Elogios de Franz Kafka - I


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Elogios de Franz Kafka - I
Elogi di Franz Kafka - I


Uma gralha descrente
  As gralhas afirmam que basta uma
  para destruir o céu.
  Não há dúvida quanto a isso,
  mas não prova nada contra o céu,
  pois os céus significam justamente
  a impossibilidade das gralhas.

  Aforismos reunidos (32), Franz Kafka

Sou um estrangeiro dentro da família.
Sou um estrangeiro diante de meu pai.
Estrangeiro na sinagoga,
estrangeiro nas cidades,
estrangeiro no emprego.
Gralha sem ninho,
também não me sinto leve e ave,
mas viro um inseto monstruoso
no lugar de Gregório Samsa,
e sou um focinho farejando numa toca.

Posso ser trapezista sem esperança,
uma gaiola à procura de um pássaro,
a boneca perdida de uma criança,
um construtor da Torre de Babel,
um operário nas Muralhas da China,
um carretel chamado Odradek,
una rata que atende por Josefina.
Posso ser o ator que, para ganhar a vida,
morreu de jejum esquecido numa jaula.
Posso ser esse Artista da Fome,
do último conto que escrevi,
já no leito de morte em Viena.

(Autor e personagem
agora são um só,
revisando o texto,
página por página,
enganando a fome
e a falta de ar:
sem poder engolir,
sem poder respirar.)
Una cornacchia miscredente
  Le cornacchie affermano che una sola
  cornacchia potrebbe distruggere il cielo.
  Questo è indubbio, ma non prova nulla
  contro il cielo, poiché i cieli
  significano appunto:
  impossibilità di cornacchie
  Aforismi (32), Franz Kafka

Sono uno straniero in famiglia.
Sono uno straniero di fronte a mio padre.
Straniero in sinagoga,
straniero in città,
straniero sul lavoro.
Cornacchia senza nido,
neppur mi sento lieve e alato,
ma mi trasformo in insetto mostruoso
al posto di Gregor Samsa,
e sono un musetto che fiuta in una tana.

Posso essere trapezista senza speranza,
una gabbia in cerca di un uccello,
la bambola perduta di una bimba,
un costruttore della Torre di Babele,
un operaio della Muraglia cinese,
una spoletta chiamata Odradek,
una topolina chiamata Josefina.
Posso esser l’attore che, per guadagnarsi da vivere,
è morto di digiuno dimenticato in una gabbia.
Posso essere quell’Artista della Fame,
dell’ultimo racconto che ho scritto,
già nel letto di morte a Vienna.

(Autore e personaggio
ora sono uno solo,
revisionando il testo,
pagina per pagina,
ingannando la fame
e la mancanza d’aria:
senza poter ingoiare,
senza poter respirare.)
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Maurits Cornelis Escher
Natura morta con specchio sferico (1934)

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