai gli basti.
Vuole che si disperi
per non esser mai sazio.
Vuole che s’interroghi invano,
senza trovar risposta.

________________

Giorgio de Chirico
Ettore e Andromaca (1917)

Depois da queda


Nome :

Collezione :

Altra traduzione :
Donizete Galvão »»

A Carne e o Tempo (1997) »»

Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Depois da queda
Dopo la caduta


Memória do paraíso
não tenho não.
Lembro-me da dor.
Da vergonha.
Do desgosto.
Da gota de suor
pingando do rosto.

Memoria del paradiso
no, non ne ho.
Mi ricordo la pena.
La vergogna.
Il rimorso.
Quella goccia di sudore
che mi rigava il viso.

________________

Disegno a inchiostro di
Marie Marchand

A dança lê o espaço


Nome :

Collezione :
Fonte :

Altra traduzione :
Nuno Rocha Morais »»

Últimos Poemas (2009) »»
nunorochamorais.blogspot (2015/06) »»

Francese »»
«« 46 / Sommario (47) / 48 »»
________________

A dança lê o espaço
La danza legge lo spazio

A dança lê o espaço
E só onde pousa o corpo
Não é o vazio.

Conheceis o deslumbre
De um mundo que só existe
A cada gesto.
La danza legge lo spazio
E solo dove il corpo si posa
Non c’è il vuoto.

Si sperimenta l’ebbrezza
D’un mondo che esiste solo
Ad ogni gesto.
________________

Henri Matisse
La danza (1909)

A morte de Kavafis


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Nuno Rocha Morais »»
 
Últimos Poemas (2009) »»
 
Francese »»
«« 48 / Sommario (49) / 50 »»
________________

A morte de Kavafis
La morte di Kavafis

Febo vingava-se de novo
Com uma variante da maldição de Cassandra:
O cancro da laringe.
Mas não estava ainda tudo dito,
Faltava o I know not what tomorrow will bring.
Kavafis desenhou então,
No mundo implícito de uma folha de papel,
Um círculo e no centro do círculo apôs,
Meticuloso, um ponto final,
A vida completando-se imperceptivelmente
No interior da arte.
Febo si vendicava nuovamente
Con una variante della maledizione di Cassandra:
Il cancro della laringe.
Ma ancora non era tutto detto,
Mancava il I know not what tomorrow will bring.
Kavafis disegnò allora,
Nel mondo implicito d’un foglio di carta,
Un cerchio e al centro del cerchio aggiunse,
Meticoloso, un punto finale:
La vita che si conclude impercettibilmente
In seno all’arte.
________________


Jean-Charles Taillandier
Saggi sul ritratto
(2013-2018)

Diria o Ricardo Reis


Nome :

Collezione :
Fonte :

Altra traduzione :
Nuno Rocha Morais »»

Galeria (2016) »»
nunorochamorais.blogspot.com (giugno 2019) »»

Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________

Diria o Ricardo Reis
Ricardo Reis direbbe

Em nós tudo acabará
Num nó onde quebraremos.
No silêncio,
Onde afogaremos tudo o que está para trás
E seremos afogados na distância.

Saibamos acabar,
Cumpramos as estações que despertam
Na possibilidade dos dedos.
E quando acabarmos,
Abramos as mãos
E que nenhum por fazer delas role.

Saibamos não legar perante a morte
À nossa curta vida
As feições da culpa
De ainda mais a termos encurtado.
In noi tutto finirà
In un nodo in cui c’infrangeremo.
Nel silenzio,
In cui affogheremo tutto ciò che è stato
E su questa distanza saremo affogati.

Dobbiamo saper finire,
Adeguiamoci alle stagioni che si risvegliano
Nell’arco delle dita d’una mano.
E quando noi finiremo,
Apriamo le mani
E che non cada nulla di sospeso.

Davanti alla morte non ascriviamo
Alla nostra breve vita
Le prove della colpa
D’averla ancor più abbreviata.
________________

Egon Schiele
Der Lyriker (Selbstdarstellung)
1911

Adamastor


Nome :

Collezione :
Fonte :

Altra traduzione :
Nuno Rocha Morais »»

Galeria (2016) »»
nunorochamorais.blogspot.com (junho 2015) »»

Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________

Adamastor
Adamastor

Nos longos corredores da História
Há memórias plúmbeas de medo,
Mas cujo rosto não é o de Adamastor.

Adamastor é apenas o riso
De uma vontade virgem, inerte,
Inutilizada, que troça
Do nosso medo e mutismo.
Nei lunghi corridoi della Storia
Vi sono plumbee memorie di paura,
Ma il cui volto non è quello di Adamastor.

Adamastor è soltanto la risata
D’una forza innocente, inerte,
Inutilizzata, che si burla
Della nostra paura e del mutismo.
________________

Adamastor
Piastrelle nell'Hotel Buçaco Palace

Camões


Nome :

Collezione :
Fonte :

Altra traduzione :
Nuno Rocha Morais »»

Galeria (2016) »»
nunorochamorais.blogspot.com (junho 2015) »»

Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________

Camões
Camões

De ti, muito pouco sabemos
Que não seja verso:
O amor que, dócil, se estendia
Como praia matinal,
A vida traída nos declives
Dos enganos e — pior — dos desenganos,
O ser português que era algo
De não caber no peito,
Mas só no mundo.
Até os teus versos, onde os homens
Se tornaram deuses dos deuses,
Não soam humanos,
Incriados, alheios à pequenez da pena,
Envoltos no amplo silêncio de cantar,
Como ninfa da luz recém-nascida,
Nas tuas palavras se erige uma língua,
As suas novas dores e sortilégios e silêncios.
Tão somente isto de ti sabemos:
Alma de terra e oceano.
Di te, conosciamo assai poco
Al di là dei tuoi versi:
L'amore che, docile, s’offriva
Come spiaggia al mattino,
La vita tradita sulla china
Degli inganni e - peggio ancor - dei disinganni,
L'essere portoghese che era qualcosa
Da non poter stare in un cuore
Ma nel mondo intero.
Anche i tuoi versi, in cui gli uomini
Divengono dei degli dei,
Non paiono umani,
Increati, estranei all’esiguità della penna,
Avviluppati nell'ampio silenzio del canto,
Come ninfa d’una recente luce,
Dalle tue parole scaturisce una lingua,
I suoi nuovi dolori e sortilegi e silenzi.
E questo è quanto noi di te conosciamo:
Anima di terra e d'oceano.
________________

Luís Vaz de Camões
O Mosteiro dos Jerónimos

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (433) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (7) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)