Congolês


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Carlos Machado »»
 
Cicatrizes (2023) »»
 
Francese »» Spagnolo »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________

Congolês
Congolese

“Meus ancestrais eram
trazidos ao Brasil
para perder a liberdade”,

diz à repórter o refugiado
de guerra congolês.

“Agora nós viemos
para ganhar a liberdade”.

(O anjo da História, não
mostrado na cena, ri.)
___________

N. d. A.: Este poema foi escrito em 2015. Portanto, sete anos antes do brutal assassinato do imigrante congolês Moïse Kabagambe, em 2022, no Rio de Janeiro.

“I miei antenati furono
deportati in Brasile
per perdere la libertà”,

dice alla reporter il rifugiato
di guerra congolese.

“Adesso noi siamo venuti
per conquistare la libertà”.

(L’angelo della Storia, non
visibile sulla scena, ride.)
___________

N. d. A.: Questa poesia è stata scritta nel 2015. Dunque, sette anni prima del brutale assassinio del migrante congolese Moïse Kabagambe, nel 2022, a Rio de Janeiro.

________________

William Turner
La nave negriera (1781)
...

Oh! tarde de sábado britânica...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Reinaldo Ferreira »»
 
Livro I - Um voo cego a nada (1960) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Oh! tarde de sábado britânica...
Oh! pomeriggio di sabato britannico...


Oh! tarde de sábado britânica,
Poema da rotina,
Prodígio do bem-estar...
Eu, que donde vou, latino e desgrenhado,
Intenso, irregular,
Apenas sei a vibração e o desânimo
(O sol excessivo e a sombra opaca),
Olho-te no deslumbramento
De quem se banha
E se deslumbra
Em penumbra.
Oh! pomeriggio di sabato britannico,
Poesia della routine,
Miracolo di compostezza...
Io, che per natali, latino e scompigliato,
Intenso, esagerato,
Conosco solo entusiasmo e afflizione
(Il sole eccessivo e l’ombra opaca),
Ti guardo nell’accecamento
Di chi si bagna
E s’acceca
Nella penombra.
________________

August Macke
Passeggiata (1913)
...

Deram-nos uma liberdade de cravos...


Nome:
 
Collezione:
Fonte:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (aprile 2024) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Deram-nos uma liberdade de cravos...
Ci hanno dato una libertà di garofani...


Deram-nos uma liberdade de cravos

Desenterrada dos mais sombrios tempos –
Crónica da memória –
Liberdade pisada, amarfanhada
Nas profundezas das mãos 
Já lucífugas do temor;
 
Deram-nos esta liberdade,
Aragem exalada por certas vozes –
Zeca Afonso, “Grândola”.
Energia borbulhante nos pulsos,
Ergueram-se do ser fantasma,
Fachada já fendida.
 
Esta liberdade que nos deram
Celebrada em pombas transparentes
Nos fugazes dias orquestrados pela euforia.
Mas a liberdade que nos deram não é nossa,
Embora nas nossas veias seja ela a alígera
Que nos concede direito à claridade.
 
Não é nossa a liberdade que assenta em símbolos
Que são na alma dos nossos pais ecos
De insubmissão e vitória,
Pois que cada geração tem de esburgar
O seu querer, a sua liberdade de navegar
E buscar a sua liberdade.
 
Geração sem liberdade conquistada,
Rosa gerada submergida na lacuna
De estar ainda por abrir.
Ci hanno dato una libertà di garofani

Dissotterrata dai tempi più cupi –
Cronaca della memoria –
Libertà calpestata, stropicciata
Nelle profondità di mani
Già in fuga dalla luce per timore;
 
Ci hanno dato questa libertà,
Aura scaturita da certe voci –
Zeca Afonso, “Grândola”.
Energia pullulante nei polsi,
Sono risorti dall’essere fantasmi,
Facciata già incrinata.
 
Questa libertà che ci hanno data
Celebrata con colombe trasparenti
Nei giorni fugaci orchestrati dall’euforia.
Ma la libertà che ci hanno data non è nostra,
Pur se nelle nostre vene è lei la creatura alata
Che ci accorda il diritto alla limpidezza.
 
Non è nostra la libertà che si basa su simboli
Che nell’anima dei nostri padri sono echi
Di ribellione e vittoria,
Poiché ogni generazione deve esplorare
Le proprie aspirazioni, la propria libertà di navigare
E andare in cerca della propria libertà.
 
Generazione senza libertà conquistata,
Rosa nascente immersa in un intervallo
Che ancora dev’essere colmato.
________________

...

O futuro


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Reinaldo Ferreira »»
 
Livro I - Um voo cego a nada (1960) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


O futuro
Il futuro


Aos domingos, iremos ao jardim.
Entediados, em grupos familiares,
Aos pares,
Dando-nos ares
De pessoas invulgares,
Aos domingos iremos ao jardim.
Diremos, nos encontros casuais
Com outros clãs iguais,
Banalidades rituais,
Fundamentais.
Autómatos afins,
Misto de serafins
Sociais
E de standardizados mandarins,
Teremos preconceitos e pruridos,
Produtos recebidos
Na herança
De certos caracteres adquiridos.
Falaremos do tempo,
Do que foi, do que já houve…
E sendo já então
Por tradição e formação
Antiburgueses
— Solidamente antiburgueses —,
Inquietos falaremos
Da tormenta que passa
E seus desvarios.

Seremos aos domingos, no jardim
Reaccionários.
Le domeniche, andremo ai giardini.
Annoiati, in gruppi familiari,
In coppie,
Sfoggiando i modi fieri
Delle persone speciali,
Le domeniche, andremo ai giardini.
Diremo, negli incontri casuali
Con altri, di clan uguali,
Banalità rituali,
Fondamentali.
Ad automi affini,
Miscuglio di serafini
Sociali
E di omologati mandarini,
Avremo preconcetti e pruriti,
Di certo caratteri acquisiti
Come corredo ricevuto
In eredità.
Parleremo del tempo,
Di ciò ch’è passato, di ciò ch’è stato...
Ed essendo già allora
Per tradizione
E formazione Antiborghesi
— Solidamente antiborghesi —,
Inquieti parleremo
Della tormenta che passa
E dei suoi deliri.
 
Le domeniche, saremo ai giardini,
Reazionari.
________________

Pierre-Auguste Renoir
Ai giardini (1876)
...

O essencial é ter o vento


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Reinaldo Ferreira »»
 
Livro I - Um voo cego a nada (1960) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


O essencial é ter o vento
L’essenziale è avere il vento


O essencial é ter o vento.
Compra-o; compra-o depressa,
A qualquer preço.
Dá por ele um princípio, uma ideia,
Uma dúzia ou mesmo dúzia e meia
Dos teus melhores amigos, mas compra-o.
Outros, menos sagazes
E mais convencionais,
Te dirão que o preciso, o urgente,
É ser o jogador mais influente
Dum trust de petróleo ou de carvão.
Eu não:
O essencial é ter o vento.
E agora que o Outono se insinua
No cadáver das folhas
Que atapeta a rua
E o grande vento afina a voz
Para requiem do Verão,
A baixa é certa.
Compra-o; mas compra-o todo,
De modo
Que não fique sopro ou brisa
Nas mãos de um concorrente
Incompetente.
L’essenziale è avere il vento.
Compralo; compralo in fretta,
A qualunque prezzo.
Per averlo offri un principio, un’idea,
Una dozzina o una dozzina e mezza
Dei tuoi migliori amici, ma compralo.
Altri, meno sagaci
E più convenzionali,
Ti diranno che la cosa primaria e urgente,
È essere il rappresentante più influente
Di un trust del petrolio o del carbone.
Io no:
L’essenziale è avere il vento.
E adesso che l’Autunno si insinua
Tra le foglie morte
Che tappezzano la via
E il grande vento modula la voce
Per il requiem dell’Estate,
La svalutazione è certa.
Compralo; ma compralo intero,
Di modo
Che non resti soffio o brezza
Nelle mani di qualche concorrente
Incompetente.
________________

Leonardo Dudreville
Autunno (1913)
...

No amplo e ermo degredo...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Reinaldo Ferreira »»
 
Livro I - Um voo cego a nada (1960) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


No amplo e ermo degredo...
Nell’ampia e deserta radura...


No amplo e ermo degredo
Da Noite enorme incriada,
Acesso ao átrio do medo,
Reverso a negro do Nada

Erra uma asa, partida,
Dum qualquer pássaro morto,
Que só porque erra tem vida
No mar do nada sem porto.

É quando passa e projecta
Na Sombra sombra erradia
Que nasce a mãe dum poeta
E se concebe a poesia.
Nell’ampia e deserta radura
Dell’enorme Notte increata,
Anticamera della paura,
Avversa al buio del Nulla

Erra un’ala, spezzata,
D’un qualche uccello morto,
Che, in quanto errante, ha vita
Nel mare del nulla senza porto.

É quando passa e proietta
Sull’ombra un’ombra erratica
Che nasce la madre d’un poeta
E alla poesia dona nuova vita.
________________

Albrecht Dürer
Uccello morto (1512)
...

Eu, Rosie, eu se falasse, eu dir-te-ia...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Reinaldo Ferreira »»
 
Livro I - Um voo cego a nada (1960) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Eu, Rosie, eu se falasse, eu dir-te-ia...
Io, Rosie, se io parlassi, io ti direi...


Eu, Rosie, eu se falasse, eu dir-te-ia
Que partout, everywhere, em toda a parte,
A vida égale, idêntica, the same,
É sempre um esforço inútil,
Um voo cego a nada.
Mas dancemos; dancemos
Já que temos
A valsa começada
E o Nada
Deve acabar-se também,
Como todas as coisas.
Tu pensas
Nas vantagens imensas
Dum par
Que paga sem falar;
Eu, nauseado e grogue,
Eu penso, vê lá bem,
Em Arles e na orelha de Van Gogh…
E assim entre o que eu penso e o que tu sentes
A ponte que nos une — é estar ausentes.
Io Rosie, se io parlassi, io ti direi
Che partout, everywhere, da ogni parte,
La vita égale, identica, the same,
È sempre uno sforzo inutile,
Un volo cieco al nulla.
Ma balliamo; balliamo
Ché ormai abbiamo
Cominciato questo valzer
E il Nulla
Dovrà pur terminare,
Come tutte le cose.
Tu pensi
Ai vantaggi immensi
D’una coppia
Che paga senza parlare;
Io, nauseato e brillo,
Io penso, guarda un po’,
Ad Arles e all’orecchio di Van Gogh...
E così tra ciò che io penso e ciò che tu senti
Il ponte che ci unisce - è il restare assenti.
________________

Charles Demuth
Vaudeville (1918)
...

Duma outra infância inventada...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Reinaldo Ferreira »»
 
Livro I - Um voo cego a nada (1960) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Duma outra infância inventada...
Di un’altra infanzia inventata...


Duma outra infância inventada,
Guardo memórias que são
Reais reversos do nada

Que as verdadeiras me dão.
Estas, se acaso regressam,
Em tropel e confusão

Ao limiar-me, tropeçam
No corpo das que lá estão.
Assim mentindo as raízes

Do meu confuso começo,
Segrego imagens felizes
Com que as funestas esqueço.
Di un’altra infanzia inventata,
Conservo memorie che sono
L’esatto opposto del nulla

Che quelle vere mi danno.
Queste, se per caso ritornano,
In concitato disordine

Varcando la soglia, incappano
Nel corpo di quelle che sono già là.
Perciò mentendo sulle radici

Dei miei confusi primordi,
Preservo le immagini felici
E dimentico i tristi ricordi.
________________

Jan van Steen
Scuola di paese (1660)
...

Do campo dos mortos...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Reinaldo Ferreira »»
 
Livro I - Um voo cego a nada (1960) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Do campo dos mortos...
Dal campo dei morti...


Do campo dos mortos
Em terra estrangeira
Por onde passámos
Absortos os dois,
Saímos ilesos de melancolia,
Por irmos tão vivos, tão livres
E juntos os dois.
Em vão sobre as campas
Dos mortos estrangeiros
Visível olvido
Na terra sem rosas votivas
Chamava por nós.
Nós íamos indo,
Felizes, felizes,
E o ventre da terra
Sonhava raízes
À volta de nós.
Nós íamos indo
Na hora que, breve, passava,
Vivendo-a sòmente.
E a nossa presença encarnava
No campo dos mortos em terra estrangeira
- Passado, passado -
O presente.
Dal campo dei morti
In terra straniera
Per dove passammo
Entrambi assorti,
Indenni uscimmo dalla malinconia,
Poiché entrambi eravamo
Così vivi e liberi e uniti.
Invano sopra le tombe
Dei morti stranieri
Un palese oblio
In terra senza rose votive
Chiedeva di noi.
Noi avanti andavamo,
Felici, felici,
E il cuor della terra
Sognava radici
Tutt’intorno a noi.
Noi avanti andavamo
Nel tempo che, fugace, passava,
Vivendolo semplicemente.
E nel campo dei morti in terra straniera
- Passato, passato -
La nostra presenza incarnava
Il presente.
________________

Edouard Vallotton
Il cimitero militare di Châlons (1917)
...

Desde quando alguma vez anoiteceu...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Reinaldo Ferreira »»
 
Livro I - Um voo cego a nada (1960) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Desde quando alguma vez anoiteceu...
Da quando quella volta fece notte...


Desde quando alguma vez anoiteceu
E à angústia de que a terra se cobriu
Só pasmo nas esferas respondeu;

Desde quando alguma flor emurcheceu
E a criança que válida se ria
De repente calada apodreceu;

Desde quando a algum estio sucedeu
Um outro outono e a árvore se despiu
E a primeira cabeça encaneceu;

Desde quando alguma coisa que nasceu
Sem que o pedisse, sem remédio se degrada
E acaba, sob a terra que a comeu,

Dispersa entre os átomos dispersos,
Se acumula a tristeza deste dia
E a razão destes versos.
Da quando quella volta fece notte
E all’angoscia di cui la terra si coprì
Solo terrore dalle sfere riecheggiò;

Da quando quel fiore è appassito
Ed il bimbo che florido rideva
Tacitamente d’un tratto è imputridito;

Da quando ad un’estate s’è avvicendato
Un altro autunno e l’albero s’è spogliato
E la prima chioma è incanutita;

Da quando una cosa ch’era attecchita
Senza chiederlo, senza rimedio s’è degradata
Ed è finita sotto la terra che se l’è ingoiata,

Dispersa in mezzo agli atomi dispersi,
S’è accumulata la tristezza odierna
E la ragione di questi versi.
________________

Mario Ceroli
Acqua alla gola (1998)
...

Como dói o ignorado humano...


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Nuno Rocha Morais »»
 
Poemas dos dias (2022) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Como dói o ignorado humano...
Come ferisce l’umana insipienza...


Como dói o ignorado humano.
Vou, então, procurar
Algo semelhante a ternura:
O vapor de um chá,
A lembrança de um papel antigo no bolso,
O que resta de vento lá fora.
Um mar sem praias ou precedentes,
Viagem pura, amor sem margem,
Corrente que mergulha na água esgotada.

Come ferisce l’umana insipienza.
Andrò, dunque, in cerca
Di qualcosa che somigli alla dolcezza:
Il vapore di un tè,
Il ricordo d’un vecchio bigliettino in tasca,
Quel che resta del vento là fuori.
Un mare senza spiagge o senza precedenti,
Viaggio puro, amore senza limiti,
Corrente che sfocia dove l’acqua è esaurita.

________________

Oswaldo Guayasamín
Meditazione (1970)
...

Deixai os doidos governar entre comparsas...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Reinaldo Ferreira »»
 
Livro I - Um voo cego a nada (1960) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Deixai os doidos governar entre comparsas...
Lasciate che i folli comandino tra comparse...


Deixai os doidos governar entre comparsas!
Deixai-os declamar dos seus balcões
Sobre as praças desertas!
Deixai as frases odiosas que eles disserem,
Como morcegos à luz do Sol,
Atónitas baterem de parede em parede,
Até morrerem no ar
Que as não ouviu
Nem percutiu
À distância da multidão que partiu!
Deixai-os gritar pelos salões vazios,
Eles, os portentosos mais que os mares,
Eles, os caudalosos mais que os rios,
O medo de estar sós
Entre os milhares
De esgares
Reflectidos nos colossais
Cristais
Hílares
Que a sua grandeza lhes sonhou!
Lasciate che i folli comandino tra comparse!
Lasciateli declamare dai loro balconi
Davanti a piazze deserte!
Lasciate che le frasi odiose che direbbero,
Come pipistrelli alla luce del sole,
Sbattano attonite di parete in parete,
Andando a morire nell’aria
Che non le ha udite
Né le ha riverberate
Verso la moltitudine che ha preso le distanze.
Lasciate che gridino per i saloni vuoti,
Loro, più prodigiosi dei mari,
Loro, più impetuosi dei fiumi,
La paura di rimanere soli
Tra le migliaia
Di spettri
Riflessi nei colossali
Cristalli
Ilari
Nati dai loro deliri di grandezza!
________________

Friedrich Dürrenmatt
Apocalisse IV (1968)
...

De Copélia guardo três cartas melancólicas...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Reinaldo Ferreira »»
 
Livro I - Um voo cego a nada (1960) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


De Copélia guardo três cartas melancólicas...
Di Coppelia serbo tre lettere malinconiche...


De Copélia guardo três cartas melancólicas,
Um laço e, de uma rosa
Que o perfume aprendeu nos seus cabelos,
Um esvaído botão.
Evade-se do todo um halo a antigo, triste.
Claro que Copélia não existe
E as cartas também não.
Só é real porque me falta.
Porque a não tive creio nela e creio
Na memória de quem foi no meu passado;
Nos passeios furtivos que tivemos;
Nos astros que pusemos
Nalgum beijo trocado;
Na exaltação de certa dança, alada
Na sensação de que uma nuvem me enlaçasse;
E na suave e pura e filtrada emoção
De alguma vez que a sua mão
Entre as minhas tardasse.
Esta é Copélia a quem, se acaso dado fosse
Nascer ou ter vivido,
Rígido pai ma recusasse,
Lírico mal ma arrebatasse
Sem a ter possuído,
Para que doutro ou morta virgem
Ilesa e viva dentro de mim permanecesse.
Di Coppelia serbo tre lettere malinconiche,
Un nastro e, di una rosa
Che il profumo trasmise ai suoi capelli,
Un pallido bocciolo.
Dal tutto si sprigiona un’aura antica e triste.
Chiaro che Coppelia non esiste
E neppure le lettere.
È reale solo perché mi manca.
Poiché io non l’ho avuta, credo in lei e credo
Nella memoria di chi fu nel mio passato;
Nei furtivi passeggi che facemmo;
Nelle stelle che adagiammo
Su ogni bacio scambiato;
Nell’esaltazione di quella danza, alata
Nella sensazione che una nuvola m’abbracciasse;
E nella dolce e pura e filtrata emozione
Di quando a volte la sua mano
Tra le mie s’era attardata.
Questa è Coppelia colei che, se mai le fosse dato
Di nascere o esser vissuta,
E un padre severo me l’avesse negata,
E un lirico male me l’avesse strappata
Senz’averla avuta,
Perché d’un altro o morta vergine,
Intatta e viva dentro di me sarebbe restata.
________________

Edvard Munch
Madonna (1895-1902)
...

Aquele senhor que desde a infância...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Reinaldo Ferreira »»
 
Livro I - Um voo cego a nada (1960) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Aquele senhor que desde a infância...
Quel signore che dall’infanzia...


Aquele senhor que desde a infância me conhece,
Com que direito se enternece
Quando me vê?
Que mal lhe fiz, que me quer bem?
Porque motivo me diz só
Coisas que, se as soubesse, esqueceria,
Hirtas, mortas,
Coisas cheias de pó
E de melancolia?
Quel signore che dall’infanzia mi conosce,
Con che diritto s’intenerisce
Quando mi vede?
Che male gli ho fatto, per volermi bene?
Per qual motivo mi dice solo
Cose che, sapendole, le avrei scordate,
Gelide, morte,
Cose piene di polvere
E di malinconia?
________________

Italo Mus
La famiglia del montanaro (1952)
...

A que morreu às portas de Madrid...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Reinaldo Ferreira »»
 
Livro I - Um voo cego a nada (1960) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


A que morreu às portas de Madrid...
Colei che morì alle porte di Madrid...


A que morreu às portas de Madrid,
Com uma praga na boca
E a espingarda na mão,
Teve a sorte que quis,
Teve o fim que escolheu.
Nunca, passiva e aterrada, ela rezou.
E antes de flor, foi, como tantas, pomo.
Ninguém a virgindade lhe roubou
Depois de um saque - antes a deu
A quem lha desejou,
Na lama dum reduto,
Sem náusea mas sem cio,
Sob a manta comum,
A pretexto do frio.
Não quis na retaguarda aligeirar,
Entre «champagne», aos generais senis,
As horas de lazer.
Não quis, activa e boa, tricotar
Agasalhos pueris,
No sossego dum lar.
Não sonhou minorar,
Num heroísmo branco,
De bicho de hospital,
A aflição dos aflitos.

Uma noite, às portas de Madrid,
Com uma praga na boca
E a espingarda na mão,
À hora tal, atacou e morreu.

Teve a sorte que quis.
Teve o fim que escolheu.
Colei che morì alle porte di Madrid,
Con una bestemmia in bocca
E la spingarda in mano,
Ebbe la sorte che voleva,
Ebbe la fine che si scelse.
Mai, passiva e atterrita, ella pregò.
E prima d’esser fiore, fu, come tante, frutto.
Nessuno le rubò la verginità
Dopo un saccheggio - fu lei a farne dono
A chi la desiderò
Nella fanghiglia di un ricetto,
Senza nausea ma senza voluttà,
Sotto la comune coperta,
Col pretesto del freddo.
Nelle retroguardie non tentò d’alleviare,
Con lo «champagne», tra i vecchi generali,
Le ore di distensione.
Non volle, attiva e buona, sferruzzare
Maglioni per i bimbi,
Nella calma del focolare.
Non sognò di rasserenare,
In un bianco eroismo
Da angelo d’ospedale,
L’afflizione degli afflitti.

Una notte, alle porte di Madrid,
Con una bestemmia in bocca
E la spingarda in mano,
A una cert’ora, attaccò e morì.

Ebbe la sorte che voleva,
Ebbe la fine che si scelse.
________________

Arnold Böcklin
Testa di ragazza morta (1879)
...

A Fernando Pessoa (ele mesmo)


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Reinaldo Ferreira »»
 
Livro I - Um voo cego a nada (1960) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


A Fernando Pessoa (ele mesmo)
A Fernando Pessoa (lui, per l’appunto)


Cada verso é uma esfinge ter falado.
Mas quanto mais explícito ela o diz,
Mais tudo permanece inexplicado
E menos se apreende o que ela quis.

Erra um sussurro, tão etéreo e alado
Que nem mesmo silêncio o contradiz.
E o ouvi-lo, ou ávido ou irado
Na busca dum segredo sem raiz,

É como se em pensar - um descampado -
Passasse fugitiva e intensamente
O Tempo todo inteiro projectado

E a sombra ali marcasse, na corrente
Do nada para o nada, inda passado
E já futuro, a ficção do presente.
Ogni verso è una sfinge che ha parlato.
Ma quanto più esplicitamente s’è espressa,
Più tutto l’insieme rimane inesplicato
E meno è chiaro ciò che dir volesse .

Erra un sussurro, così diafano e alato
Che neppure il silenzio lo contraddice.
E nell’udirlo, avido o adirato
In cerca d’un segreto privo di radice,

È come se nella mente - campo desolato -
Fuggevole passasse, e intensamente,
Tutto l’arco del Tempo proiettato

E lì l’ombra marcasse, nella corrente
Del niente verso il niente, testé passato
E già futuro, l’inganno del presente.
________________

Orazio Barrese
Fernando Pessoa 1
...

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (105) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (434) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (14) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)