Viveram ainda muitos anos...


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Viveram ainda muitos anos...
Vissero ancora molti anni...



Viveram ainda muitos anos na cave, os bichanos. Viveram à espera. Mais do que dos anos, sofreram as moléstias da espera.
Sono vissuti ancora molti anni nella cantina, i micetti. Sono vissuti, aspettando. Più che le angustie degli anni hanno sofferto quelle dell’attesa.
Ao contrário de muitos amantes, não davam mostras nenhumas de vaidade por estarem assim mortos, à espera.
Al contrario di molti amanti, non menavano alcun vanto per starsene così, in attesa, come morti.
Iam esquecendo a aprendida mansidão, devolvidos quase à rua, à selvajaria, ferozes até na ternura.
Col tempo scordarono la docilità appresa, ritornando quasi alla strada, allo stato selvatico, feroci perfino nella tenerezza.
Um dia, convolaram-se em escuridão.
Un giorno, s’involarono insieme al buio.

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Theophile Alexandre Steinlen
Due gatti (1894)

De todos os gatos...


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De todos os gatos...
Di tutti i gatti...



De todos os gatos que a minha avó teve – todos com simples nomes de cores: Black, Branquinho, Cinzento, Lourinho –, quero falar deste.
Di tutti i gatti che ha avuto la mia nonna – tutti con semplici nomi di colori: Black, Bianchino, Grigio, Biondino –, voglio parlare di quest’ultimo.
Nunca lhe fiz uma única festa. Era um gato de rua que, mesmo em casa, continuou a ter hábitos de rua. Esquivo e feroz, não deixava ninguém aproximar-se.
Non gli ho mai fatto una sola carezza. Era un gatto di strada che, anche in casa, continuò a mantenere abitudini di strada. Schivo e selvatico, non si lasciava avvicinare da nessuno.
Só me lembro da existência desse gato ao colo da minha avó. O resto do tempo, presumíamos apenas a sua existência debaixo de um móvel qualquer – ou em cima dele –, no recanto mais escuro, mais inimaginável.
Mi ricordo soltanto dell’esistenza di questo gatto in grembo alla mia nonna. Per il resto del tempo, ci limitavamo a supporre la sua presenza sotto qualche mobile – oppure sopra –, nel cantuccio più scuro, più impensabile.
Então, a minha avó, como uma encantadora, chamava por ele numa voz aguda, salmodiando-lhe o nome, a única voz que o amor reconhecia, a única voz que o amor deixava ir ao seu encontro na sombra amiga e pela qual se deixava encontrar.
Allora, la mia nonna, come una maga, lo chiamava con una voce acuta, salmodiando il suo nome, l’unica voce che l’amore riconosceva, l’unica voce a cui l’amore permetteva di ritrovarlo nell’ombra amica, voce dalla quale egli si lasciava ritrovare.
E o Lourinho aparecia, convocado de nenhures, criatura da mais pura magia.
E il Biondino appariva, richiamato da chissà dove, creatura della più pura magia.

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Paul Klee
Gatto e uccello (1928)

Talvez não fosse afrancesado o bastante...


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Talvez não fosse afrancesado o bastante...
Forse non s’era abbastanza francesizzato...



Talvez não fosse afrancesado o bastante para se auto-intitular Gaspar da Noite, nem nada prova que tenha morrido do mal-francês,
Forse non s’era abbastanza francesizzato per auto-denominarsi Gaspare della Notte, e nulla prova ch’egli sia morto di mal francese,
mas foi, de facto, Gaspar e a sua vida contou-se sobretudo em noites – de teatro, de boémia, de jogatina, de bordel.
ma fu, di fatto, Gaspare e la sua vita fu narrata soprattutto in notti – di teatro, di bohème, di gioco d’azzardo, di bordelli.
Dissipou uma fortuna em actrizes e cartas, sendo com ambas a sorte igualmente madrasta.
Dissipò una fortuna con le attrici e le carte da gioco, avendo con entrambe, in egual misura, una sorte matrigna.
Desferiu ases contra a impotência, conjurou contra a realidade e falhou, consumido pelas filhas do fogo – cartas e actrizes e sorte.
Giocò i suoi assi contro l’impotenza, cospirò contro la realtà e fallì, logorato dalle figlie del fuoco – attrici, carte e sorte.
Deixou uma filha como criada de servir, penhor para as afinal madrastas.
Lasciò una figlia come donna di servizio, data in pegno, alla fine, alle matrigne.

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Johann Heinrich Füssli
Incubo (1781)

Maurice Ravel, Gaspard de la Nuit
pianista: Anne-Marie Ghirardelli

Fazer o quê de todo este mel


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Fazer o quê de todo este mel...
Che fare di tutto questo miele...


Fazer o quê de todo este mel,
Do crescendo das tardes em ouro, pólen e Verão,
Se a vida è, afinal, sempre e só
Dos outros, afinal, sempre e só
Transformada em vala comum,
Onde tentar o bem nosso
Pelo bem dos outros
Já não é sequer o mal menor,
Cansados de mais, brutos de mais,
Nós mesmos de mais,
Sempre morais numa impossível
E exaltada falta de paciência,
Numa pressurosa falta de ternura,
Nós sempre tão corredios,
Sardónicos até nos estertores,
Impérvios a essa música que nos tece
Perdidos em pleno espaço?
Há ainda um risco para nos salvar
De toda esta segurança,
Do geométrico, bancário, ergonómico
Acomodar-se da alma,
Do espírito flácido e famélico,
Algo que nos possa restituir
O gosto dos dias,
Esse que teremos na boca
Em hora extrema, ainda o gosto dos dias?

Che fare di tutto questo miele,
Del crescendo delle serate estive, d’oro e di polline,
Se la vita, alla fine, è sempre e solo
Degli altri, alla fine, è sempre e solo
Trasformata in fossa comune,
In cui tentare d’ottenere
Il nostro bene dal bene altrui
Non è neppure più il male minore,
Troppo esauriti, troppo rozzi,
Troppo noi stessi,
Sempre inflessibili in un’insopportabile
E ossessiva mancanza di pazienza,
In una costante carenza di tenerezza,
Noi sempre così irruenti,
Sardonici persino nell’agonia,
Refrattari a questa musica che ci avvolge
Perduti nell’immenso spazio?
C’è ancora uno spiraglio per salvarci
Da tutta questa fermezza,
Dal modo geometrico, bancario, ergonomico
Di tacitare la voce della coscienza,
Dallo spirito flaccido e famelico,
Qualcosa che possa restituirci
Il sapore dei giorni,
Quello che avremo in bocca
Nell’ora estrema, ancora il sapore dei giorni?

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Philippe Croq - Ohé (2010)
...

Dia-D


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Dia D
D-Day


De um lado, a noite é uma náusea.
Do outro, um frio que degola.
De um lado, ninguém pensa
Em libertar a liberdade.
Do outro, ninguém pensa
Em resistir até ao fim.
Esta noite, Deus é acordado
Em muitas línguas,
Mas as palavras são as mesmas,
A paz que pedem é a mesma.
E nas cartas que escrevem
Ambos os lados prometem
Não morrer.
Estas promessas jazem mortas
Na praia, lado a lado.
A paz é a mesma.
Deus ouviu.

Da un lato, la notte è nausea.
Dall’altro, un freddo che attanaglia.
Da un lato, nessuno pensa
Di liberare la libertà.
Dall’altro, nessuno pensa
Di resistere fino alla fine.
Stanotte, Dio è sveglio
In molte lingue,
Ma le parole sono le stesse,
La pace che invocano è la stessa.
E nelle lettere che scrivono
I due lati promettono
Di non morire.
Giacciono morte sulla spiaggia
Queste promesse, lato a lato.
La pace è la stessa.
Dio ha ascoltato.

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Jean Fautrier
Il calamaio (1948)

O mar


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O mar
Il mare


Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.

E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras

Mare, d’aria marina è fatta per metà l’anima mia
Poiché è per quello stesso affanno e per quella nostalgia,
Presenti nell’immenso fragore dell’alta marea,
Che mai nessuno m’ha davvero soddisfatta.
Ed è perché le tue onde dissolte dalla sabbia
Più forti si risollevano ogni volta,
Che dopo ogni caduta mi rialzo alla vita
Da una nuova illusione affascinata.

E se io racconto alle stelle questo mio male
È perché anche tu, burrascoso e teatrale,
Le tue pene fai riecheggiare fra le alture.
E se al di sopra di tutto io rifuggo e odio
Ciò che è impuro, profano e laido,
È solo perché le tue onde sono pure.

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Gustave Courbet
L'onda (1869)

No meu país


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O Búzio de Cós (1997) »»
 
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No meu país
Nel mio paese


As pequenas cidades intensas
Onde o tempo não é dissolvido mas dura
E cada instante ressoa nas paredes da esquina
E o rosto loiro de Laura aflora na janela desencontrada
E o apaixonado de testa obstinada como a de um toiro
Em vão a procura onde ela nunca está
— É aqui que ao passarmos a nossa garganta se aperta
Enquanto um homem alto e magro
Baixando a direito o chapéu largo e escuro
De cima a baixo se descobre
Ao transpor o limiar sagrado da casa

Le piccole città tenaci
Ove il tempo non si dissolve ma persiste
Ed ogni istante risuona sui muri all’angolo
E il biondo volto di Laura affiora alla finestra sbagliata,
E lo spasimante dalla testa dura come quella d’un toro,
Invano la cerca dove lei non c’è mai
— Nel passare di qui ci si stringe la gola
Mentre un uomo alto e magro
Abbassando sulla fronte il largo cappello scuro
Dalla testa ai piedi tutto si rivela
Nel varcare la sacra soglia della casa

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Vincent van Gogh
Ritratto di Armand Roulin (1888)

Revolução


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O Nome das Coisas (1977) »»
 
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Revolução
Rivoluzione


Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta

Como puro início
Como tempo novo
Sem mancha nem vício

Como a voz do mar
Interior de um povo

Como página em branco
Onde o poema emerge

Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação

Come una casa pulita
Come un terreno spazzato
Come una porta aperta

Come un limpido inizio
Come un tempo nuovo
Senza macchia né vizio

Come la voce del mare
Intimo d’un popolo

Come una pagina bianca
Da dove la poesia emerge

Come l’architettura
Dell’uomo che erige
La sua dimora

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Kazimir Malevič
Contadini (1930)

Regressarei


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Regressarei
Ritornerò


Eu regressarei ao poema como à pátria à casa
Como à antiga infância que perdi por descuido
Para buscar obstinada a substância de tudo
E gritar de paixão sob mil luzes acesas.

Io ritornerò alla poesia come alla patria alla casa
Come all'antica infanzia che persi per incostanza
Per cercare ostinata la sostanza di tutto
E gridare di passione sotto mille luci accese.

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Giacomo Balla
Lampada ad arco (1909)

Che Guevara


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Che Guevara
Che Guevara


Contra ti se ergueu a prudência dos inteligentes e o arrojo dos patetas

A indecisão dos complicados e o primarismo
Daqueles que confundem revolução com desforra

De poster em poster a tua imagem paira na sociedade de consumo

Como o Cristo em sangue paira no alheamento ordenado das igrejas

Porém
Em frente do teu rosto
Medita o adolescente à noite no seu quarto
Quando procura emergir de um mundo que apodrece

Contro di te s’inalberò la prudenza dei sapienti e la baldanza degli stolti

L’indecisione degli irresoluti e la mediocrità
Di quelli che confondono rivoluzione con rappresaglia

Di poster in poster la tua immagine aleggia sulla società dei consumi

Come il Cristo martire aleggia nell’ordinata alienazione della chiesa

Ma
Di fronte al tuo volto
Medita l’adolescente nella sua stanza di notte
Quando cerca d’emergere da un mondo putrescente

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Viva Che (poster)
(1968)

25 de Abril


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25 de Abril
25 Aprile


Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Questa è l’alba che io aspettavo
Il giorno inaugurale intero e puro
In cui riemergiamo dalla notte e dal silenzio
E liberi occupiamo la sostanza del tempo.

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Vieira da Silva
Libertà (poster per il 10° anniversario del 25 Aprile)
(1984)

Mar


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Mar
Mare


I
De todos os cantos do mundo
Amo com amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.

II
Cheiro a terra as árvores e o vento
Que a Primavera enche de perfumes
Mas neles só quero e só procuro
A selvagem exalação das ondas
Subindo para os astros como um grito puro.

I
Di tutti i recessi del mondo
Amo con amore più forte e più profondo
Quella spiaggia estasiata e nuda
Ove mi unii al mare, al vento e alla luna.

II
Respiro la terra gli alberi e il vento
Che la primavera riempie di profumi
Ma tutto ciò che cerco e a cui aspiro
È il selvaggio effluvio delle onde
Che salgon verso gli astri come un grido puro.

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Félix Vallotton
Chiar di luna (1895)

Poema de Helena Lanari


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Poema de Helena Lanari
Poesia di Helena Lanari


Gosto de ouvir o português do Brasil
Onde as palavras recuperam sua substância total
Concretas como frutos nítidas como pássaros
Gosto de ouvir a palavra com suas sílabas todas
Sem perder sequer um quinto de vogal

Quando Helena Lanari dizia o "coqueiro"
O coqueiro ficava muito mais vegetal

Mi piace ascoltare il portoghese del Brasile
Dove le parole recuperano la propria sostanza totale
Concrete come frutti e vivide come uccelli
Mi piace ascoltare la parola con tutte le sue sillabe
Senza perdere neanche un quinto di vocale

Quando Helena Lanari pronunciava “coqueiro”
La palma da cocco risultava molto più vegetale

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Aldemir Martins
Marina con 'coqueiros' (2003)

Ítaca


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Ítaca
Itaca


Quando as luzes da noite se reflectirem imóveis
[nas águas verdes de Brindisi
Deixarás o cais confuso onde se agitam palavras
[passos remos e guindastes
A alegria estará em ti acesa como um fruto
Irás à proa entre os negrumes da noite
Sem nenhum vento sem nenhuma brisa só um sussurrar
[de búzio no silêncio

Mas pelo súbito balanço pressentirás os cabos
Quando o barco rolar na escuridão fechada
Estarás perdida no interior da noite no respirar do mar
Porque esta é a vigília de um segundo nascimento

O sol rente ao mar te acordará no intenso azul
Subirás devagar como os ressuscitados
Terás recuperado o teu selo a tua sabedoria inicial
Emergirás confirmada e reunida
Espantada e jovem como as estátuas arcaicas
Com os gestos enrolados ainda nas dobras do teu manto

Quando le luci della notte si rifletteranno immobili
[nelle verdi acque di Brindisi
Tu lascerai la confusione del molo dove s’agitano parole
[passi remi e gru
In te la gioia rimarrà luminosa come un frutto
Andrai a prua fra i tenebrori della notte
Senza alcun vento senza alcuna brezza solo un sussurrare
[di conchiglia nel silenzio

Ma per l’improvviso rollio percepirai le cime
Della nave quando s’addentrerà nell’oscurità compatta
Ti troverai spersa all’interno della notte nel respiro del mare
Perché questa è la vigilia d’una seconda nascita

Il sole unito al mare ti desterà nell’intenso blu
T’alzerai con la lentezza dei resuscitati
Avendo ritrovato la tua essenza la tua saggezza iniziale
Emergerai confermata e riunita
Stupita e giovane come le statue arcaiche
Con i gesti ancora avvolti tra le pieghe del tuo manto.

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Silvana Marra
Marea (2013)

Escuto


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Escuto
Ascolto


Escuto mas não sei
Se o que oiço é silêncio
Ou deus

Escuto sem saber se estou ouvindo
O ressoar das planícies do vazio
Ou a consciência atenta
Que nos confins do universo
Me decifra e fita

Apenas sei que caminho como quem
É olhado amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco

Ascolto ma non so
Se quel che odo è silenzio
O dio

Ascolto senza sapere se sto udendo
Il risuonare delle pianure deserte
O l’attenta coscienza
Che ai confini dell'universo
Mi decifra e mi scruta

So solo che procedo come chi
È guardato amato e conosciuto
E perciò in ogni gesto metto
Solennità e azzardo.

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Felice Casorati
Silvana Cenni (1922)

Crepúsculo dos Deuses


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Crepúsculo dos Deuses
Crepuscolo degli Dei


Um sorriso de espanto brotou nas ilhas do Egeu
E Homero fez florir o roxo sobre o mar
O Kouros avançou um passo exactamente
A palidez de Atena cintilou no dia

Então a claridade dos deuses venceu os monstros
[nos frontões de todos os templos
E para o fundo do seu império recuaram os Persas

Celebrámos a vitória: a treva
Foi exposta e sacrificada em grandes pátios brancos
O grito rouco do coro purificou a cidade

Como golfinhos a alegria rápida
Rodeava os navios
O nosso corpo estava nu porque encontrara
Sua medida exacta
Inventámos: as colunas de Sunion imanentes à luz.
O mundo era mais nosso cada dia

Mas eis que se apagaram
Os antigos deuses sol interior das coisas
Eis que se abriu o vazio que nos separa das coisas
Somos alucinados pela ausência bebidos pela ausência
E aos mensageiros de Juliano a Sibila respondeu:

«Ide dizer ao rei que o belo palácio jaz por terra quebrado
Febo já não tem cabana nem loureiro profético
[Nem fonte melodiosa.
A água que fala calou-se»

Un sorriso di stupore sbocciò sulle isole Egee
E Omero fece fiorire la porpora sul mare
Il Kouros avanzò esattamente d’un passo
Il pallore d’Atena scintillò nel giorno

Ecco che il chiarore degli dei vinse i mostri
[sui frontoni di tutti i templi
E i Persiani si ritirano fino ai limiti estremi del loro impero

Celebrammo la vittoria: la tenebra
Fu esposta e sacrificata in vasti recinti bianchi
Il grido roco del coro purificò la città

La repentina gioia come delfini
Attorniava le navi
Il nostro corpo era nudo perché aveva trovato
La sua giusta dimensione
Concepimmo: le colonne di Sunion immanenti alla luce
Il mondo era ogni giorno più nostro

Ma ecco che scomparvero
Gli antichi dei sole interiore delle cose
Ecco che s’aprì il vuoto che ci separa dalle cose
Restammo allucinati dall’assenza ebbri d’assenza
E ai messaggeri di Giuliano la Sibilla rispose:

«Andate a dire al re che il bel palazzo giace al suolo distrutto
Febo non abita più qui non ha più lauro oracolare
[Né sorgente melodiosa.
L’acqua parlante s’è ammutolita»

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Michelangelo Buonarroti
La Sibilla Cumana (Cappella Sistina)
(1508-1512)

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