Congresso Internacional do Medo


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Congresso Internacional do Medo
Congresso Internazionale della Paura


Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo
das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas
e medrosas

Momentaneamente non canteremo l’amore,
che s’è rifugiato al di sotto dei sotterranei.
Canteremo la paura, che sterilizza gli abbracci,
non canteremo l’odio, perché non esiste,
esiste appena la paura, nostra madre e compagna,
la grande paura delle savane, dei mari, dei deserti,
la paura dei soldati, la paura delle madri, la paura delle
chiese,
canteremo la paura dei dittatori, la paura dei democratici,
canteremo la paura della morte e la paura del dopo morte.
Dopo moriremo di paura
e sopra i nostri sepolcri nasceranno fiori giallognoli e
spauriti.

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Felix Nussbaum
Orgelmann (1943)
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A noite dissolve os homens


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A noite dissolve os homens
La notte dissolve gli uomini


A noite desceu. Que noite!
Já não enxergo meus irmãos.
E nem tão pouco os rumores
que outrora me perturbavam.
A noite desceu. Nas casas,
nas ruas onde se combate,
nos campos desfalecidos,
a noite espalhou o medo
e a total incompreensão.
A noite caiu. Tremenda,
sem esperança… Os suspiros
acusam a presença negra
que paralisa os guerreiros.
E o amor não abre caminho
na noite. A noite é mortal,
completa, sem reticências,
a noite dissolve os homens,
diz que é inútil sofrer,
a noite dissolve as pátrias,
apagou os almirantes
cintilantes! nas suas fardas.
A noite anoiteceu tudo…
O mundo não tem remédio…
Os suicidas tinham razão.
 
Aurora,
entretanto eu te diviso, ainda tímida,
inexperiente das luzes que vais acender
e dos bens que repartirás com todos os homens.
Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
adivinho-te que sobes, vapor róseo, expulsando
a treva noturna.
O triste mundo fascista se decompõe ao contato
de teus dedos,
teus dedos frios, que ainda se não modelaram
mas que avançam na escuridão como um sinal verde
e peremptório.
Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
minha carne estremece na certeza de tua vinda.
O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes
se enlaçam,
os corpos hirtos adquirem uma fluidez,
uma inocência, um perdão simples e macio…
Havemos de amanhecer. O mundo
se tinge com as tintas da antemanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir tuas pálidas faces, aurora.

È scesa la notte. Che notte!
Non distinguo già più i miei fratelli.
E ancor meno i rumori
che mi disturbavano un tempo.
È scesa la notte. Nelle case,
nelle vie dove si combatte,
nelle campagne moribonde,
la notte ha seminato la paura
e l’incomprensione totale.
È scesa la notte. Tremenda,
senza speranza… I sospiri
accusano la nera presenza
che paralizza i guerrieri.
E l’amore non apre sentieri
nella notte. La notte è mortale,
completa, senza reticenze,
la notte dissolve gli uomini,
dice che è inutile soffrire,
la notte dissolve le patrie,
ha cancellato gli ammiragli
scintillanti! nelle loro uniformi.
La notte ha tutto abbuiato…
Per il mondo non c’è rimedio…
Avevano ragione i suicidi.
 
Aurora,
frattanto io t’intravvedo, timida ancora,
inesperta delle luci che accenderai
e dei beni che tra tutti gli uomini ripartirai.
Sotto l’umido velo di furori, lamenti e umiliazioni,
t’immagino che sali, roseo vapore, scacciando la
tenebra notturna.
Il triste mondo fascista si decompone al contatto delle
tue dita,
le tue fredde dita, che ancora non han preso forma
ma che avanzano nell’oscurità come un segnale verde
e perentorio.
La mia fatica in te troverà la sua fine,
la mia carne freme nella certezza della tua venuta.
Il sudore è un dolce linimento, le mani dei sopravvissuti
si giungono,
i corpi irrigiditi acquistano una scioltezza,
un’innocenza, un perdono semplice e tenero…
Stiamo per veder il giorno. Il mondo
si tinge con le tinte dell’alba
e il sangue che scorre è dolce, giacché essenziale
per colorire le tue pallide gote, aurora.

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Anselm Kiefer
Transizione dal Freddo al Caldo (2014)
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Soneto da perdida esperança


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Soneto da perdida esperança
Sonetto della speranza perduta


Perdi o bonde e a esperança.
Volto pálido para casa.
A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo.

Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princípio do drama e da flora.

Não sei se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
por que não? na noite escassa

com um insolúvel flautim.
Entretanto há muito tempo
nós gritamos: sim! ao eterno.

Ho perso il tram e la speranza.
Pallido ritorno a casa.
Inutile è la strada e nessun’auto
passerebbe sul mio corpo.

Salirò la dura salita
in cui i cammini si fondono.
Quei cammini che conducono
al principio del dramma e della flora.

Non so se sto soffrendo
o se è qualcuno che si diverte
perché no? nella notte esigua

con un insolito flauto.
E tuttavia, da molto tempo
stiamo gridando: sì! all’eterno.

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František Kupka
Il cammino del silenzio (1903)
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Segredo


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Segredo
Segreto


A poesia é incomunicável.
Fique torto no seu canto.
Não ame.

Ouço dizer que há tiroteio
ao alcance do nosso corpo.
É a revolução? o amor?
Não diga nada.

Tudo é possível, só eu impossível.
O mar transborda de peixes.
Há homens que andam no mar
como se andassem na rua.
Não conte.

Suponha que um anjo de fogo
varresse a face da terra
e os homens sacrificados
pedissem perdão.
Não peça.

La poesia è incomunicabile.
Sii contorto nel tuo canto.
Non amare.

Sento dire che stanno sparando
ad altezza d’uomo.
È la rivoluzione? l’amore?
Non ne parlare.

Tutto è possibile, sono io l’impossibile.
Il mare trabocca di pesci.
C’è gente che cammina sul mare
come se camminasse per strada.
Non raccontarlo.

Supponi che un angelo di fuoco
ripulisca la faccia della terra
e gli uomini sacrificati
implorino perdono.
Non implorare.

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Auguste Préault
Il Silenzio (1842-1843)
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Necrológio dos desiludidos do amor


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Necrológio dos desiludidos do amor
Necrologio dei disillusi dall’amore


Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.

Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.

Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia.

Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e de segunda classe).

Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.

I disillusi dall’amore
si stanno sparando pallottole nel petto.
Dalla mia stanza sento l’artiglieria.
Le amate smaniano per il piacere.
Oh quanto materiale per i giornali.

Disillusi sì, ma fotografati,
hanno scritto lettere chiarificatrici,
hanno adottato tutti i riguardi
per il rimorso delle amate.
Pum pum pum addio, o mia tediata.
Io parto, tu rimani, ma ci rivedremo
nell’azzurro cielo o nel lugubre inferno.

I medici stanno facendo l’autopsia
dei disillusi che si sono uccisi.
Che cuori grandi possedevano.
Viscere immense, trippe sentimentali
e uno stomaco colmo di poesia.

Andiamo ora al cimitero
a portare i corpi dei disillusi
competentemente incassati
(passioni di prima e di seconda classe).

I disillusi proseguono da illusi,
senza cuore, senza trippe, senza amore.
L’unica fortuna, i loro denti d’oro
non serviranno come pegno finanziario
e coperti di terra perderanno il fulgore
mentre le amate danzeranno un samba
scatenato, violento, sulle loro tombe.

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Edouard Manet
Suicida (1877)
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Não se mate


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Não se mate
Non ucciderti


Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanha não beija,
depois de amanha é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
Amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.

Carlos, tranquillo, l'amore
è quel che tu vedi:
oggi baci, domani non baci,
dopodomani è domenica
e lunedì nessuno sa
che mai sarà.

È inutile resistere
oppure suicidarsi.
Non ucciderti, oh non ucciderti,
preservati tutt’intero per
le nozze che nessuno sa
quando verranno,
se mai verranno.

È l'amore, Carlos, essere ctonio,
la notte ti ha attraversato,
e le rimozioni si sublimano,
là dentro un rumore indicibile,
preghiere,
grammofoni,
santi che si segnano,
réclame del miglior sapone,
rumore che nessuno sa
di cosa e per cosa.

Frattanto tu cammini
malinconico e verticale.
Tu sei la palma, tu sei il grido
che nessuno a teatro ha sentito
e tutte le luci si spengono.
L'amore al buio, no, alla luce,
è sempre triste, Carlos, figlio mio,
ma non dir niente a nessuno
nessuno lo sa né lo saprà.

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Nicola Figlia
Memorie (2019)
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Aurora


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Aurora
Aurora


O poeta ia bêbedo no bonde.
O dia nascia atrás dos quintais.
As pensões alegres dormiam tristíssimas.
As casas também iam bêbedas.

Tudo era irreparável.
Ninguém sabia que o mundo ia acabar
(apenas uma criança percebeu mas ficou calada),
que o mundo ia acabar às 7 e 45.
Últimos pensamentos! últimos telegramas!
José, que colocava pronomes,
Helena, que amava os homens,
Sebastião, que se arruinava,
Artur, que não dizia nada,
embarcam para a eternidade.

O poeta está bêbedo, mas
escuta um apelo na aurora:
Vamos todos dançar
entre o bonde e a árvore?

Entre o bonde e a árvore
dançai, meus irmãos!
Embora sem música
dançai, meus irmãos!

Os filhos estão nascendo
com tamanha espontaneidade.
Como é maravilhoso o amor
(o amor e outros produtos).
Dançai, meus irmãos!
A morte virá depois
como um sacramento.

Il poeta era sbronzo sul tram.
Il giorno nasceva dietro i cortili.
Le pensioni allegre dormivano tristissime.
Persino le case erano sbronze.

Tutto era ineluttabile.
Nessuno sapeva che il mondo stava per finire
(solo un bimbo lo intuì ma rimase in silenzio),
che il mondo stava per finire alle 7 e 45.
Ultimi pensieri! Ultimi telegrammi!
José, che aggiungeva pronomi,
Helena, che amava gli uomini,
Sebastião, che stava andando in rovina,
Artur, che non diceva niente,
s’avviano verso l'eternità.

Il poeta è sbronzo, ma
sente un richiamo nell'aurora:
Andiamo tutti a ballare
fra il tram e l'albero?

E fra il tram e l'albero
ballate, fratelli miei!
Sebbene senza musica
ballate, fratelli miei!

I figli stanno nascendo
con estrema spontaneità.
Com’é bello l’amore
(l’amore e altri prodotti).
Ballate, fratelli miei!
La morte poi verrà
come un sacramento.

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Paul Delvaux
Il treno blu (1946)
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Também já fui brasileiro...


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Também já fui brasileiro...
Anch’io un tempo ero brasiliano...


Eu também já fui brasileiro
moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
e aprendi na mesa dos bares
que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
e todas as virtudes se negam.

Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho,
minha poesia perturbou-se.

Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isso, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
meus inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.
Hoje não deslizo mais não,
não sou irônico mais não,
não tenho ritmo mais não.

Anch’io un tempo ero brasiliano
bruno come voi.
Ho pizzicato una chitarra, guidato una ford
e al tavolino dei bar ho imparato
che il nazionalismo è una virtù.
Ma c’è un’ora in cui si chiudono i bar
e tutte le virtù si ripudiano.
 
Anch’io un tempo ero poeta.
Bastava che guardassi una donna,
e subito pensavo alle stelle
e ad altri sostantivi celesti.
Ma erano tante, e così vasto il cielo,
che la mia poesia ne fu sconvolta.
 
Anch’io un tempo avevo il mio ritmo.
Facevo questo, dicevo quello.
E mi volevano bene i miei amici
e mi odiavano i miei nemici.
Io, ironicamente, glissavo
soddisfatto d’avere un mio ritmo.
Ma ho finito con lo scompigliare tutto.
Oggi non sorvolo più, no,
non sono più ironico, no,
non ho neanche più il ritmo, no.

________________

Emiliano di Cavalcanti
Senza titolo (1950)
...

Sentimental


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Sentimental
Sentimentale


Ponho-me a escrever teu nome
com letras de macarrão.
No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
e debruçados na mesa todos contemplam
esse romântico trabalho.

Desgraçadamente falta uma letra,
uma letra somente
para acabar teu nome!

Está sonhando? Olhe que a sopa esfria!

Eu estava sonhando...
E há em todas as consciências um cartaz amarelo:
"Neste país é proibido sonhar."

Mi accingo a scrivere il tuo nome
con lettere di pastina.
Nel piatto, si fredda la minestra, piena d'occhietti
e sporgendosi sul tavolo tutti contemplano
questo lavoro romantico.

Per disgrazia manca una lettera,
una lettera soltanto
per finire il tuo nome!

Stai sognando? Guarda che si fredda la minestra!

Sì, stavo sognando...
E c'é in tutte le coscienze un cartellone giallo:
"In questo paese è proibito sognare."

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Annibale Carracci
Il Mangiafagioli (1584-1585)
...

Quadrilha


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Quadrilha
Quadriglia


João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

João amava Teresa che amava Raimundo
che amava Maria che amava Joaquim che amava Lili
che non amava nessuno.
João partì per gli Stati Uniti, Teresa per il convento,
Raimundo perì in un disastro, Maria rimase zitella,
Joaquim si suicidò e Lili sposò J. Pinto Fernandes
che non era entrato in quella storia.

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Edvard Munch
La danza della vita (1900)
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Apodrecemos no medo...


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Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (dicembre 2020) »»
 
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Apodrecemos no medo...
Nella paura imputridiamo...


Apodrecemos no medo,
Somos varados nas searas de sombra
Pelas sementes de outros olhos,
Olhos que vêem além do que é.
Apodrecemos no medo
E das nossas cinzas, renascemos,
Muro imune.

Nella paura imputridiamo,
Siamo spazzati via nei campi d’ombra
Dalle sementi d’altri occhi,
Occhi che vedono oltre ciò che è.
Nella paura imputridiamo
E dalle nostre ceneri, rinasciamo,
Muro immune.

________________

Salvador Dalí
Il volto della guerra (1940)
...

Poesia


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Poesia
Poesia


Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.

Un'ora ho sprecato pensando ad un verso
che la penna non vuol scrivere.
Lui però sta qui dentro
inquieto, vivo.
Se ne sta qui dentro
e non vuole uscire.
Ma la poesia di questo momento
inonda la mia vita intera.

________________

Norman Rockwell
La luce fa la differenza (1925)
...

Poema de Sete Faces


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Poema de Sete Faces
Poesia a sette facce


Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

Quando son nato, un angelo sghembo
di quelli che vivono in ombra
mi ha detto: Vai, Carlos, sii gauche nella vita.

Le case spiano gli uomini
che corrono dietro le donne.
La sera forse sarebbe azzurra,
se non ci fossero tanti desideri.

Passa il tram ed è pieno di gambe:
gambe bianche nere e gialle.
Perché tante gambe, mio Dio, si chiede il mio cuore.
I miei occhi però
non chiedono nulla.

L'uomo dietro ai suoi baffi
è serio, semplice e forte.
A stento conversa.
Ha pochi, rari amici
l'uomo dietro ai baffi e agli occhiali.

Mio Dio, perché m’hai abbandonato
pur sapendo che io non ero Dio
pur sapendo che io ero fragile.

Mondo mondo vasto mondo,
se io mi chiamassi Raimondo
sarebbe una rima, ma non una soluzione.
Mondo mondo vasto mondo,
più vasto è il mio cuore.

Non dovrei dirtelo
ma questa luna
ma questo cognac
mi emozionano maledettamente.

________________

Oliver Quinto
Caricatura di Carlos Drummond de Andrade (1951)
...

No meio do caminho


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No meio do caminho
Nel mezzo del cammino


No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nel mezzo del cammino c'era una pietra
c'era una pietra nel mezzo del cammino
c'era una pietra
nel mezzo del cammino c'era una pietra.

Non mi scorderò mai di quell'avvenimento
nella vita delle mie stanche retine.
Non mi scorderò mai che nel mezzo del cammino
c'era una pietra
c'era una pietra nel mezzo del cammino
nel mezzo del cammino c'era una pietra.

________________

Giuseppe Penone
Idee di pietra (2008)
...

Infância


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Infância
Infanzia


Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho, menino entre mangueiras
lia história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu
chamava para o café.
café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu... não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito
E dava um suspiro... que fundo !

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.

Mio padre montava a cavallo e andava in campagna.
Mia madre restava seduta a cucire.
Il mio fratellino dormiva.
Io bambino tutto solo in mezzo ai manghi
leggevo la storia di Robinson Crusoe,
lunga storia che non finisce mai.

Nel mezzogiorno bianco di luce una voce che ai tempi lontani
della schiavitù aveva imparato a cantare nenie - mai scordate
chiamava per servire il caffè.
un caffè nero più nero della vecchia negra
caffè delizioso
caffè buono

Mia madre restava seduta a cucire
e guardando verso di me:
- Shh... non svegliare il piccino.
Sulla culla s’era posato un moscerino
E mandava un sospiro... profondo !

Lontano mio padre cavalcava
nell’immensa boscaglia della fattoria.

E io non sapevo che la mia storia
era più bella di quella di Robinson Crusoe.

________________

Granger
Robinson Crusoe (1920)
...

A rua diferente


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A rua diferente
La via è diversa


a minha rua estão cortando árvores
botando trilhos
construindo casas.

Minha rua acordou mudada.
Os vizinhos não se conformam.
Eles não sabem que a vida
tem dessas exigências brutas.

Só minha filha goza o espetáculo
e se diverte com os andaimes,
a luz da solda autógena
e o cimento escorrendo nas formas.

Nella mia via stanno tagliando alberi
posando binari
costruendo case.

La mia via s’è svegliata diversa.
I vicini non ci si abituano.
Loro non sanno che nella vita
c’è bisogno di queste crudeltà.

Solo mia figlia si gode lo spettacolo
e si diverte con le impalcature,
la luce della saldatrice autogena
e il cemento che scorre nelle armature.

________________

Yves Tanguy
Il Ponte (1925)
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Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (432) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (22) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (4) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)