Domador de relâmpagos


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Domador de relâmpagos
Domatore di fulmini


Eu não gostaria de ser
aquele que anuncia em praça pública
os éditos e os funerais do rei.

Não gostaria de ser o carrasco
que decepou a cabeça de Ana Bolena
aos olhos marejados do Tâmisa.

Não gostaria de ser o marujo
que do alto do mastro da gávea
contempla a diáspora das espumas.

Não gostaria de ser o tangedor
de caravanas que adivinha o som da
água nas pupilas dos camelos.

Não gostaria de ser empalhador
de borboletas e de pássaros.
Gostaria de ser domador de relâmpagos.
Io non vorrei essere
colui che annuncia in pubblica piazza
gli editti e i funerali del re.

Non vorrei essere il boia
che tagliò la testa di Anna Bolena
agli occhi lacrimosi del Tamigi.

Non vorrei essere il marinaio
che dall’alto dell’albero maestro
contempla la diaspora delle spume.

Non vorrei essere il conduttore
della carovana che avverte la presenza
dell’acqua nelle pupille dei cammelli.

Non vorrei essere impagliatore
di farfalle e d’uccelli.
Vorrei essere domatore di fulmini.
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Eso Peluzzi
L’imbalsamatore Vittorio Sapetti (1939)
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Dialética do poema


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Dialética do poema
Dialettica della poesia


Fazer um poema
não é dizer coisas profundas.
É ver as coisas como as coisas não são.

Fazer um poema não é viajar no espelho.
É ir à procura do rosto do homem
perdido na escuridão.

É descer às raízes do sangue e do mito.
Fazer um poema é estar em conflito
com os dedos da mão.
Fare una poesia
non è dire cose profonde.
È vedere le cose come le cose non sono.

Fare una poesia non è viaggiare nello specchio.
È andare alla ricerca del volto dell’uomo
perso nell’oscurità.

È scendere alle radici del sangue e del mito.
Fare una poesia è essere in conflitto
con le dita della mano.
________________

Jorge Pardo
Senza titolo (2023)
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Pastor de cabras


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Pastor de cabras
Pastore di capre


Fui pastor de cabras 
e de rios secos 
rezei pelas vacas que morreram de sede 
e os bezerros que ficaram 
órfãos e foram alimentados com 
o leite dos pássaros. 

Rezei pelas vértebras da paisagem 
pelo sangue das pedras 
pelas árvores e seus esqueletos 
de faraós, pelas portas 
fechadas das casas onde a lua 
dialoga com os mortos. 

Rezei em memória do vento 
que à noite pastoreia 
as lavouras soterradas de meu pai. 

Rezei pelos seios da terra 
pelo aniquilamento dos pássaros 
pela volta da chuva 
e a diáspora das borboletas. 
Rezei pelos náufragos do amor 
do tempo e da eternidade. 

Rezei pelos espantalhos de braços abertos 
rezei pelos afogados daquele rio 
que não seca nunca.
Fui pastore di capre
e di fiumi in secca 
pregai per le vacche ch’eran morte di sete
e per i vitelli che rimasero
orfani e furono alimentati con
il latte degli uccelli. 

Pregai per le vertebre del paesaggio
per il sangue delle pietre 
per gli alberi e i loro scheletri
di faraoni, per le porte
chiuse delle case in cui la luna 
dialoga con i morti. 

Pregai in memoria del vento 
che di notte pasce 
le colture sotterrate di mio padre. 

Pregai per il grembo della terra 
per lo sterminio degli uccelli
per il ritorno della pioggia 
e per la diaspora delle farfalle. 
Pregai per i naufraghi dell’amore 
del tempo e dell’eternità. 

Pregai per gli spaventapasseri a braccia aperte
pregai per gli affogati di quel fiume 
che non secca mai.
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Pablo Picasso
Capra (1950)
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Minibiografia


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Minibiografia
Minibiografia


Não sou moderno
também não sou antigo.
Sou o mendigo que trapaceia
por trás do postigo.

Sou o que penso
e jamais o que digo.
Aprendo nas ruas
que o inferno é estar vivo.

Melhor morrer no asfalto
do que ter inimigo
ter um barraco na favela
do que ter um jazigo
com versos de Petrarca no
mármore antigo.

Às vezes trago
metáforas de trigo.
Meus versos não servem para nada.
Ser poeta é como ter
o corpo dizimado pelo vitiligo.
Non sono moderno
non sono neppur vecchio.
Sono il barbone che traffica
nascosto dietro il portico.

Io sono ciò che penso
e giammai ciò che dico.
Apprendo per le strade
che l’inferno è esser vivo.

Meglio morire sull’asfalto
piuttosto che avere un nemico
avere una baracca nella favela
piuttosto che un mausoleo
con versi di Petrarca incisi
sul marmo antico.

Talvolta utilizzo
metafore d'orzo.
A nulla i miei versi servono.
Esser poeta è come avere
la vitiligine a sfigurarti il corpo.
________________

Anton van Dyck
Studio per San Girolamo (1620 ca.)
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Discurso das medalhas


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Discurso das medalhas
Discorso delle medaglie


As luas espetadas nas muralhas
zombam dos homens
e de suas medalhas.

Tuas vitórias
onde estão tuas vitórias e os troféus
que brilhavam no teu peito?

Onde estão os pensamentos dos que morreram
nos campos de batalha?
Onde estão as noivas dos soldados mortos?

Onde estão os fuzis e as espadas
desses meninos, sepultados em valas clandestinas
longe das mães e da pátria?

As vogais do teu epitáfio foram escritas
com sangue. Ninguém já se lembra
da cor de tuas medalhas.

As luas espetadas nas muralhas
foram levadas por um vento forte.
Perdeste a batalha da morte.
Le lune inchiodate alle muraglie
si beffano degli uomini
e delle loro medaglie.

Le tue vittorie
dove sono le tue vittorie e i trofei
che ti luccicavano sul petto?

Dove sono i pensieri di quelli che morirono
sui campi di battaglia?
Dove sono le spose dei soldati morti?

Dove sono i fucili e le spade
di quei fanciulli, sepolti in fosse clandestine
lontano dalle madri e dalla patria?

Le vocali del tuo epitaffio furono scritte
col sangue. Nessuno più ricorda
il colore delle tue medaglie.

Le lune inchiodate alle muraglie
le ha portate via un vento forte.
Hai perso la battaglia con la morte.
________________

John Singer Sargent
Gassed (1919)
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Ciência


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Ciência
Scienza


Dizem que a ciência é exata 
tão exata que às vezes 
o tiro sai pela culatra. 

Dizem que a ciência 
de tão exata 
não ata nem desata. 

Dizem que está ficando chata 
e quando não mata 
desidrata.
Dicono che la scienza è esatta 
talmente esatta che a volte 
il tiro esce dalla culatta. 

Dicono che la scienza 
è talmente esatta 
che non s’attacca né si distacca. 

Dicono che sta diventando fiacca
e quando non uccide 
si dissecca.
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Giacomo Balla
Mercurio passa davanti al sole (1910)
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Os déspotas abominam...


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Os exílios do homem (1997) »»
 
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Os déspotas abominam...
I despoti aborrono...


os déspotas abominam
o odor das multidões

os déspotas tropeçam
nos degraus do patíbulo

a palavra do déspota
é uma espada de vidro

as retinas do déspota
são orquídeas de sangue

os déspotas engordam
as hienas do hábito

os déspotas irrigam
as pastagens do óbito.
I despoti aborrono
l’odore delle folle

i despoti inciampano
sui gradini del patibolo

la parola del despota
è una spada di vetro

le retine del despota
sono orchidee di sangue

i despoti ingrassano
le iene dell’abitudine

i despoti irrigano
i pascoli del trapasso.
________________

Max Beckmann
Il re (1937)
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É o nosso primeiro crepúsculo...


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Poemas dos dias (2022) »»
 
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É o nosso primeiro crepúsculo...
È il nostro primo crepuscolo...


É o nosso primeiro crepúsculo.
Sobre o mar, a noite começa a ser
Uma espécie de possibilidade.
A tua mão escreve com as ondas 
Nervosos postais,
O teu cabelo esvoaça ao encontro da brisa.
Juntos aqui, junto ao mar,
Quem é cada um de nós,
A que outro se mistura,
Com o ocaso, a brisa, o rumor?
Continuas a escrever.
Em mim pousa a profunda calma do mar,
Há feridas antigas que voltam para dentro,
E desaparecem, não deixando sequer cicatriz.
Ouvi-te realmente dizer
Que esta é a paisagem de seres feliz?

È il nostro primo crepuscolo.
Sopra il mare, la notte comincia ad assumere
Una parvenza di possibilità.
La tua mano scrive con le onde 
Cartoline nervose,
I tuoi capelli si agitano scossi dalla brezza.
Qui vicini, vicino al mare,
Chi è ciascuno di noi,
Con che altro si fonde,
Con il tramonto, la brezza, il rumore?
Tu continui a scrivere.
In me s’adagia la profonda calma del mare,
Ci sono vecchie ferite che ritornano dentro,
E spariscono, senza neppur lasciare cicatrici.
Ti ho davvero sentito dire
Che è questo l’ambiente per sentirti felice?

________________

Alexander Shenderov
Spiaggia al crepuscolo (2020)
...

Escuto o gotejar...


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Os exílios do homem (1997) »»
 
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Escuto o gotejar...
Ascolto il gocciolio...


escuto o gotejar
dos minutos
na taça do tempo

escuto o esvoaçar
dos minutos
na areia da clepsidra

escuto a liturgia
dos minutos
nas harpas da água

escuto o jorro
dos minutos
sangue da pêndula.
Ascolto il gocciolare
dei minuti
nella coppa del tempo

ascolto il planare
dei minuti
sulla sabbia della clessidra

ascolto la liturgia
dei minuti
nelle arpe dell’acqua

ascolto lo sgorgare
dei minuti
sangue del pendolo.
________________

Gerrit Dou
Natura morta con clessidra, portapenne e stampa (1647)
...

As palavras rebanho de metáforas...


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Os exílios do homem (1997) »»
 
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As palavras rebanho de metáforas...
Le parole gregge di metafore...


as palavras
rebanho de metáforas

e de insônias
pastam

reminiscências da infância
nos prados da língua.
le parole
gregge di metafore

e d’insonnie
brucano

reminiscenze d’infanzia
sui prati della lingua.
________________

Joan Miró
Donna, uccelli, costellazioni (1976)
...

A noite escorrega...


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A noite escorrega...
La notte scivola fuori...


A noite escorrega
 do abismo. Só o rumor
  da mortalha da treva.

Na tarde épica
 pardais tocam Mozart
  numa guitarra elétrica.

Com seus gestos antigos
 rastejam entre os gatos
  as sombras dos mendigos.

Conduz o teu destino
 como se levasses
  a infância de um menino.

O tempo é teu invento
 teu brinquedo de argila
  em perpétuo movimento
La notte scivola fuori
 dall’abisso. Solo col fruscio
  d’un tenebroso sudario.

Nella serata epica
 passeri suonano Mozart
  con una chitarra elettrica.

Coi loro gesti antichi
 sgusciano in mezzo ai gatti
  le ombre dei mendicanti.

Governa il tuo destino
 come se disponessi
  dell’infanzia d’un bambino.

È tua invenzione il tempo
 il tuo giocattolo d’argilla
  in perpetuo movimento.
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Loïc Le Groumellec
Megaliti (2004)
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O tempo nos desfolha...


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O tempo nos desfolha...
Il tempo ci sfoglia...


O tempo nos desfolha
com sua foice de murmúrios

somos o rebanho de cabras
pastando o caos

somos os tufos de relva
nas frestas da rocha
batida pelo mar

onde a nau de Ulisses
ainda ancora

somos a escória do mito
a rota em que navega
a nossa penúria.
Il tempo ci sfoglia
con la sua falce di sussurri

siamo il gregge di capre
che pascola nel caos

siamo i ciuffi d’erba
fra i solchi delle rocce
battute dal mare

ove il vascello d’Ulisse
tuttora è all’ancora

siamo la scoria del mito
la rotta su cui naviga
la nostra miseria
________________

Ernst Ludwig Kirchner
Il ritorno delle capre (1920)
...

Aniversário


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Aniversário
Compleanno


Ontem celebrei meu aniversário
mas não recebi telegramas
nem rosas de papel crepon pelo correio.
Recebi um ramalhete de mentiras
uma gravata de listras obliquas
uma taça de fel cravejada de ódio.

Ontem celebrei meu aniversário
vesti meu paletó de espantalho
pus um brasão de escárnio na lapela.
Os retratos me sorriram da parede
e seus bigodes me olharam com desdém
fitando em mim a fina flor da escória.

Ontem celebrei meu aniversário
entre apertos de mão e golfadas de vinho.
Mas não me desejaram felicidades
nem muitos anos de vida à minha calvície.
Recebi um cebolão de meu bisavô
desencarnado no alvorecer da República
uma descompostura da sogra do filho pródigo
uma taça de fel cravejada de ódio.

Ontem celebrei meu aniversário.
Fui bastante aplaudido
pelo sarcasmo dos vivos e dos mortos.
Ieri ho festeggiato il mio compleanno
ma non ho ricevuto telegrammi
né rose di carta crespata per posta.
Ho ricevuto un mazzetto di bugie
una cravatta a strisce oblique
una coppa di fiele costellata d’odio.

Ieri ho festeggiato il mio compleanno
mi sono messo il cappotto da spaventapasseri
ho appuntato un buffo distintivo sul rever.
I ritratti mi sorridevano dalla parete
e i loro baffi mi guardavano con sdegno
vedendo in me il fior fiore della feccia.

Ieri ho festeggiato il mio compleanno
fra strette di mano e fiumi di vino.
Ma non mi hanno augurato buona sorte
né cent’anni di vita alla mia calvizie.
Ho ricevuto un orologio del mio bisnonno
deceduto agli albori della Repubblica
una strigliata dalla suocera del figliol prodigo
una coppa di fiele costellata d’odio.

Ieri ho festeggiato il mio compleanno.
Sono stato parecchio acclamato
dal sarcasmo dei vivi e dei morti.
________________

Christian Boltanski
Sono felice, è il mio compleanno (1974)
...

Variações sobre a morte


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Variações sobre a morte
Variazioni sulla morte


Quando o homem perde
o primeiro fio de cabelo
começa a dialogar com a morte.

A morte, ausência
de todas as sensações,
é a mais ostensiva das presenças.

Ninguém consegue fugir da morte
pela simples razão de que
somos hospedeiros dela.

A morte chega, apaga
a luz dos teus olhos e acende
os seus negros castiçais.

Algum dia te visitará
uma sombra de olhos de areia
e bruscamente cerrará tuas pálpebras.

Morte, ó ceifeira veloz.
Quantas são as espigas
que abastecem o teu celeiro?
Quando l’uomo perde
il suo primo capello
comincia il dialogo con la morte.

La morte, assenza
di tutte le sensazioni,
è la più palese delle presenze.

Nessuno riesce a sfuggire alla morte
per la semplice ragione che
ne siamo il ricovero.

La morte arriva, spegne
la luce dei tuoi occhi e accende
i suoi neri candelabri.

Un giorno ti farà visita
un’ombra dagli occhi di sabbia
e bruscamente sbarrerà le tue palpebre.

Morte, rapida mietitrice.
Quante sono le spighe
che stipano il tuo granaio?
________________

Francisco de Goya
Il tempo / El tiempo (1810)
...

Se eu fosse a Paris


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Rosa dos Minutos (1996) »»
 
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Se eu fosse a Paris
Se io andassi a Parigi


Se eu fosse a Paris
não gostaria de ver a Torre Eiffel
nem as grandes avenidas nem os bulevares
nem os parques nem a Catedral de Notre Dame
nem o sangue que jorra dos gestos
e da alma dilacerada do Pensador de Rodin.

Se eu fosse a Paris
não compraria postais de Brigitte Bardot
não veria as águas do Sena trespassadas de luar
nem seu corpo de molusco invertebrado
nem os barcos que partem nem os barcos que voltam
com suas entranhas consteladas de murmúrios.

Se eu fosse a Paris
não visitaria Montmartre nem iria às Praças
da Concórdia, da República e da Ópera
nem aos cafés onde pintores, artistas e boêmios
desenharam utopias no mármore das mesas
entre espirais de fumaça e fagulhas de vinho.

Se eu fosse a Paris
correria ao Museu do Louvre para me embriagar
com o fulgor dos nus femininos de Renoir
roçar a alma no Moinho de la Galette
passear os olhos no retrato de Madame Charpentier
ou no mistério da Menina com a Gavela.

Como jamais irei a Paris
nas asas de um pássaro de aluguel
não ouvirei o Bolero de Ravel
nem verei o palácio de cristal da Imperatriz.
Mas isso não me toma menos infeliz.
Se io andassi a Parigi
non m’interesserebbe vedere la Torre Eiffel
né i grandi viali né i boulevard
né i parchi né la Cattedrale di Notre-Dame
né il sangue che sgorga dai gesti
e dall’anima straziata del Pensatore di Rodin.

Se io andassi a Parigi
non comprerei cartoline di Brigitte Bardot
né guarderei le acque della Senna sotto i raggi della luna
né il suo corpo di mollusco invertebrato
né le barche che partono né le barche che tornano
con le viscere costellate di sussurri.

Se io andassi a Parigi
non visiterei Montmartre né andrei alle Piazze
della Concordia, della Repubblica e dell’Opera
né in quei caffè dove pittori, artisti e bohémien
disegnarono utopie sul marmo dei tavolini
tra spirali di fumo e faville di vino.

Se io andassi a Parigi
correrei al Museo del Louvre per inebriarmi
col fulgore dei nudi muliebri di Renoir
per sfiorare con l’anima il Molino della Galette
per posare lo sguardo sul ritratto di Madame Charpentier
o sul mistero della Ragazza col fascio di grano.

Ma dato che non andrò mai a Parigi
sulle ali di un uccello in affitto
non ascolterò il Bolero di Ravel
né vedrò il palazzo di cristallo dell’Imperatrice.
Ma questo non mi rende meno infelice.
________________

Camille Claudel
Ragazza giovane con un covone (1886)
...

Banquete


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Banquete
Banchetto


A morte é um pássaro veloz
que habita dentro de nós.

A morte às vezes passeia
com sua túnica de areia.

A morte é uma pantera
de pálpebras de cera.

A morte apaga a memória
menos o fogo do purgatório.

A morte de negro se veste
para ceifar a sua messe.

A morte, látego dos pobres
celeiro de espigas podres.

A morte prepara o azeite
pras velas do seu banquete.
La morte è un uccello veloce
che abita dentro di noi.

La morte a volte passeggia
con la sua tunica di sabbia.

La morte è una pantera
con palpebre di cera.

La morte cancella ogni memoria
tranne il fuoco del purgatorio.

La morte si veste di nero
per falciare la sua messe.

La morte, flagello dei miseri
granaio di spighe putride.

La morte prepara l’olio
per le candele del suo banchetto.
________________

Galileo Chini
La falciatrice (1918)
...

Três estudos sobre o vazio


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Galope de Pégaso (1994) »»
 
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Três estudos sobre o vazio
Tre studi sul vuoto


I
Tenta não decifrar o universo.
Mergulha no coração do vazio
como a neve caindo sobre os campos
e as abelhas pousando numa flor.

II
Os objetos bailam no vazio
como as plumas de um pássaro
assassinado pela flecha do caçador.
O mistério pode ser o teu olhar
seduzido pela nudez da flor.

III
Tenho andado à procura de Deus
no meio das trevas do meu coração.
Mas só escuto o som dos objetos
dentro da vasta noite dos meus sentidos.
O vazio, além do tempo e da busca.
I
Cerca di non decifrare l’universo.
Sprofonda nel cuore del vuoto
come la neve che cade sopra i campi
e come le api che si posano su un fiore.

II
Gli oggetti fluttuano nel vuoto
come le piume d’un uccello
ucciso dalla freccia del cacciatore.
Il mistero può essere il tuo sguardo
sedotto dalla nudità del fiore.

III
Sono andato in cerca di Dio
nel fitto delle tenebre del mio cuore.
Ma non sento altro che il suono degli oggetti
dentro la vasta notte dei miei sensi.
Il vuoto, al di là del tempo e della ricerca.
________________

Ettore Colla
Meridiana ellittica (1987)
...

Nuvola degli autori (e alcune opere)

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