Almas


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Almas
Anime


Sempre admirei dos bichos
a magnífica destreza. Mesmo sem
alma, filosofia ou pátria,
defendem os limites
da pele e dos ameaçados territórios
onde se ocultam, no auge vital dos parcos anos.

Sempre admirei o desinteresse
soberano com que as fêmeas assistem
às competições masculinas e como
se mantêm independentes
e mestras na arte da caça
e sustento das crias, sem pensão
de alimentos ou outras demandas.

A sua maior tragédia
é serem tantas vezes criados
para serviço e digestão de bípedes
com alma, pátria e filosofia.

Degli animali ho sempre ammirato
la magnifica destrezza. Pur senza
anima, filosofia o patria,
difendono i confini
della pelle e dei territori minacciati
ove s’occultano, nell’arco vitale di pochi anni.

Ho sempre ammirato il disinteresse
sovrano con cui le femmine assistono
alle contese tra maschi e come
si mantengono indipendenti
e maestre nell’arte della caccia
e supporto dei cuccioli, senza diritto
agli alimenti o altre pretese.

La loro maggior tragedia
è d’essere molto spesso allevati
per servire e per sfamare bipedi
muniti d'anima, patria e filosofia.

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Velasquez
Ritratto di un nano di Filippo IV (1651)
...

Agora, também para mim...


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Agora, também para mim...
Ora, anche per me...


Agora, também para mim, na manhã póstuma,
Este silêncio é memória de uma voz,
Esta terra, um corpo.
O teu sangue, e o teu sangue
Nas entranhas desta terra,
Que será dele?
E no amor de que mundo confiarei agora?
No deste ou no dessoutro
Por que me abandonaste?
Não te esqueças de mim,
Não esqueças os meus olhos,
Que são, como sempre foram,
Um cálice aflito de palavras,
Palavras deste mundo cientes
De que os mortos não voltariam,
Mesmo que o pudessem.
O amor continua, cego,
A procurar-te dentro da morte.
Nenhum amor é precário.
Valeu a pena que tenhas morrido
Só para que eu o soubesse?

Ora, anche per me, nel postumo mattino,
Questo silenzio è memoria d’una voce,
Questa terra, d’ un corpo.
E il tuo sangue, e il tuo sangue
Nelle viscere di questa terra,
Che ne sarà di lui?
E nell’amore di che mondo confiderò ora?
In questo o in quell’altro
Perché m’hai abbandonato?
Non scordarti di me,
Non scordare i miei occhi,
Che sono, come son sempre stati,
Un calice afflitto di parole,
Parole di questo mondo consapevoli
Che i morti non torneranno,
Neppure se potessero.
L’amore ciecamente continua
A cercarti dentro la morte.
Nessun amore è precario.
È valsa la pena che tu sia morta
Solo perché io lo sapessi?

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Pierre Bonnard
Sala da pranzo in campagna (1913)
...

Silêncio


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Silêncio
Silenzio


Falas muito
de silêncio, nos
teus livros, como
alguém que jejua
entregue a lautos
banquetes. É essa
a contradição do poema. Nasce
para a mudez, mas
como a música, respira
por sons.

Parli molto
di silenzio, nei
tuoi libri, come
qualcuno che digiuni
dandosi a lauti
banchetti. È questa
la contraddizione della poesia. Nasce
per il mutismo, ma
come la musica, respira
per suoni.

________________

William Michael Harnett
Natura morta (1883)
...

Viagem


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Viagem
Viaggio


A noite cai como uma carta.
Viajo no comboio, viajo na noite,
Viajo dentro de mim, pensando-me.
O comboio galga os minutos da distância
E a natureza que, recusando-se
A ser vencida pela máquina
Corre sempre, perseguindo-se a si própria.
Paisagens de sombra e a imaginação delas
 sobrepõem-se.
A noite cai como uma carta
E perco-me na sua boca
Aberta e negra no horizonte.
La notte cade come una lettera.
Viaggio in treno, viaggio nella notte,
Viaggio dentro di me, pensandomi.
Il treno supera i minuti della distanza
E la natura che, rifiutandosi
D’esser vinta dalla macchina
Corre sempre, inseguendo sé stessa.
Paesaggi al buio e l’immagine che ne ricreo si
 sovrappongono.
La notte cade come una lettera
E mi perdo nella sua bocca
Aperta e nera all’orizzonte.
________________

Pippo Rizzo
Treno notturno in corsa (1920)
...

Tornou-se estranho, avó...


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Tornou-se estranho, avó...
Adesso pare strano, nonna...


Tornou-se estranho, avó,
Tudo tão em flor.
De onde e a que veio tudo isto –
Esta retórica de cores,
O fogo preso de seivas,
A celebração do tempo que passa –,
Se não és cúmplice?
Não morreste como uma rosa,
Deslumbrada por dentro de si própria,
Magnífica no definhar.
A que veio a agonia
De tudo tão em flor?
As cruzes não florescem,
Nenhuma data muda na lápide.

Adesso pare strano, nonna,
Che tutto sia così in fiore.
Da dove e perché arriva tutto questo –
Questa retorica di colori,
Il fuoco racchiuso nelle linfe,
La celebrazione del tempo che passa –,
Se tu non ne sei complice?
Tu non sei morta come una rosa,
Da se stessa ammaliata,
Magnifica nell’appassire.
Che senso ha l’agonia
Di tutta questa fioritura?
Le croci non fioriscono,
Nessuna data muta sulla lapide.

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Georgia O'Keeffe
Pink sweet peas (1927)
...

Puer natus est nobis


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Puer natus est nobis
Puer natus est nobis


Dos contos de fadas da
minha infância, este da Divina
Criança era dos mais maravilhosos. Não
faltaram os exóticos magos guiados
pela mística estrela, a noite gelada, os
mansos animais, o desvalido ermo, a pobreza
transformada em glória. O bem
sucedido parto de uma virgem, tantos séculos
antes das pesquisas genéticas. O pior
foi quando quiseram contar o Tempo
a partir desta história. Podiam ter escolhido
outra, com um fim menos cruel. Antes
a da Cinderela ou a do Príncipe Sapo, onde
todos viveram felizes para sempre. Sempre?
E o que é
  Sempre?

Dei racconti di fate della
mia infanzia, quello del Divin
Bambino era tra i più fantastici. Non
mancavano gli esotici re magi guidati
dalla mistica stella, la notte gelida, gli
animali mansueti, la capanna abbandonata, la povertà
trasformata in gloria. Il parto senza
complicazioni di una vergine, tanti secoli
prima della ricerca genetica. Il peggio
è stato quando han voluto contare il Tempo
a partire da questa storia. Potevano sceglierne
un’altra, con un finale meno crudele. Piuttosto
quella di Cenerentola o del Principe Ranocchio,
dove tutti sarebbero vissuti felici per sempre. Sempre?
Ma che vuol dire
    Sempre?

________________

Giotto
L'adorazione dei Magi (inizio XIV sec.)
...

Passageira


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Passageira
Passeggera


O poema que não
surpreende nem afirma
a inutilidade de si, nem ensina
a olhar a certa dissolução
das coisas, nem interroga
o desencanto

É uma espécie de prurido
nas nossas costas, coisa
irritante e passageira
que logo se esquece.

La poesia che non
sorprende né dichiara
la propria inutilità, né insegna
a guardare l’innegabile dissoluzione
delle cose, né s’interroga
sul disincanto

È una specie di prurito
sulla schiena, cosa
irritante e passeggera
che subito si scorda.

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Kurt Schwitters
Senza titolo (1925)
...

Morreste ao terceiro mês de tanta agonia...


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Morreste ao terceiro mês de tanta agonia...
Sei morta al terzo mese di tanta agonia...


Morreste ao terceiro mês de tanta agonia
E esta é a carne que sofre e não ressuscita.
Oxalá nas tuas pálpebras pese
O jaspe do sono eterno
E que nada, nem ciprestes,
Deuses, mármores, nada te ameace
Com a vida eterna.

Sei morta al terzo mese di tanta agonia
E questa è la carne che soffre e non risuscita.
Voglia il Cielo che sulle tue palpebre non gravi
Che il diaspro del sonno eterno
E che nulla, né cipressi,
Nè dei, né marmi, nulla ti minacci
Con la vita eterna.

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Vassily Polenov
Cimitero tra i cipressi (1897)
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Livros usados


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Livros usados
Libri usati


Tudo que se disse depois e
ainda se diz, pode estar num usado
exemplar de Crime e Castigo ou da Utopia.
Os livros usados - mesmo
mesmo que se chamen Utopia -
têm aquela terna docilidade
das páginas em que outras
mãos passaram, ao contrário
dos novos, que em rígidas e 
intactas páginas são só apenas
papel impresso.

E para escassos amigos, quando
se fugiu duma livraria de
consumíveis tops,
talvez seja essa
a melhor oferta.

Tutto ciò ch’è stato detto dopo e
ancora si dice, può trovarsi in una copia
usata di Delitto e Castigo o dell’Utopia.
I libri usati - anche,
sì, anche se si chiamano Utopia -
hanno quella calma docilità
delle pagine tra le quali altre
mani sono passate, all’opposto
dei nuovi, che in pagine 
rigide e intatte sono solamente
carta stampata.

E per gli scarsi amici, dopo
aver evitato una libreria di
best sellers,
forse questa sarà
il miglior regalo.

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Sebastian Stosskopf
Natura morta con libri (1625)
...

Ítaca sem gatos


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Ítaca sem gatos
Itaca senza gatti


Nenhum gato reconheceu Ulisses no
seu regresso a casa. Nem consta
que algum brincasse com os novelos
que a mulher dobava e desdobava
durante a longa ausência para
iludir os pretendentes. Por isso
me soa estranha a Odisseia e o
regresso a Ítaca sem o festivo içar
da cauda dum gato.

Nessun gatto riconobbe Ulisse al
suo ritorno a casa. Né risulta
che ce ne fossero a giocare coi gomitoli
che la moglie avvolgeva e svolgeva
durante la lunga assenza per
illudere i pretendenti. Per questo
mi suona strana l’Odissea e il
ritorno a Itaca senza che, festosa,
s’issasse la coda di un gatto.

________________

Robert McPherson
Ulisse e il suo cane (1851-1871)
...

Quando por fim se divisaram...


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Quando por fim se divisaram...
Quando infine si scorsero...


Quando por fim se divisaram
Os contornos do dia
Em que de todos os lados
A morte avançava;
Quando no corpo eclodia
O ser de insecto que também era,
Queimado pela agonia,
Tu só te preocupavas
Com a vareja das nozes e azeitonas,
Os enxertos no marmeleiro,
O quebranto da magnólia.
Com que doçura se extinguia
O teu coração de diospiro.
Era estranho que a minha avó,
Já quase alcançada pela morte,
Se não quisesse separar da terra.

Quando infine si scorsero
I contorni del giorno
In cui da ogni lato
La morte avanzava;
Quando nel corpo insorse
La natura d’insetto, anch’essa presente,
Bruciata dall’agonia,
Tu solo t’angustiavi
Per la mosca delle noci e delle olive,
Per le talee del cotogno,
Per la gracilità della magnolia.
Con che dolcezza s’estingueva
Il tuo cuore di diospiro.
Era strano che la mia nonna,
Già quasi raggiunta dalla morte,
Non volesse separarsi dalla terra.

________________

Camille Pissarro
La raccolta delle mele a Eragny (1888)
...

Amáveis (de amar)


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Amáveis (de amar)
Amabili  (da amare)


D. Fuas o gato de Jorge de Sena e
Coral o gato de Sophia ou
a gata Maravilhas de
João Miguel Fernandes Jorge e os
de tantos outros como Baudelaire ou Eliot,
amáveis (de amar) mas ferozmente
independentes, olham-nos
dos poemas com aquelas luzentes e atentas
contas de vidro (podia aqui comparar com ágatas
ou opalas, mas não quero entrar
no joalheiro).

Eles são talvez os mais puros
aristocratas entre os animais de companhia.
Tratam do próprio pêlo com minuciosos cuidados,
mesmo que não tenham casa certa e
até na extrema míngua conservam
uma distante prudência e unhas afiadas
de quem não se vende facilmente.
E é tanta a sua generosa fidalguia
que nunca desprezam a mão assídua
que lhes afaga o dorso e partilha
o sedentário desprezo do mundo,
mesmo doente velha ou caída em desgraça.

D. Fuas il gatto di Jorge de Sena e
Coral il gatto di Sophia o
la gatta Maravilhas di
João Miguel Fernandes Jorge e quelli
di tanti altri come Baudelaire o Eliot,
amabili (da amare) ma ferocemente
indipendenti, ci guardano
dalle poesie con quelle luccicanti e attente
perle di vetro (potrei qui compararli ad agate
o ad opali, ma non voglio entrare
dall’orefice).

Essi sono forse i più puri
aristocratici tra gli animali da compagnia.
Si curano del proprio pelo con scrupolosa attenzione,
anche quando non hanno una casa sicura e
perfino nell’estrema penuria conservano
una distante prudenza e unghie affilate
di chi non si vende facilmente.
E tanta è la loro generosa nobiltà
che non disprezzano mai la mano assidua
che il loro dorso accarezza e condivide
il sedentario disprezzo del mondo,
seppur vecchia e malata o caduta in disgrazia.

________________

Thomas Gainsborough
Sei studi di gatto (1765-1770)
...

Vagas


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Vagas
Onde


A colcha da cama desfeita
é agora mais leve e mais clara.
As sandálias brancas enviaram
ao armário a sombra
impermeável das botas. No lugar
do gorro de lã, demora-se hoje
um leve chapéu de palha. Algumas
plantas secaram, mas o calor dos
corpos libertou os lençóis
da sua humilde tarefa, lançando-os
longe como vagas de Agosto.

La coperta del letto disfatto
adesso è più lieve e più chiara.
I sandali bianchi hanno spedito
all’armadio l’ombra
impermeabile degli stivali. Al posto
della cuffia di lana, oggi è posato
un leggero cappello di paglia. Alcune
piante sono seccate, ma il calore dei
corpi ha dispensato i lenzuoli
dalla loro umile funzione, spingendoli
lontano come onde d’agosto.

________________

Imogen Cunningham
Letto sfatto (1957)
...

Não mudaram o rio de lugar, avó...


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Não mudaram o rio de lugar, avó...
Non han cambiato di posto al fiume, nonna...


Não mudaram o rio de lugar, avó,
Vê-se ainda da janela.
As três leiras estão desgrenhadas,
Três moçoilas casadoiras, mas tristes
Sem o cuidado das tuas mãos.
Este ano, lateja em vão
O calor do vinho no ventre das uvas
E da bouça não se vê
O teu rosto à janela.

Non han cambiato di posto al fiume, nonna,
Dalla finestra lo si vede ancora.
Le tre aiuole sono scompigliate,
Tre fanciulle da marito, ma tristi
Senza la cura delle tue mani.
Quest’anno, palpita invano
Il calore del vino nel ventre dell’uva
E dal campo non si vede
Il tuo volto alla finestra.

________________

Vilhelm Hammershøi
La finestra della stanza (1890)
...

Roda da fortuna


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Roda da fortuna
Ruota della fortuna


O número dez governa
os meus movimentos. Decénios
e decénios me transformaram...
em leme, nora, moinho,
hélice, chaminé, guindaste
ou num objecto-fantasma
em cenário de abandono. A
geometria divina do círculo
converteu-me no destino dos
homens. Subo e desço
em sucessivos ciclos. A
mutabilidade é o meu eixo
e habito a substância do tempo
que tudo destrói e regenera.

Il numero dieci governa
i miei movimenti. Decenni
e decenni mi hanno trasformata...
in timone, carrucola, mulino,
elica, camino, gru
o in un oggetto fantasma
entro uno scenario d’abbandono. La
geometria divina del cerchio
mi ha convertita nel destino degli
uomini. Salgo e scendo
in cicli successivi. La
mutevolezza è il mio asse
e abito la sostanza del tempo
che tutto distrugge e rigenera.

________________

Rosone della Chiesa di Santa Maria delle Donne
Ascoli Piceno (XIII sec.)
...

Remorso


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Remorso
Rimorso


Durante a leitura nocturna
descia, às vezes, as escadas
e procurava no escuro, dentro
de um cesto, uma forma
redonda. Na quadra iluminada
do quarto, mordia depois a maçã
vermelha escura. Era enorme o ruído
dos dentes, no silêncio dessa hora
tardia e irremediável a culpa
de ter destruído aquela polpa húmida
de onde pendia o descarnado pé
no íntimo saber de pequenas sementes
que podia perfeitamente
ter apodrecido em paz.

Durante la lettura notturna
scendevo, a volte, le scale
e cercavo al buio, dentro
un cestello, una forma
rotonda. Nel riquadro illuminato
della stanza, mordevo poi la mela
rosso scura. Era immane il rumore
dei denti, nel silenzio di quella
tarda ora e irrimediabile la colpa
d’aver distrutto quella polpa umida
da cui pendeva il torsolo spolpato,
sapendo, nell’intimo, che dei piccoli semi
avrebbero potuto perfettamente
continuare a marcire in pace.

________________

Antonio Donghi
Margherita (1936)
...

Embora nos desanuvie a fronte...


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________________


Embora nos desanuvie a fronte...
Benché ci rischiari la fronte...


Embora nos desanuvie a fronte
Esta chuva tardia,
Já não é tempo de discordarmos
Com um abraço exausto
E assim se recomeça, pela última vez,
A cena final de uma pantomina triste.
Estas mãos jazem, inumadas
Na deriva imóvel em que se vão mudando
Naquelas mãos, vestígios de um elo perdido,
Confluência de repousos, abandonos.

Benché ci rischiari la fronte
Questa pioggia tardiva,
Adesso non è il momento di opporsi
Ad un abbraccio esausto
E così si ricomincia, per l’ultima volta,
La scena finale di una pantomima triste.
Queste mani giacciono, sepolte
Nell’immobile deriva ove si trasformeranno
In quelle mani, memorie d’un anello perduto,
Confluenza di riposi, di abbandoni.

________________

Pam Glick
Hard Way VI (2022)
...

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