Também o deus e o diabo...


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Também o deus e o diabo...
Anche dio e il diavolo...


Também o deus e o diabo
Se abastecem nos hipermercados.
Cruzam-se, trocam oblíquas saudações
E correm a mergulhar nas promoções,
Debatem-se nesta teia imensa
De corredores, onde as formas são valores.
E deus e o diabo tentados, deixam-se enredar
Pelas sereias publicitárias,
Compram sabonetes, vídeos,
“Delicatessen”, pensos higiénicos
De qualidade superior,
Panelas, carnes frias, cerveja estrangeira.
Os hipermercados vieram resgatar o inútil,
E, benditos, benditos hipermercados,
Vieram sanar a ferida
Da guerra primordial:
O diabo e o deus comentam na caixa
Os preços, falam deles
Usando, naturalmente,
Hipermetáforas e hipérboles de hipermercados.

Anche dio e il diavolo
Si riforniscono negli ipermercati.
S’incrociano, si scambiano sfuggenti saluti
E corrono a tuffarsi nelle promozioni,
Si dibattono in questa tela immensa
Di corridoi, ove le forme sono valori.
E dio e il diavolo tentati, si lasciano irretire
Dalle sirene della pubblicità,
Comprano saponette, video,
“Delicatessen”, assorbenti igienici
Di qualità superiore,
Pentole, carne fresca, birra estera.
Gli ipermercati sono venuti in aiuto all’inutile,
E, benedetti, benedetti ipermercati,
Sono venuti a risanare la ferita
Della guerra primordiale:
Il diavolo e dio commentano alla cassa
I prezzi, ne parlano
Usando, naturalmente,
Ipermetafore e iperboli da ipermercati.

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Duane Hanson
Supermarket Lady (1969)
...

Preparação para a Morte


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Preparação para a Morte
Preparazione alla Morte


A vida é um milagre.
Cada flor,
Com sua forma, sua cor, seu aroma,
Cada flor é um milagre.
Cada pássaro,
Com sua plumagem, seu vôo, seu canto,
Cada pássaro é um milagre.
O espaço, infinito,
O espaço é um milagre.
O tempo, infinito,
O tempo é um milagre.
A memória é um milagre.
A consciência é um milagre.
Tudo é milagre.
Tudo, menos a morte.
Bendita a morte,
que é o fim de todos os milagres!

La vita è un miracolo.
Ogni fiore,
Con la sua forma, il suo colore, il suo aroma,
Ogni fiore è un miracolo.
Ogni uccello,
Col suo piumaggio, il suo volo, il suo canto,
Ogni uccello è un miracolo.
Lo spazio, infinito,
Lo spazio è un miracolo.
Il tempo, infinito,
Il tempo è un miracolo.
La memoria è un miracolo.
La coscienza è un miracolo.
Tutto è miracolo.
Tutto, meno la morte.
Benedetta la morte,
che è la fine di tutti i miracoli!

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Maestro del Trionfo della Morte
Trionfo della Morte (inizio XV sec)
...

Nu


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Nu
Nudo


Quando estás vestida,
Ninguém imagina
Os mundos que escondes
Sob as tuas roupas.

(Assim, quando é dia,
Não temos noção
Dos astros que luzem
No profundo céu.

Mas a noite é nua,
E, nua na noite,
Palpitam teus mundos
E os mundos da noite.

Brilham teus joelhos.
Brilha o teu umbigo.
Brilha toda a tua
Lira abdominal.

Teus seios exíguos
- Como na rijeza
Do tronco robusto
Dois frutos pequenos -

Brilham.) Ah, teus seios!
Teus duros mamilos!
Teu dorso! Teus flancos!
Ah, tuas espáduas!

Se nua, teus olhos
Ficam nus também:
Teu olhar, mais longo,
Mais lento, mais líquido.

Então, dentro deles,
Boio, nado, salto,
Baixo num mergulho
Perpendicular.

Baixo até o mais fundo
De teu ser, lá onde
Me sorri tu'alma,
Nua, nua, nua...

Quando sei vestita,
Nessuno immagina
I mondi che nascondi
Sotto le tue vesti.

(Così, quando è giorno,
Non abbiamo nozione
Degli astri che splendono
Nel cielo profondo.

Ma la notte è nuda,
E, nuda nella notte,
Palpitano i tuoi mondi
E i mondi della notte.

Brillano i tuoi ginocchi.
Brilla il tuo ombelico.
Brilla tutta la tua
Lira addominale.

I tuoi teneri seni
- Come sulla solidità
Del robusto tronco
Due piccoli frutti -

Brillano.) Ah, i tuoi seni!
I tuoi duri capezzoli!
Il tuo dorso! I tuoi fianchi!
Ah, le tue spalle!

Se nuda, i tuoi occhi
sono altrettanto nudi:
Il tuo sguardo, più lontano,
Più lento, più liquido.

Allora, dentro di loro,
Galleggio, nuoto, salto
Scendo in un tuffo
Perpendicolare.

Scendo fin nell’intimo
Del tuo essere, là dove
La tua anima mi sorride
Nuda, nuda, nuda...

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Man Ray
Woman in landscape (1972)
...

Estimativa


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Estimativa
Stima


Nem só tu, nem apenas eu:
Dizer que somos dois é anular
Todas essas variáveis
Que nos decidem e continuamente
Expandem o seu território de caça
E propagam a sua mutabilidade
Às sombras quietas.
Somos dois por convenção
Ou por facilidade de expressão
Estimar é exasperar,
Talvez sufocar.
Só inumeráveis somos estáveis,
Só incontáveis somos puramente
Dois.
— Um singular que esconde
Os seus muitos plurais
Sem exercer qualquer multiplicidade,
Sem perder a qual –
Idade única de ser uno.

Né tu soltanto, né solamente io:
Dire che siamo due è annullare
Tutte quelle variabili
Che ci determinano e continuamente
Espandono il loro territorio di caccia
Ed estendono la loro instabilità
Alle placide ombre.
Siamo due per convenzione
O per facilità d’espressione
Stimare è esasperare,
Talvolta soffocare.
Solo se innumerevoli siamo stabili,
Solo se incalcolabili siamo semplicemente
Due.
— Un singolare che occulta
I suoi molti plurali
Senz’avvalersi d’alcuna molteplicità,
Senza perderne alcuna —
Stagione unica d’esser uno.

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Tobia Ravà
Fuga senza fine (2008)
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Minha grande ternura


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Minha grande ternura
Grande è la mia tenerezza


Minha grande ternura
Pelos passarinhos mortos,
Pelas pequeninas aranhas.

Minha grande ternura
Pelas mulheres que foram meninas bonitas
E ficaram mulheres feias;
Pelas mulheres que foram desejáveis
E deixaram de o ser;
Pelas mulheres que me amaram
E que eu não pude amar.

Minha grande ternura
Pelos poemas que
Não consegui realizar.

Minha grande ternura
Pelas amadas que
Envelheceram sem maldade.

Minha grande ternura
Pelas gotas de orvalho que
São o único enfeite
De um túmulo.

Grande è la mia tenerezza
Per gli uccelletti morti,
Per i ragnetti piccoli.

Grande è la mia tenerezza
Per le donne che furono belle da ragazze
E sono diventate donne brutte;
Per le donne che furono desiderabili
E hanno smesso di esserlo;
Per le donne che mi amarono
E che io non ho potuto amare.

Grande è la mia tenerezza
Per le poesie che
Non riuscii a realizzare.

Grande è la mia tenerezza
Per le donne amate che
Sono invecchiate senza livore.

Grande è la mia tenerezza
Per le gocce di rugiada che
Sono l'unico ornamento
Di un sepolcro.

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Umberto Boccioni
La madre (1909)
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Adeus, Amor


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Adeus, Amor
Addio, Amore


O amor disse-me adeus, e eu disse: “Adeus,
Amor! Tu fazes bem: a mocidade
Quer a mocidade.” Os meus amigos
Me felicitam: “Como estás bem conservado!”
Mas eu sei que no Louvre e outros museus, e até
no nosso
Há múmias do velho Egito que estão como eu bem
conservadas.
Sei mais que posso ainda receber e dar carinhos e ternura.
Mas acho isso pouco, e exijo a iluminância, o inesperado,
O trauma, o magma... Adeus, Amor!
Todavia não estou sozinho. Nunca estive. A vida inteira
Vivi em tête-à-tête com uma senhora magra, séria,
Da maior distinção.
E agora até sou seu vizinho.
Tu que me lês adivinhaste ela quem é.
Pois é. Portanto digo: “Adeus, Amor!”
E à venerável minha vizinha:
“Ao teu dispor! Mas olha, vem
Para a nossa entrevista última,
Pela mão da tua divina Senhora
— Nossa Senhora da Boa Morte”.

L’amore m’ha detto addio, e io gli ho detto: “Addio,
Amore! Tu fai bene: la gioventù
Vuole gioventù.” I miei amici
Si complimentano: “Come sei ben conservato!”
Ma io so che al Louvre e in altri musei, e addirittura
nel nostro
Ci sono mummie dell’antico Egitto che sono come me
ben conservate.
So che posso ancora ricevere e dare affetto e tenerezza.
Ma non mi basta, esigo la folgorazione, l’inaspettato,
Il trauma, il magma... Addio, Amore!
Tuttavia non sono solo. Mai lo son stato. La vita intera
L’ho vissuta tête-à-tête con una signora magra, seria,
Della massima distinzione.
E adesso sono addirittura suo vicino.
Tu che mi stai leggendo hai indovinato chi è.
Infatti è lei. Perciò dico: “Addio, Amore!”
E alla mia venerabile vicina:
“A tua disposizione! Ma senti, vieni
Per la nostra ultima intervista,
Per mano della tua divina Signora
— Nostra Signora della Buona Morte”.

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Theodor Baierl
Il cavaliere e la morte (1924)
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Os nomes


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Os nomes
I nomi


Duas vezes se morre:
Primeiro na carne, depois no nome.
A carne desaparece, o nome persiste mas
Esvaziando-se de seu casto conteúdo
- Tantos gestos, palavras, silêncios -
Até que um dia sentimos,
Com uma pancada de espanto (ou de remorso?),
Que o nome querido já nos soa como os outros.

Santinha nunca foi para mim o diminutivo de Santa.
Nem Santa nunca foi para mim a mulher sem pecado.
Santinha eram dois olhos míopes, quatro incisivos claros
à flor da boca.
Era a intuição rápida, o medo de tudo, um certo modo
de dizer "Meu Deus, valei-me".

Adelaide não foi para mim Adelaide somente,
Mas Cabeleira de Berenice, Inominata, Cassiopéia.
Adelaide hoje apenas substantivo próprio feminino.

Os epitáfios também se apagam, bem sei.
Mais lentamente, porém, do que as reminiscências
Na carne, menos inviolável do que a pedra dos túmulos.

Si muore due volte:
Prima nella carne, poi nel nome.
La carne svanisce, il nome resiste ma
Svuotandosi del suo casto contenuto
- Tanti gesti, parole, silenzi -
Finché un giorno sentiamo,
Con una botta di sgomento (o di rimorso?),
Che il nome amato già ci suona come gli altri.

Santina non è mai stato per me diminutivo di Santa.
Né Santa per me è mai stata una donna senza peccato.
Santina erano due occhi miopi, quattro incisivi chiari
sporgenti.
Era l’intuito rapido, la paura di tutto, un certo modo di dire
"Mio Dio, aiutami".

Adelaide non fu per me Adelaide soltanto,
Ma Chioma di Berenice, Innominata, Cassiopea.
Adelaide oggi non è che un nome proprio femminile.

Lo so, anche gli epitaffi si cancellano.
Ma più lentamente delle reminiscenze
Nella carne, che è meno inviolabile della pietra dei tumuli.

________________

Bernardo Strozzi
Berenice (1640)
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Lua nova


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Lua nova
Luna nuova


Meu novo quarto
Virado para o nascente:
Meu quarto, de novo
a cavaleiro de entrada da barra.

Depois de 10 anos de pátio
Volto a tomar conhecimento da aurora.
Volto a banhar meus olhos
no mênstruo incruento das madrugadas.

Todas as manhãs o aeroporto em frente
me dá lições de partir:

Hei de aprender com ele
A partir de uma vez
- Sem medo,
Sem remorsos,
Sem saudade.

Não pensem que estou aguardando a lua cheia
- Esse sol da demência
Vaga e noctâmbula.
O que eu mais quero,
O de que preciso
É de lua nova.

La mia stanza nuova
Rivolta a levante:
La mia stanza, di nuovo
dirimpetto all’entrata del porto.

Dopo 10 anni di patio
Riprendo familiarità con l’aurora.
Torno a bagnarmi gli occhi
nell’incruento mestruo delle albe.

Tutte le mattine l’aeroporto di fronte
mi dà lezioni di partenza:

Devo imparare da lui
A partire per sempre
- Senza timore,
Senza rimorsi,
Senza rimpianto.

Non pensate che stia aspettando la luna piena
- Quel sole di follia
Vaga e nottambula.
Quello di cui ho più voglia,
Quello di cui ho bisogno
È di luna nuova.

________________

Tullio Crali
Acrobazie in cielo (1932)
...

Auto-Retrato


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Mafuá do malungo (1948) »»
 
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Auto-Retrato
Autoritratto


Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado, músico
Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico profissional.

Provinciale che non è mai riuscito
A scegliere con gusto una cravatta;
Pernambucano a cui fa orrore
Il coltello del pernambucano;
Poeta scadente che nell’arte della prosa
È invecchiato nell’infanzia dell’arte,
E persino scrivendo delle cronache
È rimasto cronista di provincia;
Architetto mancato, musicista
Fallito (un giorno ha ingoiato
Un pianoforte, ma la tastiera
È rimasta fuori); senza famiglia,
Religione o filosofia;
Poco incline all’inquietudine dello spirito
Che sgorga dal soprannaturale,
E quanto alla professione
Un tisico professionista.

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Otto Dumovich
Statua in omaggio a Manuel Bandeira (2009)
...

O bicho


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Belo belo (1948) »»
 
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O bicho
La bestiola


Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

Ieri ho visto una bestiola
In mezzo ai rifiuti del cortile
Che cercava del cibo fra gli scarti.

Quando trovava qualcosa,
Non controllava né annusava:
Voracemente ingoiava.

La bestiola non era un cane,
Non era un gatto,
Non era un ratto.

Quella bestiola, mio Dio, era un uomo.

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Vik Muniz (Trash art)
Saturno divora uno dei suoi figli (da Goya) (2008)
...

Nova poética


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Nova poética
Nuova poetica


Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.

Vai um sujeito,
Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco
muito bem engomada, e na primeira esquina passa
um caminhão, salpica-lhe o paletó ou a calça de uma
nódoa de lama:
É a vida.

O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.

Sei que a poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as
virgens cem por cento e as amadas que envelhecem
sem maldade.

Voglio lanciare la teoria del poeta sordido.
Poeta sordido è:
Colui la cui poesia porta l’impronta sudicia della vita.

Prendi un tizio qualunque,
Esce quel tizio di casa con il completo di misto lino bianco
molto ben inamidato e, girato l’angolo, passa un camion
e gl’imbratta la giacca o i pantaloni con una
macchia di fango:
È la vita.

La poesia dev’essere come la macchia sul tessuto:
Deve dare al lettore la soddisfazione di disperarsi.

So che la poesia è anche rugiada.
Ma questa è fatta per le bambinelle, le stelle alfa, le vergini
al cento per cento e per le donne amate che sono
invecchiate senza malanimo.

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Giovanni Boldini
Conte Robert de Montesquiou (1899)
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Arte de amar


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Arte de amar
Arte di amare


Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.

Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

Se vuoi provare la felicità d’amare, scordati dell’anima.
È l'anima ciò che rovina l'amore.
Solo in Dio può trovare appagamento.
Non in un'altra anima.

Solo in Dio - o fuori dal mondo.
Le anime sono incomunicabili.
Lascia che il tuo corpo s'accordi con un altro corpo.
Perché i corpi s'intendono, ma le anime no.

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Antoine Watteau
Il passo falso (1717)
...

A Mário de Andrade Ausente


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A Mário de Andrade Ausente
A Mário de Andrade assente


Anunciaram que você morreu.
Meus olhos, meus ouvidos testemunham:
A alma profunda, não.
Por isso não sinto agora a sua falta.

Sei bem que ela virá
(Pela fôrça persuasiva do tempo).
Virá súbito um dia,
Inadvertida para os demais
Por exemplo assim:
À mesa conversarão de uma coisa e outra
Uma palavra lançada à toa
Baterá na franja dos lutos de sangue,
Alguem perguntará em que estou pensando,
Sorrirei sem dizer que em você
Profundamente.

Mas agora não sinto a sua falta.

(É sempre assim quando o ausente
Partiu sem se despedir:
Você não se despediu.)

Você não morreu: ausentou-se.
Direi: Faz tempo que ele não escreve.
Irei a São Paulo: você não virá no meu hotel.
Imaginarei: Está na chacrinha de São Roque.

Saberei que não, você ausentou-se. Para outra vida?
A vida é uma só. A sua vida continua
Na vida que você viveu.
Por isso não sinto agora sua falta.

Mi è stato detto che sei morto.
I miei occhi, le mie orecchie sono testimoni:
Il fondo dell’anima, no.
Sicché, per ora, non sento la tua mancanza.

Lo so che arriverà
(Per la forza persuasiva del tempo).
Verrà, tutto d’un tratto, un giorno,
Non percepita dagli altri
Ad esempio, così:
A tavola, discorrendo di questo e di quello,
Una parola finita lì a caso
Urterà la ferita dei lutti di sangue,
Qualcuno domanderà a che io stia pensando,
Sorriderò senza dire che è a te
Nel profondo.

Ma ora non sento la tua mancanza.

(È sempre così quando l’assente
Se ne va senza dire addio:
Tu non hai detto addio.)

Tu non sei morto: ti sei assentato.
Dirò: Da un po’ di tempo non scrive.
Andrò a São Paulo: non verrai a trovarmi in hotel.
Penserò: Sarà in villeggiatura a São Roque.

Saprò che non è così, ti sei assentato. Per un’altra vita?
La vita è una sola. La tua vita continua
Nella vita che hai vissuto.
Sicché, per ora, non sento la tua mancanza.

________________

Anita Malfatti
Ritratto di Mário de Andrade (1922)
...

Pousa a mão na minha testa


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Pousa a mão na minha testa
Posami la mano sulla fronte


Não te doas do meu silêncio:
Estou cansado de todas as palavras.
Não sabes que te amo?
Pousa a mão na minha testa:
Captarás numa palpitação inefável
O sentido da única palavra essencial
— Amor.

Non dolerti del mio silenzio:
Sono stanco di tutte le parole.
Non sai che ti amo?
Posami la mano sulla fronte:
Capterai in un palpito ineffabile
Il senso dell’unica parola essenziale
— Amore.

________________

Gio Ponti
Mano magica (1935)
...

O Martelo


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O Martelo
Il martello


As rodas rangem na curva dos trilhos
Inexoravelmente.
Mas eu salvei do meu naufrágio
Os elementos mais cotidianos.
O meu quarto resume o passado em todas as casas
que habitei.

Dentro da noite
No cerne duro da cidade
Me sinto protegido.
Do jardim do convento
Vem o pio da coruja.
Doce como arrulho de pomba.
Sei que amanhã quando acordar
Ouvirei o martelo do ferreiro
Bater corajoso o seu cântico de certezas.

Stridore di ruote alla curva dei binari
Inesorabilmente
Ma io ho salvato dal mio naufragio
Gli elementi più quotidiani.
Nella mia stanza si riassume il passato di tutte le case
che ho abitato.

Dentro la notte
Nel nocciolo duro della città
Io mi sento protetto.
Dal giardino del convento
Viene lo squittio della civetta.
Dolce come il tubare di colomba.
So che domani al mio risveglio
Sentirò il martello del fabbro
Battere coraggioso il suo cantico di certezze.

________________

Yvonne Jacquette
Chelsea (1996)
...

Canção do vento e da minha vida


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Canção do vento e da minha vida
Canzone del vento e della mia vita


O vento varria as folhas,
O vento varria os frutos,
O vento varria as flores...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas.

O vento varria as luzes
O vento varria as musicas,
O vento varria os aromas...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De aromas, de estrelas, de cânticos.

O vento varria os sonhos
E varria as amizades...
O vento varria as mulheres.
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De afetos e de mulheres.

O vento varria os meses
E varria os teus sorrisos...
O vento varria tudo!
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De tudo.

Il vento spazzava le foglie,
Il vento spazzava i frutti,
Il vento spazzava i fiori...
E la mia vita si ritrovava
Ogni volta più ricca
Di frutti, di fiori, di foglie.

Il vento spazzava via le luci
Il vento spazzava via le musiche,
Il vento spazzava via gli aromi...
E la mia vita si ritrovava
Ogni volta più ricca
D’aromi, di stelle, di canti.

Il vento spazzava via i sogni
E spazzava via le amicizie...
Il vento spazzava via le donne.
E la mia vita si ritrovava
Ogni volta più ricca
Di affetti e di donne.

Il vento spazzava via i mesi
E spazzava via i tuoi sorrisi...
Il vento spazzava via tutto!
E la mia vita si ritrovava
Ogni volta più ricca
Di tutto.

________________

Studio Tonkin Liu
Singing Ringing Tree I (2006)
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Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (432) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (22) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (4) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)