Onde...


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Onde...
Dove...


Onde os olhos se fecham; onde o tempo
Faz ressoar o búzio do silêncio;
Onde o claro desmaio se dissolve
No aroma dos nardos e do sexo;
Onde os membros são laços, e as bocas
Não respiram, arquejam violentas;
Onde os dedos retraçam novas órbitas
Pelo espaço dos corpos e dos astros;
Onde a breve agonia; onde na pele

Se confunde o suor; onde o amor.
Dove gli occhi si chiudono; dove il tempo
Fa risuonare la conchiglia del silenzio;
Dove il pallido languore si dissolve
Nell’aroma dei nardi e del sesso;
Dove le membra sono lacci, e le bocche
Non respirano, ansimano ardenti;
Dove le dita tracciano nuove orbite
Nello spazio dei corpi e degli astri;
Dove la breve agonia; dove sulla pelle

Si confonde il sudore; dove l’amore.
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Balthasar van der Ast
Natura morta con conchiglie (1625)
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O primeiro poema


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O primeiro poema
La prima poesia


Água, brancura e luz da madrugada,
E nardos orvalhados, olhos tardos,
E regressos de longe, lentos, vagos,
De espiral que se expande, ou nebulosa.

Assim diria que o mundo se criou:
Gesto liso das mãos do universo
Com perfumes e auras que anunciam,
Noutras mãos de quimera, outro verso.
Acqua, candore e luce mattinale,
E nardi rugiadosi, occhi assonnati,
E lenti, vaghi ritorni da lungi,
Da spirale che s’espande o nebulosa.

Così direi che il mondo s’è creato:
Gesto lieve delle mani dell’universo
Con profumi e aliti che annunciano,
In altre mani di chimera, un altro verso.
________________

Joan Miró
La nascita del mondo (1925)
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O fruto


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O fruto
Il frutto


Mordo, voraz, a polpa, e sob a língua
Se derrama o sabor reconhecido
Do fruto que se deu e que não mente.
Tudo parece igual, mas, no limite,
Decifro como um deus a obra doutro:
A promessa escondida na semente.
Mordo, vorace, la polpa, e sotto la lingua
Si propaga il sapore riconosciuto
Del frutto che s’offre e che non mente.
Tutto sembra uguale, ma, all’estremo,
Decifro come un dio l’opera dell’altro:
La promessa annidata nella semente.
________________

Domenico Gnoli
Mela (1968)
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Não há mais horizonte...


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Não há mais horizonte...
Non c’è più orizzonte...


Não há mais horizonte. Outro passo que desse,
Se o limite não fosse esta ruptura,
Era em falso que o dava:
Numa baça cortina indivisível
De espaço e duração.
Aqui se juntarão as paralelas,
E as parábolas em rectas se rebatem.
Não há mais horizonte. O silêncio responde.
É Deus que se enganou e o confessa.
Non c’è più orizzonte. Ancora un passo in più,
se il limite non fosse questa spaccatura,
e darei un passo falso
dentro un’opaca cortina indivisibile
di spazio e di continuità.
Qui confluiranno le parallele
e le parabole si contraggono in rette.
Non c’è più orizzonte. Risponde il silenzio.
È Dio che s’è confuso e lo ammette.
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Claudio Verna
La geometria del colore (2021)
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Na ilha por vezes habitada...


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Na ilha por vezes habitada...
Sull’isola a volte abitata...


Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
 morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade,
e dizem-se as palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
 mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável:
o contorno, a vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres,
com a paz e o sorriso de quem se reconhece
e viajou à roda do mundo infatigável,
porque mordeu a alma até aos ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.
Sull’isola a volte abitata da quello che siamo, ci sono notti,
mattine e albe in cui non sentiamo la necessità di
 morire.
È allora che sappiamo tutto di ciò che è stato e sarà.
Il mondo ci si mostra definitivamente rivelato e ci
pervade una grande serenità,
e si dicono le parole che la significano.
Solleviamo un pugno di terra e la stringiamo nelle
 mani.
Dolcemente.
Lì è contenuta tutta la verità sopportabile:
il contorno, la volontà e i limiti.
Allora possiamo dire d’essere liberi,
con la pace e il sorriso di chi si ritrova
e ha percorso il mondo intero infaticabile,
avendo morso l’anima fino all’osso.
Liberiamo poco alla volta la terra ove accadono miracoli
come l’acqua, la pietra e la radice.
Ciascuno di noi è pertanto la vita.
E ci basti questo.
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Goa
L'isola che non c'è (2021)
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Manhã


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Manhã
Mattina


Altos os troncos, e no silêncio os cantos:
A hora da manhã, a nós nascida,
Cobre de verde e azul o gesto simples
Com que me dás, a tua vida.

Confiança das mãos, dos olhos calmos,
Donde a sombra das mágoas e dos prantos
Como a noite do bosque se retira:
Altos os troncos, e no alto os cantos.
Alti i tronchi, e nel silenzio i canti:
L’ora della mattina, per noi nata,
Copre di verde e d’azzurro il gesto semplice
Con cui mi dai, la tua vita.

Confidenza delle mani, degli occhi calmi,
Da cui l’ombra delle ferite e dei pianti
Come la notte dal bosco si ritira:
Alti i tronchi, e lassù i canti.
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Ilda Reis
Senza titolo (1982)
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Ergo uma rosa...


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Ergo uma rosa...
Levo una rosa...


Ergo uma rosa, e tudo se ilumina
Como a lua não faz nem o sol pode:
Cobra de luz ardente e enroscada
Ou ventos de cabelos que sacode.
 
Ergo uma rosa, e grito a quantas aves
O céu pontua de ninhos e de cantos,
Bato no chão a ordem que decide
A união dos demos e dos santos.
 
Ergo uma rosa, um corpo e um destino
Contra o frio da noite que se atreve,
E da seiva da rosa e do meu sangue
Construo perenidade em vida breve.
 
Ergo uma rosa, e deixo, e abandono
Quanto me doi de mágoas e assombros.
Ergo uma rosa, sim, e ouço a vida
Neste cantar das aves nos meus ombros
Levo una rosa e tutto s’illumina
Come non fa la luna né può il sole:
Serpe d’ardente luce, tutt’avvinta,
O vento che i capelli aggroviglia.

Levo una rosa, e urlo a quegli uccelli
Che costellano il cielo di nidi e canti,
Batto sul suolo l'ordine che decreta
L’unione dei demoni e dei santi.

Levo una rosa, un corpo e un destino
Che s’azzarda contro la notte gelata,
E con la linfa della rosa e col mio sangue
Creo un’eternità in una vita limitata.

Levo una rosa, e desisto, e m’allontano
Da ciò che mi duole di pene e di timore.
Levo una rosa, sì, e sento la vita,
Sopra di me, con questi uccelli cantare.
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Beate Rose
Uccello tra i fiori (1973)
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As palavras de amor


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As palavras de amor
Le parole d’amore


Esqueçamos as palavras, as palavras:
As ternas, caprichosas, violentas,
As suaves de mel, as obscenas,
As de febre, as famintas e sedentas.

Deixemos que o silêncio dê sentido
Ao pulsar do meu sangue no teu ventre:
Que palavra ou discurso poderia
Dizer amar na língua da semente? 
Dimentichiamo le parole, le parole:
Quelle tenere, stravaganti, furiose,
Quelle dolci come il miele od oscene,
Quelle febbrili, quelle assetate e smaniose.

Lasciamo che sia il silenzio a dare senso
Al palpitare del mio sangue nel tuo ventre:
Con che parola o formula potrebbe mai
Parlar d’amore la lingua del seme?
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Anish Kapoor
Moire-3 (2015)
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Ainda agora é manhã...


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Ainda agora é manhã...
Adesso è di nuovo mattino...


Ainda agora é manhã, e já os ventos
Adormecem no céu. Pouco a pouco,
A névoa antiga e baça se levanta.
Ruivamente, o sol abre uma estrada
Na prata nublada destas águas.
É manhã, meu amor, a noite foge,
E no mel dos teus olhos escurece
O amargo das sombras e das mágoas.
Adesso è di nuovo mattino, e già i venti
S’addormentano in cielo. A poco a poco,
La nebbia antica e scura si dirada.
Rosseggiante, il sole apre una strada
Sull’argento velato di queste acque.
È mattino, amor mio, la notte fugge,
E nel miele dei tuoi occhi s’eclissa
L’amaro delle ombre e delle pene.
________________

Frederic Leighton
Flaming June (1895)
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Vertigem


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Vertigem
Vertigine


Não vai o pensamento aonde o corpo
Não vai. Emparedado entre penedos,
Até o próprio grito se contrai.
E se o eco arremeda uma resposta,
São coisas da montanha, são segredos
Guardados entre as patas duma aranha
Que tece a sua teia de miséria
Sobre a pedra suspensa da encosta.
Non va il pensiero dove il corpo
Non va. Racchiuso entro dirupi,
Perfino il grido stesso si raggela.
E se simula l’eco una risposta,
Lo fa all’uso di montagna, son segreti
Custoditi tra le zampe d’un ragno
Che fila la sua tela miseranda
Sopra la pietra sospesa del declivio.
________________

Stefano Pallara
Freedom Vertigo (2015)
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Taxidermia, ou poeticamente hipócrita


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Taxidermia, ou poeticamente hipócrita
Tassidermia, o poeticamente ipocrita


Posso falar de morte enquanto vivo?
Posso ganir de fome imaginada?
Posso lutar nos versos escondido?
Posso fingir de tudo, sendo nada?

Posso tirar verdades de mentiras,
Ou inundar de fontes um deserto?
Posso mudar de cordas e de liras,
E fazer de má noite sol aberto?
 
Se tudo a vãs palavras se reduz
E com elas me tapo a retirada,
Do poleiro da sombra nego a luz
Como a canção se nega embalsamada.
 
Olhos de vidro e asas prisioneiras,
Fiquei-me pelo gasto de palavras
Como rasto das coisas verdadeiras.
Posso parlare di morte mentre vivo?
Posso gemere per una fame inesistente?
Posso lottare tra i versi furtivo?
Posso fingere ogni cosa, pur essendo niente?

Posso cavare verità dalle fandonie?
O allagare di sorgenti un deserto?
Posso cambiare cetre e corde,
E dare a una notte avversa un sole certo?

Se tutto a parole vuote si riduce
Che io uso per coprir la ritirata,
Dal trespolo con l'ombra ostacolo la luce
Come la canzone non s’ammette imbalsamata.

Occhi di vetro e ali prigioniere,
Son rimasto a logorare le parole
Come tracce di cose veritiere.
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Ilda Reis
Senza titolo (1971)
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Não te censuro...


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Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (luglio 2022) »»
 
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Não te censuro...
Non ti biasimo...


Não te censuro que me não reconheças,
O meu tronco foi margem das estações,
Aí a água e o jogo do tempo
Cumpriram o seu dever.
Também a minha voz se perdeu
Na erosão do silêncio
E já não te posso falar da forma antiquíssima
Como o fazia quando ainda não havia tempo
A galopar, a pender, a cogitar, a esquecer.
As curvas da face são outras,
As antigas foram-se perdendo
Para que o meu coração do tempo me aceitasse.
 
Quem sou? Não importa.
O meu nome é um eco de esquecimento.

Non ti biasimo per non avermi riconosciuto,
Il mio tronco è stato al limite delle stagioni,
Lì l’acqua e il gioco del tempo
Hanno assolto il loro dovere.
Anche la mia voce è andata perduta
Nell’erosione del silenzio
E ormai non posso più parlarti nella maniera antichissima
Come facevo quando ancora non c’era un tempo
A galoppare, a incombere, a meditare, a scordare.
Le forme del viso sono diverse,
Quelle vecchie sono andate svanendo
Affinché il mio spirito del tempo mi accettasse.
 
Chi sono? Non importa.
Il mio nome è un eco d’oblio.

________________

Francis Bacon
Ritratto di Michel Leiris (1990)
...

Ritual


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Ritual
Rituale


Se é altar o poema, sacrifico.
Nesta pedra de lua que é o verso
O cutelo do vivo ganha fio.
Cá virei de joelhos. Não recuso
O veado do prado do meu sonho
Ao dardo violento que o alcança.
Sem a lenha grosseira não há fogo,
Embora as mãos da luz acabem sujas
Da cinza arrefecida das palavras.
Se altare è la poesia, io vi sacrifico.
Su questa pietra lunare che è il verso
S’arrota il filo della falce del vivo.
Qui io verrò genuflesso. Non proteggo
Il cervo del pascolo del mio sogno
Dallo strale violento che lo centra.
Senza la legna grezza non v’è fuoco,
Pur se le mani della luce si fan lorde
Con la cenere raffreddata delle parole.
________________

Franz Marc
il destino degli animali (1914)
...

Recorto a minha sombra...


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Recorto a minha sombra...
Ritaglio la mia ombra...


Recorto a minha sombra da parede,
Dou-lhe corda, calor e movimento,
Duas demãos de cor e sofrimento,
Quanto baste de fome, o som, a sede.

Fico de parte a vê-la repetir
Os gestos e palavras que me são,
Figura desdobrada e confusão
De verdade vestida de mentir.

Sobre a vida dos outros se projecta
Este jogo das duas dimensões
Em que nada se prova com razões
Tal um arco puxado sem a seta.
 
Outra vida virá que me absolva
Da meia humanidade que perdura
Nesta sombra privada de espessura,
Na espessura sem forma que a resolva.
Ritaglio la mia ombra dalla parete,
Le do carica, calore e movimento,
Due passate di colore e patimento,
Giusta dose di fame, suono e sete.

M’apparto e la vedo che rifà
Tutti i miei gesti e le mie parole,
Figura sdoppiata che è babele
D’una verità di bugie vestita.

Sulla vita d’altri si lancia
Questo gioco a due dimensioni
Ove nulla si prova con ragioni
Come arco scoccato senza freccia.
 
Altra vita verrà che m’assolva
Dalla persistente mezza umanità
In quest’ombra priva di profondità,
Nell’informe profondità che la risolva.
________________

Miguel Barceló
L'ombra che trema (1957)
...

Pois o tempo não pára...


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Pois o tempo não pára...
Certo il tempo non s’arresta...


Pois o tempo não pára, nem importa
Que vividos os dias aproximem
O copo de água amarga colocado
Onde a sede da vida se exaspera.

Não contemos os dias que passaram:
Hoje foi que nascemos. Só agora
A vida começou, e, longe ainda,
Pode a morte cansar à nossa espera.
Certo il tempo non s’arresta, né importa
Che, trascorsi, i giorni s’appressino
Al calice d’acqua amara posto
Ove la sete della vita s’esaspera.

Non contiamo i giorni ormai passati:
È oggi che siamo nati. Soltanto ora
La vita è cominciata, e, ancor distante,
Può stancarsi la morte d’aspettarci.
________________

Vinicio Berti
Dramma nel tempo (1961)
...

Poema à boca fechada


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Poema à boca fechada
Poesia a bocca chiusa


Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quanto me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
Non dirò:
Che il silenzio mi opprime e mi censura.
Io resto zitto e zitto rimarrò,
Poiché la lingua ch’io parlo è d’altra natura.

Parole consunte s’accumulano,
Languiscono, cisterna d’acque morte,
Aspre angosce tramutate in melma,
Limo sul fondo tra radici contorte.

Non dirò:
Che neppur meritano lo sforzo di essere dette,
Parole incapaci di dire quel che so
In questo ricetto dove non mi conoscono.

Non solo fango, non melma si trascinano,
Non solo animali, morti e paure riaffiorano,
Turgidi frutti in grappoli s’annodano
Nel lurido pozzo da cui dita emergono.

Dirò soltanto,
Burberamente appartato e muto,
Che chi sa tacere quanto io ho taciuto
Morire non potrà senza dir tutto.
________________

Sylvie Loeb
Arbre - 6 (2010)
...

Pesadelo


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Pesadelo
Incubo


Há um terror de mãos na madrugada,
um rangido de porta, uma suspeita,
um grito perfurante como espada,
um olho exorbitado que me espreita.

Há um fragor de fim e derrocada,
um doente que rasga uma receita,
uma criança que chora sufocada,
um juramento que ninguém aceita,
uma esquina que salta de emboscada,
um risco negro, um braço que rejeita,
um resto de comida mastigada,
uma mulher espancada que se deita.

Nove circulos de inferno teve o sonho,
doze provas mortais para vencer,
mas nasce o dia, e o dia recomponho:
Tinha de ser, amor, tinha de ser.
Sul far del giorno c’è un terror di mani,
una porta cigolante, un sospetto,
un grido penetrante come spada,
un occhio esorbitato che mi scruta.

C’è un boato di fine e devastazione,
un infermo che straccia una ricetta,
un bimbo in preda a un pianto dirotto,
un giuramento che nessuno accetta,
un angolo che funge da imboscata,
un solco nero, un braccio che rigetta,
un bolo di cibo masticato,
una donna maltrattata che s’abbatte.

Nove gironi d’inferno aveva il sogno,
dodici prove tremende da superare,
ma nasce il giorno, e il giorno ricompongo:
non poteva che andar così, mio amore.
________________

Francis Picabia
Mani e fantasmi (1948)
...

Nuvola degli autori (e alcune opere)

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