As vozes


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Nenhuma palavra e nenhuma lembrança (1999) »»
 
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As vozes
Le voci


A infância vem
pé ante pé
sobe as escadas
e bate à porta

- Quem é?
- É a mãe morta
- São coisas passadas
- Não é ninguém

Tantas vozes fora de nós!
E se somos nós quem está lá fora
e bate à porta? E se nós fomos embora?
E se ficámos sós?

L’infanzia arriva
passo passo
sale le scale
e bussa alla porta

- Chi è?
- È la mamma morta
- Sono cose del passato
- Non è nessuno

Quante voci fuori di noi!
E se fossimo noi quelli là fuori
a bussare alla porta? E se ce ne fossimo già andati?
E se fossimo rimasti soli?

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Cândido Portinari
Bambino con agnello bianco (1961)
...

A vida real


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Nenhuma palavra e nenhuma lembrança (1999) »»
 
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A vida real
La vita reale


Se existisses, serias tu,
talvez um pouco menos exacta,
mas a mesma existência, o mesmo nome, a mesma morada.

Atrás de ti haveria
as mesmas palmeiras, e eu estaria
sentado a teu lado como numa fotografia.

Entretanto dobrar-se-ia o mundo
(o teu mundo: o teu destino, a tua idade)
entre ser e possibilidade,

e eu permaneceria acordado
e em prosa, habitando-te como uma casa
ou uma memória.

Se tu esistessi, saresti tu,
forse un po’ meno precisa,
ma la stessa esistenza, lo stesso nome, la stessa
 dimora.

Dietro di te ci sarebbero
le stesse palme, e io ti starei
seduto accanto come in una fotografia.

Intanto si dispiegherebbe il mondo
(il tuo mondo: il tuo destino, la tua età)
fra l’essere e la possibilità,

ed io rimarrei sveglio
e in prosa, abitandoti come una casa
o una memoria.

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George Segal
Innamorati su una panchina (1960)
...

Nenhuma música


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Cuidados intensivos (1994) »»
 
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Nenhuma música
Nessuna musica


«O gato olha-me
ou o meu olhar olhando-o?
E eu o que vejo senão
a mesma Única solidão?

Chamo-o pelo nome,
pela oposição.
Em vão:
sou eu quem responde.

Virou-se e saltou
para o parapeito
real e perfeito,
sem nome e sem corpo.
(Também eu estou,
como ele, morto).»

«Il gatto mi guarda
o è il mio sguardo a guardarlo?
Ed io cosa vedo se non
la stessa Unica solitudine?

Lo chiamo per nome,
per opposizione.
Invano:
sono io che rispondo.

S’è girato, è saltato
su quel parapetto
reale e perfetto,
senza nome né corpo.
(Ora anch’io sto,
come lui, morto).»

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Pericle Fazzini
Gatto con la coda lunga (1953)
...

Narciso


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Cuidados intensivos (1994) »»
 
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Narciso
Narciso


Quando me dizes "Vem", já eu parti
e já estou tão próximo de ti
que sou eu quem me chama e quem te chama
e é o meu amor que em ti me ama.

Se me olhas sou eu que me contemplo
longamente através do teu olhar
e moro em ti e sou eu o lugar
e demoro-me em ti e sou o tempo.

Eu sou talvez aquilo que me falta
(a alma se sou corpo, o corpo se sou alma)
em ti, e afogo-me na tua vida
como na minha imagem desmedida:

Sol, Lua, água, ouro,
horizontalidade, concordância,
indiferente ordem da infância,
união conjugal, morte, repouso.

Quando mi dici “Vieni”, io già sono lontano
eppure ancor ti sto così vicino
che sono io chi mi chiama e chi ti chiama
ed è il mio amore che in te mi ama.

Se mi guardi son io che mi contemplo
lungamente attraverso il tuo sguardo
e vivo in te e sono io la dimora
e mi soffermo in te e sono il tempo.

Io sono forse quello che mi manca
(l’anima se son corpo, il corpo se sono anima)
in te, e m’affogo nella tua vita
come nella mia immagine obsoleta:

Sole, Luna, acqua, oro,
orizzontalità, consonanza,
indifferente ordine dell’infanzia,
unione coniugale, morte, riposo.

________________

Caravaggio
Narciso (1597-1599)
...

Completas


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Algo Parecido Com Isto, da Mesma Substância (1992) »»
 
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Completas
Compieta


A meu favor tenho o teu olhar
testemunhando por mim
perante juízes terríveis:
a morte, os amigos, os inimigos.

E aqueles que me assaltam
à noite na solidão do quarto
refugiam-se em fundos sítios dentro de mim
quando de manhã o teu olhar ilumina o quarto.

Protege-me com ele, com o teu olhar,
dos demónios da noite e das aflições do dia,
fala em voz alta, não deixes que adormeça,
afasta de mim o pecado da infelicidade.

A mio favore ho il tuo sguardo
che testimonia per me
davanti a giudici terribili:
la morte, gli amici, i nemici.

E quelli che mi assalgono
di notte nella solitudine della stanza
vanno a rifugiarsi in risposti recessi dentro di me
quando al mattino il tuo sguardo illumina la stanza.

Proteggimi così, con il tuo sguardo,
dai demoni della notte e dalle angosce del giorno,
parla ad alta voce, non lasciare che mi addormenti,
allontana da me il peccato dell’infelicità.

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Mauro Rodrigues
Paesaggio d'Algarve (2018)
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Numa estação de metro


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Um Sítio Onde Pousar A Cabeça (1991) »»
 
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Numa estação de metro
In una stazione del metrò


A minha juventude passou e eu não estava lá.
Pensava em outra coisa, olhava noutra direcção.
Os melhores anos da minha vida perdidos por distracção!

Rosalinda, a das róseas coxas, onde está?
Belinda, Brunilda, Cremilda, quem serão?
Provavelmente professoras de Alemão
em colégios fora do tempo e do espa-

ço! Hoje, antigamente, ele tê-las-ia
amado de um amor imprudente e impudente,
como num sujo sonho adolescente
de que alguém, no outro dia, acordaria.

Pois tudo era memória, acontecia
há muitos anos, e quem se lembrava
era também memória que passava,
um rosto que entre outros rostos se perdia.

Agora, vista daqui, da recordação,
a minha vida é uma multidão
onde, não sei quem, em vão procuro
o meu rosto, pétala dum ramo húmido, escuro.

La mia gioventù è passata e io non ero là.
Pensavo ad altre cose, guardavo in un’altra direzione.
I migliori anni della mia vita persi per distrazione!

Rosalinda, dalle cosce rosate, dove sta?
Belinda, Brunilde, Crimilde, cosa faranno?
Probabilmente le insegnanti di tedesco
in istituti fuori dal tempo e dallo spa-

zio! Oggi, se fosse allora, lui le avrebbe
amate d’un amore imprudente e impudente,
come in un sudicio sogno adolescente
da cui qualcuno, il giorno dopo, lo risveglierebbe.

Ma tutto era memoria, accadeva
tanti anni fa, e chi ricordava
era lui stesso memoria che passava,
un volto che fra altri volti si perdeva.

Adesso, vista da qui, dal lontano ricordo,
la mia vita è come un affollamento
dove, non so chi sono, cerco invano
il mio volto, petalo d’un ramo umido, arcano.

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Omar Hassan
Voi (2019)
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Lugares da Infância


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Lugares da Infância
Luoghi dell’infanzia


Lugares da infância onde
sem palavras e sem memória
alguém, talvez eu, brincou
já lá não estão nem lá estou.

Onde? Diante
de que mistério
em que, como num espelho hesitante,
o meu rosto, outro rosto, se reflecte?

Venderam a casa, as flores
do jardim, se lhes toco, põem-se hirtas
e geladas, e sob os meus passos
desfazem-se imateriais as rosas e as recordações.

O quarto eu não o via
porque era ele os meus olhos;
e eu não o sabia
e essa era a sabedoria.

Agora sei estas coisas
de um modo que não me pertence,
como se as tivesse roubado.

A casa já não cresce
à volta da sala,
puseram a mesa para quatro
e o coração só para três.

Falta alguém, não sei quem,
foi cortar o cabelo e só voltou
oito dias depois,
já o jantar tinha arrefecido.

E fico de novo sozinho,
na cama vazia, no quarto vazio.
Lá fora é de noite, ladram os cães;
e eu cubro a cabeça com os lençóis.

Luoghi dell’infanzia dove
senza parole e senza memoria
qualcuno, forse io, ha giocato
non sono più là né là sono io.

Dove? Davanti
a che mistero
in cui, come in uno specchio esitante,
il mio volto, un altro volto, si riflette?

Hanno venduto la casa, i fiori
del giardino, se li sfioro, si drizzano ispidi
e gelati, e sotto i miei passi
si disfano immateriali le rose e i ricordi.

Io non vedevo la stanza
perché essa era i miei occhi;
e io non lo sapevo
ed era questa la saggezza.

Adesso so queste cose
in un modo che non m’appartiene,
come se le avessi rubate.

La casa ormai non cresce più
intorno alla sala,
la tavola è apparecchiata per quattro
ma il cuore solo per tre.

Manca qualcuno, non so chi,
è andato a farsi tagliare i capelli
ed è tornato otto giorni dopo,
ormai s’era raffreddata la cena.

E resto di nuovo solo,
nel letto vuoto, nella stanza vuota.
Là fuori è notte, latrano i cani;
e io ficco la testa sotto le lenzuola.

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Vilhelm Hammershøi
Interno (1890)
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Junto à água


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Junto à água
Vicino all’acqua


Os homens temem as longas viagens,
os ladrões da estrada, as hospedarias,
e temem morrer em frios leitos
e ter sepultura em terra estranha.

Por isso os seus passos os levam
de regresso a casa, às veredas da infância,
ao velho portão em ruínas, à poeira
das primeiras, das únicas lágrimas.

Quantas vezes em
desolados quartos de hotel
esperei em vão que me batesses à porta,
voz de infância, que o teu silêncio me chamasse!

E perdi-vos para sempre entre prédios altos,
sonhos de beleza, e em ruas intermináveis,
e no meio das multidões dos aeroportos.
Agora só quero dormir um sono sem olhos

e sem escuridão, sob um telhado por fim.
À minha volta estilhaça-se
o meu rosto em infinitos espelhos
e desmoronam-se os meus retratos nas molduras.

Só quero um sítio onde pousar a cabeça.
Anoitece em todas as cidades do mundo,
acenderam-se as luzes de corredores sonâmbulos
onde o meu coração, falando, vagueia.

Gli uomini temono i lunghi viaggi,
i predoni di strada, le locande,
e temono di morire in letti freddi
e d’essere sepolti in terra straniera.

Perciò i loro passi li riportano
indietro verso casa, ai luoghi dell’infanzia,
al vecchio portone in rovina, alla polvere
delle prime, delle uniche lacrime.

Quante volte in
desolate stanze d’hotel
invano ho atteso che bussassi alla mia porta,
voce d’infanzia, che il tuo silenzio mi chiamasse!

E vi ho perduto per sempre fra i grattacieli,
sogni di bellezza, e in strade interminabili,
e in mezzo alla folla degli aeroporti.
Ora non chiedo che di dormire un sonno senz’occhi

e senza oscurità, sotto un tetto infine.
Intorno a me si frantuma
il mio viso in infiniti specchi
e s’infrangono i miei ritratti nelle cornici.

Voglio soltanto un posto dove posare la testa.
Si fa notte in tutte le città del mondo,
si sono accese le luci di corridoi sonnambuli
dove il mio cuore, parlando, delira.

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Marcel Ceuppens
L'uomo alla finestra (2014)
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Esplanada


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Esplanada
Dehors


Naquele tempo falavas muito de perfeição,
da prosa dos versos irregulares
onde cantam os sentimentos irregulares.
Envelhecemos todos, tu, eu e a discussão,

agora lês saramagos & coisas assim
e eu já não fico a ouvir-te como antigamente
olhando as tuas pernas que subiam lentamente
até um sítio escuro dentro de mim.

O café agora é um banco, tu professora de liceu;
Bob Dylan encheu-se de dinheiro, o Che morreu.
Agora as tuas pernas são coisas úteis, andantes,
e não caminhos por andar como dantes.

A quei tempi parlavi molto di perfezione,
della prosa dai versi irregolari
in cui echeggiano i sentimenti irregolari.
Siamo tutti invecchiati, tu, io e la polemica,

ora tu leggi saramaghi & cose così
e io non ti sto più ad ascoltare come un tempo
guardando le tue gambe che salivano lente
fino ad un posto oscuro dentro di me.

Il caffè adesso è una banca, tu insegnante di liceo;
Bob Dylan ha fatto i soldi, il Che è morto.
Adesso le tue gambe sono cose utili, mobili,
e non sentieri da percorrere come allora.

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Pierre-Auguste Renoir
La colazione dei canottieri (1880-1881)
...

Café Orfeu


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Um Sítio Onde Pousar A Cabeça (1991) »»
 
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Café Orfeu
Caffè Orfeo


Nunca tinha caído
de tamanha altura em mim
antes de ter subido
às alturas do teu sorriso.

Regressava do teu sorriso
como de uma súbita ausência
ou como se tivesse lá ficado
e outro é que tivesse regressado.

Fora do teu sorriso
a minha vida parecia
a vida de outra pessoa
que fora de mim a vivia.

E a que eu regressava lentamente
como se antes do teu sorriso
alguém (eu provavelmente)
nunca tivesse existido.

Mai ero caduto
in me da una tale altezza
prima d’esser salito
alle altezze del tuo sorriso.

Ritornavo dal tuo sorriso
come da una improvvisa assenza
o come se fossi rimasto là
e fosse un altro ad esser ritornato.

Fuori dal tuo sorriso
la mia vita pareva
la vita d’un’altra persona
che la viveva fuori di me.

E a cui io ritornavo lentamente
come se prima del tuo sorriso
qualcuno (io probabilmente)
non fosse mai esistito.

________________

Marc Chagall
Compleanno (1915)
...

O lado de fora


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O Caminho de Casa (1989) »»
 
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O lado de fora
La parte esterna


Eu não procuro nada em ti,
nem a mim próprio, é algo em ti
que procura algo em ti
no labirinto dos meus pensamentos.

Eu estou entre ti e ti,
a minha vida, os meus sentidos
(principalmente os meus sentidos)
toldam de sombras o teu rosto.

O meu rosto não reflete a tua imagem,
o meu silêncio não te deixa falar,
o meu corpo não deixa que se juntem
as partes dispersas de ti em mim.

Eu sou talvez
aquele que procuras,
e as minhas dúvidas a tua voz
chamando do fundo do meu coração.

Io non cerco nulla in te,
né in me stesso, è qualcosa in te
che cerca qualcosa in te
nel labirinto dei miei pensieri.

Io sto fra te e te,
la mia vita, i miei sensi
(soprattutto i miei sensi)
avvolgono d’ombre il tuo viso.

Il mio viso non riflette la tua immagine,
il mio silenzio non ti lascia parlare,
il mio corpo non permette che s’uniscano
le parti di te disperse in me.

Io sono forse
colui che cerchi,
e i miei dubbi sono la tua voce
che chiama dal fondo del mio cuore.

________________

Emilio Alberti
Luce e ombra (2013)
...

O intruso


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Manuel António Pina »»
 
Nenhum sitio (1984) »»
 
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O intruso
L'intruso


Se me voltar fico
diante do meu rosto,
não suportarei
o meu puro olhar.

Quem me procurará
entre os homens?
Um intruso grita
dentro de mim, oiço-o no coração

como um irmão medonho
sonhando com a vida
por outro vivida
em mim, também em sonho.

Se girandomi mi troverò
davanti al mio volto,
io non sopporterò
il mio sguardo puro.

Chi mi cercherà
tra gli uomini?
Un intruso grida
dentro di me, lo sento nel cuore

come un fratello maligno
che sogna la vita
vissuta da un altro
in me, ma sempre in sogno.

________________

Emilio Tadini
Color & Co. (5) (1969)
...

O caminho de casa


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Manuel António Pina »»
 
Nenhum sitio (1984) »»
 
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O caminho de casa
La strada di casa


O que foi perdido
ficou eternamente
sobre o coração como a sombra de outra pessoa.
Nunca sentiste a morte

no coração como uma grande sombra
que o Trabalho, a Empresa, dissipam?
O que está por baixo de ti, ó Família,
ó estúpida Paz, ó Razão, ó Cólera,

acorda agora com as sombras,
os perdidos sonhos latejam,
o olho das trevas fita
o que temo dizer.

Agora que os
olhos se fecharam
fico acordado toda a noite
diante de uma coisa imensa.

Os amigos partiram.
Fomos todos embora.
Quem ficou aqui e onde,
E fala de isto agora?

Ciò ch’è andato perduto
è rimasto per sempre
sul cuore come l’ombra d’un’altra persona.
Hai mai sentito la morte

nel cuore come una grande ombra
che il Lavoro, gli Affari, dissipano?
Ciò che sta al di sotto di te, o Famiglia,
o stupida Pace, o Ragione, o Collera,

si desta ora con le ombre,
i sogni perduti palpitano,
l’occhio delle tenebre fissa
quel che temo di dire.

Adesso che gli
occhi si son chiusi
resto tutta la notte sveglio
davanti a una cosa immensa.

Gli amici sono partiti.
Tutti siamo andati via.
Chi è rimasto qui e dove,
E sta parlando di questo ora?

________________

Saâd Ben Cheffaj
Piangere le lacrime di chi non ha potuto
raggiungere le stelle (2013)
...

Politicamente correctos


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Nuno Rocha Morais »»
 
Poemas Sociais (2019) »»
 
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Politicamente correctos
Politicamente corretti


Entre dois fogos, estes salvam-se sempre:
São os devotos de uma viscosa equidistância
E nas entranhas têm apenas uma falsa temperança.
Aí estão, constituídos árbitros de tudo,
Pairando acima de erros e paixões
À força de sangue frio e fogo lento,
Em nada diferindo dos abutres,
Salvo na máscara que usam.
Estes são os que esperam, assépticos,
Estando ao mesmo tempo com a maioria e nas minorias.
Compreendem tudo sem jamais incorrerem em nada.
E como praticam a arte da meia-verdade
Isenta da meia-mentira inerente.
São estes que tentam mediar o fogo com o fogo
Para não contrariarem o fogo:
Como incham de tão razoáveis.
Se pudessem, certamente aboliriam o ponto de ebulição
Por entenderem desnecessária a exasperação da água.
Tra due fuochi, questi se la cavano sempre:
Sono osservanti d’una vischiosa equidistanza
E dentro di sé non hanno che una falsa temperanza.
Eccoli, professandosi arbitri di tutto,
Si mantengono al di sopra di errori e di passioni
A forza di sangue freddo e fuoco lento,
In nulla differenti dagli avvoltoi,
Salvo che per la maschera che portano.
Costoro sono quelli che aspettano, asettici,
Stando ad un tempo con la maggioranza e le minoranze.
Assimilano tutto senza mai compromettersi in niente.
E pur praticando l'arte della mezza verità
Sono esenti dalla mezza menzogna concernente.
Sono quelli che tentano di conciliare il fuoco col fuoco
Per non contrariare il fuoco:
E quanto si gasano d'esser così assennati.
Se potessero, di certo abolirebbero il punto d’ebollizione
Avendo compreso quanto sia inutile esasperare l’acqua.
________________

Giovan Battista Crema
Coppia di avvoltoi monaci (1898)
...

Amor como em casa


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Manuel António Pina »»
 
Ainda não é o fim nem o princípio do mundo... (1974) »»
 
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Amor como em casa
Amore come in casa


Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.

Ritorno piano piano al tuo
sorriso come chi torna a casa. Mi comporto come se
non avessi nulla. Distratto percorro
il familiare tragitto del rimpianto,
piccole cose m’attraggono,
una serata in un caffè, un libro. Piano piano
ti amo e talvolta di fretta,
amore mio, e alle volte faccio cose che non devo,
ritorno piano piano alla tua casa,
compro un libro, entro
nell’amore come in casa.

________________

Oscar Ghiglia
Gustavo Sforni in veranda che legge (1914)
...

O menino que ganhou um rio


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Manoel de Barros »»
 
Memórias Inventadas - Terceira Infância (2008) »»
 
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O menino que ganhou um rio
Il bambino che ricevette un fiume


Minha mãe me deu um rio.
Era dia de meu aniversário e ela não sabia
o que me presentear.
Fazia tempo que os mascates não passavam
naquele lugar esquecido.
Se o mascate passasse a minha mãe compraria
rapadura
Ou bolachinhas para me dar.
Mas como não passara o mascate, minha mãe me
deu um rio.
Era o mesmo rio que passava atrás de casa.
Eu estimei o presente mais do que fosse uma
rapadura do mascate.
Meu irmão ficou magoado porque ele gostava
do rio igual aos outros.
A mãe prometeu que no aniversário do meu
irmão
Ela iria dar uma árvore para ele.
Uma que fosse coberta de pássaros.
Eu bem ouvi a promessa que a mãe fizera ao
meu irmão
E achei legal.
Os pássaros ficavam durante o dia nas margens
do meu rio
E de noite eles iriam dormir na árvore do
meu irmão.
Meu irmão me provocava assim: a minha árvore
deu flores lindas em setembro.
E o seu rio não dá flores!
Eu respondia que a árvore dele não dava
piraputanga.
Era verdade, mas o que nos unia demais eram
os banhos nus no rio entre pássaros.
Nesse ponto nossa vida era um afago!

La mia mamma mi regalò un fiume.
Era il giorno del mio compleanno e lei non sapeva
che cosa regalarmi.
Era da tempo che gli ambulanti non passavano
da quel posto dimenticato.
Se fosse passato l’ambulante la mia mamma
m’avrebbe comprato la panela
O dei biscottini in regalo.
Ma dato che l’ambulante non passava, la mia mamma
mi regalò un fiume.
Era lo stesso fiume che passava dietro casa.
Io gradii quel regalo più che se fosse una
panela dell’ambulante.
Mio fratello se la prese a male perché anche a lui
piaceva quel fiume.
La mamma promise che per il compleanno di mio
fratello
Gli avrebbe regalato un albero.
Uno tutto coperto di uccellini.
Io sentii la promessa che la mamma aveva fatto a
mio fratello
E ne fui contento.
Gli uccelli durante il giorno stavano sulle rive
del mio fiume
E di notte sarebbero andati a dormire sull’albero di
mio fratello.
Mio fratello mi provocava così: il mio albero
ha dato dei bei fiori a settembre.
E il tuo fiume non dà fiori!
Io risposi che il suo albero non dava
piraputanga.
Era vero, ma quel che più ci univa era
fare il bagno nudi nel fiume tra gli uccelli.
In questo la nostra vita era una delizia!

________________

Jean-Michel Folon
La Cappella Folon a Saint-Paul de Vence (affresco) (2004)
...

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