VI - dormem contos...


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VI - dormem contos...
VI - dormono storie...


dormem contos nos ninhos de cores
claros repousados sobre a relva
oh pastores, guardai os rebanhos!
dormono storie nei nidi colorati
chiari placidi sopra l’erba
oh pastori, vigilate sulle greggi!
________________

Vincent van Gogh
Natura morta con tre nidi (1885)
...

Primavera


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Primavera
Primavera


Todo o amor que nos
prendera
como se fora de cera
se quebrava e desfazia
ai funesta primavera
quem me dera, quem nos dera
ter morrido nesse dia

E condenaram-me a tanto
viver comigo meu pranto
viver, viver e sem ti
vivendo sem no entanto
eu me esquecer desse encanto
que nesse dia perdi

Pão duro da solidão
é somente o que nos dão
o que nos dão a comer
que importa que o coração
diga que sim ou que não
se continua a viver

Todo o amor que nos
prendera
se quebrara e desfizera
em pavor se convertia
ninguém fale em primavera
quem me dera, quem nos dera
ter morrido nesse dia
Tutto l’amore che ci
attanagliava
come se fosse di cera
si sfasciava e disfaceva
ahi funesta primavera
meglio per me, meglio per noi
se fossimo morti già allora

E mi condannarono a tanto
a viver da solo il mio pianto
a vivere, vivere ma senza di te
vivendo senza che intanto
io mi scordassi di quell’incanto
che avevo perduto quel dì

Di solitudine il duro pane
è solo questo ciò che ci danno
ciò che ci dan da mangiare
che importa se il nostro cuore
dica di sì o di no
se poi continua ad esistere

Tutto l’amore che ci
attanagliava
s’era sfasciato e disfatto
in panico s’era convertito
nessuno più parli di primavera
meglio per me, meglio per noi
se fossimo morti già allora
________________

Marc Quinn
Under the volcano (2012)
...

Penélope


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Penélope
Penelope


mais do que um sonho: comoção!
sinto-me tonto, enternecido,
quando, de noite, as minhas mãos
são o teu único vestido.

e recompões com essa veste,
que eu, sem saber, tinha tecido,
todo o pudor que desfizeste
como uma teia sem sentido;
todo o pudor que desfizeste
a meu pedido.

mas nesse manto que desfias,
e que depois voltas a pôr,
eu reconheço os melhores dias
do nosso amor.
più ancor che un sogno: commozione!
mi sento confuso, inebriato,
quando, di notte, le mie mani
diventano il tuo unico vestito.

e ricomponi con questa veste,
che io, inconsapevole, ho tessuto,
tutto il pudore che avevi rimosso
come fosse una tela dissennata;
tutto il pudore che avevi rimosso
su mio invito.

ma in questo manto che ti togli
e che poi torni ad indossare,
io ravviso i giorni più belli
del nostro amore.
________________

Robert Auer
La veste del paradiso (1928)
...

V - um estranho encanto...


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V - um estranho encanto...
V - uno strano incanto...


um estranho encanto no bosque
algo verde-claro amarelo e pastel
bela Arcádia ante meus olhos
oh poetas, cantai a vida!
uno strano incanto nel bosco
qualcosa di verde chiaro di giallo tenue
bella Arcadia davanti ai miei occhi
oh poeti, cantate la vita!
________________

Rasel Ahmed
Lago tra gli alberi (2022)
...

Orquestra, flor e corpo


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Orquestra, flor e corpo
Orchestra, fiore e corpo


Orquestra, flor e Corpo:
    doravante direi
Como do corpo a música se extrai,
Como sem corpo a flor não tem perfume,
Como de corpo a corpo o som se repercute.
 
Orquestra, sim: orquestra. E flor. E noite.
Doravante dizendo orquídea negra
é logo o violoncelo nomeado;
E logo, logo, os instrumentos de arco
Arremessando vão a flecha ao alvo;
E é logo o alvo peito!
E é logo o amor,
E é logo a noite
Murmurando "Até logo!" à outra noite...
 
De corpo a corpo a noite se transmite.
Orquestra, sim: orquestra. E flor. E vaga.
 
E a noite é sempre o corpo anoitecido,
E o corpo é sempre a noite que se aguarda.
 
De corpo a corpo o som se repercute,
de vale em vale,
    de monte em monte,
de címbalo, de cítara, et coetera,
ao tímpano sensível que o recebe.
 
Sem concha do ouvido,
    o mar não tem rumor.
sem asa do nariz,
    não voa a maresia.
 
E o mundo só é mundo enquanto houver o corpo,
de música e de flor universal medida.
Orchestra, fiore e corpo:
    d’ora in avanti dirò
Come dal corpo la musica si estrae,
Come senza corpo il fiore non ha profumo,
Come da corpo a corpo il suono si ripercuote.
 
Orchestra, sì: orchestra. E fiore. E notte.
D’ora in avanti dicendo orchidea nera
subito s’allude al violoncello;
E subito dopo, agli strumenti ad arco
Che scoccati mandano la freccia al centro;
E subito il centro è il petto!
E subito è l’amore,
E subito è la notte
Mormorando "A subito!" a un’altra notte...
 
Da corpo a corpo la notte si trasmette.
Orchestra, sì: orchestra. E fiore. E onda.
 
E la notte è sempre il corpo nel buio,
E il corpo è sempre la notte cui si anela.
 
Da corpo a corpo il suono si ripercuote,
di valle in valle,
    di monte in monte,
da cembalo, da cetra, eccetera,
al timpano sensibile che lo riceve.
 
Senza la conchiglia dell’orecchio,
    il mare non ha rumore.
senza l’ala del naso,
    non vola la salsedine.
 
E il mondo è mondo solo finché c’è il corpo,
di musica e di fiore misura universale.
________________

Tranquillo Cremona
Melodia (1874-1878)
...

Ladaínha horizontal


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Ladaínha horizontal
Cantilena orizzontale


Como se fossem jangadas
  desmanteladas,
vogam no mar da memória
as camas da minha vida ...
Tanta cama! Tanta história!
Tanta cama numa vida!

Grabatos, leitos, divãs,
a tarimba do quartel;
e no frio das manhãs
lívidas camas de hotel ..
Ei-las vogando as jangadas
  desmanteladas,
todas cobertas de escamas
e do sal do mar da vida ...
Tanta cama! Tantas camas!
Tanta cama numa vida!

Já os lençóis amarrados
tocam no centro da Terra
(que o reino dos desesperados
fica no centro da Terra!)
e os cobertores empilhados
são monte que não se alcança!
Só as tábuas das jangadas
  desmanteladas
boiam no mar da lembrança
e no remorso da vida ...
Homem sou. Já fui criança.
Tanta cama numa vida!

Nem vão ao fundo as de ferro,
nem ao céu as de dossel. ..
Lembro-vos, camas de ferro
de internato e de bordel,
gaiolas da adolescência,
ginásios do amor venal!
Barras fixas. Imprudência.
Sem rede, o salto mortal
pra fora da adolescência ...
E confundem-se as jangadas
  desmanteladas
no mar da reminiscência ...
Onde estás, ó minha vida?
Sono. Volúpia. Doença.
Tanta cama numa vida!

E recordo-vos, tão vagas,
vós que viestes depois,
ó camas transfiguradas
das furtivas ligações!
Camas dos fins-de-semana,
beliches da beira-mar ...
Oh! que arrojadas gincanas
sobre os altos espaldares!
E as camas das noites brancas,
tão brancas!, tão tumulares!
Cigarros. Beijos. Uísque.
Ó fragílimas jangadas,
  desmanteladas ... !
E nelas há quem se arrisque
sobre os pélagos da vida!
Cigarros. Beijos. Uísque.
Tanta cama numa vida!

E o amor? Tálamo, templo,
conjugação conjugal ..
O amor: tálamo, templo
- ilha num mar tropical.
Mas ao redor, insistentes,
bramam as ondas do mar,
do mar da memória ardente,
eternamente a bramar ...
Já no frio dos lençóis
há prelúdios da mortalha;
e, nas camas, sugestões
fúnebres, torvas, pesadas...

- Sede, por fim, ó jangadas
  desmanteladas,
a ponte do esquecimento
prà outra margem da Vida!
Sede flecha, monumento,
ponte aérea sobre o Tempo,
redentora madrugada!
Se o não fordes, sereis nada,
jangadas
  desmanteladas,
todas roídas de escamas
da margem de cá da Vida ...
Pobres camas! Tristes camas!
Tanta cama numa vida!
Come se fossero zattere
  smantellate,
vogano nel mare della memoria
i letti della mia vita ...
Tanti letti! Tante storie!
Quanti letti in una vita!

Giacigli, letti, divani,
le brande della caserma;
e nel freddo di certi mattini
lividi letti d’albergo...
Ecco che vogano zattere
  smantellate,
tutte coperte di squame
e del sale del mar della vita...
Tanti letti! Tanti letti!
Quanti letti in una vita!

Ormai le lenzuola annodate
toccano il centro della Terra
(ché il regno dei disperati
si trova al centro della Terra!)
e le coperte ammucchiate
sono monte d’eccelsa altezza!
Solo le tavole delle zattere
  smantellate
ondeggiano sulle rimembranze
e sui rimorsi della vita...
Sono un uomo. Finita è l’infanzia.
Quanti letti in una vita!

Non vanno a fondo quelli di ferro,
né al cielo quelli col baldacchino...
Vi ricordo, letti di ferro
del collegio e del casino,
gabbie dell’adolescenza,
palestre dell’amore venale!
Barre fisse. Imprudenza.
Senza rete, il salto mortale
fuori dall’adolescenza...
E si confondono le zattere
  smantellate
nel mare della reminiscenza...
Dove stai, o vita mia?
Sonno. Voluttà. Malattia.
Quanti letti in una vita!

E ho ricordi di voi, un po’ sfumati,
voi che siete venuti dopo,
o letti trasfigurati
dalle relazioni segrete!
Letti dei fine settimana,
sdraio da spiaggia...
Oh! che audaci manovre
davanti alle alte testiere!
E i letti delle notti bianche,
così bianche!, così sepolcrali!
Sigarette. Baci. Whisky.
O fragilissime zattere,
  smantellate...!
E sopra c’è chi si arrischia
sugli oceani della vita!
Sigarette. Baci. Whisky.
Quanti letti in una vita!

E l’amore? Talamo, tempio,
coniugazione coniugale...
L’amore: talamo, tempio
- isola in un mare tropicale.
Ma tutt’intorno, insistenti,
urlano le onde del mare,
del mare della memoria ardente,
che urla eternamente...
Ormai il gelo delle lenzuola
è un preludio di sudario;
e, nei letti, suggestioni
funebri, torve, penose...

- È brama, infine, o zattere,
  smantellate,
ponte d’oblio
verso l’altra riva della Vita!
È brama dardo, monumento,
ponte aereo sopra il Tempo,
alba salvatrice!
Se così non fosse, nulla sareste,
zattere
  smantellate,
tutte corrose da squame
della riva di qua della Vita ...
Poveri letti! Tristi letti!
Quanti letti in una vita!
________________

Edouard Vuillard
Il sonno (1892)
...

Não entendes esta tristeza...


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Não entendes esta tristeza...
Non comprendi questa tristezza...


Não entendes esta tristeza
Que, subitamente, me queima a voz
E rapta os meus olhos para a sua distância.
Vou, então, procurar a melancolia do Porto,
De que às vezes me falas e dizes que não gostas,
Vou procurar os recantos e sombras
Que a solidão visita e onde se demora,
Certas ruas furtivas, quase secretas,
Ruas quase conchas,  
Porque as ruas no Porto não conduzem,
Mas fogem, entranham-se, estreitam-se,
Fogem em pequenas vielas sombrias.
Vou procurar a melancolia do Porto,
Que está em todo o lado,
Na humidade antiga, no frio cinzento,
Nas tardes de um verão indeciso, fustigado,
Até no riso dessas crianças
Para quem o mundo todo
Não vai além das pontes e do cais.
Não preciso de a procurar,
À melancolia do Porto:
A tristeza que não entendes correu para ela,
Desaguou já na confiança de antigos conhecidos.
Posso ficar a sós com a melancolia do Porto.
Non comprendi questa tristezza
Che, d’improvviso, mi brucia la voce
E cattura i miei occhi verso la sua lontananza.
Andrò, allora, in cerca della malinconia di Porto,
Di cui talvolta mi parli, dicendo che non ti piace,
Cercherò i recessi e le ombre
Che la solitudine visita e dove s’attarda,
Certe vie nascoste, quasi segrete,
Vie simili a conchiglie,
Perché a Porto le vie non conducono,
Ma sfuggono, s’insinuano, si stringono,
Sfuggono in vicoletti ombreggiati.
Andrò in cerca della malinconia di Porto,
Che sta da ogni parte,
Nell’umidità antica, nel freddo grigiore,
Nelle sere di un’estate indecisa, maltrattata,
Perfino nel sorriso di questi fanciulli
Per i quali tutto il resto del mondo
Non va al di là dei ponti e delle banchine.
Non occorre che vada a cercarla,
La malinconia di Porto:
La tristezza che tu non comprendi le è corsa incontro,
Ormai è sfociata nella confidenza di vecchi conoscenti.
Posso restare da solo con la malinconia di Porto. 
________________

Domingos Silva Fonseca
Porto (2016)
...

Inscrição estival


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Inscrição estival
Iscrizione estiva


Ó grande plenitude!

E a tudo
a tudo alheio,
saboreio.

Absorto
sorvo
este cacho de uvas
tão maduras...

Este cacho de curvas que é o teu corpo.
Oh grande pienezza!

E a tutto
a tutto alieno,
assaporo.

Assorto
sorseggio
questo grappolo d’uve
così mature...

Questo grappolo di curve che è il tuo corpo.
________________

Cornelis de Heem
Natura morta con uva e limone (1664)
...

Hai-Kai


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Hai-Kai
Haikai


Nós temos cinco sentidos:
são dois pares e meio de asas.

Como quereis o equilíbrio?
Abbiamo cinque sensi:
sono due paia e mezzo d’ali.

Come mantenere l’equilibrio?
________________

Joan Miró
Il sorriso delle ali sgargianti (1953)
...

IV - as ramagens que descendem...


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IV - as ramagens que descendem...
IV - le fronde che scendono...


as ramagens que descendem do alto dos carvalhos
conversam com as abelhas e com as águias
voando calmas através da paisagem indizível
le fronde che scendono dall’alto delle querce
conversano con le api e con le aquile
che calme volano attraverso l'ineffabile paesaggio
________________

Tacuinum sanitatis casanatensis
XIV secolo
...

Estrada, de noite


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Estrada, de noite
Strada, di notte


Ponho as mãos no volante e nem as vejo:
todo eu vou separado deste esforço.
Cem faces de saudade e de remorso
levantam-se da estrada… No meu dorso,
cem facas as reflectem como um espelho.
 
Vai o volante, só, no meio disto.
As mãos, porém não esquecem, quando esqueço
que, por sobreviver, foi este o preço.
Por entre o nevoeiro mais espesso
volante e mãos conduzem-me ao destino.
 
Sonho que vão ficando lapidadas
no vidro dos faróis as borboletas
que entre as asas luziam faces pretas
de saudade, remorso… Tão inquietas!
Serão agora sombras… quase nada!
 
Mas as facas reflectem vultos vivos
sobre o volante que dos olhos voa.
E o peso do passado se amontoa
– tão depressa uma corda ou uma coroa –
nestes pulsos convulsos e cativos!
Metto le mani sul volante e neppur le vedo:
io sono del tutto estraneo a questo sforzo.
Cento volti di rimpianto e di rimorso
si levano dalla strada… Sul mio dorso,
cento coltelli come uno specchio li riflettono.

Va, da solo, il volante, in mezzo a tutto questo.
Ma le mani non scordano, se lo scordo io
che, per salvarmi, è stato questo il prezzo.
Attraverso la caligine più densa
mani e volante alla meta mi guidano.

Sogno che vengono spappolate
sopra il vetro dei fari le farfalle
che tra le ali rispecchiavano volti neri
di rimpianto, di rimorso… Così agitate!
Ora saranno ombre… quasi annientate!

Ma i coltelli rimandano volti viventi
sopra al volante che dagli occhi vola.
E il peso del passato va crescendo
– in tutta fretta una corda o una corona –
su questi polsi contratti e soggiogati!
________________

Giacomo Balla
Velocità astratta + rumore (1913-1914)
...

Crepúsculo


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Crepúsculo
Crepuscolo


É quando um espelho, no quarto,
se enfastia;
Quando a noite se destaca
da cortina;
Quando a carne tem o travo
da saliva,
e a saliva sabe a carne
dissolvida;
Quando a força de vontade
ressuscita;
Quando o pé sobre o sapato
se equilibra...
E quando às sete da tarde
morre o dia
- que dentro de nossas almas
se ilumina,
com luz lívida, a palavra
despedida.
È quando uno specchio, nella stanza,
s’annoia;
Quando la notte si separa
dal tendaggio;
Quando la carne ha l’amaro
della saliva,
e la saliva sa di carne
imputridita;
Quando la forza di volontà
resuscita;
Quando il piede sulla scarpa
s’equilibra...
E quando alle sette della sera
muore il giorno
ecco che dentro le nostre anime
s’illumina,
di luce livida, la parola
epilogo.
________________

Angelo Morbelli
Parlatorio dell'ospizio (1891)
...

III - o sol é um clarim...


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III - o sol é um clarim...
III - il sole è un clarino...


o sol é um clarim
um clarão amarelo
derretido e sem matéria
e tudo que sua boca beija brilha
il sole è un clarino
un giallo chiarore
dissolto e senza materia
e tutto ciò che la sua bocca bacia brilla
________________

Nicolas de Staël
Il sole (1952)
...

As últimas vontades


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As últimas vontades
Le ultime volontà


Deixa ficar a flor,
a morte na gaveta,
o tempo no degrau.

Conheces o degrau:
o sétimo degrau
depois do patamar;
o que range ao passares;
o que foi esconderijo
do maço de cigarros
fumado às escondidas...

Deixa ficar a flor.

E nem murmures. Deixa
o tempo no degrau,
a morte na gaveta.

Conheces a gaveta:
a primeira da esquerda,
que se mantém fechada.
Quem atirou a chave
pela janela fora?
Na batalha do ódio,
destruam-se, fechados,
sem tréguas, os retratos!

Deixa ficar a flor.

A flor? Não a conheces.
Bem sei. Nem eu. Ninguém.

Deixa ficar a flor.

Não digas nada. Ouve.
Não ouves o degrau?

Quem sobe agora a escada?
Como vem devagar!
Tão devagar que sobe...

Não digas nada. Ouve:
é com certeza alguém,
alguém que traz a chave.

Deixa ficar a flor.
Lascia stare il fiore,
la morte nel cassetto,
il tempo dentro il gradino.

Tu conosci il gradino:
il settimo gradino
dopo il ballatoio;
cigolante al passaggio;
quel che fu nascondiglio
del mazzo di sigarette
fumato di nascosto...

Lascia stare il fiore.

E non ti lamentare. Lascia
il tempo dentro il gradino,
la morte nel cassetto.

Tu conosci il cassetto:
il primo da sinistra,
che è rimasto chiuso.
Chi ha buttato la chiave
fuori dalla finestra?
Nella battaglia d’odio,
si distruggano, chiusi,
senza tregue, i ritratti!

Lascia stare il fiore.

Il fiore? Non lo conosci.
Lo so. Neanch’io. Nessuno.

Lascia stare il fiore.

Non dire nulla. Ascolta.
Non senti il gradino?

Chi sale ora la scala?
Come si muove piano!
Talmente piano che sale...

Non dire nulla. Ascolta:
è di certo qualcuno,
qualcuno che porta la chiave.

Lascia stare il fiore.
________________

Robert Mapplethorpe
Fiori (1988)
...

Alba


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Alba
Alba


Com grinaldas de lodo sobre a testa,
presos os pés em turbilhões de limos,
- assim a madrugada nos desperta
e após a preia-mar nós emergimos.

Lambe-me o rosto a fimbria do lençol,
amarrotada, poluida espuma…
Sobre a salsugem, uma angustia mole,
que o pensamento arruma e desarruma.

Por fim derruba o muro dos enganos,
e ante nós dois derrama esta pergunta:
- De que infernos vibrantes nos soltamos,
sem que o céu compareça ou nos acuda?
Con ghirlande di fango sulla fronte
e i piedi avvinti da vortici di limo,
- così la luce dell’alba ci ridesta
e dopo l’alta marea noi riemergiamo.

L’orlo del lenzuolo mi lambisce il volto,
come sudicia, corrotta spuma…
Sopra la salsedine, un vago tormento,
che il pensiero scompiglia e poi sistema.

Infine abbatte il muro degli inganni,
e a noi due pone questa domanda:
- A che frementi inferni siam sfuggiti,
senza intervento del cielo e senza aiuti?
________________

Frederic Edwin Church
Levar del sole (1847)
...

II - um lago sereno e raso...


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II - um lago sereno e raso...
II - un lago sereno e liscio...


um lago sereno e raso me observa
o tempo é uma grande borboleta azul
pousada sobre o verde das vitórias-régias
un lago sereno e liscio mi osserva
il tempo è una grande farfalla blu
posata sopra il verde della victoria regia
________________

Stanley William Hayter
Ninfee (1970)
...

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