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E logo
E subito


Taxia na pista
o avião que me leva.
Do lado de fora do campo
os muitos vagões de um comboio
avançam nos trilhos.
Duas forças se lançam
no mesmo sentido
irmãs por segundos,
e logo
o avião se desprende do chão
as rodas se escondem no ventre
o avião faz-se ave.
Abaixo
o trem lentamente se torna
um traço de lápis
no verde
Rolla sulla pista
l’aereo che mi trasporta.
Al di là del campo
i numerosi vagoni di un treno
procedono sui binari.
Due forze si proiettano
nello stesso senso
per attimi sorelle,
e subito
l’aereo si distacca da terra
le ruote si rintanano nel ventre
l’aereo si fa uccello.
Laggiù
il treno lentamente si trasforma
in un tratto di matita
nel verde.
________________

Giulio d'Anna
Paesaggio con aerei (1930 ca.)
...

Distante está


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Distante está
È distante


Para estudar a luz, Manet pintou
vezes sem conta
a Catedral de Rouen.

Deitada o dia inteiro neste quarto de hotel em
Downtown Miami acompanho o deslizar das horas
no vidrespelho do edifício em frente
escudo
que se tinge de sol e aceita a noite, sem nada
revelar do seu reverso
falésia
que despenca precisa como um corte
fachada
      lisa
lâmina.

Distante está aquela
antiqüíssima
em que o tempo se prende entre pregas
no manto dos santos.
Per studiare la luce, Manet dipinse
tante e tante volte
la Cattedrale di Rouen.

Tutto il giorno sdraiata in questa stanza d’hotel a
Downtown Miami seguo lo scorrere delle ore
sulla vetrata a specchio dell’edificio di fronte
scudo
che si colora di sole e accoglie la notte, senza nulla
svelare del suo retro
falesia
che precipita netta come un taglio
facciata
      levigata
lamina.

È distante quella
antichissima
ove il tempo s’aggrappa tra i drappeggi
alla cappa dei santi.
________________

Claude Monet
Cattedrale di Rouen - Effetto di luce mattutina (1894)
...

Da cabeça aos pés


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Da cabeça aos pés
Dalla testa ai piedi


Os monges
na Coréia
se vestem de neblina
finos trajes cinzentos
que o vento vaza.
A poder de ferro e goma
O linho se faz casca
crisálida
etérea carapaça
e as pregas ganham precisão de aço.

Das altas golas emergem
As cabeças raspadas
Lisas como pedras de rio
As mãos se ocultam nas mangas

Mas os pés
traiçoeiros
entregam tênis de marca.
I monaci
in Corea
si vestono di nebbia
fini abiti grigi
che il vento attraversa.
A furia di ferro e amido
il lino si fa guscio
crisalide
etereo carapace
e le pieghe hanno la rigidità dell’acciaio.

Dagli alti colletti emergono
Le teste rasate
Lisce come sassi di fiume
Le mani s’occultano nelle maniche

Ma i piedi
traditori
sfoggiano scarpe sportive di marca.
________________

Paul Klee
Senecio (1922)
...

A um homem não


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A um homem não
A un uomo, no


A um homem não se diz: ciclame, a tua
presença faz do meu jardim
um jardim mais precioso.
A um homem não se chama gladíolo
miosótis, íris.
Da espécie vegetal
a um homem
só baobá choupo palmeira se comparam
poder e tronco.
No entanto, que
gentis podem ser com mãos e boca
capazes de entregar flor e semente
se apenas o desejam.
A un uomo non si dice: ciclamino, la tua
presenza fa del mio giardino
un giardino più prezioso.
Un uomo non lo si chiama gladiolo
miosotis, iris.
Della specie vegetale
a un uomo
solo baobab pioppo palma vanno comparati
potere e tronco.
Eppure, come
sanno essere gentili con mani e bocca
capaci di offrire fiore e semente
se solamente lo desiderano.
________________

Ferdinand Hodler
Il taglialegna (1910)
...

Sexta-feira


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Sexta-feira
Venerdì


Sexta-feira à noite
os homens acariciam o clitóris das esposas
com dedos molhados de saliva.
O mesmo gesto com que todos os dias
contam dinheiro papéis documentos
e folheiam nas revistas
a vida dos seus ídolos.

Sexta-feira
Sexta-feira à noite
os homens penetram suas esposas
com tédio e pênis.
O mesmo tédio com que todos os dias
enfiam o carro na garagem
o dedo no nariz
e metem a mão no bolso
para coçar o saco.
Sexta-feira à noite
os homens ressonam de borco
enquanto as mulheres no escuro
encaram seu destino
e sonham com o príncipe encantado.
Venerdì notte
gli uomini accarezzano il clitoride delle spose
con dita umide di saliva.
Lo stesso gesto con cui ogni giorno
contano monete banconote documenti
e sfogliano sulle riviste
la vita dei loro idoli.

Venerdì
Venerdì notte
gli uomini penetrano le loro spose
con tedio e pene.
Lo stesso tedio con cui ogni giorno
mettono la macchina in garage
il dito nel naso
e infilano la mano in tasca
per grattarsi il pacco.
Venerdì notte
gli uomini russano svuotati
mentre le mogli al buio
considerano il proprio destino
e sognano il principe incantato.
________________

Edward Hopper
Estate in città (1950)
...

Outras palavras


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Outras palavras
Altre parole


Para dizer certas coisas
são precisas
palavras outras
novas palavras
nunca ditas antes
ou nunca
antes
postas lado a lado.
São precisas
palavras que inventaram
seu percurso
e cantam sobre a língua.
Para dizer certas coisas
são precisas palavras
que amanhecem.
Per dire certe cose
sono necessarie
parole diverse
parole nuove
mai dette prima
o mai
prima
messe fianco a fianco.
Sono necessarie
parole che abbiano inventato
il proprio percorso
e cantino sulla lingua.
Per dire certe cose
sono necessarie parole
portatrici di luce.
________________

Antoni Tápies
Composizione con lettere e numeri (2012)
...

Longa viagem em 1943


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Longa viagem em 1943
Lungo viaggio nel 1943


Nosso carro a gasogênio
tinha especial talento
para enguiçar nas pontes.
Bombardeiros por cima
nós deitados no mato
e o negro delator
visível
evidente
quase obsceno
parado sobre o rio
gritando para o céu
aqui
aqui há quem se pode matar.
 
Viagem longa aquela
com meu pai ao volante
a minha mãe atrás
com seu brilhante costurado
na saia
e o meu irmão
atirando com a mão feita pistola
pam! pam!
a cada pássaro ou gente
que apontasse nos campos.
 
Longa viagem aquela
de metade da guerra
para a outra metade
no tempo tão pequeno
que era meu
em que
da paz
nem me lembrava a cara.
La nostra auto a gassogeno
aveva una particolare tendenza
a guastarsi sui ponti.
Bombardieri di sopra
noi sdraiati nella boscaglia
e il negro delatore
visibile
evidente
quasi osceno
fermo sopra il fiume
gridando verso il cielo
qui
qui c’è qualcuno da ammazzare.
 
Lungo viaggio fu quello
con mio padre al volante
e mia madre dietro
col suo brillante cucito
nella gonna
e mio fratello
che sparava con la mano a pistola
pam! pam!
ad ogni uccello o persona
che spuntasse nei campi.
 
Lungo viaggio fu quello
da metà guerra
alla seconda metà
in quel tempo così esiguo
che era il mio
in cui
della pace
neanche l’ombra ricordavo.
________________

Käthe Kollwitz
La morte e i bambini (1934)
...

Livres à noite


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Livres à noite
Liberi la sera


Tirar o sutiã à noite
Quando o dia se acaba
E com ele o dever de rijos seios.
Tirar o sutiã à noite
Despir a couraça
A constrictor
A alheia pele.
Livrar-se de arames
Elásticos presilhas
Cortar com tesoura o wonderbra.
 
Toda noite a mulher regressa
Da cruzada
E liberta sua santa carne.
Descem as alças pelos ombros
As mãos se encontram nas costas
Soltando amarras
E na quietude do quarto
Os peitos
Como navios
Fazem-se ao largo.
Togliersi il reggiseno la sera
Quando finisce il giorno
E con lui il dovere di seni sodi.
Togliersi il reggiseno la sera
Spogliarsi della corazza
Del costrittore
Della pelle estranea.
Liberarsi dai ceppi
Dalle fasce elastiche
Tagliare con le forbici il wonderbra.
 
Ogni sera la donna ritorna
Dalla crociata
E libera la sua santa carne.
Le spalline scendono sulle spalle
Le mani si congiungono sul dorso
Sciogliendo i cavi
E nella quiete della stanza
I seni
Come navi
Prendono il largo.
________________

Paul Delvaux
La donna allo specchio (1948)
...

Preciso para...


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Preciso para...
Ho bisogno che...


Preciso que um barco atravesse o mar
lá longe
para sair dessa cadeira
para esquecer esse computador
e ter olhos de sal
boca de peixe
e o vento frio batendo nas escamas.

Preciso que uma proa atravesse a carne
cá centro
para andar sobre as águas
deitar nas ilhas e
olhar de longe esse prédio
essa sala
essa mulher sentada diante do computador
que bebe a branca luz eletrônica
e pensa no mar.
Ho bisogno che una barca attraversi il mare
laggiù
per alzarmi da questa sedia
per dimenticare questo computer
e avere occhi di sale
bocca di pesce
e un vento freddo che spira tra le squame.

Ho bisogno che una prua attraversi la carne
qui dentro
per camminare sulle acque
riposarmi sulle isole e
osservare da lontano questo palazzo
questa stanza
questa donna seduta davanti al computer
che beve la bianca luce elettronica
e sta pensando al mare.
________________

Victor Brauner
L'incoronata (1945)
...

Escuros tempos


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Escuros tempos
Tempi bui


As noites
nas cidades da guerra
eram mudas e escuras
como os campos
apagadas as ruas
as praças quedos lagos
falsa ausência
deitava-se nas sombras.
Uma ave nos céus
chamada morte
caçava guiada pela luz.
Cuidado crianças com a lâmpada acesa
mulheres não esqueçam o pano negro
diante das janelas
basta uma friesta
para apagar a vida.

Quando a guerra acabou
na minha terra
janelas continuaram pintadas de preto
esquecimento ou luto
os vidros
como almas
precisaram de um tempo
para deixar passar a claridade.
Le notti
nelle città in guerra
erano mute e buie
come le campagne
sparite le vie
le piazze laghi fermi
una falsa assenza
si accucciava nell’ombra.
Nei cieli un uccello
chiamato morte
cacciava guidato dalla luce.
Attenti bambini con la lampada accesa
le donne non dimentichino il panno nero
davanti alle finestre
basta una fessura
per cancellare una vita.

Quando la guerra finì
nella mia terra
le finestre rimasero verniciate di nero
dimenticanza o lutto
i vetri
come anime
ebbero bisogno di più tempo
per lasciar passare il chiarore.
________________

Giulio Turcato
Rovine di guerra (1950)
...

Ás seis da tarde...


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Ás seis da tarde...
Alle sei di sera...


às seis da tarde
as mulheres choravam
no banheiro
não choravam por isto
ou por aquilo
choravam porque o pranto subia
garganta acima
mesmo se os filhos cresciam
com boa saúde
se havia comida no fogo
e se o marido lhes dava
do bom
e do melhor
choravam porque no céu
além do basculante
o dia se punha
porque uma ânsia
uma dor
uma gastura
era só o que sobrava
dos seus sonhos
agora às seis da tarde
as mulheres regressam do trabalho
o dia se põe
os filhos crescem
o fogo espera
e elas não podem
não querem
chorar na condução
alle sei di sera
le donne piangevano
in bagno
Non piangevano per questo
o per quel motivo
piangevano perché il pianto saliva
su per la gola
anche se i figli crescevano
in buona salute
se c’era la cena sul fuoco
e se col marito andava
di bene
in meglio
piangevano perché in cielo
al di là della finestra basculante
il giorno tramontava
perché un’ansia
una pena
un’afflizione
era tutto ciò che rimaneva
dei loro sogni
Adesso alle sei di sera
le donne tornano dal lavoro
la giornata declina
i figli crescono
il fuoco aspetta
e loro non possono
non vogliono
piangere mentre guidano
________________

Tamara de Lempicka
Autoritratto sulla Bugatti verde (1929)
...

Eu sei, mas não devia


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Eu sei, mas não devia (1995) »»
 
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Eu sei, mas não devia
Lo so, ma non dovrei


Eu sei que a gente se acostuma.
Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos
e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor.
E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar
 para fora.
E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir
 de todo as cortinas.
E porque não abre as cortinas logo se acostuma acender
 mais cedo a luz.
E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece
 o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado
 porque está na hora.
A tomar café correndo porque está atrasado.
A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo
 da viagem.
A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido
 o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre
 a guerra.
E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número
 para os mortos.
E aceitando os números aceita não acreditar nas
 negociações de paz,
aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa
 duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no
 telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e
 o de que necessita.
A lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
E a ganhar menos do que precisa.
E a fazer filas para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro,
 para ter com que pagar nas filas que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes.
A abrir as revistas e a ver anúncios.
A ligar a televisão e a ver comerciais.
A ir ao cinema e engolir publicidade.
A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na
 infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição.
As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de
 cigarro.
A luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias da água potável.
A contaminação da água do mar.
A lenta morte dos rios.
Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de
 madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não
 colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se
 afastando uma dor aqui,
um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e
 torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e
 sua no resto do corpo.
Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no
 fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente
 vai dormir cedo
e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para
 preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para
 esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta e, que gasta, de tanto
 acostumar, se perde de si mesma.
Lo so che ci si abitua.
Ma non si dovrebbe.
Ci si abitua ad abitare in case di ringhiera
e a non avere altra vista che le finestre lì intorno.
E dato che non c’è vista, presto s’abitua a non guardare
 fuori.
E dato che non guarda fuori presto s’abitua a non aprire
 affatto le tende.
E dato che non apre le tende presto s’abitua ad accendere
 più presto la luce.
E nella misura in cui s’abitua, dimentica il sole, dimentica
 l’aria, dimentica la vastità.

Ci si abitua a svegliarsi la mattina di soprassalto perché
 è ora.
A prendere il caffè di corsa perché si è in ritardo.
A leggere il giornale sull’autobus perché non si può perdere
 il tempo del viaggio.
A mangiare un panino perché non c’è tempo per pranzare.
A lasciare il lavoro quando ormai s’è fatta notte.
A sonnecchiare sull’autobus perché si è stanchi.
A coricarsi presto e a dormire come un sasso senza aver
 vissuto la giornata.

Ci si abitua ad aprire il giornale e a leggere notizie di
 guerra.
E accettando la guerra, si accettano i morti e che ci sia
 il numero dei morti.
E accettando questi numeri, si accetta di non credere nei
 negoziati di pace,
si accetta di leggere tutto il giorno di guerra, di numeri,
 di lunga durata.

Ci si abitua ad aspettare tutto il giorno e sentire al telefono:
 oggi non posso.
A sorridere alla gente e non ricevere un sorriso in cambio.
A essere ignorati quando c’era tanto bisogno d’esser visti.

Ci si abitua a pagare per tutto ciò che si desidera e di cui
 si necessita.
A lottare per guadagnare i soldi con cui pagare.
E a guadagnare meno di quanto occorre.
E a fare le file per pagare.
E a pagare più di quanto le cose valgano.
E a sapere che si pagherà sempre di più.
E a cercare più lavoro, per guadagnare più denaro, per
 avere con che pagare nelle file che se lo riprendono.

Ci si abitua ad andar per strada e vedere manifesti.
Ad aprire le riviste e a guardare gli annunci.
Ad accendere la televisione e a guardare la réclame.
Ad andare al cinema e sorbirsi la pubblicità.
Ad essere istigato, guidato, spaesato, lanciato nella
 sconfinata cataratta dei prodotti.

Ci si abitua all’inquinamento.
Gli ambienti chiusi con l’aria condizionata e l’odore di
 sigarette.
La luce artificiale dal leggero tremolio.
Allo choc che gli occhi subiscono alla luce naturale.
Ai batteri dell’acqua potabile.
Alla contaminazione dell’acqua marina.
Alla lenta morte dei fiumi.
Ci si abitua a non sentire gli uccellini, a non udire un gallo
 all’alba, a temere l’idrofobia dei cani, a non raccogliere
 la frutta caduta, a non tenere neppure una pianta.

Ci si abitua a troppe cose per non soffrire.
A piccole dosi, tentando di non accorgersene, si allontana
 un dolore qui,
un risentimento lì, una rivolta là.
Se il cinema è pieno ci si siede in prima fila e si torce un po’
 il collo.
Se la spiaggia è contaminata ci si bagnano solo i piedi e
 si suda nel resto del corpo.
Se il lavoro è duro, ci si consola pensando al fine
 settimana.
E se nel fine settimana non c’è molto da fare si va a
 dormire presto
e pure soddisfatti perché c’è sempre del sonno arretrato.

Ci si abitua a non scorticarsi sulle scabrosità, per
 proteggere la pelle.
Ci si abitua ad evitare ferite, sanguinamenti, a schivare
 coltelli e baionette, a proteggere il petto.
Ci si abitua a risparmiare la vita.
Che poco a poco s’esaurisce e, che esaurita a forza
 d’abitudini, si perde da se stessa.
________________

Carla Badiali
Composizione n° 3 (1932-1936)
...

Altruísmo


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Altra traduzione :
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (giugno 2022) »»
 
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Altruísmo
Altruismo


Deixem-me ser homem,
No outro homem,
Pelo outro homem,
Deixem-me vencer este sangue monolítico,
O coração monocórdico,
Deixem-me ver mais além
Que os meus próprios olhos,
Construir mais alto
Que a pequenez dos meus braços,
Apontar outros barcos.
Deixem-me, vocês, aí,
Heras ou estátuas
Que detêm o meu choro e o meu riso,
Vocês, aí, que me decepam as mãos,
Me atulham a voz com palavras de porcelana,
Vocês, aí, que só sabem calar
E sabem ver morrer:
Deixem-me viver o meu peito como a página
De um dia claro. 

Lasciatemi essere uomo,
In un altro uomo,
Per l’altro uomo,
Lasciatemi dominare questo sangue monolitico,
Questo cuore monocorde,
Lasciatemi vedere oltre
I miei stessi occhi,
Edificare più in alto
Dell’esiguità delle mie braccia,
Seguire la rotta d’altre navi.
Lasciatemi, voi, lì,
Edere o statue
Che reprimete il mio pianto e il mio riso,
Voi, lì, che mi amputate le mani,
Che ingozzate la mia voce con parole di porcellana,
Voi, lì, che sapete soltanto tacere
E sapete guardar morire:
Lasciate che dentro di me viva la pagina
D’un giorno chiaro.

________________

Nicolas de Staël
Barche a vela nella baia di Antibes (1954)
...

Vincent


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Rota de colisão (1993) »»
 
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Vincent
Vincent


Ciprestes de Van Gogh
imóveis labaredas
verdes incêndios sobre a tela
verdes mulheres nuas
em seus cabelos.

Ciprestes de Van Gogh
bizantinas colunas
da paisagem
vórtice
remoinho erguido
como o grito
o fallus
o arremesso de gozo
do pintor.
Cipressi di Van Gogh
immobili fiammate
verdi incendi sulla tela
verdi donne nude
sotto le proprie chiome.

Cipressi di Van Gogh
colonne bizantine
del paesaggio
vortice
turbine eretto
come il grido
il fallo
l’apice dell’orgasmo
del pittore.
________________

Vincent van Gogh
Campo di grano con cipressi (1889)
...

Se Ele apenas


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Se Ele apenas
Se Lui soltanto


Diz a lenda que o poeta
Li Po
afogou-se na noite em que
embriagado
quis agarrar a Lua
sobre o lago.
É lenda, bem se vê.
Pois a verdade é que
a Lua
teria seguido o poeta
a qualquer canto
se Ele apenas a tivesse chamado.
La leggenda narra che il poeta
Li Po
morì affogato la notte in cui
inebriato
volle afferrare la Luna
sopra il lago.
È leggenda, è chiaro.
Perché la verità è che
la Luna
avrebbe seguito il poeta
dappertutto
se Lui soltanto l’avesse chiamata.
________________

Matthew Wong
The Quiet Night (2018)
...

Rota de colisão


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Rota de colisão
Rotta di collisione


De quem é esta pele
que cobre a minha mão
como uma luva?
Que vento é este
que sopra sem soprar
encrespando a sensível superfície?
Por fora a alheia casca
dentro a polpa
e a distância entre as duas
que me atropela.
Pensei entrar na velhice
por inteiro
como um barco
ou um cavalo.
Mas me surpreendo
jovem velha e madura
ao mesmo tempo.
E ainda aprendo a viver
enquanto avanço
na rota em cujo fim
a vida
colide com a morte.
Di chi è questa pelle
che copre la mia mano
come un guanto?
Che vento è questo
che soffia senza soffiare
increspando la vitale superficie?
Fuori la strana scorza
dentro la polpa
e la distanza fra le due
che mi opprime.
Pensavo di diventar vecchia
tutta intera
come una barca
o un cavallo.
Ma mi sorprendo
giovane vecchia e matura
in un sol tempo.
E ancora imparo a vivere
mentre procedo
sulla rotta alla cui fine
la vita entra
in collisione con la morte.
________________

Massimo Campigli
Donna allo specchio (1934)
...

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (433) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (11) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)