Não choro


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Gomes Ferreira »»
 
Poeta Militante I (1977) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Não choro
Non piango


A dor não me pertence.

Vive fora de mim, na natureza,
livre como a electricidade.

Carrega os ceus de sombra,
entra nas plantas,
desfaz as flores...

Corre nas veias do ar,
atrai os abismos,
curva os pinheiros...

E em certos momentos de penumbra
iguala-me à paisagem,
Surge nos meus olhos
presa a um passaro a morrer
no céu indiferente.

Mas não choro. Não vale a pena!
A dor não é humana.
Il dolore non m’appartiene.

Vive fuori di me, nella natura,
libero come l’elettricità.

Grava i cieli d’ombra,
entra nelle piante,
disperde i fiori...

Corre nelle vene dell’aria,
attrae gli abissi,
curva gli abeti...

E in certi momenti di penombra
mi assimila al paesaggio,
Spunta nei miei occhi
insieme a un uccello morente
nel cielo indifferente.

Ma non piango. Non ne vale la pena!
Il dolore non è umano.
________________

Graham Sutherland
Albero caduto e tramonto (1940)
...

Heróicas - XXXVI


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Gomes Ferreira »»
 
Poeta Militante I (1977) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Heróicas - XXXVI
Eroiche - XXXVI


Cala-te, voz que duvida
e me adormece
a dizer-me que a vida
nunca vale o sonho que se esquece.

Cala-te, voz que assevera
e insinua
que a primavera,
a pintar-se de lua
nos telhados,
só é bela
quando se inventa
de olhos fechados
nas noites de chuva e de tormenta.

Cala-te, sedução
desta voz que me diz
que as flores são imaginação
sem raiz.

Cala-te, voz maldita
que me grita
que o sol, a luz e o vento
são apenas o meu pensamento
enlouquecido…

(E sem a minha sombra
o chão tem lá sentido!)

Mas canta tu, voz desesperada
que me excede.
E ilumina o Nada
com a minha sede.
Taci, voce che diffida
e m’assopisce
nel dirmi che la vita
mai vale il sogno, che poi svanisce.

Taci, voce che assicura
e insinua
che la primavera,
che s’imbelletta di luna
sopra i tetti,
è bella solamente
quando la s’inventa
ad occhi chiusi
nelle notti di pioggia e di tormenta.

Taci, seduzione
di questa voce che mi dice
che i fiori son solo immaginazione
senza radice.

Taci, voce dannata
che mi grida
che sole e luce e vento
sono soltanto il mio pensiero
impazzito…

(E senza la mia ombra
la terra perde significato!)

Ma canta tu, voce disperata
che mi sublima.
E di questa mia sete
il Nulla illumina.
________________

Vincent van Gogh
Ricordi del giardino di Etten (1888)
...

Heróicas - VIII


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Gomes Ferreira »»
 
Poeta Militante I (1977) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Heróicas - VIII
Eroiche - VIII


Sim, no século XX ainda se saqueiam 
cidades.  E  nos  séculos  XXI,  e XXII
e  XXIII...


Depois do saque
violaram a rapariga da sombra nua!

Ah! tenho vergonha do sol e da lua.
Vergonha das flores de sangue a chorar
(porque nem todo o orvalho cai do Ar).
Vergonha da sombra a seguir-me no chão
de rastos, como um bicho de solidão...
Vergonha das nuvens, das pedras que piso,
dos olhos das crianças a voarem de riso,
dos soluços das mães
(o pão que elas comem)
e dos uivos dos cães
na noite medonha
do fuzilamento
à luz dos archotes
-- com a sombra a tremer
no muro do vento.

(Mas o pior é que o Homem
tanto sujou a morte
que até tenho vergonha
de morrer.)
Sì, nel secolo XX ancora si saccheggiano 
città.  E  nei secoli  XXI,  e XXII
e  XXIII...


Dopo il saccheggio
violarono la fanciulla dall’ombra nuda!

Ah! mi vergogno del sole e della luna.
Mi vergogno dei fiori che piangono sangue
(perché non è tutta rugiada che cade dal Cielo).
Mi vergogno dell’ombra che mi segue per terra
esausta, come un animale di solitudine...
Mi vergogno delle nuvole, dei sassi che calpesto,
degli occhi dei bimbi che volano tra le risate,
dei singhiozzi delle madri
(pane di cui si nutrono)
e degli ululati dei cani
nell’orrida notte
della fucilazione
alla luce delle torce
-- con l’ombra tremante
sul muro di vento.

(Ma la cosa peggiore è che l’Uomo
a tal punto infangò la morte
che mi vergogno perfino
di morire.)
________________

Pieter Bruegel, il Vecchio
Giochi di bambini (1560)
...

Heróicas - VII


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Gomes Ferreira »»
 
Poeta Militante I (1977) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Heróicas - VII
Eroiche - VII


(Junto a minha voz ao coro dos poetas mais novos.
Recuso-me a ter mais de vinte anos.)


Não, não queremos cantar 
as canções azuis 
dos pássaros moribundos. 

Preferimos andar aos gritos 
para que os homens nos entendam 
na escuridão das raízes. 

Aos gritos como os pescadores quando puxam as redes 
em tardes de fome pitoresca para quadros de exposição. 
Aos gritos como os fogueiros que se lançam vivos nas
 fornalhas 
para que os navios cheguem intactos aos destinos dos
 outros. 
Aos gritos como os escravos que arrastaram as pedras
 no Deserto 
para o grande monumento à Dor Humana do Egipto. 
Aos gritos como o idílio dum operário e duma operária 
a falarem de amor 
ao pé duma máquina de tempestade 
a soluçar cidades de fome 
na cólera dos ruídos... 

Aos gritos, sim, aos gritos.

E não há melhor orgulho 
do que o nosso destino 
de nascer em todas as bocas... 

... Nós, os poetas viris 
que trazemos nos olhos 
as lágrimas dos outros.
(Unisco la mia voce al coro dei poeti più giovani.
Mi rifiuto d’aver più di vent’anni.)


No, non vogliamo cantare 
le azzurre canzoni 
degli uccelli morenti. 

Preferiamo procedere gridando 
perché gli uomini ci capiscano 
nell’oscurità delle radici. 

Gridando come i pescatori quando tirano le reti
in giorni di penuria pittoresca per quadri d’esposizione.
Gridando come i fochisti che si lanciano vivi dentro le
 caldaie
affinché le navi giungano indenni alle destinazioni degli
 altri.
Gridando come gli schiavi che trascinarono le pietre nel
 Deserto
per il grande monumento all’Umano Dolore dell’Egitto.
Gridando come nell’idillio d’un operaio e d’una operaia
che parlano d’amore
davanti ad una macchina di tempesta 
che singhiozza per città affamate 
nella collera dei boati... 

Gridare, sì, gridare.

E non v’è maggior orgoglio 
per il nostro destino 
che nascere sulle bocche di tutti... 

... Noi, gl’impavidi poeti 
che portano negli occhi
le lacrime degli altri.
________________

Francisco Goya
La forgia (1815-1820)
...

Dá-me a tua mão...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Gomes Ferreira »»
 
Poeta Militante I (1977) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Dá-me a tua mão...
Dammi la tua mano...


Dá-me a tua mão.

Deixa que a minha solidão
prolongue mais a tua
— para aqui os dois de mãos dadas
nas noites estreladas,
a ver os fantasmas a dançar na lua.

Dá-me a tua mão, companheira,
até o Abismo da Ternura Derradeira.
Dammi la tua mano.

Lascia che la mia solitudine
si sommi alla tua
— qui noi due con le mani allacciate,
nelle notti stellate,
guardiamo le ombre danzare sulla luna.

Dammi la tua mano, amica mia fedele,
fino all’Abisso della Tenerezza Finale.
________________

Lorenzo Quinn
Dare e prendere III (2014)
...

Chove...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Gomes Ferreira »»
 
Poeta Militante I (1977) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Chove...
Piove...


Chove...

Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?

Chove...

Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.
Piove...

Ma tutto ciò che importa!,
se io sto qui protetto da una porta
ascoltando la pioggia che cade dal cielo
una melodia di silenzio
che nessuno più ascolta
se non io?

Piove...

Ma fa parte del destino
di chi ama
udire un violino
perfino nel pantano.
________________

Ismael Nery
Due figure (1927)
...

Agora, apodrecer...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Gomes Ferreira »»
 
Poeta Militante I (1977) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Agora, apodrecer...
Ora, imputridire...


Agora, apodrecer.
Nas ruas, no suor das mãos amigas dos amigos, na pele
 dos espelhos...
desespero sorrido, carne de sonho público, montras
 enfeitadas de olhos...

... mas apodrecer.

Bolor a fingir de lua, árvores esquecidas do princípio
 do mundo...
"como estás, estás bem?", o telefone não toca! devorador
 de astros...

... mas apodrecer.

Sim, apodrecer
de pé e mecânico,
a rolar pelo mundo
nesta bola de vidro,
já sem olhos para aguçar peitos
e o sol a nascer todos os dias
no emprego burocrático de dar razão aos relògios,
cada vez mais necessários para as certidões da morte
 exata,

Sim, apodrecer ...

"... as mãos, a còlera, o frio, as pálpebras, o cabelo
a morte, as bandeiras, as lágrimas, a república, o sexo...

... mas apodrecer!
Sujar estrelas.
Ora, imputridire.
Per le vie, nel sudore delle mani amiche degli amici, nella
 pelle degli specchi...
angoscia esibita, carne di sogno pubblico, vetrine decorate
 d’occhi...

... ma imputridire.

Muffa che si finge luna, alberi dimenticati dal principio
 del mondo...
"come stai, stai bene?", il telefono non suona! divoratore
 d’astri...

... ma imputridire.

Sì, imputridire
in piedi e incosciente,
rotolando per il mondo
su questa palla di vetro,
ormai senz’occhi per rialzare seni
e col sole che nasce ogni giorno
con la funzione burocratica di dar ragione agli orologi,
sempre più indispensabili per i certificati di morte
 certa,

Sì, imputridire...

"... le mani, la collera, il freddo, le palpebre, i capelli,
la morte, le bandiere, le lacrime, la repubblica, il sesso...

... ma imputridire!
Lordare le stelle.
________________

Emilio Vedova
Immagine del tempo (1958-1959)
...

Que pena não ser eu...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Gomes Ferreira »»
 
Poesia VI (1976) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Que pena não ser eu...
Peccato non sia stato io...


Que pena não ser eu um dos primeiros
homens a inventar as palavras,
para criar a verdade!

Encontrei-as já todas feitas
umas doces, outras amargas,
estas rudes, aquelas imperfeitas,
acasos de som
– mar de espuma de gaivotas e vagas.

Com este cheiro tão bom
a realidade.
Peccato non sia stato io uno dei primi
uomini che inventarono le parole,
per creare la verità!

Le ho trovate tutte già fatte
certe dolci, altre amare,
queste rudi, quelle imperfette,
suoni casuali
– mare di spuma di gabbiani e onde.

Con questo buon odore
di realtà.
________________

Georges Lacombe
Effetto onda (1893)
...

A Poesia e a Vida saíram do mar


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Gomes Ferreira »»
 
Poesia VI (1976) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


A Poesia e a Vida saíram do mar
La Poesia e la Vita uscirono dal mare


Foi aqui,
nas tempestades do Mar da Mancha,
perdida no alarme
do labirinto de palavras cegas
a imaginarem-se rainhas.

Foi aqui,
aos tombos do sol agreste
das bocas noruegas
que tu, Poesia,
finalmente vieste
procurar-me
- vem de novo, vem! –
no suor das palavras
verdadeiramente minhas
a quererem tornar-se de ninguém.
Fu qui,
tra le tempeste del Canale della Manica,
perduta nell’allarme
del labirinto di parole cieche
che si sognarono regine.

Fu qui,
al calare del sole selvaggio
delle bocche norvegesi
che tu, Poesia,
finalmente venisti
a cercarmi
- vieni ancora, vieni! –
nel sudore di parole
veramente mie
bramose di non appartenere a nessuno.
________________

Edvard Munch
Onda (1921)
...

Elementos - XV


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Gomes Ferreira »»
 
Poesia IV (1970) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Elementos - XV
Elementi - XV


A nudez ensina os espelhos
a serem mar.
 
Sabor a sal inquieto,
tranparência de peixe
- e eu de súbito perdido
com os braços de pedra doida,
hirto
agarrado às ondas...
 
Longa paisagem de seios com nervos femininos
no revérbero mole
de se escaparem ao meu corpo
pesado de sol.
La nudità esercita gli specchi
ad esser mare.
 
Sapore di sale inquieto,
trasparenza di pesce
- ed io d’un tratto perduto
con le braccia di pietra dissennata,
rigido
aggrappato alle onde...
 
Lungo paesaggio di seni con nervi femminili
morbidamente riflessi
mentre sfuggono al mio corpo
appesantito dal sole.
________________

Andrius Labasauskas
Gone fishing 3 (2018)
...

É por causa dos anéis...


Nome:
 
Collezione:
Fonte:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (agosto 2022) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


É por causa dos anéis...
È a causa degli anelli...


É por causa dos anéis que os dedos se julgam reais –
E é a oposição entre a luz dentro
E a escuridão fora que dá consistência
Ao interior, diluindo o exterior?
O lugar é uma conjectura incongruente
E o que é que realmente nos torna reais:
Uma dívida, um número de telefone,
O nome de uma lápide?
A irrealidade irá dar o assalto final,
Baralhar interior e exterior,
Num roque inesperado,
Tudo nos consome, mas na realidade
O que é que nos consuma?

È a causa degli anelli che le dita si credono reali –
Ed è il contrasto tra la luce di dentro
E l’oscurità di fuori che dà concretezza
All’interno, stemperando l’esterno?
Il luogo è una congettura incongruente
Ed è ciò che realmente ci rende reali:
Un debito, un numero di telefono,
Il nome su una lapide?
Sarà l’irrealtà a dare l’assalto finale,
A rimescolare interno ed esterno,
In un arrocco imprevisto,
Tutto ci consuma, ma che cos’è
Che ci consuma in realtà?

________________

Paul Klee
Grande partita a scacchi (1937-39)
...

Que ando a esconder de mim...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Gomes Ferreira »»
 
Poesia III (1962) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Que ando a esconder de mim...
Che cosa sto nascondendo di me...


Que ando a esconder de mim
com estes gritos de unhas contra a injustiça do mundo
que só me deixam no coração
tédios de céu afogado?

Que ando a esconder de mim
com esta raiva do amor pelos outros,
a querer arrancar lágrimas de tudo
para as colar nos olhos vazios?

Que ando a esconder de mim
nesta agonia de escurecer a alma
para a confundir com a noite
– bandeira negra de todos os humilhados?

Que ando a esconder de mim
sem coragem de mostrar aos homens
a minha pobre dor,
tão débil e exígua,
que em vão oculto atrás de toda a dor humana
para a tornar maior?
Che cosa sto nascondendo di me
con queste grida graffianti contro l’ingiustizia del mondo
che nel mio cuore lasciano soltanto
un disgusto di cielo affogato?

Che cosa sto nascondendo di me
con questo rabbioso amore per gli altri,
col voler strappare lacrime da tutto
per incollarle sui miei occhi vuoti?

Che cosa sto nascondendo di me
con quest’affanno di offuscare l’anima
per confonderla con la notte
– bandiera nera di tutti gli umiliati?

Che cosa sto nascondendo di me
senza il coraggio di mostrare agli uomini
la mia squallida pena,
così esile e misera,
che occulto invano dietro tutto l’umano dolore
per farlo apparir maggiore?
________________

Samara Scott
Gargoyle (2021)
...

Pobre mendigo!


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Gomes Ferreira »»
 
Poesia III (1962) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Pobre mendigo!
Povero mendicante!


Pobre mendigo!
Queres uma mulher nua,
mas só tens a lua
para dormir contigo.
 
A lua – imagina –
que nem a um poeta
satisfaz!
- Sonâmbula mulher incompleta
com cabeça de menina
e corpo de gás…
Povero mendicante!
Vorresti una donna nuda,
ma non hai che la luna
che dorma al tuo fianco.
 
La luna – immagina –
che persino il poeta
ha deluso!
- Donna sonnambula e incompleta
con testa di bambina
e corpo gassoso…
________________

Juan Miró
Cane che abbaia alla luna (1926)
...

Fragmentos


Nome:
 
Collezione:
Fonte:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (agosto 2022) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Fragmentos
Frammenti


Como pessoa, sou o que puderam ver.
Como poeta, sou o que puderem ler.

Come persona, sono colui che s’è potuto vedere.
Come poeta, sono colui che si potrà leggere.

________________

Pablo Picasso
Il poeta (1904)
...

Devia morrer-se de outra maneira...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Gomes Ferreira »»
 
Poesia III (1962) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Devia morrer-se de outra maneira...
Si dovrebbe morire altrimenti...


     Na morte de Manuela Porto

Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos assistir
a despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os
 cabelos... )
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão sutil... tão pòlen...
como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de
  outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis...
     Per la morte di Manuela Porto

Si dovrebbe morire altrimenti.
Trasformarci in fumo, ad esempio.
O in nuvole.
Quando ci sentissimo stanchi, stufi dello stesso sole
che si reinventa tutte le mattine, convocare
gli amici più intimi con un biglietto d’invito
per il rito del Grande Dissolvimento: “Tal dei Tali comunica
alla V.S. Ill. che si trasformerà in nuvola, oggi
alle ore 9. Abito da passeggio”.
E allora, solennemente, con passi al rallentatore, abiti
scuri, occhi diafani da cerimonia, assisteremmo tutti
al commiato.
Calde strette di mano. Fremiti di tenerezza.
“Addio! Addio!”
E, poco a poco, lentamente, senza patimento,
con un languore capace di strappar radici...
(prima, gli occhi... successivamente, le labbra... e dopo i
 capelli...)
la carne, invece di decomporsi, comincerebbe a dissolversi
in fumo... così lieve... così sottile... così polline...
come quella nuvola lassù (vedete?) — in questa sera
  d’autunno
appena sfiorata dalle labbra azzurre del vento...
________________

René Magritte
Grande famiglia (1963)
...

Ah! Se eu imitasse a alegria...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Gomes Ferreira »»
 
Poesia III (1962) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Ah! Se eu imitasse a alegria...
Ah! Se io imitassi l’allegria...


Ah! Se eu imitasse a alegria das árvores e do vento
que riem sem motivo
 
Mas não. Ando triste.
 
Já não me contento em sentir-me vivo…
(E que outro destino existe?)
Ah! Se io imitassi l’allegria degli alberi e del vento
che ridono senza motivo
 
Ma no. Mi sento triste.
 
Ormai non m’accontento più di sentirmi vivo…
(E che altro destino esiste?)
________________

Vincent van Gogh
Pini al tramonto (1889)
...

Ah! Como te invejo...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Gomes Ferreira »»
 
Poesia III (1962) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Ah! Como te invejo...
Ah! Come t’invidio...


Ah! Como te invejo,
pássaro que cantas
o silêncio das plantas
-- alheio à tempestade.

Vives sem chão
ao sol a cantar
a grande ilusão
da liberdade...
(... com algemas de ar.)
Ah! Come t’invidio,
uccello che canti
il silenzio delle piante
-- incurante della tempesta.

Vivi senza terra
cantando al sole
la grande illusione
della libertà...
(... e son d’aria le tue catene).
________________

Joan Miró
Donna nella notte (1973)
...

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (433) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (11) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)