Linhas aéreas


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Eucanaã Ferraz »»
 
Retratos com erro (2019) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Linhas aéreas
Linee aeree


Comer no avião é triste.

Só há um prato: ilusão.
A comida não existe.
Aceitamos. Mastigamos.
O som das batatas chips
quebrando-se contra os dentes
é o rádio que nos embala
com sua gordura e seu plástico.

Poucas coisas são mais tristes

do que comer no avião.
Diante da mesa retrátil
aguardamos enganados.
Tudo não passa de alpiste.
Somos pássaros de acrílico
e éramos tigres famintos
de banquetes improváveis.

Ter de comer no avião.

Pobres de nós – como é triste.
E se os mortos retornassem?
E se os deuses existissem
pisando o mesmo tapete?
O que diríamos nós
de tamanha humilhação
e do acanhado apetite?

Coca zero. Tudo zero.

Metendo o nariz nas nuvens
– nas tristes tripas de nuvem
das nuvens – comer é triste
e é nada se não comemos
estrelas ou pelo menos
um bife que se pareça
com elas – a luz! – quem dera.
Mangiare in aereo è triste.

C’è un solo piatto: illusione.
Il cibo non esiste.
Accettiamo. Mastichiamo.
Il rumore delle patatine chips
che si spezzano tra i denti
è la radio che ci culla
con il suo grasso e la sua plastica.

Poche cose sono più tristi

che mangiare in aereo.
Davanti al tavolino ribaltabile
aspettiamo sprovveduti.
Tutto non è altro che becchime.
Siamo uccelli d’acrilico
e eravamo tigri affamate
di improbabili banchetti.

Dover mangiare in aereo.

Poveri noi – com’è triste.
E se i morti ritornassero?
E se gli dei esistessero
e calpestassero la stessa moquette?
Che ne diremmo noi
di una tale umiliazione
e di questo timido appetito?

Coca zero. Tutto zero.

Ficcando il naso tra le nuvole
– nelle tristi viscere di nuvola
delle nuvole – mangiare è triste
ed è nulla se non mangiamo
stelle o per lo meno
una bistecca che sia simile
a loro – la luce! – magari!
________________

Andy Warhol
Five Coke Bottles (1962)
...

De porto em porto…



Nome:
 
Collezione:
Fonte:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (novembre 2025) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


De porto em porto…
Di porto in porto…


De porto em porto,
O cabelo amadurece.
As fábulas tornam-se finas,
As histórias desdentadas
E as palavras atingiram o cume do rosto,
O vento semeou nelas o canibalismo.
A palavra mínima 
Alberga nos seus desvãos um “tsunami”.
Di porto in porto,
I capelli maturano.
Le favole s’assottigliano,
Le storie ormai sdentate
E le parole hanno raggiunto l’apice del volto,
Il vento ha disseminato fra loro il cannibalismo.
La minima parola
Cova nei suoi recessi uno “tsunami”.
________________

Efim Volkov
Onda (1910)
...

Foto


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Eucanaã Ferraz »»
 
Retratos com erro (2019) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Foto
Foto


Eis o retrato sem nenhum retoque:
agora é o tempo da canção imóvel
sob a sombra do teu rosto assim quieto
o que era o sol agora é sono e tédio
o que vibrava agora é vidro opaco
agora é o tempo do verso estragado
pela ilusão de nos bastarmos nele
a madrugada se apagou na pele
o meu carinho agora é um gesto seco
é o teu silêncio que me diz é o tempo
de um céu deserto céu sem céu o certo
é fecharmos as portas esquecermos
a hora é grande agora e nos separa
por letras mortas como um dicionário
entre os teus dedos foram-se as cidades
e há muitas pedras nos meus olhos áridos.
Este o retrato sem nenhum retoque.
Ecco il ritratto senza alcun ritocco:
ora è il momento della canzone immobile
all’ombra del tuo viso così quieto
quel ch’era sole ora è sonno e tedio
quel che vibrava ora è vetro opaco
ora è il momento del verso rovinato
dall’illusione di bastare a noi stessi in esso
l’alba s’è cancellata dalla tua pelle
il mio affetto ora è un gesto secco
è il tuo silenzio che mi dice è il tempo
di un cielo desolato cielo senza cielo è giusto
chiudere le porte e dimenticare
che il momento è grande ora e ci separa
con lettere morte come un dizionario
tra le tue dita sono svanite le città
e ci sono molte pietre nei miei occhi aridi.
Questo è il ritratto senza alcun ritocco.
________________

Gerhard Richter
Ritratto di Ema (1965)
...

A sua pessoa


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Eucanaã Ferraz »»
 
Retratos com erro (2019) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


A sua pessoa
La tua figura


Minha mulher tem cabelos inabaláveis
estão cada dia mais longos são cabelos
que não param de crescer na extensão
de um giro completo de minha mulher sobre si mesma.
Irradiam-se do alto seguem pelos ombros vão nos
 calcanhares
e os seios se iluminam quando ela anda em modos de
 salgueiro.
Minha mulher cresce parece que leva uma fonte com ela.
Lavo perfumo escovo seus cabelos faço isso
 pacientemente
como um servo e posta sob a cabeleira radiosa assim
já não se vê o antigo rosto de minha dona é preciso
 adivinhar
ou recordá-lo. Essa mulher de cabelos escuros e
 tremendos
desde que a vi pela primeira vez nos casamos
e não paramos de avançar contra os cabeleireiros
contra o fogo contra os livros contra as leis que nos
 casaram.
Beijei seus cabelos quando escrevi o verso no qual
 começa o mundo
e será desse modo
até que o sangue me arraste para fora de suas franjas.
Cabelos de mulher. Durmo entre eles. Acordo.
Minha mulher seus cabelos e eu moramos na mesma
 casa.
Mia moglie ha capelli irriducibili
sono ogni giorno più lunghi sono capelli
che non cessano di crescere in lunghezza
fanno un giro completo di mia moglie sopra sé stessa.
S’irradiano dall’alto passano sulle spalle scendono ai
 talloni
e i seni s’illuminano quando lei cammina con movenze
 di salice.
Mia moglie cresce pare che rechi in sé una fonte.
Lavo profumo spazzolo i suoi capelli e faccio questo
 pazientemente
come un servo e stando sotto questa chioma così radiosa
già non si vede più l’antico volto della mia signora occorre
 indovinarlo
o ricordarselo. Questa donna con quei capelli scuri e
 tremendi
da quando la vidi per la prima volta ci siamo sposati
e non smettiamo di lottare contro i parrucchieri
contro il fuoco contro il libri contro le leggi che ci hanno
 uniti.
Baciai i suoi capelli quando scrissi il verso col quale
 comincia il mondo
e tutto continuerà in questo modo
finché il sangue non mi trascini fuori dalle sue ciocche.
Capelli di donna. Dormo in mezzo a loro. Mi sveglio.
Mia moglie i suoi capelli ed io dimoriamo nella stessa
 casa.
________________

Edvard Munch
La spilla (1903)
...

Visão


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Eucanaã Ferraz »»
 
Escuta (2015) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Visão
Visione


Seria fácil comparar as araucárias a candelabros.
Mas eu digo que elas se parecem com aquele rapaz

que, braços, cabelos, surgiu devagar
sob a luz de junho, úmida de orvalho.

Veio em minha direção.

E trazia o horizonte
nos seus ombros largos.
Sarebbe facile paragonare le araucarie a candelabri.
Ma io dico che assomigliano a quel ragazzo

che, braccia, capelli, è spuntato pian piano
sotto la luce di giugno, umida di rugiada.

Veniva nella mia direzione.

E portava l’orizzonte
sulle sue larghe spalle.
________________

Danzatore etrusco (affresco)
Tomba del Triclinio (V sec. a. C.)
...

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Adão Ventura (41) Adélia Prado (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (40) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antonio Brasileiro (41) Antonio Osorio (42) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Antônio Cícero (40) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (113) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eucanãa Ferraz (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (40) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (30) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) Jorge Sousa Braga (40) Jorge de Sena (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Régio (41) José Saramago (40) José Tolentino de Mendonça (42) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Luis Filipe Castro Mendes (40) Lêdo Ivo (33) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (33) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mario Quintana (38) Micheliny Verunschk (40) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Mário Cesariny (34) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (516) Paulo Leminski (43) Pedro Mexia (40) Poemas Sociais (30) Poemas dos dias (29) Pássaro de vidro (52) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (48) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)