Não falarás com a minha morte...


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Não falarás com a minha morte...
Non parlerai con la mia morte...


Não falarás com a minha morte,
Nada terás para lhe sussurrar –
Pois como poderei estar morto
Se em ti murmura a minha falta,
Se uma saudade tua me chama,
Se em ti há um lugar
À minha procura?

Non parlerai con la mia morte,
Non avrai nulla da sussurrarle –
Perché come potrei esser morto
Se in te bisbiglia la mia assenza,
Se un tuo rimpianto mi chiama,
Se in te c’è un posto
Che va in cerca di me?

________________

Vilhelm Hammershøi
Il riposo (1905)
...

Tenta esquecer-me...


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Baú de espantos (1986) »»
 
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Tenta esquecer-me...
Tenta di dimenticarmi...


Tenta esquecer-me...
Ser lembrado é como evocar
Um fantasma...
Deixa-me ser o que sou,
O que sempre fui, um rio que vai fluindo...
Em vão, em minhas margens cantarão as horas,
Me recamarei de estrelas como um manto real,
Me bordarei de nuvens e de asas,
Às vezes virão a mim as crianças banhar-se...

Um espelho não guarda as coisas refletidas!
E o meu destino é seguir... é seguir para o Mar,
As imagens perdendo no caminho...
Deixa-me fluir, passar, cantar...
Toda a tristeza dos rios
É não poder parar!

Tenta di dimenticarmi...
Essere ricordato è come evocare
Un fantasma...
Lascia che io sia quel che sono,
Ciò che sempre sono stato, un fiume che scorre...
Invano, sulle mie rive canteranno le ore,
Mi adornerò di stelle come un manto reale,
Mi ricamerò con nuvole e ali,
A volte i bambini verranno a bagnarsi da me...

Uno specchio non custodisce le cose riflesse!
E il mio destino è fluire... è fluire verso il mare,
Perdendo le immagini lungo il cammino...
Lasciami scorrere, passare, cantare...
Tutta la tristezza dei fiumi
E' non potersi fermare!

________________

Moacir de Andrade
Paesaggio fluviale (1980)
...

Se eu fosse um padre...


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Nariz de vidro (1984) »»
 
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Se eu fosse um padre...
Se io fossi un prete...


Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
- muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,

não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições…
Se eu fosse um padre, eu citaria os poetas,

Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!

Porque a poesia purifica a alma
... e um belo poema – ainda que de Deus se aparte -
um belo poema sempre leva a Deus!

Se io fossi un prete, io, nei miei sermoni,
non parlerei di Dio né del Peccato
- meno ancora dell’Angelo Caduto
e dell’incanto delle sue seduzioni,

non citerei santi né profeti:
nessuna delle loro sublimi promesse
o delle loro terribili maledizioni…
Se io fossi un prete, io citerei i poeti,

pregherei coi loro versi, i più belli,
di quelli che fin da bimbo m’han cullato
e magari ce ne fosse qualcuno mio!

Perché la poesia purifica l’anima
... e una bella poesia – quantunque da Dio s’estranei –
una bella poesia sempre conduce a Dio!

________________

Mario Giacomelli
Pretini (1963)
...

Vida


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Vida
Vita


Não sei
o que querem de mim essas árvores
essas velhas esquinas
para ficarem tão minhas só de as olhar um momento.

Ah! se exigirem documentos aí do Outro Lado,
extintas as outras memórias,
só poderei mostrar-lhes as folhas soltas de um álbum
de imagens:

aqui uma pedra lisa, ali um cavalo parado
ou
uma
nuvem perdida,
perdida...

Meu Deus, que modo estranho de contar uma vida!

Non so
che cosa vogliano da me questi alberi
questi vecchi cantucci
tanto che io li senta così miei al solo guardarli un momento.

Ah! se mi dovessero chiedere i documenti là dall’Altro Lato,
scomparse le altre memorie,
potrei mostrar loro i fogli sparsi d’un album
illustrato:

qui una pietra liscia, lì un cavallo fermo
o
una
nuvola perduta
perduta…

Mio Dio, che modo assurdo di raccontare una vita!

________________

Leandro Erlich
Nuvola (2016)
...

Se o poeta falar num gato...


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Se o poeta falar num gato...
Se il poeta parla di un gatto...


Se o poeta falar num gato, numa flor,
num vento que anda por descampados e desvios
e nunca chegou à cidade...
se falar numa esquina mal e mal iluminada...
numa antiga sacada... num jogo de dominó...
se falar naqueles obedientes soldadinhos de chumbo que
morriam de verdade...
se falar na mão decepada no meio de uma escada
de caracol...
Se não falar em nada
e disser simplesmente tralalá... Que importa?
Todos os poemas são de amor!

Se il poeta parla di un gatto, di un fiore
di un vento che attraversa brughiere e meandri
senza mai arrivare alla città…
se parla d’un cantuccio a malapena illuminato…
di un vecchio balcone… di un gioco di domino…
se parla di quei disciplinati soldatini di piombo che
morivano davvero...
se parla della mano mozzata a metà d’una scala
a chiocciola...
Se non parla di niente
e se semplicemente dice trallallà… Che importa?
Tutte le poesie sono d’amore!

________________

Henri Matisse
Gatto e pesci rossi (1914)
...

Os poemas


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Os poemas
Le poesie


Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Le poesie sono uccelli che giungono
non si sa da dove e si posano
sul libro che leggi.
Quando chiudi il libro, loro s’involano
come da una gabbia.
Non hanno posa
né rifugio
si cibano per un attimo in ogni paio di mani
e volano via.
E tu guardi, allora, queste tue mani vuote,
col meraviglioso stupore di sapere
che il loro alimento era già in te...

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Christian Schloe
Ragazzo che legge agli uccelli (2004)
...

O poeta canta a si mesmo...


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O poeta canta a si mesmo
Il poeta canta a sé stesso


O poeta canta a si mesmo
porque nele é que os olhos das amadas
têm esse brilho a um tempo inocente e perverso...

O poeta canta a si mesmo
porque num seu único verso
pende - lúcida, amarga -
uma gota fugida a esse mar incessante do tempo...

Porque o seu coração é uma porta batendo
a todos os ventos do universo.

Porque além de si mesmo ele não sabe nada
ou que Deus por nascer está tentando agora
 ansiosamente respirar
neste seu pobre ritmo disperso!

O poeta canta a si mesmo
porque de si mesmo é diverso.

Il poeta canta a sé stesso
perché è in lui che gli occhi delle amate
hanno quel guizzo a un tempo innocente e perverso...

Il poeta canta a sé stesso
perché in un suo unico verso
vacilla - lucida, amara -
una goccia sfuggita al mare incessante del tempo...

Perché il suo cuore è una porta che sbatte
a tutti i venti dell’universo.

Perché al di fuori di sé stesso lui non sa niente
cioè che Dio per nascere ora sta tentando
 ansiosamente di respirare
in questo suo povero ritmo sconnesso!

Il poeta canta a sé stesso
perché da sé stesso è diverso.

________________

Pablo Picasso
Vecchio chitarrista cieco (1903)
...

Bilhete


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Bilhete
Biglietto


Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…

Se tu mi ami, amami a bassa voce
Non gridarlo dalla cima dei tetti,
Lascia in pace gli uccelletti
Lascia in pace me!
Se mi vuoi,
insomma,
dev’essere pian pianino, amore mio,
che breve è la vita, e l’amore ancor più breve...

________________

Alfons Mucha
Danza (1898)
...

Presença


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Presença
Presenza


É preciso que a saudade desenhe as tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...

É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
a folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...

Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu te sentir
como sinto – em mim – a presença misteriosa da vida...

Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu preciso fechar meus olhos para ver-te!

È necessario che il rimpianto disegni le tue linee perfette,
il tuo profilo preciso e che, appena lievemente, il vento
delle ore metta un fremito nei tuoi capelli...

E' necessario che la tua assenza sprigioni
nell'aria, il profumo delicato di trifoglio falciato,
di aghi di rosmarino a lungo conservati
non si sa da chi in qualche mobile antico...

Ma è anche necessario che sia come aprire una finestra
e respirarti azzurra e luminosa, nell'aria.
È necessario il rimpianto perché io ti senta
come sento – in me – la presenza misteriosa della vita...

Ma quando tu appari sei così diversa e multipla e imprevista
che per nulla assomigli al tuo ritratto...
E bisogna che io chiuda i miei occhi per vederti!

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Gerhard Richter
Betty (1988)
...

Poema da gare de Astapovo


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Poema da gare de Astapovo
Poesia della stazione di Astapovo


O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos
E foi morrer na gare de Astapovo!
Com certeza sentou-se a um velho banco,
Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso
Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo
Contra uma parede nua...
Sentou-se ...e sorriu amargamente
Pensando que
Em toda a sua vida
Apenas restava de seu a Gloria,
Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas
Coloridas
Nas mãos esclerosadas de um caduco!
E então a Morte,
Ao vê-lo tão sozinho aquela hora
Na estação deserta,
Julgou que ele estivesse ali a sua espera,
Quando apenas sentara para descansar um pouco!
A morte chegou na sua antiga locomotiva
(Ela sempre chega pontualmente na hora incerta...)
Mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho,
E quem sabe se até não morreu feliz: ele fugiu...
Ele fugiu de casa...
Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade...
Não são todos que realizam os velhos sonhos da infância!

Il vecchio Leone Tolstoi fuggì di casa a ottant’anni
E andò a morire alla stazione di Astapovo!
Di certo si sedette su una vecchia panchina,
Una di quelle vecchie panchine lucide per l’uso
Che esistono in tutte le stazioncine povere del mondo
Contro una parete nuda…
Si sedette… e sorrise amaramente
Pensando che
Di tutta la sua vita
Non restava di suo che la Gloria,
Questo ridicolo sonaglio pieno di palline e nastrini
Colorati
Nelle mani sclerotizzate di un bacucco!
E allora la Morte,
Nel vederlo così solo a quell’ora
Nella stazione deserta,
Pensò che lui stesse lì in sua attesa,
Mentre s’era seduto appena per riposare un poco!
La morte arrivò sulla sua antica locomotiva
(Lei arriva sempre puntualmente all’ora ignota…)
Ma forse non pensò a nulla di tutto ciò, il grande Vecchio,
E chissà che non sia anche morto felice: lui era fuggito…
Lui era fuggito di casa…
Lui era fuggito di casa a ottant’anni d’età…
Non è da tutti realizzare i vecchi sogni d’infanzia!

________________

Leone Tolstoj, fotografato da
Sergej Michajlovič Prokudin-Gorsky (1908)
...

Olho as minhas mãos...


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Olho as minhas mãos...
Guardo le mie mani...


Olho as minhas mãos: elas só não são estranhas
Porque são minhas. Mas é tão esquisito distendê-las
Assim, lentamente, como essas anêmonas do fundo
 do mar…
Fechá-las, de repente,
Os dedos como pétalas carnívoras!
Só apanho, porém, com elas, esse alimento impalpável
 do tempo,
Que me sustenta, e mata, e que vai secretando
 o pensamento
Como tecem as teias as aranhas.
A que mundo
Pertenço?
No mundo há pedras, baobás, panteras,
Águas cantarolantes, o vento ventando
E no alto as nuvens improvisando sem cessar,
Mas nada, disso tudo, diz: “existo”.
Porque apenas existem…
Enquanto isto,
O tempo engendra a morte, e a morte gera os deuses
E, cheios de esperança e medo,
Oficiamos rituais, inventamos
Palavras mágicas,
Fazemos
Poemas, pobres poemas
Que o vento
Mistura, confunde e dispersa no ar…
Nem na estrela do céu nem na estrela-do-mar
Foi este o fim da Criação!
Mas, então,
Quem urde eternamente a trama de tão velhos sonhos?
Quem faz em mim — esta interrogação?

Guardo le mie mani: non le trovo strane solo
Perché sono le mie. Ma è davvero curioso dispiegarle
Così, pian piano, come fanno quegli anemoni sui fondali
 marini…
Richiuderle, d’un tratto,
Con le dita simili a petali carnivori!
Però, con esse, io afferro solo quest’alimento impalpabile
 del tempo,
Che mi sostenta, e mi uccide, e che va secernendo
 il mio pensiero
Così come il ragno tesse la sua tela.
A che mondo
Appartengo?
Al mondo ci sono pietre, baobab, pantere,
Acque canterine, il vento che spira
E lassù le nuvole che senza sosta si trasformano,
Ma nulla, di tutto questo, dice: “esisto”.
Perché semplicemente esistono…
E frattanto,
Il tempo cagiona la morte, e la morte genera gli dei
E, colmi di speranza e di timore,
Celebriamo rituali, inventiamo
Formule magiche,
Componiamo
Poesie, misere poesie
Che il vento,
Scompiglia, confonde e disperde per aria…
Non nella stella del cielo né nella stella marina
Risiede il fine della Creazione!
Ma, allora,
Chi eternamente ordisce la trama di sogni tanto antichi?
Chi fa sorgere in me — questa domanda?

________________

Albrecht Dürer
Studio di mani (1506)
...

O velho do espelho


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O velho do espelho
Il vecchio nello specchio


Por acaso, surpreendo-me no espelho: quem é esse
que me olha e é tão mais velho que eu?
Porém, seu rosto… é cada vez menos estranho…
Meu Deus, meu Deus… Parece
Meu velho pai - que já morreu!
Como pude ficarmos assim?
Nosso olhar - duro - interroga:
"O que fizeste de mim?!"
“Eu pai?! Tu é que me invadiste.
Lentamente, ruga a ruga... Que importa! Eu sou ainda
Aquele mesmo menino teimoso de sempre
E os teus planos enfim lá se foram por terra,
Mas sei que vi, um dia - a longa, a inútil guerra!
Vi sorrir, nesses cansados olhos, um orgulho triste..."

Per caso, mi sorprendo allo specchio: chi è
Che mi guarda ed è tanto più vecchio di me?
Ma il suo viso… si fa pian piano meno estraneo…
Mio Dio, mio Dio… Somiglia
Al mio vecchio babbo - che è morto ormai!
Come siamo potuti diventare così?
Il nostro sguardo - duro - domanda:
"Che ne hai fatto di me?!"
“Io babbo?! Chi mi ha invaso sei tu.
Poco a poco, ruga a ruga... Che importa! Io sono ancora
Il medesimo bimbo caparbio di sempre
E i tuoi progetti infine se ne sono andati in fumo,
Ma so d’aver visto, un giorno - la lunga, l’inutile guerra!
Ho visto sorridere, in quegli occhi stanchi, un triste orgoglio..."

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Maurits Cornelis Escher
Mano con sfera riflettente (1935)
...

The English Patient


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The English Patient
Il paziente inglese


(Quase sextina)

Algures por ali seria a gruta
Que, irónica, escondia os nadadores,
As figuras absurdas no deserto.
Quem pintara a miragem destes corpos
Soubera como de água é a febre
E por isso seria azul a pele.

Mas que génio pintou sobre tal pele
Alterosa, nas pedras de uma gruta,
Talvez demonizado pela febre,
Estes seres, pristinos nadadores?
Qual foi o mar sabido destes corpos?
Que ondas mascararam o deserto?

Pouco importa o que já foi o deserto:
Agora é um refúgio, como a pele,
Para o sereno encontro de dois corpos —
Ainda que a mulher morra na gruta —,
Vogando, da penumbra nadadores,
Sem outra luz que a sua própria febre.

É assim que então se azula a febre —
Marinha freme a graça do deserto —
E revivem azuis os nadadores,
Já não de quaisquer águas, mas de pele.
Só não conhece vozes esta gruta,
Tardaram e abjuraram os dois corpos.

Como veneno, o amor fala dos corpos
Que um casulo vão tecendo de febre,
É amor o respirar frio da gruta.
Não importa que a vida no deserto
Se despenhe ou se extinga sob a pele
E a escuridão apague os nadadores.

O sol calcina a pele do deserto,
Mas subsiste na gruta o sal dos corpos,
Nadadores mercê de tanta febre.
(Quasi sestina)

Lì da qualche parte ci sarebbe la grotta
Che, ironica, occultava i nuotatori,
Figure assurde nel deserto.
Chi dipinse il miraggio di questi corpi
Sapeva bene come la febbre è d’acqua
E perciò s’azzurra la pelle.

Ma che genio dipinse sopra una pelle
Increspata, sulle rocce d’una grotta,
Forse demonizzato dalla febbre,
Questi esseri, arcaici nuotatori?
Qual era il mare noto a questi corpi?
Quali onde mimetizzavano il deserto?

Poco importa quel che un dì fu il deserto:
Ora è un rifugio, come la pelle,
Per il sereno incontro di due corpi —
Sebbene la donna muoia nella grotta —,
Vogando, nuotatori della penombra,
Senz’altra luce che la propria febbre.

È dunque così che s’azzurra la febbre —
La grazia del deserto ha fremiti di mare —
E rivivono azzurri i nuotatori,
Non più d’acque qualunque, ma di pelle.
Solo non conosce voci questa grotta,
Han ritardato e ripudiato i due corpi.

Come veleno, l’amore parla dei corpi
Che stan tessendo un bozzolo di febbre,
È amore il freddo respiro della grotta.
Non importa che la vita nel deserto
S’inabissi o si estingua sotto la pelle
E l’oscurità cancelli i nuotatori.

Il sole calcina la pelle del deserto,
Ma perdura nella grotta il sale dei corpi,
Nuotatori alla mercé di tanta febbre.
________________

Caverna dei Nuotatori (arte rupestre)
Gilf Kebir (Egitto)
...

Naturezas-mortas


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Naturezas-mortas
Nature morte


Havia talhadas de melancia rindo...
E os difíceis abacaxis: por fora uma hispidez de bicho
 insociável;
Por dentro, uma ácida doçura...
Morno veludo de pêssegos...
Frescor saudoso de amoras...
E, a mais agreste das criaturinhas,
Cada pitanga desmanchava-se como um beijo vermelho
 na boca.
Eu passo, sem querer, as costas da mão nos meus lábios:
Não sei por que desenho essas coisas no tempo passado...

C’erano fette d’anguria ridenti...
E gli scabrosi ananas: di fuori, un’ispidezza di bestiola
 scontrosa;
Di dentro, un’aspra dolcezza...
Tiepido velluto di pesche...
Nostalgica freschezza delle more...
E, la più agreste delle creaturine,
Ogni pitanga si disfaceva come un bacio vermiglio sulla
 bocca.
Io passo, senza volere, il dorso della mano sulle mie labbra:
Non so perché disegno queste cose nel tempo passato...

________________

Willem van Leen
Natura morta con ananas (1791)
...

A beleza dos versos impressos em livro...


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A beleza dos versos impressos em livro...
La bellezza dei versi stampati in un libro...


A beleza dos versos impressos em livro
– serena beleza com algo de eternidade
Antes que venha conturbá-los a voz das declamadoras.
Ali repousam eles, misteriosos cântaros,
Nas suas frágeis prateleiras de vidro...
Ali repousam eles, imóveis e silenciosos.
Mas não mudos e iguais como esses mortos em suas
 tumbas.
Têm, cada um, um timbre diverso de silêncio...
Só tua alma distingue seus diferentes passos,
Quando o único rumor em teu quarto
É quando voltas, de alma suspensa – mais uma página
Do livro... Mas um verso fere o teu peito como a espada
 de um anjo
E ficas, como se tivesses feito, sem querer, um milagre...
Oh! que revoada, que revoada de asas!

La bellezza dei versi stampati in un libro
– serena bellezza con un che d’eternità
Prima che vengano turbati da voci declamanti.
Là essi riposano, anfore misteriose,
Sui loro fragili scaffali di vetro...
Là essi riposano, immobili e silenziosi.
Ma non muti né uguali come questi morti nelle loro
 tombe.
Ciascuno possiede un diverso timbro di silenzio...
Solo la tua anima sa distinguere i loro passi differenti,
Quando l’unico rumore nella tua stanza
È quando tu giri, con anima sospesa – un’altra pagina
Del libro... Ma un verso ferisce il tuo petto come la spada
 d’un angelo
E tu rimani, quasi avessi fatto, senza volere, un miracolo...
Oh! che stormo, che stormo d’ali!

________________

Franz von Stuck
Il guardiano del Paradiso (1889)
...

Das utopias


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Espelho mágico (1951) »»
 
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Das utopias
Delle utopie


Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las.
Que tristes os caminhos, se não fora
A mágica presença das estrelas!

Se le cose sono irraggiungibili… pazienza!
Non c’è un motivo per non desiderarle…
Come sarebbero tristi i cammini, senza
La magica presenza delle stelle!

________________

Sol LeWitt
Stella a cinque punte con strisce colorate (1992)
...

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