Estou olhando...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
António Ramos Rosa »»
 
A Rosa Esquerda (2009) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Estou olhando...
Sto guardando...


Estou olhando os frutos repousados
e as pequenas sombras alongadas
sobre a mesa de madeira e pedra.
A brisa entra por uma porta antiga.
Uma pétala branca cai de uma flor branca.
Sou, mais do que sou, estou
na perfeição das coisas que me envolvem.
Repouso na sinuosa exactidão.

Sto guardando i frutti riposati
e le piccole ombre allungate
sopra la tavola di legno e di pietra.
La brezza entra da una vecchia porta.
Un petalo bianco cade da un fiore bianco.
Sono, più ancora che essere, sto
nella pienezza delle cose che m’attorniano.
Riposo nella sinuosa perfezione.

________________

Isaac Soreau
Natura morta con frutti (1638)

Um corpo que se ama


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
António Ramos Rosa »»
 
Rosa Intacta (2007) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Um corpo que se ama
Un corpo che si ama


Para quem o deseja e quem o ama
um corpo é sempre belo no seu esplendor
e tudo nele é belo porque é sagrado
e, mesmo na mais plena posse, inviolável.

Um corpo que se ama é uma nascente viva
que de cada poro irrompe irreprimível
e toda a sua violência é a energia ardente
que gerou o universo e a fantasia dos deuses.

Tudo num corpo que se ama é adorável
na integridade viva de um mistério
na evidência assombrosa da beleza
que se nos oferece inteiramente nua.

Não há visão mais lucida do que a do desejo
e só para ela a nudez é sagrada
como uma torrente vertiginosa ou uma oferenda solar.
Esse olhar vê-o inteiro na perfeição terrestre.

Per chi lo desidera e lo ama
un corpo è sempre bello nel suo splendore
e tutto è bello in lui perché è sacro
e, pur se posseduto in pieno, inviolabile.

Un corpo che si ama è una sorgente viva
che da ogni poro irrompe irrefrenabile
e tutta la sua irruenza è l’energia ardente
che generò l’universo e la fantasia degli dei.

Tutto in un corpo che si ama è adorabile
nella vivida interezza d’un mistero
nella sorprendente evidenza della bellezza
che s’offre a noi interamente nuda.

Non c’è vista più lucida di quella del desiderio
e per lei soltanto la nudità è sacra
come una corrente vertiginosa o una donazione solare.
Questo sguardo lo vede per intero nella perfezione terrestre.

________________

Amedeo Modigliani
Cariatide (1913)

Origem


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
António Ramos Rosa »»
 
O Poeta na Rua (2005) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Origem
Origine


É preciso queimar os livros e calarmo-nos
Esta é a matéria bárbara a matéria viscosa
Aqui a vida conduz a uma ruptura
a mão procura a suavidade firme
tacteia e segue as suas linhas de força as primícias
[de um acorde

Fascinante ameaça
veneno que oculta vida nova
uma seiva já
um sabor dos gestos que tremem e que sabem

A palavra mais viva é a mais inesperada é a palavra nua

Eis o domínio interdito e obscuro
impenetrável
balbuciante memória do que não é a memória
luz que irriga as coisas em vez de de as iluminar
sinal de uma madrugada de uma irradiação múltipla
Aqui começará o meu ritmo a minha melodia
Respiro já pela garganta do poema

Deixamos a segurança e a certeza
ante o arco da única pergunta
Somos a ruptura e o fluxo na falha
e subimos talvez para
a vertente de um silêncio que ascende constelado

Subversiva é a respiração desta palavra
surpresa de um ritmo e de um espaço
numa terra sem caminho

É um fogo líquido que abrasa este trajecto
Uma fé muscular uma fé lúcida
faz latir estas palavras subterrâneas

Para chegar às palavras que dão vida
por um desenlace uma inconfessável evidência
Uma plenitude? Uma luz? Uma pobreza?
Numa terra queimada as crianças que brincam na poeira
Eis a poesia do efémero a fluidez vivaz
Pára detém-te junto deste muro arruinado
perto de uma pedra Palpa o grão de luz
segregada Toca nessa crepitação porosa
Modela na origem a matéria dos sinais

Escreve mas para dissipar o que está escrito

Bisogna che si brucino i libri e si taccia
Questa è materia barbara materia viscosa
Qui la vita conduce a una rottura
la mano cerca una dolcezza stabile
tastando segue le sue linee di forza le premesse
[d'un accordo

Allettante minaccia
veleno che occulta nuova vita
una linfa già
un sapore di gesti che tremano e che sanno

La parola più viva è la più inattesa è la parola nuda

Ecco il dominio proibito e oscuro
impenetrabile
memoria balbuziente di ciò che non è la memoria
luce che irriga le cose invece di illuminarle
segno di un’aurora di un’irradiazione multipla
Comincerà qui il mio ritmo la mia melodia
Respiro già con la gola della poesia

Lasciamo la sicurezza e la certezza
davanti all'arco dell’unica domanda
Siamo la rottura e il flusso nel vuoto
e forse noi risaliamo lungo
il versante d'un silenzio che ascende costellato

Sovversivo è il respiro di questa parola
sorpresa d'un ritmo e d’uno spazio
in una terra senza cammino

È un fuoco liquido che incendia questo tragitto
Una fede muscolare una fede lucida
che fa abbaiare queste parole sotterranee

Per giungere alle parole che danno vita
per una catarsi una prova inconfessabile
Una pienezza? Una luce? Una povertà?
Su d’una terra bruciata i bimbi che giocano nella polvere
Ecco la poesia dell'effimero la vivace fluidità
Fermati, resta presso questo muro diroccato
vicino a una pietra Palpa il granello di luce
isolato Tocca questo crepitio poroso
Modella alla sua origine la materia dei segni

Scrivi ma per disperdere quel ch’è scritto

________________

Vincent van Gogh
Contadino che brucia sterpaglie (1883)

Onde a poesia se exibe...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
António Ramos Rosa »»
 
O Sol é Todo o Espaço (2002) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Onde a poesia se exibe...
Dove la poesia s’esibisce...


Onde a poesia se exibe como um espectáculo espectacular
não é poesia
onde a audácia do poema não é única
não é poesia
onde a poesia não é inocência de natureza fluvial
não é poesia
onde a poesia não é escandalosamente pura
não é poesia
onde a poesia não é filha do deserto nem da sede
não é poesia
onde a poesia não é presença viva que nasce
[da solidão e da ausência
não é poesia
onde a poesia não se oferece no seu abandono
não é poesia
onde a poesia não é poesia
não é poesia

Dove la poesia s’esibisce come uno spettacolo spettacolare
non è poesia
dove l’audacia del poema non è unica
non è poesia
dove la poesia non è innocenza di natura fluviale
non è poesia
dove la poesia non è scandalosamente pura
non è poesia
dove la poesia non è figlia del deserto o della sete
non è poesia
dove la poesia non è presenza viva che nasce
[dalla solitudine e dall’assenza
non è poesia
dove la poesia non si offre nel suo abbandono
non è poesia
dove la poesia non è poesia
non è poesia

________________

Marc Chagall
Il violinista verde (1923)

Não é a altura...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
António Ramos Rosa »»
 
O Aprendiz Secreto (2001) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Não é a altura...
Non è il momento...



Não é a altura de afirmar nada.
Non è il momento d’affermare nulla.
Tudo deve permanecer oculto na sua pura inanidade (e unanimidade) inabordável.
Tutto deve rimanere occulto nella sua mera inanità (e unanimità) inaccessibile.
Este respeito absoluto é a condição de uma possível germinação futura e a única mediação de um enigma que se confunde com a própria respiração do construtor.
Questo assoluto rispetto è la condizione d'una possibile germinazione futura e l’unica mediazione d'un enigma che si confonde con il respiro stesso del costruttore.

________________


Rito dionisiaco
Affresco della Villa dei Misteri a Pompei (I sec. a.C.)

Um poema é sempre escrito...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
António Ramos Rosa »»
 
Deambulações oblíquas (2001) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Um poema é sempre escrito...
Una poesia è sempre scritta...


Um poema é sempre escrito numa língua estrangeira
com os contornos duros das consoantes
com a clara música das vogais
Por isso devemos lê-lo ao nível dos seus sons
e apreendê-lo para além do seu sentido
como se ele fosse um fluente felino verde ou com a cor do fogo
O que de vislumbre em vislumbre iremos compreendendo
será a ágil indolência de sucessivas aberturas
em que veremos as labaredas de um outro sentido
tão selvagem e tão preciosamente puro que anulará o sentido das palavras
É assim que lemos não as palavras já formadas
mas o seu nascimento vibrante que nas sílabas circula
ao nível físico do seu fluir oceânico

Una poesia è sempre scritta in una lingua straniera
coi duri contorni delle consonanti
con la limpida musica delle vocali
Perciò dobbiamo leggerla in base ai suoi suoni
e intenderla al di là del suo significato
come se fosse un flessuoso felino verde o del color del fuoco
Quel che d’indizio in indizio riusciremo a comprendere
sarà la sciolta indolenza delle successive aperture
ove scorgeremo le fiamme d’un altro senso
così grezzo e così preziosamente puro che annienterà il senso delle parole
È per questo che leggiamo non le parole già formate
ma la loro nascita vibrante che circola nelle sillabe
al livello fisico del loro flusso oceanico

________________

Rita Frasca Odorizzi
Lo Spirito Bambino (2000)

Talvez a escrita seja...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
António Ramos Rosa »»
 
Deambulações oblíquas (2001) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Talvez a escrita seja...
Forse la scrittura è...


Talvez a escrita seja uma expansão do universo
e o que parece fantasia ou arbitrários lances
seja a lucidez da energia cósmica
As palavras concentram-se e propagam-se como uma concha ou uma onda
e a arte está no equilibrio do seu movimento
para dentro e do seu movimento para fora
Das suas narinas jorram duas correntes contrárias
uma branca outra vermelha que se enlaçam
formando um rio azul do dia habitável
A sua respiração é a indolência verde
da sua fantasia da matéria viva
e essa fantasia é a transparência mesma
da palavra nua aberta à melodia
do universo em elementar efusão
Entre os flancos do mundo o poema é um cavalo ébrio
com um único olho de cristal por onde o sol se engolfa
e cuja luz se repercute em delicadas linhas
da energia unânime do seu peito inacabado

Forse la scrittura è un’espansione dell'universo
e quel che pare fantasia o arbitrarie trovate
sono la lucidità dell'energia cosmica
Le parole si contraggono e si propagano come una conchiglia o un’onda
e l’arte si trova nell'equilibrio del loro movimento
verso l'interno e del loro movimento verso l'esterno
Dalle sue narici sgorgano due correnti contrarie
una bianca un’altra rossa che si fondono
formando il fiume blu del giorno abitabile
Il suo respiro è la verde indolenza
della sua fantasia di materia viva
e questa fantasia è la trasparenza stessa
della nuda parola aperta alla melodia
dell'universo in primordiale effusione
Tra i fianchi del mondo, la poesia è un cavallo ebbro
con un unico occhio di cristallo dove il sole s’insinua
e la cui luce si ripercuote in delicate linee
dall'energia unanime del suo petto incompiuto

________________

Georges Seurat
Circo (1891)

Estou vivo mas...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
António Ramos Rosa »»
 
Deambulações oblíquas (2001) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Estou vivo mas...
Sono vivo ma...


Estou vivo
mas quero viver
Não quero salvar-me porque não posso salvar-me
porque a salvação não existe
Perdi o meu percurso
e tudo o que herdei de mim próprio
No mundo as palavras não compensam
a violência absurda do sofrimento
Na página elas podem ser a invenção
de um frémito perante um corpo nu
É na palavra que se acende a minha vida
mas a minha vida sobra sempre como uma cauda cinzenta
Por que é o infortúnio a norma
e não há resgate para a morte?
O mundo é estranho mas irrefutável
na sua contínua sucessão que nos transcende
e passa sobre nós como se não existíssemos
Teremos acaso que nos unir e reinventar as nossas vidas
para que os deuses nasçam do nosso desamparo?
O silêncio conduz-nos à sua infinita fronteira
mas o ócio iluminado pode vogar na casa
como se estivéssemos entre palmeiras e araucárias
Toda a viagem é um regresso ao ponto de partida
para partir de novo entre a água e o vento.

Sono vivo
ma voglio vivere
Non voglio salvarmi perché non posso salvarmi
perché la salvezza non esiste
Ho perso la mia strada
con tutto ciò che da me stesso ho ereditato
Al mondo le parole non compensano
la violenza assurda della sofferenza
Sulla pagina esse possono essere l'invenzione
d'un fremito al cospetto d’un corpo nudo
È nella parola che s’accende la mia vita
ma la mia vita si lascia sempre dietro una scia grigia
Perché è la sventura la norma
e non c’è riscatto per la morte?
Il mondo è strano ma incontestabile
nella sua perenne continuità che ci trascende
e passa su di noi come se non esistessimo
Dovremo per caso unirci e reinventare le nostre vite
perché gli dei rinascano dal nostro squallore?
Il silenzio ci conduce alla sua infinita frontiera
ma l’ozio illuminato può trastullarsi per casa
come se ci trovassimo tra palme e araucarie
Tutto il viaggio è un ritorno al punto di partenza
per ripartire ancora tra l’acqua e il vento.

________________

Giorgio de Chirico
Archeologi (1968)

Estou a ver aquele homem...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
António Ramos Rosa »»
 
Deambulações oblíquas (2001) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Estou a ver aquele homem...
Sto vedendo quell’uomo...


Estou a ver aquele homem que está
Todos os seus músculos estão
no estar
A sua visão é a coincidência do ócio
e a sua respiração faz mover as nuvens
Um cavalo espreita na folhagem
e o silêncio não se altera mas torna-se visível
É um momento privilegiado um momento natural
Nenhuma fantasia nenhuma inquietação
Eu sou o que estou a ver o homem que está
e sou no seu estar
Não poderia querer mais do que esta visão
porque sei que é tudo o que posso receber
e tudo o que sou neste momento

Sto vedendo quell’uomo che sta lì
Tutti i suoi muscoli stanno
in quello stare
Il suo vedere coincide con l'inerzia
e il suo respiro fa spostare le nuvole.
Un cavallo scruta tra il fogliame
e il silenzio non s’altera ma diventa visibile
È un momento privilegiato un momento naturale
Nessuna fantasia, nessuna inquietudine
Io sono quello che sta guardando l'uomo che sta lì
e sono in quel suo stare
Non potrei volere nulla di più che questa visione
perché so che è tutto quello che posso ottenere
e tutto ciò che io sono in questo momento

________________

Edward Hopper
Clamdigger (1935)

Da substância ao quarto...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
António Ramos Rosa »»
 
Ciclo do Cavalo (1975) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Da substância ao quarto...
Dalla sostanza all’alcova...


Da substância ao quarto a substância cresce
pelo amor de uma árvore ou de um brinquedo fácil.
Tu despes-te. Alegria de tão suave seio.
A substância cresce com o cavalo aceso.

Quem regula o manejo que faz vibrar o verde?
Quem une as fibras e alarga as estreitas vértebras?
O animal avança para uma praça forte
onde as varandas todas abrem o céu inteiro.

Esta é a terra das moitas de sol, das dunas
e dos grilos. Pernas fortes, seios de lança,
a rapariga avança sobre um cavalo sem sela.
Dalla sostanza all’alcova la sostanza cresce
per amore d’un albero o d’un semplice gioco.
Tu ti spogli. La gioia d’un soffice seno.
La sostanza cresce con l’impeto del cavallo.

Chi controlla il congegno che fa vibrare il verde?
Chi unisce le fibre e allarga le strette vertebre?
L’animale avanza verso una piazzaforte
ove tutte le verande s’aprono al cielo intero.

Questa è la terra delle fronde di sole, delle dune
e dei grilli. Salde le gambe, turgidi i seni,
avanza la ragazza che monta a pelo il cavallo.
________________

Kounalis Giorgos
Erotokritos (La giostra) 1966

A caixa de costura


Nome :
 
Collezione :
Fonte :
 
Altra traduzione :
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (dicembre 2019) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


A caixa de costura
Il cestino del cucito


Voltei. A ternura da mãe,
O amor austero do pai
Esparzem sobre mim
E o tempo abandona a idade
Para correr inumeravelmente pelos sóis.
Voltei. Sinto o cheiro
E vejo alguns objectos habitados
Pela lenta e freática trama dos símbolos:
A caixa da costura, os livros,
Os quartos, a mesa, as cortinas.
Voltei. A casa prolifera pela luz,
Recebe-me, eu pertenço.
Voltei como quem emerge
Das águas da absolvição.
Ali está ela, a caixa da costura.

Sono tornato. Le premure di mamma,
L’amore austero del papà
Si spargono su di me
E il tempo abbandona l’età
Per correre illimitatamente tra i soli.
Sono tornato. Sento il profumo
E vedo alcuni oggetti abitati
Dalla lenta e freatica trama dei simboli:
Il cestino del cucito, i libri,
Le stanze, il tavolo, le tende.
Sono tornato. La casa pullula di luce,
M’accoglie, le appartengo.
Sono tornato come chi emerge
Dalle acque dell’assoluzione.
E il cestino del cucito è ancora lì.

________________

Stanhope Forbes
La finestra sul porto (1910)
...

Entre mim e ele...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
António Ramos Rosa »»
 
Deambulações oblíquas (2001) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Entre mim e ele...
Tra lui e me...


Entre mim e ele há uma relação mimética
Se me movo ele move-se
se estou quieto ele mantém-se imóvel

Não sei se sou eu que me duplico
se é um outro de mim que emerge
Às vezes julgo que estou diante de um espelho
e não me reconheço
e todavia ele retrata a aparência da minha identidade
Mas é nos raros momentos em que tudo está assente
como se o mundo fosse definitivo
que encontro o alento para me manter calmo
e nada esperar já que tudo é a germinação do ócio
quando a luz promete o que nunca dá
e apesar disso o instante é a culminação voluptuosa
de ser tudo o que pode ser à beira do impossível

Tra lui e me c’è una relazione mimetica
Se io mi muovo lui si muove
se sto tranquillo lui si mantiene immobile

Non so se sono io che mi duplico
o se è uno diverso da me che emerge
Talvolta penso di stare davanti a uno specchio
e non mi riconosco
benché questo rimandi l'effigie della mia identità.
Ma è nei rari momenti in cui tutto è assente
come se il mondo fosse definitivo
che trovo il coraggio di mantenermi calmo
e non aspettarmi nulla giacché tutto germina per inerzia
quando la luce promette quel che non dà mai
e ciò nonostante l'istante è la culminazione voluttuosa
d'essere tutto ciò che può essere al limite dell'impossibile

________________

René Magritte
La riproduzione vietata (1937)

Alguns dizem que...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
António Ramos Rosa »»
 
Deambulações oblíquas (2001) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Alguns dizem que...
Certi dicono che...


Alguns dizem que eu escrevo de mais
como se tivesse escrito alguma coisa
Não, todas as minhas inscrições foram acenos
a algo que nunca atingi
e que era a única coisa que eu desejava dizer

Sei hoje que talvez não fosse nada
mas seria a descompressão a nulidade liberta
que restabeleceria a circulação solar
nas palavras e nos músculos na visão da terra
Seria a maravilha a surpreendente simplicidade

Quis envolver-me na sombra e subir com a sombra
e a sombra era o fogo não o lume tranquilo
da lucidez e do verde das árvores
Apenas entrevi o ouro da água
e não me banhei nela não a sulquei com um barco de folhas
Dispersei-me na areia sem me apagar
e fui sempre uma sombra obstinada

Certi dicono che io scrivo troppo
come se avessi scritto qualcosa
No, tutti i miei scritti sono stati accenni
a qualcosa che non ho mai centrato
e che era l’unica cosa che volessi dire

Oggi capisco che forse non era niente
ma servirebbe da decompressione da genuina vacuità
che ristabilirebbe la circolazione solare
nelle parole e nei muscoli nella visione della terra
Sarebbe la meraviglia la sorprendente semplicità

Ho voluto circondarmi d’ombra e con l'ombra salire
e l'ombra era il fuoco non la fiamma tranquilla
della lucidità e del verde degli alberi
Ho appena intravisto l’oro dell’acqua
e non mi ci bagnai non la solcai con una barca di foglie
Mi son disperso nella sabbia senza svanire
e sempre sono stato un’ombra ostinata

________________

Alighiero Boetti
Segno e disegno (1978)

Agrípia


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
António Ramos Rosa »»
 
Nomes de Ninguém (1997) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Agrípia
Agrípia


Agrípia, foi a partir de ti que eu renasci
na luminosa corola de um sorriso
e os meus navios cinzentos e perdidos
seguiram a bondade do teu rumo.
Esta casa não seria a minha casa
se não fosse a tua branca arquitectura
e o teu hálito límpido que me guarda
nas suas tranquilas coordenadas.
Por ti o horizonte está em casa
e nele eu vivo contigo a ondulada
permanência da alma iluminada.

Agrípia, è grazie a te ch’io son rinato
nella luminosa corolla d'un sorriso
e i miei vascelli grigi e smarriti
hanno seguito la generosità del tuo richiamo.
Questa casa non sarebbe la mia casa
se non ci fosse la tua bianca architettura
e il tuo alito limpido che mi ripara
tra le sue tranquille coordinate.
Grazie a te ho l’orizzonte in casa
e in esso io vivo con te l’oscillante
permanenza dell'anima illuminata.

________________

Frida Kahlo
Lucha Maria, la ragazza di Tehuana (1942)

É por ti que vivo...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
António Ramos Rosa »»
 
O Teu Rosto (1994) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


É por ti que vivo...
È per te che vivo...


Amo o teu túmido candor de astro
a tua pura integridade delicada
a tua permanente adolescência de segredo
a tua fragilidade acesa sempre altiva

Por ti eu sou a leve segurança
de um peito que pulsa e canta a sua chama
que se levanta e inclina ao teu hálito de pássaro
ou à chuva das tuas pétalas de prata

Se guardo algum tesouro não o prendo
porque quero oferecer-te a paz de um sonho aberto
que dure e flua nas tuas veias lentas
e seja um perfume ou um beijo um suspiro solar

Ofereço-te esta frágil flor esta pedra de chuva
para que sintas a verde frescura
de um pomar de brancas cortesias
porque é por ti que vivo é por ti que nasço
porque amo o ouro vivo do teu rosto

Amo il tuo turgido candore d’astro
la tua pura e delicata integrità
la tua eterna adolescenza segreta
la tua ardente e altera fragilità

Per te io sono la lieve sicurezza
d'un cuore che pulsa e canta la sua fiamma
che s’innalza e s’inchina al tuo alito d'uccello
o alla pioggia dei tuoi petali d'argento

Se custodissi un tesoro, non lo terrei per me
perché a te io voglio offrire la pace d'un sogno aperto
che permanga e fluisca lento nelle tue vene
e che sia un profumo o un bacio un sospiro solare

Io t’offro questo fragile fiore questa pietra di pioggia
perché tu senta la verde frescura
d'un frutteto di bianche cortesie
perché è per te che vivo ed è per te che nasco
perché amo l'oro vivo del tuo volto

________________

Gustav Klimt
Ritratto di Adele Bloch-Bauer (1907)

É por ti que escrevo...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
António Ramos Rosa »»
 
O Teu Rosto (1994) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


É por ti que escrevo...
È per te che scrivo...


É por ti que escrevo que não és musa nem deusa
mas a mulher do meu horizonte
na imperfeição e na incoincidência do dia-a-dia

Por ti desejo o sossego oval
em que possas identificar-te na limpidez de um centro
em que a felicidade se revele como um jardim branco
onde reconheças a dália da tua identidade azul

É porque amo a cálida formosura do teu torso
a latitude pura da tua fronte
o teu olhar de água iluminada
o teu sorriso solar

é porque sem ti não conheceria o girassol do horizonte
nem a túmida integridade do trigo
que eu procuro as palavras fragrantes de um oásis
para a oferenda do meu sangue inquieto

onde pressinto a vermelha trajectória de um sol
que quer resplandecer em largas planícies
sulcado por um tranquilo rio sumptuoso

È per te che scrivo per te che non sei musa né dea
ma la donna del mio orizzonte
nell'imperfezione e nella non-coincidenza del quotidiano

A te io auguro l’ovale quiete
in cui tu possa identificarti nella limpidezza d'un centro
in cui la felicità si riveli come un giardino bianco
ove tu riconosca la dalia dalla tua azzurra identità

È perché io amo l’ardente bellezza del tuo petto
la pura latitudine della tua fronte
il tuo sguardo d’acqua luminosa
il tuo sorriso solare

è perché senza te non conoscerei il girasole dell'orizzonte
né la tumida integrità del grano
che io cerco le fragranti parole d'un’oasi
per l'offerta del mio sangue inquieto

ove presagisco la rossa traiettoria di un sole
che chiede di risplendere su ampie pianure
solcate dalla sontuosità d’un tranquillo fiume

________________

Trono Ludovisi
Bassorilievo greco classico (460-450 a.C.)

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (433) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (11) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)