No amplo e ermo degredo...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Reinaldo Ferreira »»
 
Livro I - Um voo cego a nada (1960) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


No amplo e ermo degredo...
Nell’ampia e deserta radura...


No amplo e ermo degredo
Da Noite enorme incriada,
Acesso ao átrio do medo,
Reverso a negro do Nada

Erra uma asa, partida,
Dum qualquer pássaro morto,
Que só porque erra tem vida
No mar do nada sem porto.

É quando passa e projecta
Na Sombra sombra erradia
Que nasce a mãe dum poeta
E se concebe a poesia.
Nell’ampia e deserta radura
Dell’enorme Notte increata,
Anticamera della paura,
Avversa al buio del Nulla

Erra un’ala, spezzata,
D’un qualche uccello morto,
Che, in quanto errante, ha vita
Nel mare del nulla senza porto.

É quando passa e proietta
Sull’ombra un’ombra erratica
Che nasce la madre d’un poeta
E alla poesia dona nuova vita.
________________

Albrecht Dürer
Uccello morto (1512)
...

Eu, Rosie, eu se falasse, eu dir-te-ia...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Reinaldo Ferreira »»
 
Livro I - Um voo cego a nada (1960) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Eu, Rosie, eu se falasse, eu dir-te-ia...
Io, Rosie, se io parlassi, io ti direi...


Eu, Rosie, eu se falasse, eu dir-te-ia
Que partout, everywhere, em toda a parte,
A vida égale, idêntica, the same,
É sempre um esforço inútil,
Um voo cego a nada.
Mas dancemos; dancemos
Já que temos
A valsa começada
E o Nada
Deve acabar-se também,
Como todas as coisas.
Tu pensas
Nas vantagens imensas
Dum par
Que paga sem falar;
Eu, nauseado e grogue,
Eu penso, vê lá bem,
Em Arles e na orelha de Van Gogh…
E assim entre o que eu penso e o que tu sentes
A ponte que nos une — é estar ausentes.
Io Rosie, se io parlassi, io ti direi
Che partout, everywhere, da ogni parte,
La vita égale, identica, the same,
È sempre uno sforzo inutile,
Un volo cieco al nulla.
Ma balliamo; balliamo
Ché ormai abbiamo
Cominciato questo valzer
E il Nulla
Dovrà pur terminare,
Come tutte le cose.
Tu pensi
Ai vantaggi immensi
D’una coppia
Che paga senza parlare;
Io, nauseato e brillo,
Io penso, guarda un po’,
Ad Arles e all’orecchio di Van Gogh...
E così tra ciò che io penso e ciò che tu senti
Il ponte che ci unisce - è il restare assenti.
________________

Charles Demuth
Vaudeville (1918)
...

Duma outra infância inventada...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Reinaldo Ferreira »»
 
Livro I - Um voo cego a nada (1960) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Duma outra infância inventada...
Di un’altra infanzia inventata...


Duma outra infância inventada,
Guardo memórias que são
Reais reversos do nada

Que as verdadeiras me dão.
Estas, se acaso regressam,
Em tropel e confusão

Ao limiar-me, tropeçam
No corpo das que lá estão.
Assim mentindo as raízes

Do meu confuso começo,
Segrego imagens felizes
Com que as funestas esqueço.
Di un’altra infanzia inventata,
Conservo memorie che sono
L’esatto opposto del nulla

Che quelle vere mi danno.
Queste, se per caso ritornano,
In concitato disordine

Varcando la soglia, incappano
Nel corpo di quelle che sono già là.
Perciò mentendo sulle radici

Dei miei confusi primordi,
Preservo le immagini felici
E dimentico i tristi ricordi.
________________

Jan van Steen
Scuola di paese (1660)
...

Do campo dos mortos...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Reinaldo Ferreira »»
 
Livro I - Um voo cego a nada (1960) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Do campo dos mortos...
Dal campo dei morti...


Do campo dos mortos
Em terra estrangeira
Por onde passámos
Absortos os dois,
Saímos ilesos de melancolia,
Por irmos tão vivos, tão livres
E juntos os dois.
Em vão sobre as campas
Dos mortos estrangeiros
Visível olvido
Na terra sem rosas votivas
Chamava por nós.
Nós íamos indo,
Felizes, felizes,
E o ventre da terra
Sonhava raízes
À volta de nós.
Nós íamos indo
Na hora que, breve, passava,
Vivendo-a sòmente.
E a nossa presença encarnava
No campo dos mortos em terra estrangeira
- Passado, passado -
O presente.
Dal campo dei morti
In terra straniera
Per dove passammo
Entrambi assorti,
Indenni uscimmo dalla malinconia,
Poiché entrambi eravamo
Così vivi e liberi e uniti.
Invano sopra le tombe
Dei morti stranieri
Un palese oblio
In terra senza rose votive
Chiedeva di noi.
Noi avanti andavamo,
Felici, felici,
E il cuor della terra
Sognava radici
Tutt’intorno a noi.
Noi avanti andavamo
Nel tempo che, fugace, passava,
Vivendolo semplicemente.
E nel campo dei morti in terra straniera
- Passato, passato -
La nostra presenza incarnava
Il presente.
________________

Edouard Vallotton
Il cimitero militare di Châlons (1917)
...

Desde quando alguma vez anoiteceu...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Reinaldo Ferreira »»
 
Livro I - Um voo cego a nada (1960) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Desde quando alguma vez anoiteceu...
Da quando quella volta fece notte...


Desde quando alguma vez anoiteceu
E à angústia de que a terra se cobriu
Só pasmo nas esferas respondeu;

Desde quando alguma flor emurcheceu
E a criança que válida se ria
De repente calada apodreceu;

Desde quando a algum estio sucedeu
Um outro outono e a árvore se despiu
E a primeira cabeça encaneceu;

Desde quando alguma coisa que nasceu
Sem que o pedisse, sem remédio se degrada
E acaba, sob a terra que a comeu,

Dispersa entre os átomos dispersos,
Se acumula a tristeza deste dia
E a razão destes versos.
Da quando quella volta fece notte
E all’angoscia di cui la terra si coprì
Solo terrore dalle sfere riecheggiò;

Da quando quel fiore è appassito
Ed il bimbo che florido rideva
Tacitamente d’un tratto è imputridito;

Da quando ad un’estate s’è avvicendato
Un altro autunno e l’albero s’è spogliato
E la prima chioma è incanutita;

Da quando una cosa ch’era attecchita
Senza chiederlo, senza rimedio s’è degradata
Ed è finita sotto la terra che se l’è ingoiata,

Dispersa in mezzo agli atomi dispersi,
S’è accumulata la tristezza odierna
E la ragione di questi versi.
________________

Mario Ceroli
Acqua alla gola (1998)
...

Como dói o ignorado humano...


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Nuno Rocha Morais »»
 
Poemas dos dias (2022) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Como dói o ignorado humano...
Come ferisce l’umana insipienza...


Como dói o ignorado humano.
Vou, então, procurar
Algo semelhante a ternura:
O vapor de um chá,
A lembrança de um papel antigo no bolso,
O que resta de vento lá fora.
Um mar sem praias ou precedentes,
Viagem pura, amor sem margem,
Corrente que mergulha na água esgotada.

Come ferisce l’umana insipienza.
Andrò, dunque, in cerca
Di qualcosa che somigli alla dolcezza:
Il vapore di un tè,
Il ricordo d’un vecchio bigliettino in tasca,
Quel che resta del vento là fuori.
Un mare senza spiagge o senza precedenti,
Viaggio puro, amore senza limiti,
Corrente che sfocia dove l’acqua è esaurita.

________________

Oswaldo Guayasamín
Meditazione (1970)
...

Deixai os doidos governar entre comparsas...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Reinaldo Ferreira »»
 
Livro I - Um voo cego a nada (1960) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Deixai os doidos governar entre comparsas...
Lasciate che i folli comandino tra comparse...


Deixai os doidos governar entre comparsas!
Deixai-os declamar dos seus balcões
Sobre as praças desertas!
Deixai as frases odiosas que eles disserem,
Como morcegos à luz do Sol,
Atónitas baterem de parede em parede,
Até morrerem no ar
Que as não ouviu
Nem percutiu
À distância da multidão que partiu!
Deixai-os gritar pelos salões vazios,
Eles, os portentosos mais que os mares,
Eles, os caudalosos mais que os rios,
O medo de estar sós
Entre os milhares
De esgares
Reflectidos nos colossais
Cristais
Hílares
Que a sua grandeza lhes sonhou!
Lasciate che i folli comandino tra comparse!
Lasciateli declamare dai loro balconi
Davanti a piazze deserte!
Lasciate che le frasi odiose che direbbero,
Come pipistrelli alla luce del sole,
Sbattano attonite di parete in parete,
Andando a morire nell’aria
Che non le ha udite
Né le ha riverberate
Verso la moltitudine che ha preso le distanze.
Lasciate che gridino per i saloni vuoti,
Loro, più prodigiosi dei mari,
Loro, più impetuosi dei fiumi,
La paura di rimanere soli
Tra le migliaia
Di spettri
Riflessi nei colossali
Cristalli
Ilari
Nati dai loro deliri di grandezza!
________________

Friedrich Dürrenmatt
Apocalisse IV (1968)
...

De Copélia guardo três cartas melancólicas...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Reinaldo Ferreira »»
 
Livro I - Um voo cego a nada (1960) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


De Copélia guardo três cartas melancólicas...
Di Coppelia serbo tre lettere malinconiche...


De Copélia guardo três cartas melancólicas,
Um laço e, de uma rosa
Que o perfume aprendeu nos seus cabelos,
Um esvaído botão.
Evade-se do todo um halo a antigo, triste.
Claro que Copélia não existe
E as cartas também não.
Só é real porque me falta.
Porque a não tive creio nela e creio
Na memória de quem foi no meu passado;
Nos passeios furtivos que tivemos;
Nos astros que pusemos
Nalgum beijo trocado;
Na exaltação de certa dança, alada
Na sensação de que uma nuvem me enlaçasse;
E na suave e pura e filtrada emoção
De alguma vez que a sua mão
Entre as minhas tardasse.
Esta é Copélia a quem, se acaso dado fosse
Nascer ou ter vivido,
Rígido pai ma recusasse,
Lírico mal ma arrebatasse
Sem a ter possuído,
Para que doutro ou morta virgem
Ilesa e viva dentro de mim permanecesse.
Di Coppelia serbo tre lettere malinconiche,
Un nastro e, di una rosa
Che il profumo trasmise ai suoi capelli,
Un pallido bocciolo.
Dal tutto si sprigiona un’aura antica e triste.
Chiaro che Coppelia non esiste
E neppure le lettere.
È reale solo perché mi manca.
Poiché io non l’ho avuta, credo in lei e credo
Nella memoria di chi fu nel mio passato;
Nei furtivi passeggi che facemmo;
Nelle stelle che adagiammo
Su ogni bacio scambiato;
Nell’esaltazione di quella danza, alata
Nella sensazione che una nuvola m’abbracciasse;
E nella dolce e pura e filtrata emozione
Di quando a volte la sua mano
Tra le mie s’era attardata.
Questa è Coppelia colei che, se mai le fosse dato
Di nascere o esser vissuta,
E un padre severo me l’avesse negata,
E un lirico male me l’avesse strappata
Senz’averla avuta,
Perché d’un altro o morta vergine,
Intatta e viva dentro di me sarebbe restata.
________________

Edvard Munch
Madonna (1895-1902)
...

Aquele senhor que desde a infância...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Reinaldo Ferreira »»
 
Livro I - Um voo cego a nada (1960) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Aquele senhor que desde a infância...
Quel signore che dall’infanzia...


Aquele senhor que desde a infância me conhece,
Com que direito se enternece
Quando me vê?
Que mal lhe fiz, que me quer bem?
Porque motivo me diz só
Coisas que, se as soubesse, esqueceria,
Hirtas, mortas,
Coisas cheias de pó
E de melancolia?
Quel signore che dall’infanzia mi conosce,
Con che diritto s’intenerisce
Quando mi vede?
Che male gli ho fatto, per volermi bene?
Per qual motivo mi dice solo
Cose che, sapendole, le avrei scordate,
Gelide, morte,
Cose piene di polvere
E di malinconia?
________________

Italo Mus
La famiglia del montanaro (1952)
...

A que morreu às portas de Madrid...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Reinaldo Ferreira »»
 
Livro I - Um voo cego a nada (1960) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


A que morreu às portas de Madrid...
Colei che morì alle porte di Madrid...


A que morreu às portas de Madrid,
Com uma praga na boca
E a espingarda na mão,
Teve a sorte que quis,
Teve o fim que escolheu.
Nunca, passiva e aterrada, ela rezou.
E antes de flor, foi, como tantas, pomo.
Ninguém a virgindade lhe roubou
Depois de um saque - antes a deu
A quem lha desejou,
Na lama dum reduto,
Sem náusea mas sem cio,
Sob a manta comum,
A pretexto do frio.
Não quis na retaguarda aligeirar,
Entre «champagne», aos generais senis,
As horas de lazer.
Não quis, activa e boa, tricotar
Agasalhos pueris,
No sossego dum lar.
Não sonhou minorar,
Num heroísmo branco,
De bicho de hospital,
A aflição dos aflitos.

Uma noite, às portas de Madrid,
Com uma praga na boca
E a espingarda na mão,
À hora tal, atacou e morreu.

Teve a sorte que quis.
Teve o fim que escolheu.
Colei che morì alle porte di Madrid,
Con una bestemmia in bocca
E la spingarda in mano,
Ebbe la sorte che voleva,
Ebbe la fine che si scelse.
Mai, passiva e atterrita, ella pregò.
E prima d’esser fiore, fu, come tante, frutto.
Nessuno le rubò la verginità
Dopo un saccheggio - fu lei a farne dono
A chi la desiderò
Nella fanghiglia di un ricetto,
Senza nausea ma senza voluttà,
Sotto la comune coperta,
Col pretesto del freddo.
Nelle retroguardie non tentò d’alleviare,
Con lo «champagne», tra i vecchi generali,
Le ore di distensione.
Non volle, attiva e buona, sferruzzare
Maglioni per i bimbi,
Nella calma del focolare.
Non sognò di rasserenare,
In un bianco eroismo
Da angelo d’ospedale,
L’afflizione degli afflitti.

Una notte, alle porte di Madrid,
Con una bestemmia in bocca
E la spingarda in mano,
A una cert’ora, attaccò e morì.

Ebbe la sorte che voleva,
Ebbe la fine che si scelse.
________________

Arnold Böcklin
Testa di ragazza morta (1879)
...

A Fernando Pessoa (ele mesmo)


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Reinaldo Ferreira »»
 
Livro I - Um voo cego a nada (1960) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


A Fernando Pessoa (ele mesmo)
A Fernando Pessoa (lui, per l’appunto)


Cada verso é uma esfinge ter falado.
Mas quanto mais explícito ela o diz,
Mais tudo permanece inexplicado
E menos se apreende o que ela quis.

Erra um sussurro, tão etéreo e alado
Que nem mesmo silêncio o contradiz.
E o ouvi-lo, ou ávido ou irado
Na busca dum segredo sem raiz,

É como se em pensar - um descampado -
Passasse fugitiva e intensamente
O Tempo todo inteiro projectado

E a sombra ali marcasse, na corrente
Do nada para o nada, inda passado
E já futuro, a ficção do presente.
Ogni verso è una sfinge che ha parlato.
Ma quanto più esplicitamente s’è espressa,
Più tutto l’insieme rimane inesplicato
E meno è chiaro ciò che dir volesse .

Erra un sussurro, così diafano e alato
Che neppure il silenzio lo contraddice.
E nell’udirlo, avido o adirato
In cerca d’un segreto privo di radice,

È come se nella mente - campo desolato -
Fuggevole passasse, e intensamente,
Tutto l’arco del Tempo proiettato

E lì l’ombra marcasse, nella corrente
Del niente verso il niente, testé passato
E già futuro, l’inganno del presente.
________________

Orazio Barrese
Fernando Pessoa 1
...

A emoção é como um pássaro...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Reinaldo Ferreira »»
 
Livro I - Um voo cego a nada (1960) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


A emoção é como um pássaro...
L’emozione è come un passero...


A emoção é como um pássaro:
Quando se prende já não canta.
Mas se a gente a liberta,
Qualquer janela aberta
Lhe serve para fugir.
O poeta é aquele que numa praça
S. Marcos de Veneza transcendente,
E de todas as praças, praça ainda,
Aguarda na manhã que se insinua
Ou na tarde que finda
O voo que há-de vir.
Ele estende a mão,
Abre-a espalmada
Ao céu,
Que à anunciação de tudo ou nada
A emoção virá ou não
- Sem emoção, toda a poesia é nada -

Fiel à Anunciação que está marcada
Na sua condição.
L’emozione è come un passero:
Quando la s’imprigiona più non canta.
Ma se la si lascia andare,
Qualunque finestra aperta
Le serve per fuggire.
Il poeta è colui che in una piazza
San Marco a Venezia, sovrumana,
E di tutte le piazze, la piazza,
Attende nel mattino che s’insinua
O nella sera che declina
Il volo che verrà.
Egli stende la mano,
La apre rivolta
Al cielo,
Che all’annuncio di tutto o niente
Farà nascere l’emozione o no
- Senza emozione, la poesia è niente -

Fedele all’Annunciazione che è la marca
Della sua condizione.
________________

Parvati
Muro della via Oberkampf, Parigi (2020)
...

Ária para ouvir depois da pandemia


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Ana Elisa Ribeiro »»
 
Blog “LALT” - Issue 18 »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Ária para ouvir depois da pandemia
Aria da ascoltare dopo la pandemia


I
aroma de flor
como aroma de vinho &
coisas que têm aroma:
jasmim repisado na grama
exalando perfume
 
depois de mortos,
tal não ocorre aos humanos:
adoecidos de fé e cansaço,
tornam-se estrelas,
como mentem as avós às crianças
 
II
itens que faltam nesta casa:
leite desnatado
maçãs fugi
sabão em pó
água sanitária
achocolatado doce
pão integral
sal
as visitas & seus abraços
 
III
imagens aéreas de cemitérios
e suas centenas de covas abertas
equidistantes quase iguais
ainda vazias abertas famintas
 
imagens aéreas repetem-se na tevê
e são como avisos recados
notícias alertas sustos pesadelos
sem epitáfios nem obituários
dezenas de covas à espera
 
IV
os velhos já são velhos – podem morrer
vamos lamentar por alguns dias,
mas logo nos acostumaremos à
ausência de seus pesos e de suas dificuldades
 
os jovens ainda são jovens – não devem morrer
precisam conter seus impulsos e
seguir imperfeitamente as recomendações da OMS
para que os adultos – nem velhos nem jovens –
continuem a sustentar as urgências de todos
 
os ignorantes são ignorantes – deveriam morrer
de doenças inteligentes e seletivas
que preferissem os irresponsáveis e os inconsequentes
a seus velhos e seus jovens amedrontados e vulneráveis
 
estão entre os ignorantes, às vezes, os maus presidentes
e seus séquitos de genocidas, travestidos de médicos
 sérios
e honoráveis cientistas políticos, filósofos e economistas,
mostrando números e argumentos desafiadores
a mentirem ordenadamente para velhos e jovens
 em choque
I
profumo di fiori
come profumo di vino &
di cose che hanno profumo:
gelsomino calpestato nell’erba
che esala il suo profumo
 
dopo la morte,
il che non accade agli umani:
malati di fede e stanchezza,
si mutano in stelle,
come mentono le nonne ai bambini
 
II
articoli che mancano in questa casa:
latte scremato
mele fuji
detersivo in polvere
candeggina
cacao dolce
pane integrale
sale
ospiti & i loro abbracci
 
III
immagini aeree di cimiteri
e le centinaia di fosse aperte
equidistanti quasi uguali
ancora vuote aperte affamate
 
immagini aeree si ripetono alla tv
e sono come inviti alla prudenza
notizie preallarmi spaventi incubi
senza epitaffi senza necrologi
decine di fosse in attesa
 
IV
i vecchi sono già vecchi – possono morire
li rimpiangeremo per qualche giorno,
ma presto ci abitueremo
all’assenza del loro peso e dei loro disagi
 
i giovani sono ancora giovani – non devono morire
bisogna che trattengano i propri impulsi e
seguano imperfettamente le raccomandazioni dell’OMS
affinché gli adulti – né vecchi né giovani –
continuino a supportare le urgenze di tutti
 
gli ignoranti sono ignoranti – dovrebbero morire
di malattie intelligenti e selettive
che preferiscono gli irresponsabili e gli incoscienti
ai loro vecchi e ai loro giovani spaventati e vulnerabili
 
talvolta stanno tra gli ignoranti i cattivi presidenti
e il loro corteggio di genocidi, travestiti da medici
 seri
e da stimati scienziati politici, filosofi ed economisti,
che mostrano numeri e argomenti provocatori
mentendo rispettivamente a vecchi e giovani in stato
 di shock
________________

Felix Nussbaum
Funerale (1930)
...

Notícia com estatística


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Ana Elisa Ribeiro »»
 
Menos ainda (2022) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Notícia com estatística
Notizia con statistica


Morre um escritor a cada segundo.
Morre devastado, afogado ou massacrado.
Morre assim, sem piedade.
Morre zonzo, morre torto.
Morre bem morto.

Morre um escritor
a cada dedada do cartão de ponto.
Morre indo e morre voltando
do desafortunado trabalho insano.
Morre um escritor a cada golpe
de desatenção e desconcentração.

Morre um escritor a cada meia hora.
Morre um escritor na fila que demora.
Morre um escritor a cada escolha besta
na seleção da universidade.
Morre muito escritor nesta cidade.

Morre um escritor
a cada livro não vendido ou emprestado.
Morre um escritor.
E morre sem mágoas.
Morre um escritor
para cada meio leitor.
Muore uno scrittore ogni secondo.
Muore devastato, affogato o massacrato.
Muore così, senza pietà.
Muore stordito, muore contorto.
Muore assai morto. 

Muore uno scrittore 
ad ogni timbratura del cartellino.
Muore andando e muore tornando
dal suo infausto lavoro insano.
Muore uno scrittore ad ogni colpo
di distrazione e di deconcentrazione.

Muore uno scrittore ogni mezzora.
Muore uno scrittore nella fila che s’attarda.
Muore uno scrittore per ogni scelta sventata
nella selezione dell’università. 
Muore un bel po’ di scrittori in questa città.

Muore uno scrittore
per ogni libro non venduto o prestato.
Muore uno scrittore.
E muore senza rimpianti. 
Muore uno scrittore
per ogni mezzo lettore.
________________

Philippe de Champaigne
Vanitas (1644)
...

Nem Drummond nem Torquato
(menos ainda Adélia)


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Ana Elisa Ribeiro »»
 
Menos ainda (2022) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Nem Drummond nem Torquato
(menos ainda Adélia)
Né Drummond né Torquato
(tanto meno Adélia)


quando nasci
não veio anjo
algum

o Sol se escondia
do outro lado do planeta

e eu surgi
completamente
noturna

por entre as pernas
roliças
de minha mãe:

“vai, filha,
desbravar trilha”.
quando son nata
non è apparso
angelo alcuno

il Sole stava nascosto
dall’altra parte del pianeta

e io spuntai
completamente
notturna

in mezzo alle gambe
grassocce
di mia madre:

“vai, figlia mia,
ad aprire nuove vie”.
________________

Pablo Picasso
Maternità (1905)
...

Encruzilhadas


Nome:
 
Collezione:
Fonte:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (aprile 2024) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Encruzilhadas
Incroci


Brisas de figuras,
Cada uma leve direcção
Onde uma sabedoria se desvanece,
Onde uma sabedoria nasce.
No espaço que a espaço se reduz
E a espaço se ergue
Uma forma toma um conceito,
Como a terra envolve uma semente,
Como a morte à vida recebe,
Como a vida a morte recomeça.
Zefiri con una forma,
Ciascuna con una lieve direzione
Dove una conoscenza svanisce,
Dove una conoscenza nasce.
Nello spazio che a spazio si riduce
E a spazio s’erige
Prende forma un concetto,
Come la terra ingloba una semente,
Come la morte alberga la vita,
Come la vita ridà inizio alla morte.
________________

Caspar David Friedrich
L’ingresso del cimitero (1825)
...

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (433) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (11) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)