Outra fala


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Outra fala
Un’altra dichiarazione


“O amor? Não me fale de luxos,
Por favor. Não tenho tempo
Para pássaros e estrelas.
Não tenho quem me ajude sequer
A abrir um saco plástico,
Quanto mais para me encher o coração.
Se escorregar na banheira,
É possível que ela se torne a minha sepultura
E que só um arqueólogo me encontre,
Ou algum vizinho mais extremoso
Incomodado com o fedor.
E quem me suportaria?
Ou como admitiria eu em mim
Alguém mais presente do que eu?
Não, já dobrei essas ilusões.
Não me quero partilhar com mais ninguém –
Até porque não há nada a partilhar.
Acredite em mim, eu sei.
Tenho a idade da noite.”
“L’amore? Non mi parlare di lussi,
Per favore. Non ho tempo
Per stelle e passerotti.
Non ho neppure chi mi aiuti
Ad aprire un sacchetto di plastica,
Figurati per riempirmi il cuore.
Se scivolassi nella vasca da bagno,
Probabilmente quella diventerebbe la mia tomba
E solo un archeologo mi ritroverebbe,
O qualche vicino più premuroso
Disturbato dal fetore.
E chi mi sopporterebbe?
O come potrei io accogliere in me
Qualcuno più presente di me?
No, sono già andato oltre queste illusioni.
Non mi voglio più dividere con nessuno –
Anche perché non c’è nulla da dividere.
Credimi: io lo so.
Ho l’età della notte.”
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Edward Hopper
Domenica (1926)
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Ver claro


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Ver claro
Veder chiaro


Toda a poesia é luminosa, até
a mais obscura.
O leitor é que tem às vezes,
em lugar de sol, nevoeiro dentro de si.
E o nevoeiro nunca deixa ver claro.

Se regressar
outra vez e outra vez
e outra vez
a essas sílabas acesas
ficará cego de tanta claridade.
Abençoado seja se lá chegar.
Tutta la poesia è luminosa, anche
la più oscura.
È il lettore ad avere talvolta,
invece del sole, della bruma dentro di sé.
E la bruma non lascia mai veder chiaro.

Se egli ritornasse
un’altra volta e poi un’altra
e un’altra ancora
a quelle sillabe fulgide
rimarrebbe accecato da tanta chiarezza.
Beato lui se ci arriverà. 

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Saffo o Scriba (Pompei, I secolo d.C.)
Museo Archeologico di Napoli
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O pequeno sismo


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O pequeno sismo
Il piccolo sisma


Há um pequeno sismo em qualquer parte
ao dizeres o meu nome.
Elevas-me à altura da tua boca
lentamente
para não me desfolhares.
Tremo como se tivera
quinze anos e toda a terra
fosse leve.
Ó indizível primavera!
Si scatena un piccolo sisma da qualche parte
quando dici il mio nome.
M’innalzi all’altezza della tua bocca
lentamente
per non sciuparmi.
Tremo come se avessi
quindici anni e tutta la terra
fosse lieve.
O indicibile primavera! 

________________

Alfons Mucha
Sogno (1897)
...

Escrevo


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Escrevo
Scrivo


Escrevo já com a noite
em casa. Escrevo
sobre a manhã em que escutava
o rumor da cal ou do lume,
e eras tu somente
a dizer o meu nome.

Escrevo para levar à boca
o sabor da primeira
boca que beijei a tremer.
Escrevo para subir
às fontes.
E voltar a nascer.
Scrivo con la notte ormai
in casa. Scrivo
di quella mattina in cui ascoltavo
il rumore di calce o di fiamma,
ed eri tu sola
a dire il mio nome.

Scrivo per riportare alla bocca
il sapore della prima
bocca che tremando baciai.
Scrivo per risalire
alle fonti.
E ritornare a nascere. 

________________

Leonid Osipovich Pasternak
Il tormento creativo (1933)
...

À Beira de Água


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Os Sulcos da Sede (2001) »»
 
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À Beira de Água
In riva all’acqua


Estive sempre sentado nesta pedra
escutando, por assim dizer, o silêncio.
Ou no lago cair um fiozinho de água.
O lago é o tanque daquela idade
em que não tinha o coração
magoado. (Porque o amor, perdoa dizê-lo,
dói tanto! Todo o amor. Até o nosso,
tão feito de privação.) Estou onde
sempre estive: à beira de ser água.
Envelhecendo no rumor da bica
por onde corre apenas o silêncio.
Stavo sempre seduto su questa pietra
ascoltando, per così dire, il silenzio.
O quel filo d’acqua che gocciola nel lago.
Il lago è il serbatoio di quell’età
in cui non avevo il cuore
ferito. (Perché l’amore, scusa se lo dico,
fa tanto male! Tutto l’amore. Persino il nostro,
così pieno di privazioni.) Sto dove
sono sempre stato: prossimo ad esser acqua.
Invecchiando al rumore della fonte
in cui non scorre che il silenzio. 

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Monique Malinge
Riflessi (2013)
...

Aprendizagem da poesia


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Os Lugares do Lume (1998) »»
 
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Aprendizagem da poesia
Apprendistato di poesia


Durou muitos anos, aquele verão.
Crescíamos sem pressa com o trigo
e as abelhas. Com o sol
corríamos para a água, à noite
num verso de Shakespeare ou
na nossa boca uma estrela dançava.
Aprendíamos a amar, aprendíamos
a morrer. A todos os sentidos
pedíamos para escutar o rumor,
não do mundo, que ninguém abarca,
apenas da brancura de uma folha
e outra folha ainda de papel.
Durò molti anni, quell’estate.
Crescevamo senza fretta col grano
e con le api. Col sole
correvamo verso l’acqua, di notte
in un verso di Shakespeare o
sulla nostra bocca una stella danzava.
Imparavamo ad amare, imparavamo
a morire. A tutti i sensi
chiedevamo di ascoltare il rumore,
non del mondo, che nessuno incanta,
soltanto del candore d’una foglia
e anche quello d’un foglio di carta. 

________________

Carlo Mattioli
Paesaggio d'estate (1981)
...

Actualizam a pena de talião...


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Actualizam a pena de talião...
Aggiornano la legge del taglione...


Actualizam a pena de talião –
Mil olhos por um olho,
Mil dentes por um dente,
A vingança em escala industrial.
E sonham com a justiça em que nada será esquecido,
Nada será perdoado,
Quimicamente pura,
Sem PH humano.
Aggiornano la legge del taglione –
Mille occhi per un occhio,
Mille denti per un dente,
La vendetta su scala industriale.
E sognano una giustizia in cui nulla sarà scordato,
Nulla sarà perdonato,
Chimicamente pura,
Senza PH umano.
________________

Emilio Vedova
Manifesto per il Vietnam (1969)
...

A poesia não vai...


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O Sal da Língua (1995) »»
 
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A poesia não vai...
La poesia non va...


A poesia não vai à missa,
não obedece ao sino da paróquia,
prefere atiçar os seus cães
às pernas de deus e dos cobradores
de impostos.
Língua de fogo do não,
caminho estreito
e surdo da abdicação, a poesia
é uma espécie de animal
no escuro recusando a mão
que o chama.
Animal solitário, às vezes
irónico, às vezes amável,
quase sempre paciente e sem piedade.
A poesia adora
andar descalça nas areias do Verão.
La poesia non va a messa,
non dà retta alle campane della parrocchia,
preferisce aizzare i suoi cani
alle gambe di dio e degli esattori
delle imposte.
Lingua di fuoco del no,
percorso angusto
e sordo del rifiuto, la poesia
è una specie d’animale
che al buio respinge la mano
che lo chiama.
Animale solitario, talvolta
ironico, talvolta affabile,
quasi sempre paziente e spietato.
La poesia adora
andare scalza sulle sabbie dell’estate. 

________________

Leonora Carrington
La sinfonia (2002)
...

Os livros


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Ofício de paciência (1994) »»
 
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Os livros
I libri


Os livros. A sua cálida,
terna, serena pele. Amorosa
companhia. Dispostos sempre
a partilhar o sol
das suas águas. Tão dóceis,
tão calados, tão leais.
Tão luminosos na sua
branca e vegetal e cerrada
melancolia. Amados
como nenhuns outros companheiros
da alma. Tão musicais
no fluvial e transbordante
ardor de cada dia.
I libri. La loro calda,
tenera, serena pelle. Amorosa
compagnia. Disposti sempre
a condividere il sole
delle loro acque. Così docili,
così silenziosi, così leali.
Così luminosi nella loro
bianca e vegetale e densa
malinconia. Amati
come nessun altro amico
del cuore. Così musicali
nel fluviale e traboccante
ardore d’ogni giorno. 

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Chiara Dynys
Libri illuminanti (2019)
...

Os difíceis amigos


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Eugénio de Andrade »»
 
Ofício de paciência (1994) »»
 
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Os difíceis amigos
Gli amici difficili


Estes mortos difíceis
que não acabam de morrer
dentro de nós; o sorriso
da fotografia,
a carícia suspensa, as folhas
dos estios persistindo
na poeira; difíceis;
o suor dos cavalos, o sorriso,
como já disse, nos lábios,
nas folhas dos livros;
não acabam de morrer;
tão difíceis, os amigos.
Questi morti difficili
che non cessano di morire
dentro di noi; il sorriso
della fotografia,
la carezza sospesa, le foglie
dell’estate che perdurano
nella polvere; difficili;
il sudore dei cavalli, il sorriso,
come ho già detto, sulle labbra,
sulle pagine dei libri;
non cessano di morire;
così difficili, gli amici.

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Giorgio de Chirico
Oreste e Pilade (1965)
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O sorriso


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Eugénio de Andrade »»
 
O Outro Nome da Terra (1988) »»
 
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O sorriso
Il sorriso


Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.

Correr, navegar, morrer
naquele sorriso.
Credo che fu il sorriso,
il sorriso, fu lui che aprì la porta.
Era un sorriso con molta luce
dentro, veniva voglia
d’entrarci, svestirsi, restare
nudo dentro quel sorriso.

Correre, navigare, morire
in quel sorriso.

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Giacomo Balla
Il dubbio (1907-1908)
...

O pequeno persa


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O Outro Nome da Terra (1988) »»
 
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O pequeno persa
Il piccolo persiano


É um pequeno persa
azul o gato deste poema.
Como qualquer outro, o meu
amor por esta alminha é materno:
uma carícia minha lambe-lhe o pêlo,
outra põe-lhe o sol entre as patas
ou uma flor à janela.
Com garras e dentes e obstinação
transforma em festa a minha vida.
Quer-se dizer, o que me resta dela.
È un piccolo persiano
blu il gatto di questa poesia.
Come qualsiasi altro, il mio
amore per questa creaturina è materno:
una mia carezza gli lambisce il pelo,
un’altra gli posa il sole tra le zampe
o un fiore alla finestra.
Con artigli e denti e ostinazione
trasforma in festa la mia vita.
Intendo dire, quel che me ne resta.

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Endre Penovác
Persiano che gioca (2015)
...

Cumplicidade do Verão


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O Outro Nome da Terra (1988) »»
 
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Cumplicidade do Verão
Complicità dell’estate


Mal nos conhecíamos, mas a infância
é cúmplice do verão:
vinhas do rio, das manhãs
onde nadámos juntos e subimos
aos freixos altos: via-te
balouçar num ramo frágil rindo,
ou saltar atrás das rãs – o corpo nu
cravado nos meus olhos como um espinho.
Ci conoscevamo appena, ma l’infanzia
è complice dell’estate:
venivi dal fiume, dalle mattine
in cui nuotavamo insieme e salivamo
sugli alti frassini: ti guardavo
dondolare su un ramo fragile, ridendo,
o correr dietro alla rane - il corpo nudo
conficcato nei miei occhi come una spina.

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Cândido Portinari
Bambini in altalena (1960)
...

As agulhas equânimes dos pinheiros...


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Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (maggio 2020) »»
 
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As agulhas equânimes dos pinheiros...
Inalterati gli aghi dei pini...


As agulhas equânimes dos pinheiros,
As abelhas derrogadas –
Apenas se ouvirá, por entre a chuva,
A obstinação de um melro,
Sem súplica; nas esperas,
Os pardais recolhem-se
Junto de pernas humanas –
E todos esperam indiferentes,
Num terror que neutraliza o medo
O apocalipse ou a salvação,
Menos o melro, menos o melro,
Que confia nessa mulher
Que virá dos infernos,
Para que a primavera veja.

Inalterati gli aghi dei pini,
Abrogate le api –
Si udirà appena, nella pioggia,
L’insistenza di un merlo,
Senza supplica; nell’attesa,
I passeri si raccolgono
Vicino alle gambe umane –
E tutti aspettano indifferenti,
In un’angoscia che neutralizza la paura
L’apocalisse o la salvazione,
Meno il merlo, meno il merlo,
Che confida in quella donna
Che tornerà dagli inferi,
Perché riveda la primavera.

________________

Frederick Leighton
Il ritorno di Persefone (1891)
...

Descer pela manhã até à folha...


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Eugénio de Andrade »»
 
Branco no Branco (1984) »»
 
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Descer pela manhã até à folha...
Scendere di mattino fino alla foglia...


Descer pela manhã até à folha
dos álamos,
ser irmão duma estrela, ou filho,
ou talvez pai um dia doutra luz de seda,

ignorar as águas do meu nome,
as secretas bodas do olhar,
os cardos e os lábios da sede,
não saber

como se morre de tanto ser hesitação,
de tanto desejar
ser chama, arder assim de estrela
em estrela,

até ao fim.
Scendere di mattino fino alla foglia
dei pioppi,
essere fratello d’una stella, o figlio
o forse un giorno padre d’un’altra luce di seta,

ignorare le acque del mio nome,
le nozze segrete dello sguardo,
i cardi e le labbra della sete,
non sapere

come si muore di tanta esitazione,
di tanto desiderio
essere fiamma, avvampare così di stella
in stella,

fino alla fine.

________________

Olafur Eliasson
Diamante poligonale colorato (2014)
...

Ode a Guillaume Apollinaire


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Eugénio de Andrade »»
 
Homenagens e outros Epitáfios (1974) »»
 
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Ode a Guillaume Apollinaire
Ode a Guillaume Apollinaire


No meio dos anjos desembarcados em
Marselha,
nas margens do Sena, ao ouvido de Marie,
os olhos ardidos de ternura,
leio os teus versos, sem piedade de ti.

Leio os teus versos neste Outono breve
onde passeiam lentos com a água
Lou e Ottomar;
a esperança é ainda violenta,
mas estamos cansados de esperar.

Leio os teus versos no cemitério
onde as crianças indiferentes
brincam à roda da tua sepultura;
e choro, ao lado de Madeleine,
órfão de ti, órfão de aventura.

E tu passas, meu artilheiro,
apaixonadamente como um rio
ou touro de amor até aos cornos:
Orfeu cheirando a pólvora e a cio.

Passas, e seguem-te saltimbancos,
galdérias, vadios, ciganos e anões;
Annie – ou Jeanne – surge da bruma,
e de longe atira-te uma rosa,
talvez de lume, talvez de espuma.

Passas, e entras no paraíso
no meio de adolescentes tresmalhados;
Martin, Gertrude, Hans e Henri,
com ervas ainda nos cabelos
cantam coplas de putas e soldados.

Oh Madeleine, não tenhas piedade:
os mortos somos nós, aqui sentados,
com a noite nos ombros e embalando
a angústia nos braços decepados.
In mezzo agli angeli sbarcati a
Marsiglia,
sulle rive della Senna, all’orecchio di Marie,
con occhi audaci di tenerezza,
leggo i tuoi versi, senza pietà per te.

Leggo i tuoi versi in questo autunno breve
in cui passeggiano lenti con l’acqua
Lou e Ottomar;
la speranza è ancora violenta,
ma noi siamo stanchi d’aspettare.

Leggo i tuoi versi nel cimitero
ove dei fanciulli indifferenti
giocano intorno alla tua sepoltura;
e piango, al fianco di Madeleine,
orfano di te, orfano dell’avventura.

E tu passi, mio artigliere,
travolgente come un fiume
o toro sfrenatamente in estro:
Orfeu olente d’esplosivo e di calore.

Passi, e ti seguono saltimbanchi,
lavativi, vagabondi, zingari e nani;
Annie – o Jeanne – sorge dalla bruma,
e da lungi ti lancia una rosa,
forse di fuoco, forse di spuma.

Passi, ed entri in paradiso
in mezzo ad adolescenti sbandati;
Martin, Gertrude, Hans e Henri,
con fili d’erba ancora tra i capelli
cantando rime di puttane e soldati.

Oh Madeleine, non aver pietà:
i morti siamo noi, che stiam seduti,
con la notte sulle spalle e cullando
l’angoscia con braccia mutilate.

________________

Giorgio de Chirico
Ritratto di Apollinaire (1914)
...

Kavafis, nos anos distantes de 1903


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Kavafis, nos anos distantes de 1903
Kavafis, nel lontano 1903


Nenhum tão solitário mesmo quando
acordava com os olhos do amigo nos seus olhos
como este grego que nos versos se atrevia
a falar do que tanto se calava
ou só obliquamente referia –
nenhum tão solitário e tão atento
ao rumor do desejo e das ruas de Alexandria.
Nessuno così solo proprio quando
si ridestava con gli occhi dell’amico nei suoi occhi
come questo greco che in versi osava
parlare di quel che tanto si taceva
o a cui solo per vie traverse s’alludeva –
Nessuno così solo e così attento
ai sussurri del desiderio e delle vie d’Alessandria.

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Nikos Engonopoulos
Kavafis (1948)
...

Elegia das Águas Negras para Che Guevara


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Homenagens e outros Epitáfios (1974) »»
 
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Elegia das Águas Negras para Che Guevara
Elegia delle Acque Nere per Che Guevara


Atado ao silêncio, o coração ainda
pesado de amor, jazes de perfil,
escutando, por assim dizer, as águas
negras da nossa aflição.

Pálidas vozes procuram-te na bruma;
de prado em prado procuram
um potro mais libre, a palmeira mais alta
sobre o lago, um barco talvez
ou o mel entornado da nossa alegria.

Olhos apertados pelo medo
aguardam na noite o sol do meio-dia,
a face viva do sol onde cresces,
onde te confundes com os ramos
de sangue do verão ou o rumor
dos pés brancos da chuva nas areias.

A palavra, como tu dizias, chega
húmida dos bosques: temos que semeá-la;
chega húmida da terra: temos que defendê-la;
chega com as andorinhas
que a beberam sílaba a sílaba na tua boca.

Cada palavra tua é um homem de pé,
cada palavra tua faz do orvalho uma faca,
faz do ódio um vinho inocente
para bebermos, contigo
no coração, em redor do fogo.
Forzato al silenzio, col cuore ancora
gonfio d’amore, giaci di profilo,
ascoltando, per così dire, le acque nere
del nostro sconforto.

Voci sfumate ti cercano nella nebbia;
di prato in prato cercano
un puledro più libero, il palmizio più alto
sopra il lago, forse un barca
o il miele circonfuso della nostra gioia.

Occhi socchiusi per la paura
aspettano nella notte il sole di mezzogiorno,
la faccia ardente del sole, ove tu cresci,
ove ti confondi coi rami
di sangue dell’estate o col rumore
dei piedi bianchi della pioggia sulla sabbia.

La parola, come dicevi tu, giunge
umida dai boschi: noi dobbiamo diffonderla;
giunge umida dalla terra: noi dobbiamo difenderla;
giunge con le rondini
che l’han bevuta sillaba a sillaba dalla tua bocca.

Ogni tua parola è un uomo sull’attenti;
ogni tua parola fa della rugiada un coltello,
fa dell’odio un vino innocente
che noi berremo, con te
nel cuore, intorno al fuoco.

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Andy Warhol
Che Guevara (1968)
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