Silêncio


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Silêncio
Silenzio


Há momentos em que tudo o que desejo
é o silêncio e seu bálsamo. Momentos
que a própria música conspurcaria.

Mas há silêncio e silêncio. O que apeteço
não é o silêncio que alguma autoridade
decreta, seja direcção-geral, escola, igreja.

O silêncio que ambiciono há-de ser
sereno como nuvens e ervas bravas
e água em repouso e asas imóveis
de borboleta.

Há-de ser como o doce cansaço
que, depois que o vento tem passado,
fica a cintilar sobre as coisas
que o vento alvoroçou.
Ci sono momenti in cui tutto ciò che vorrei
è il silenzio e il suo balsamo. Momenti
che la musica stessa guasterebbe.

Ma c’è silenzio e silenzio. Quello cui aspiro
non è il silenzio che qualche autorità
impone, sia pubblico potere, scuola o chiesa.

Il silenzio cui ambisco dev’essere
sereno come nubi ed erbe selvatiche
e acqua quieta e ali immobili
di farfalla.

Dev’essere come la dolce spossatezza
che, dopo il passaggio del vento,
continua a vibrare sopra le cose
che il vento ha sconquassato.
________________

Nicolas de Staël
Paesaggio di Provenza (1953)
...

Eu não fui sempre assim...


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Eu não fui sempre assim...
Non sono sempre stato così...


Eu não fui sempre assim. Eu fiquei assim
no dia em que encontrei no meu pratinho
de arroz-doce
um pêlo do bigode de Giordano Bruno.
Non sono sempre stato così. Divenni così
il giorno in cui trovai nel mio piattino
di crema di riso
un pelo dei baffi di Giordano Bruno.
________________

Ettore Ferrari
Monumento a Giordano Bruno (1889)
...

O galo cantou três vezes...


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O galo cantou três vezes...
Il gallo cantò tre volte...


O galo cantou três vezes
e ninguém me negou.

Cristo não sofreu um enxovalho assim.
Ele tinha Pedro, um grande negador,
não precisou de passar por esta coisa chata
de ninguém nos negar, mesmo tendo o galo
cantado três vezes.

Enfim, c'est la vie. Mas cante o galo
ainda uma quarta ou quinta vez,
que eu - que remédio - lá me irei negando
pelos meus próprios meios.

Que os tempos não vão para exigências
e em tempo de espingardas
não se limpam guerras.
Il gallo cantò tre volte
e nessuno mi rinnegò.

Cristo non patì un simile affronto.
Lui aveva Pietro, grande rinnegatore,
non dovette subire questo fatto seccante
di non esser rinnegato da nessuno, benché il gallo
avesse cantato tre volte.

In fondo, c'est la vie. Ma il gallo canti
pure una quarta o una quinta volta,
che io - che trovata - m’ingegnerò a rinnegarmi
con i miei soli mezzi.

Ché i tempi non ubbidiscono alle richieste
e in tempo di spingarde
non si fan guerre pulite.
________________

Giuseppe Vermiglio
San Pietro e il gallo (1606)
...

Formigas ou A morte explicada às criancinhas


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Formigas ou A morte explicada às criancinhas
Formiche ovvero La morte spiegata ai fanciulli


1
Vê-se primeiro uma só formiga.
 
Parece perdida, enleada nas ervas,
movendo-se indecisa atrás e adiante,
sem saber muito bem que direcção tomar.

Lembra um turista que não sabe
em que país se encontra
nem entende a língua que ali se fala,
e procura orientar-se consultando um guia hostil
num lugar hostil.
 

2
Mas na verdade a formiga não está só.
Reparando melhor,
vêem-se por perto mais duas ou três,
com a mesma aparência irresoluta
e igualmente em busca de um sentido
para a sua errância —
 
— porque há uma voz que as amotina,
lhes fala de um destino prometido
às formigas desde o início de tudo.
 
 
3
Só mais tarde se percebe que essas poucas
formigas desgarradas fazem na verdade
parte de um plano inexorável
e anunciam o que está para chegar.
 
Elas são as batedoras
de um exército zeloso de milhões de formigas
que vão sem se deter aonde aquela voz
as leva: rato morto ou boião de compota.
 
Tudo o que é comestível
é um destino.
 
 
4
Como nada há na natureza que não tenha
um sentido encoberto, ou que não seja
espelho de alguma coisa mais vasta
e mais severa —
 
— estas formigas rapaces e em tropel,
que cumprem ordens sem cuidar de quem as dá,
são na verdade uma recordatória
de que, por mais venenos que se inventem,
por mais refúgios,
estamos indefesos contra elas,
seremos invadidos, subjugados,
pereceremos entre as tenebrosas
peças bucais da Formiga-Mor.
1
Dapprima si vede una formica sola.
 
Pare smarrita, confusa tra l’erba,
muovendosi indecisa avanti e indietro,
senza sapere bene che direzione prendere.
 
Ricorda un turista che non sa
in che paese si trovi
né comprende la lingua che vi si parla,
e cerca di orientarsi consultando una guida ostile
in un luogo ostile.
 

2
Ma in realtà la formica non è sola.
Osservando meglio,
se ne vedono lì accanto altre due o tre,
con lo stesso atteggiamento irresoluto
e ugualmente in cerca di un significato
per il proprio spaesamento —
 
— perché c’è una voce che le incita,
che parla loro d’un destino promesso
alle formiche fin dall’inizio di tutto.
 
 
3
Solo più tardi s’intuisce che quelle poche
formiche sbandate fanno in realtà
parte di un piano inesorabile
e annunciano ciò che sta per avvenire.
 
Esse sono l’avanguardia
d’un esercito solerte di milioni di formiche
che avanzano senza posa là dove quella voce
le porta: topo morto o barattolo di marmellata.
 
Tutto ciò che è commestibile
è un obiettivo.
 
 
4
Dato che non v’è nulla in natura che non abbia
un senso occulto, o che non sia
specchio di qualcosa di più vasto
e di più austero —
 
— queste formiche rapaci e in fermento,
che eseguono ordini senza curarsi di chi li dà,
sono in realtà un promemoria
del fatto che, per quanti veleni s’inventino,
per quanti rifugi,
noi siamo indifesi contro di loro,
saremo invasi, soggiogati,
soccomberemo dentro il tenebroso
apparato boccale della Grande Formica.
________________

Salvador Dali
Le formiche (1929)
...

Surpreende quão fácil é o amor...


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Surpreende quão fácil é o amor...
Sorprende quanto sia facile l’amore...


Surpreende quão fácil é o amor,
Como corre livre de um corpo a outro,
De uma alma a outra, mesmo tropeçando,
Confiado, em algum medo,
Mas correndo ainda, porque para isso é amor
Para correr assim, sem pressa,
Porque, mesmo devagar, tarda sempre
Para ser assim, inteiramente, um ritmo que é seu,
Para acontecer exactamente a uma hora,
A um momento que, previsivelmente,
Jamais esteve previsto, e ficar enquanto queira
Sem querer.

Sorprende quanto sia facile l’amore,
Come corra libero da un corpo all’altro,
Da un’anima all’altra, pur inciampando,
Risoluto, con un po’ di timore,
Ma correndo ancora, perché è fatto così l’amore
Per correre così, senza fretta,
Perché, anche se con lentezza, ritarda sempre
A tenere così, interamente, un ritmo che è suo,
Per arrivare esattamente a un dato istante,
A un momento che, prevedibilmente,
Mai era stato previsto, e per restare quanto voglia
Pur non volendo.

________________

Franco Costalonga
Arte cinetica (1991)
...

Advertência


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Advertência
Avvertenza


Nas laudas que aí ficam muito me esforcei,
senhores, por dar caça aos adjectivos
que tanto vos molestam.

Mas nem tudo correu bem.
Houve uns quantos que se barricaram
e ergueram cartazes e gritaram com ira
uma palavra de ordem:

- O sal da poesia somos nós!

Achei graça -
dizerem que são eles o sal da poesia,
quando nem sequer o colorau.

Mas, enfim, enterneceu-me
tanto arreganho, tanto apego
às tetas da musa -
e não tive coragem para os expulsar.

Espero que não pesem, senhores, demasiado
na melindrosa balança de vossas senhorias.
Nei fogli che qui vedete mi sono sforzato,
signori, di dar la caccia agli aggettivi
che tanto vi disturbano.

Ma non è andato tutto bene.
Ce ne son stati alcuni che si sono barricati
e hanno issato cartelli e gridato adirati
una parola d’ordine:

- Il sale della poesia siamo noi!

L’ho trovato ridicolo -
dire che sono loro il sale della poesia,
quando non son neppure un colorante.

Ma, alla fine, m’ha intenerito
tanta grinta, tanto attaccamento
alle tette della musa -
e non ho avuto il coraggio di cassarli.

Spero, signori, che non pesino troppo
sulla meticolosa bilancia delle signorie vostre.
________________

Andrea Kvas
Dettagli dallo studio (2011)
...

Filmitalus


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Filmitalus
Filmitalus


1
Quando se apagavam as luzes no Sonoro Cine
e no ecrã aparecia a palavra Filmitalus
a tremer como se estivesse à superfície
dum líquido sobre o qual fossem pingando
finas gotas de som (de cítara, parecia),

nós, que com quinze anos tínhamos entrado
(porque o polícia compincha fechou os olhos)
para um filme para maiores de dezoito,
já sabíamos que o filme que aí vinha
era dos 'tais' – quero dizer, dos que mostravam
beijos que escaldam, alguma coisa
das coxas de uma mulher, alguma coisa
duma cena de alcova,

não demasiado, mas o suficiente
para mais tarde, já entre lençóis,
ajustarmos contas com a actriz, mediante
os manejos solitários do costume –
aquilo a que, por riso e não por pudor,
dávamos o pitoresco nome de gaiola.

2
E isto no tempo em que Deus não era mais
que uma desajeitada
distorção de si mesmo e, pela severa
boca dos seus vigários, proibia
masturbações e manobras afins –

– o que, uma vez apaziguadas as hormonas,
nos trazia ressacas contritas, arrependimentos,
juras de que aquela tinha sido a última vez.

Mas agora pergunto eu:
se nos queria castos, arredados do corpo,
porque permitia Deus que se fizessem filmes assim
e houvesse mulheres como Anna Magnani
– que nos abrasavam e tão facilmente
forçavam as muralhas da nossa castidade?
1
Quando si spegnevano le luci al Sonoro Cine
e sullo schermo appariva la parola Filmitalus
tremolante come se si trovasse sulla superficie
di un liquido sul quale stessero gocciolando
fini stille di suono (di cetra, sembrava),

noi, che a quindici anni eravamo entrati
(perché l’amico gendarme aveva chiuso un occhio)
per vedere un film vietato ai minori di diciotto,
già sapevamo che il film che davano lì
era di “quelli là” – voglio dire, quelli che mostravano
baci che eccitavano, qualcosa
delle cosce di una donna, qualcosa
d’una scena di letto,

non troppo, ma il sufficiente
perché più tardi, già fra le lenzuola,
aggiustassimo i conti con l’attrice, mediante
i consueti maneggi solitari –
quello a cui, per ridere e non per pudore,
davamo il pittoresco nome di pippa.

2
E questo ai tempi in cui Dio non era
altro che una grossolana
distorsione di se stesso e, tramite la severa
bocca dei suoi vicari, proibiva
masturbazioni e manovre affini –

– il che, una volta acquietati gli ormoni,
ci procurava contriti malesseri, pentimenti,
giuramenti che sarebbe stata l’ultima volta.

Ma ora io mi domando:
se ci voleva casti, distaccati dal corpo,
perché Dio permetteva che si facessero film così
e ci fossero donne come Anna Magnani
– che ci infervoravano e tanto facilmente
forzavano i baluardi della nostra castità?
________________

La Rosa Tatuata
Locandina del film (1955)
...

A máquina de costura Husqvarna


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A máquina de costura Husqvarna
La macchina da cucire Husqvarna


1
Havia em casa uma máquina Husqvarna
e às vezes a Mãe sentava-se a ela
e costurava.

Curioso, a Mãe não conseguia
costurar calada. Isto é: tinha de cantar.
E cantava muito e bem. Dir-se-ia que
a costura exigia encenação
de que cantar era parte obrigatória.

Sentado ao pé dela, ficava fascinado
pelo picar obstinado da agulha sobre o pano
ao ritmo com que a Mãe impelia o pedal

— e o picar lembrava-me o afã das pombas
devorando em vaivém os grãos de milho
que meu Pai lhes atirava à porta da farmácia,
nos dias em que estava de maré.


2
Chegou porém o dia em que as dores nas costas
impediram a Mãe de costurar (mas não de cantar).

Ora, a fábrica Husqvarna, avisadamente,
à boa maneira sueca,
previa o caso de as mães não poderem costurar
e o corpo da máquina estava preparado
para, quando removido do uso normal,
se dobrar sobre si e embutir.

(Lembrava então uma ave exausta
que recolhe a cabeça sob a asa e cisma.)

Mas, como foi feita para ser útil,
sempre servia de mesa numa precisão.

Nunca mais vi pombas a debicar grãos de milho
no picar diligente da agulha.


3
Acho que ainda se fabricam coisas Husqvarna:
motocicletas, corta-relvas, moto-serras,
ferramentas prestimosas, praticáveis.

Mas aposto que nenhuma dessas coisas boas
tem mães a cantar nela nem sequer
lembra pombas a ninguém.
1
In casa c’era una macchina Husqvarna
e talvolta la Mamma vi si sedeva davanti
e cuciva.

Curioso, la Mamma non riusciva
a cucire in silenzio. Cioè: doveva cantare.
E cantava molto e bene. Si sarebbe detto che
cucire richiedeva una messinscena
di cui il cantare era una parte obbligatoria.

Seduto ai suoi piedi, io ero affascinato
dal picchiettare ostinato dell’ago sulla stoffa
al ritmo che la Mamma imprimeva al pedale

— e il picchiettare mi ricordava la foga dei colombi
che divoravano in un viavai i chicchi di miglio
che mio Papà tirava loro sulla porta della farmacia,
nei giorni in cui era di buon umore.


2
Ma giunse il giorno in cui il mal di schiena
impedì alla Mamma di cucire (ma non di cantare).

Ora, la ditta Husqvarna, avvedutamente,
secondo le buone usanze svedesi,
prevedeva il caso di mamme che non potessero cucire
e il corpo della macchina era predisposto
affinché, qualora rimosso dall’uso normale,
si ripiegasse su di sé e si richiudesse.

(Ricordava così un uccello stanco
che raccoglie il capo sotto l’ala e medita.)

Ma, poiché fu creata per esser utile,
serviva sempre da tavolino all’occorrenza.

Mai più vidi colombi becchettare chicchi di miglio
nel diligente picchiettar dell’ago.


3
Penso che si fabbrichino ancora delle cose Husqvarna:
motociclette, tagliaerba, motoseghe,
attrezzi utili, funzionali.

Ma scommetto che nessuna di queste belle cose
abbia delle mamme lì a cantare e tanto meno che
a qualcuno rammenti dei colombi.
________________

Edward Hopper
Ragazza alla macchina da cucire (1921)
...

Poeira


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Poeira
Polvere


A poeira que a noite levantou
enquanto ardia
ainda anda no ar e é seca como
uma pistola disposta a disparar.

E tarde assentará
essa poeira.

Só espero que quando repousar
sobre o tampo da mesa
seja tão espessa que eu possa escrever nela
à ponta do dedo
alguns madrigais.

Ou então heresias, se estiver
para aí virado.
La polvere che la notte ha sollevato
mentre stava bruciando
ancora gira nell’aria ed è secca come
una pistola pronta a sparare.

E si depositerà tardi
questa polvere.

Spero soltanto che quando riposerà
sul piano del mio tavolo
sia così spessa che io ci possa scrivere
con la punta del dito
qualche madrigale.

Oppure delle eresie, se di malumore
mi sarò svegliato.
________________

Masako Kamiya
Spirito giallo (2019)
...

Palavras


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Palavras
Parole


Faço a travessia da noite
acossado por palavras.

Saem-me ao caminho com os cães
que guardam hortas,
ladram-me, procuram
morder-me os calcanhares.

Indóceis, sempre soturnas,
as palavras?

Pois são.
Mas é com elas que deito
remendos trapalhões
nesta espécie de sono com que à toa
e ingenuamente julgo limitar
os danos com que, com suas baionetas,
a noite me danifica.
Faccio la traversata della notte
inseguito dalle parole.

Mi si piazzano sul sentiero coi cani
che fan la guardia agli orti,
mi ringhiano contro, cercando
di mordermi i calcagni.

Ribelli, sempre irritabili,
le parole?

E lo sono.
Ma è con loro che eseguo
dei frettolosi rammendi
in questa specie di sonno con cui a casaccio
e ingenuamente penso di limitare
i danni con cui, con le sue baionette,
la notte mi oltraggia.
________________

Giorgio Milani
Una rosa sola è tutte le rose (2008)
...

Pinturas rupestres


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Pinturas rupestres
Pitture rupestri


Pinturas rupestres:
O princípio do poema é o mesmo,
Figuram-se aí palavras
Que, magicamente, por simbiose,
Desejaríamos capturar.
E as palavras não são lugares
Onde remotas ecoam palavras,
Como imagens de imagens.

Pitture rupestri:
Il principio della poesia è lo stesso,
S’immagina che lì vi siano parole
Che, magicamente, per simbiosi,
Noi vorremmo catturare.
E le parole non sono luoghi
In cui remote riecheggino parole,
Come immagini d’immagini.

________________

Incisioni rupestri di Tanum (1700-500 a.C.)
Litseby, Svezia
...

Epígrafe


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Epígrafe
Epigrafe


Se algum dia alguém chegar a ler
este dizer agreste,
provavelmente pensará: que pálida lanterna;
não é deste metal que a luz é feita.

Calma. Pois não.

Mas quem assiduamente
visita os desvãos onde a noite se acoita
não precisa de mais que o clarão desta treva,
desta cegueira sem cão e sem bengala,
para no escuro rasgar o seu caminho
e nele ir progredindo às arrecuas.
Se un giorno qualcuno riuscirà a leggere
questo rustico scritto,
probabilmente penserà: che pallida lanterna;
non è di questo metallo ch’è fatta la luce.

Calma. Certo che no.

Ma a chi assiduamente
visita le soffitte ove la notte si raccoglie
non occorre altro che il chiarore di questa tenebra,
di questa cecità senza cane né bastone,
per rintracciare al buio la sua strada
e percorrerla camminando all’indietro.
________________

René Magritte
Donatore felice (1966)
...

Amar


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Amar
Amare


Amar foi durante muito tempo
gravar iniciais adolescentes,
no fuste das tílias.

Era então uma espécie
de idade de ouro do amor.

Mas tive de aprender à minha custa
que amar pode ser tão envolvente
como um polvo:
ama-se em muitas frentes.

Aprendi que amar, entre outras coisas,
é também navegar nas águas da noite
adultamente
sem bússola e sem cautelas,
à proa fugidia dum batel.

E que, em casos mais desesperados,
é ir aos trambolhões de mar em mar.
Tumultuosamente. Sem ser correspondido.
E em chamas, se preciso for.
Amare per molto tempo è stato
incidere le adolescenti iniziali
sul tronco dei tigli.

Allora era una specie
di età dell’oro dell’amore.

Ma dovetti imparare a mie spese
che amare ti può anche avviluppare
come un polpo:
si ama su molti fronti.

Ho imparato che amare, tra l’altro,
è anche navigare in acque notturne
adultamente
senza bussola né cautele,
sulla prua fuggiasca di un battello.

E che, nei casi più disperati,
è andare all’impazzata di mare in mare.
Tumultuosamente. Senza esser corrisposto.
E in fiamme, se fosse necessario.
________________

Ivan Aivazovsky
Mar Nero di notte (1874)
...

Vento


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Vento
Vento


1
Toda a noite fez vento sobre os campos.
Rodopiaram folhas mortas nos caminhos,
em busca de refúgio
onde o vento não viesse perturbar
a sua propensão para a inércia.

2
Também eu - folha morta ou em vias disso
que aspira às delícias da imobilidade -
busco algures abrigo contra essa
outra classe de vento que me abrasa,
desinquieta e toca a rebate
sinos sonoros no vazio sem limites
do meu interior.
1
Tutta la notte spirò il vento sopra i campi.
Volteggiarono foglie morte per le strade,
in cerca d’un rifugio
ove il vento non venisse a perturbare
la loro attitudine all’inerzia.

2
Anch’io - foglia morta o sul punto d’esserlo
che aspira alle delizie dell’immobilità -
perduto cerco riparo contro questa
altra specie di vento che mi devasta,
m’inquieta e suona a martello
cupi rintocchi nel vuoto sconfinato
dentro di me.
________________

Paul Klee
Wohin? (1919)
...

Punhal excelente


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Punhal excelente
Pugnale eccellente


Já quase não há, o punhal excelente
com que a mim próprio me esventrei algumas vezes
para melhor me desentranhar em versos –

– esse lícitos salpicos de lama,
essas coisas à toa, hossanas, ambições,
promessas, juras, astutas
ingenuidades: toda essa merda que há
dentro do poeta e com que ele gosta
de borrifar os outros. Para que
não se fiquem a rir.

E eis que agoniza: o gume rombo,
manchas inamovíveis de ferrugem,
incapaz de incisões, definitivamente
inoperacional o punhal excelente.

Paz ao seu aço.
Ormai non c’è quasi più, il pugnale eccellente
con cui certe volte ho sventrato me stesso
per meglio sviscerarmi in versi –

– quei legittimi schizzi di fango,
quelle cose a casaccio, osanna, ambizioni,
promesse, giuramenti, astute
ingenuità: tutta quella merda che c’è
dentro il poeta e con cui si compiace
di schizzare gli altri. Affinché
non si mettano a ridere.

Ed ecco che agonizza: la lama spuntata,
macchie indelebili di ruggine,
incapace d’incidere, definitivamente
inefficace il pugnale eccellente.

Pace all’acciaio suo.
________________

Anna Maria Maiolino
Glu Glu Glu (1966)
...

Pensando melhor


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Pensando melhor
Ripensandoci meglio


Mesmo em tardes muito quentes de Verão,
há sempre uma ave aventureira
que sobrevoa a terra.

(Pensando melhor, o que de facto há
é terra, apenas terra — que a seu tempo
há-de sobrevoar o voo das aves.)
Anche nei pomeriggi assai caldi d’estate,
c’è sempre un uccello temerario
che sorvola la terra.

(Ripensandoci meglio, quel che in effetti c’è
è terra, solamente terra — che a suo tempo
dovrà sorvolare il volo degli uccelli.)
________________

Leonardo da Vinci
Codice sul volo degli uccelli (1505)
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Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (20) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (429) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (21) Poemas Sociais (30) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)