Estação término


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Régio »»
 
Cântico Suspenso (1968) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Estação término
Stazione finale


Como um navio no mar
A meio da noite a casa,
E o vento e a chuva em redor.
Lá dentro, a um canto do lar
Onde um bom tronco se abrasa,
O homem sentado espera.
Se alguém chegar,
Terá luz, terá calor.
Batem à porta. Quem dera
Que fosse realidade!
Já teve tais decepções
O homem que há tanto espera!
Mas agora, alguém batera
Que chega da tempestade,
Que percorreu solidões...
«Entre quem é!» Pode ser
Alguém que venha roubar,
Assassinar, ofender...
«Entre quem é!» Não importa
Se alguém vem que bate à porta.
O homem só quer abrir.
Chegou, por fim, a saber
Que, venha lá quem vier,
Seja quem for,
Só um dos dois pode ser
Desde que não a fingir:

A Morte, o Amor.
Come sul mare un bastimento
Nel cuor della notte la casa,
E tutt’intorno pioggia e vento.
Là dentro, vicino al focolare
Dove un bel ciocco sta ardendo,
L’uomo seduto è in attesa.
Se giungerà qualcuno,
Troverà luce e calore.
Battono alla porta. Chissà
Che non sia realtà!
Ha sofferto già tante delusioni
L’uomo che da tanto è in attesa!
Ma ora, ha bussato qualcuno
Che viene dalla tempesta,
Dopo aver percorso solitudini...
«Avanti chi è!» Può essere
Qualcuno che venga per rubare,
Uccidere, offendere...
«Avanti chi è!» Non importa
Se qualcuno viene a battere alla porta.
L’uomo non desidera che aprire.
È riuscito, infine, a capire
Che, chiunque stia per venire,
Non importa chi sia,
Solamente uno dei due può essere
Salvo che non sia un impostore:

La Morte, l’Amore.
________________

Edvard Munch
Autoritratto (1923-24)
...

Poema


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Régio »»
 
Filho do Homem (1961) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Poema
Poesia


Crispou-se a minha mão sobre o teu sexo,
Fecharam-se-me os olhos sem querer…
De que abismos voava até ao fundo?
E a minha mão sondava
E triturava
Aquele mundo
Tão pequenino e tão complexo:
O teu mistério de mulher.
Mi si rattrappì la mano sopra il tuo sesso,
Mi si chiusero gli occhi, senza ch’io volessi...
Di quale abisso stavo volando al fondo?
E la mia mano esplorava
E stritolava
Quel mondo
Così piccino eppur complesso:
Il tuo mistero di donna.
________________

Henri de Toulouse-Lautrec
A letto (1893)
...

Ode a Eros


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Régio »»
 
Filho do Homem (1961) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Ode a Eros
Ode a Eros


Eros, Cupido, Amor, pequeno Deus travesso
Com quem todos brincamos!
Brincando nos ferimos,
Ferindo-nos gozamos,
Se rimos já choramos,
Mal que choramos rimos...
Já, voltados do avesso,
Por igual o voltamos,
O torturamos nós como ele nos tortura,
Descemos aos recessos da criatura...

Pequenino gigante!
Sonhava, ou não sonhava,
Quem te representou risonho e pequenino
Que de Hércules a clava
Não pesa como pesa a tua mão de infante,
Nem seu furor destrói
Como nos dói
Teu riso de menino?

Nas tuas leves setas
Nas flâmulas gentis
Que cantam os poetas
E os namorados juvenis,
Que longos ópios e letais licores,
Que pântanos de lodo e que furores,
Que grinaldas de louros e de espinhos,
Que abissais labirintos de caminhos!

Mascarilha de seda e de veludo
Sob a qual o olhar brilha, a boca ri,
Que olhar ambíguo ou mudo,
Que boca atormentada
Não terás além ti
Na mascarada?

Pai da Crueldade e da Piedade,
Filho do Crime e da Beleza,
Que infante serás tu, que, desde que há Idade,
Aos Ícaros opões a mesma astral parede,
E os Lázaros susténs dos restos dessa mesa
Em que se bebe sempre a mesma sede,
Se come
A mesma fome?

Divindade nocturna
Que te cinges de rosas,
Suprema fúria mascarada
Que a porta abres do céu... escancarada
Sobre o negro vazio duma furna,
Que a urna de cristal nas mãos formosas
Vens ofertar às bocas sequiosas
E escorres sangue do cristal da urna,
Que tens tu afinal, ao fundo da caverna
Sempre aos mortais vedada:
A eterna morte... o nada,
Ou a vida eterna?
Eros, Cupido, Amore, piccolo Dio ribaldo
Con cui tutti giochiamo!
Giocando ci feriamo,
Ferendoci godiamo,
Se ridiamo poi piangiamo,
Dopo aver pianto subito ridiamo. . .
Già, voltati a rovescio,
Del pari lo rivoltiamo,
ci tortura,
Scendendo ai recessi della creatura...

Minuscolo gigante!
Sognava, o non sognava,
Chi ti rappresentò ridente e piccino
Che d’Ercole la clava
Non pesa quanto pesa la tua mano d’infante,
Né il suo furor distrugge
Quanto ci affligge
Il tuo sorriso di bambino?

Nei tuoi lievi strali
Nelle fiammelle gentili
Che cantano i poeti
E i giovani innamorati,
Che spossanti morfine e letali liquori,
Che pantani di limo e che furori,
Che ghirlande d’alloro e di spini,
Che abissali labirinti lungo i cammini!
 
Mascherina di seta e di velluto
Sotto cui lo sguardo brilla, la bocca ride,
Che sguardo ambiguo o muto,
Che bocca tormentata
Non vedrai a te innanzi
Nella mascherata?

Padre di Crudeltà e di Pietà,
Figlio del Crimine e della Bellezza,
Che pargolo sarai tu, che, da tempo immemorabile,
Agli Icari frapponi la stessa parete astrale,
E i Lazzari sostenti coi resti della tavola
Ove si beve sempre la stessa sete,
Si mangia
La stessa fame?

Divinità notturna
Tu che t’adorni di rose,
Suprema furia mascherata
Tu che apri la porta del cielo... spalancata
Sopra il nero vuoto d’una grotta,
Tu che l’urna di cristallo nelle mani aggraziate
Vieni ad offrire alle bocche assetate
E versi sangue dal cristallo dell’urna,
Che cosa tieni tu infine, in fondo alla caverna
Sempre agli uomini preclusa:
L’eterna morte... il nulla,
O la vita eterna?
________________

William-Adolphe Bouguereau
Sussurri d'amore (1825-1905)
...

Novo epitáfio para um poeta


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Régio »»
 
Filho do Homem (1961) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Novo epitáfio para um poeta
Nuovo epitaffio per un poeta


Na terra nua, as asas desdobraram,
Espigaram,
Deram flor.
Se ali passar alguém
Que tenha o olfacto fino e o dom do humor,
Dirá que aquele morto é um amor:
Dá flor e cheira bem.
Sulla nuda terra, le ali si spiegarono,
Misero spighe,
Diedero fiori.
Se di lì passerà qualcuno
Che abbia fine olfatto e buon umore,
Dirà che quel morto è un amore:
Dà fiori ed emana un buon profumo.
________________

Robert Combas
Senza titolo (1994)
...

Novo epitáfio para uma velha donzela


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Régio »»
 
Filho do Homem (1961) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Novo epitáfio para uma velha donzela
Nuovo epitaffio per una vecchia donzella


Não conheceu do amor as vãs complicações
Nem o prazer e as suas decepções.
Por isso é que os fiéis das sensações
Tiveram sua vida por frustrada.
Viveu de leve, humilde e afável, encerrada
No mistério sem mito em que morreu.
Da sua vida mais intensa, nada
Chegou ao mundo, que não era seu.

Sobre esta laje fria,
Por memória
Dessa ignorada história
Inscreveu esta coisa fugidia
Aquele de quem foi secretamente amada.
Dell’amor non conobbe le vane complicazioni
Né il piacere e le sue delusioni.
Ed è perciò che i seguaci delle sensazioni
Ritennero la sua vita frustrata.
Visse sobriamente, umile e gentile, racchiusa
Nel mistero senza mito in cui morì.
Della sua vita più intensa, nulla
Giunse al mondo, che non era suo.

Su questa fredda lapide,
In memoria
Di questa storia ignorata
Incise questo ricordo labile
Colui che l’ha segretamente amata.
________________

Edvard Munch
Karen sulla sedia a dondolo (1883)
...

A minha voz pode esquecer-te…



Nome:
 
Collezione:
Fonte:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (aprile 2025) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


A minha voz pode esquecer-te…
La mia voce ti può dimenticare…


A minha voz pode esquecer-te,
Mas não o meu silêncio.
De sofrer por ti fiz a minha casa –
O escárnio e o absurdo
Passam sempre, por mais que durem.
A casa fica.
Que me esqueças é a única morte,
O único deserto.
La mia voce ti può dimenticare,
Ma il mio silenzio, no.
Dello struggermi per te ho fatto la mia casa –
Il disprezzo e l’assurdo
Passano sempre, pur se lunghi a durare.
La casa resta.
Che tu mi dimentichi è l’unica morte,
L’unico deserto.
________________

Vilhelm Hammershøi
Danza della polvere al sole (1900)
...

Natureza


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Régio »»
 
Filho do Homem (1961) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Natureza
Natura


Meus versos que afinal sois naturais
Como as rosas, os montes, as nascentes,
De que abismos chegais?
Desceis de que vertentes?

E as cândidas de neve ou rubras como lume
Naturais rosas dos poetas,
Mergulham em que estrume
As raízes secretas?

De monte em monte o eco se responde
Dos montes naturais por i além.
Vai extinguir-se, aonde?
Vem, donde vem?

As águas naturais que entre granitos
À luz afloram,
Por que arrastam cadáveres, detritos,
E sobre lodo cantam, choram?

Sou eu que vos componho, ou vós que me criais,
Meus versos hoje nus e secos,
Meus versos que afinal sois naturais,
− Rosas e estrume, águas e lodo, montes, ecos...?
Versi miei, che in fondo siete naturali
Come le rose, le sorgenti, i monti,
Da quali baratri giungete?
Venite giù da quali versanti?

E candide come neve o come vampe accese
Le rose naturali dei poeti,
In che concime affondano
Le loro radici segrete?

Di monte in monte va l’eco risuonando
Dai monti naturali e avanti senza fine.
Ma dove si va esaurendo?
E da dove proviene?

Le acque naturali che dai graniti
Alla luce emergono,
Perché trascinano salme, detriti,
E sulla melma cantano, piangono?

Sono io che vi scrivo, o voi che mi create,
Versi miei, oggi spogli e secchi,
Versi miei, che in fondo siete naturali,
− Rose e concime, acque e melma, monti, echi...?
________________

Misato Suzuki
Forest dune (2023)
...

Monólogo a dois


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Régio »»
 
Filho do Homem (1961) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Monólogo a dois
Monologo a due


Sábia talvez inconsciente,
Doseando com volúpia, uma ancestral sofreguidão,
Ali onde o desejo mais me dói, mais exigente,
Me acaricia a tua mão.

De olhos fechados me abandono, ouvindo
Meu coração pulsar, meu sangue discorrer,
E sob a tua mão, na asa do sonho, eis-me subindo
Àquele auge em que todo, em alma e corpo, vou
 morrer…
Sapiente, forse incosciente,
Dosando con sensualità un’ancestrale brama,
Là dove la smania più mi tormenta, più esigente,
Mi accarezza la tua mano.

Ad occhi chiusi m’abbandono, sentendo
Il mio cuore pulsare, il mio sangue defluire,
E sotto la tua mano, sull’ali del sogno, ecco raggiungo
Quell’auge ove io intero, anima e corpo, sto per
 morire…
________________

Lucian Freud
Bella and Esther (1988)
...

Momento


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Régio »»
 
Filho do Homem (1961) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Momento
Momento


Quem, nos meus olhos ardentes,
Na minha testa cansada,
Perpassa os dedos clementes,
Poisa a mão fresca orvalhada…?

Talvez a brisa da tarde,
Que passa, e não faz alarde…
Talvez a brisa da tarde!
Sim, só a brisa; e mais nada.
Chi, sui miei occhi ardenti,
Sulla mia fronte esaurita,
Passa le dita clementi
Posa la mano fresca di rugiada…?

Forse il vento della sera,
Che passa e non se ne fa vanto…
Forse il vento della sera!
Sì, solo il vento; e null’altro.
________________

Samuel de Wilde
Testa di uomo con capelli al vento (1810-1820)
...

Lágrima


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Régio »»
 
Filho do Homem (1961) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Lágrima
Lacrima


Sem que eu a esperasse,
Rolou aquela lágrima
No frio e na aridez da minha face.
Rolou devagarinho...,
Até à minha boca abriu caminho.
Sede! o que eu tenho é sede!
Recolhi-a nos lábios e bebi-a.
Como numa parede
Rejuvenesce a flor que a manhã orvalhou,
Na boca me cantou,
Breve como essa lágrima,
Esta breve elegia.
Senza che me l’aspettassi,
Scese quella lacrima
Sulla freddezza e sull’apatia del mio viso.
Scese pian pianino...,
Sino alla mia bocca s’aprì il cammino.
Sete! quello che provo è sete!
La raccolsi tra le labbra e la bevvi.
Come lungo una parete
Si ravviva un fiore rorido nel mattino,
Cantò nella bocca mia,
Breve come quella lacrima,
Questa breve elegia.
________________

Francesco Vezzoli
Il guanto d'amore (2010)
(after de Chirico and Jean Genet)
...

Epitáfio para um santo obscuro


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Régio »»
 
Filho do Homem (1961) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Epitáfio para um santo obscuro
Epitaffio per un santo oscuro


Nunca sonhou ser santo,
Nem suspirou que o distinguira o Céu.
Viveu, morreu a um canto
Da casota e da aldeia em que nasceu.
Nem ele mesmo conheceu
Os Dons que dispensou tão vil, gratuitamente,
Que só os santos reconhece
De oficial aprovação.
Silêncio, pedra tumular!
Esse que aí jaz, merece
Que só Lá onde altares nada são
Se eleve o seu altar.
Non si sognò mai d’essere santo,
Né ambì essere dal Cielo favorito.
Visse, morì in un canto
Della casetta e del borgo dov’era nato.
Egli stesso neppure riconobbe
I Doni che dispensò tanto candidamente,
Che solo ai santi si ascrivono
Con pubblico benestare.
Silenzio, pietra tombale!
Colui che qui giace, merita
Che gli venga eretto un altare
Soltanto là dove gli altari son niente
________________

Matthew Wong
Day 1 (2018)
...

Epitáfio para um poeta


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Régio »»
 
Filho do Homem (1961) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Epitáfio para um poeta
Epitaffio per un poeta


As asas não lhe cabem no caixão!
A farpela de luto não condiz
Com seu ar grave, mas, enfim, feliz;
A gravata e o calçado também não.

Ponham-no fora e dispam-lhe a farpela!
Descalcem-lhe os sapatos de verniz!
Nao vêem que ele, nu, faz mais figura,
Como uma pedra, ou uma estrela?

Pois atirem-no assim à terra dura,
Ser-lhe-á conforto:
Deixem-no respirar ao menos morto!
Le ali non gli entrano nella bara!
L’abito da lutto non s’addice
Alla sua aria austera, eppur felice;
Neanche la cravatta né la calzatura.

Tiratelo fuori e toglietegli il vestito!
Sfilategli le scarpe di vernice!
Non vedete che ora, nudo, fa miglior figura,
Come fosse una pietra oppure un astro?

Posatelo infine sulla terra dura,
Gli sarà di conforto:
Lasciate che respiri almeno da morto!
________________

Pacino di Bonaguida
Giardino (1335)
...

Visão Heraclitiana



Nome:
 
Collezione:
Fonte:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (marzo 2025) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Visão Heraclitiana
Visione Eraclitea


Corola profanando a noite,
A lua.
Se olhares para cima,
Ela pinga-te nos olhos
E, cada vez que olhares,
É outra a lua que pinga.
Corolla che profana la notte,
La luna.
Se guardi verso il cielo,
Lei ti gocciola negli occhi
E, ogni volta che guardi,
È un’altra la luna che gocciola.
________________

René Magritte
Architettura al chiar di luna (1954)
...

Epitáfio para uma velha donzela


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Régio »»
 
Filho do Homem (1961) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Epitáfio para uma velha donzela
Epitaffio per una vecchia donzella


De palmito e capela,
Qual manda a tradição,
Erecta, lá vai ela
Ser atirada ao chão.
De rosário na mão,
Lutou heroicamente
Contra a vil tentação
Do que nos pede a carne e a alma come.
Secreta, ansiosa, augusta, descontente
Dentro da sua túnica inconsútil,
Engelhou toda à fome,
Por fim morreu à sede,
No seu heroísmo fútil.
Bichos! penetrai vós no pobre corpo inútil!
Ramo di palma e funebre cappella,
Come la tradizione detta,
Dritta, laggiù ella
Verrà gettata alla terra.
Col rosario in mano,
Lottò eroicamente
Contro la vile tentazione
Che ci chiede la carne e l’anima ci divora.
Segreta, ansiosa, augusta, sconfortata
Dentro la sua tunica inconsutile,
Tutta s’è rinsecchita per la fame,
Per poi finire a morir di sete,
Nel suo eroismo futile.
Vermi! penetrate voi quell’umile corpo inutile!
________________

Marianne Hendriks
Musa acuminata (2023)
...

Canção de primavera


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Régio »»
 
Filho do Homem (1961) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Canção de primavera
Canzone di primavera


Eu, dar flor, já não dou. Mas vós, ó flores,
Pois que Maio chegou,
Revesti-o de clâmides de cores!
Que eu, dar, flor, já não dou.

Eu, cantar, já não canto. Mas vós, aves,
Acordai desse azul, calado há tanto,
As infinitas naves!
Que eu, cantar, já não canto.

Eu, invernos e outonos recalcados
Regelaram meu ser neste arrepio...
Aquece tu, ó sol, jardins e prados!
Que eu, é de mim o frio.

Eu, Maio, já não tenho. Mas tu, Maio,
Vem com tua paixão,
Prostrar a terra em cálido desmaio!
Que eu, ter Maio, já não.

Que eu, dar flor, já não dou; cantar, não canto;
Ter sol, não tenho; e amar...
Mas, se não amo,
Como é que, Maio em flor, te chamo tanto,
E não por mim assim te chamo?
Io, di fiori ormai più non ne dò. Ma voi, o fiori,
Ora che Maggio arrivò,
Rivestitelo di clamidi multicolori!
Che io, di fiori ormai più non ne dò.
 
Io, cantare, ormai non canto più. Ma voi, uccelli,
Ridestate in questo blu, muto da tanto,
Gli infiniti battelli!
Che io, cantare, ormai non canto più.
 
Io, inverni e autunni prolungati
Gelarono l’esser mio in questo brivido…
Riscalda tu, o sole, giardini e prati!
Che io, il freddo è tutto mio.
 
Io, di Maggio, ormai non ne ho più. Ma tu, Maggio,
Vieni con il tuo ardore,
A estenuare la terra in fervente languore.
Che io, Maggio, ormai non ne ho più.
 
Che io, di fiori, più non ne dò; cantar, non canto;
Avere il sole, non ce l’ho; e amare…
Ma, se non amo,
Come mai, Maggio in fiore, ti chiamo tanto,
E non è per me che così ti chiamo?
________________

Maria Helena Vieira da Silva
Il giardino di Lucia (1971)
...

Geografia humana


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Régio »»
 
A Chaga do Lado (1954) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Geografia humana
Geografia umana


Todo peludo e tosco, exemplar digno de se ver,
− O belo monstro! − ei-lo exposto
Ao gáudio e pasmo de quemquer
Que tenha gosto.

Os pais vêm mostrá-lo aos filhos inocentes;
E as criancinhas olham, assombradas,
Seus braços guedelhudos e pendentes,
Suas pernas truncadas e cambadas.

Mal sabem, pobres pequenos!,
Se hão-de chorar ou rir, quando, por trás da grade,
Ele faz gestos obscenos
A selecta sociedade.

Tranquila, porque a jaula é modelar,
Toda a plateia exulta e aplaude, ufana
De impunemente desafiar
O monstro cuja forma é quase humana.

E todos riem-se, gingão e calaceiro,
Cansado, já, talvez, dos seus admiradores,
Exibe o calo do traseiro
Às damas e aos senhores.

Espicaçam-no, então, para que tão depressa
Não se esgote a gratuita diversão,
E o vejam, como é da peça,
Rebolar-se e pinchar de excitação.

Rebola-se, afocinha, e pincha, guincha, dança,
Com expressões de velho
E jeitos de criança
Que são um bom espelho!

Ou, rilhando o focinho monstruoso,
Desesperado, investe contra as grades,
Furiosamente saudoso
De longínquas liberdades...

E as pupilas a arder, como luzinhas pretas,
De entre pêlos, na testa acachapada,
Saltam, vão dum a outro, interrogando, inquietas,
Sem compreenderem que ninguém compreenda nada!

Ninguém?... Não sei. A poesia é filha
De perturbantes sugestões,
E um mísero macaco, um nem talvez gorilha,
Pode dar a um poeta imagens e visões.

Porque, naquela turba, há um doido... um poeta moço
Que sonha... sonha o quê? Que o hão-de expor, um dia,
Remido, esse grotesco e mísero colosso
− Rei dos Judeus, rei nosso −
Com, por manto real, um trapo púrpura ao pescoço,
E uma cana, por ceptro, na mão fria.
Tutto irsuto e grezzo, soggetto degno d’esser visto,
− Il bel mostro! − eccolo esibito
Al giubilo e alla sorpresa di chiunque
Ci provi gusto.

I genitori lo additano ai figlioli innocenti;
E i bimbetti osservano, tremanti,
Le sue braccia villose e pendenti,
Le sue gambe curve e incomplete.

Non sanno, poveri piccini!,
Se ci sia da piangere o ridere, quando, dietro le sbarre,
Egli fa gesti osceni
Ai rispettabili presenti.

Tranquillo, perché quella gabbia è sicura,
Tutto il pubblico esulta e applaude, fiero
Di poter senza danni sfidare
Quel mostro dalla forma quasi umana.

E tutti ridono di lui, che barcollante e pigro,
Già stufo, forse, dei suoi ammiratori,
Mostra la callosità del fondoschiena
Alle signore e ai signori.

Lo molestano, quindi, affinché troppo in fretta
Non si concluda la gratuita ricreazione,
E lo vedano, da lui è questo che ci s’aspetta,
Dimenarsi e saltellare per l’eccitazione.

Si dimena, ruzzola e saltella, strilla, balla,
Con movenze da vecchio
E gesti da bambino
Che sono un bello specchio!

O, mostrando i denti del muso mostruoso,
Disperato, s’avventa contro le sbarre,
Nostalgicamente furioso
per le antiche perdute libertà...

E le pupille roventi, come tetre lucine,
In mezzo al pelo, sulla fronte infossata,
Rimbalzano, si spostano, e implorano, inquiete,
Senza capire perché nessun capisca niente!

Nessuno?... Non so. La poesia è figlia
Di sconvolgenti suggestioni,
E una povera scimmia, forse neppure un gorilla, Può offrire a un poeta immagini e visioni.

Perché, tra quella gente, c’è un folle... un giovane poeta
Che sogna... ma sogna che? Che esibiranno, un giorno,
Liberato, quel grottesco e povero colosso
− Re dei Giudei, re nostro −
Con al collo, come manto reale, un cencio purpureo,
E, per scettro, una canna nella fredda mano.
________________

Michelangelo Pistoletto
Scimmia in gabbia (1962-1973)
...

Páscoa


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Régio »»
 
Mas Deus é Grande (1945) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Páscoa
Pasqua


Há quanto, há quanto já que os versos me não vinham!
Ausente, seco, nulo, é que eu, feliz, andava.
E as asas que outro tempo ao alto me sustinham,
Meu sentir-me assim bem mas depenava.

Vivendo como quem lhe sabe bem dormir
Sabendo que lá fora há chuva e ventania,
Quase esquecido, já, de ter de me cumprir,
Oco de tudo é que eu, feliz, vivia.

Tão oco de ilusões como dos desesperos
Sem os quais nada, em nós, nos força ir mais além,
Há quanto, há quanto já meus altos fados feros
Me davam tréguas!, e eu vivia bem.

E os versos não me vindo, eu não fazia versos,
Pois versos para quê?, se eu era, enfim, feliz,
Só corrigindo, atento, os que aí há dispersos
Comemorando infernos em que os fiz!

Hoje, porém, peguei num lápis, num papel,
Sobre o meu ombro, Alguém, pesando, se inclinou,
E, sob o seu ditado, a pena tinta em fel,
O meu mal no papel se derramou...

Alastra, sangue meu!, que és Espírito, e excedes
Os exíguos canais das minhas curtas veias,
E a quem com sede vem molhar os lábios, pedes
Aspirações, paixões, sonhos, ideias...

Que cego, cego andava!, e louco!, e surdo-mudo!,
Enquanto me arrastei, julgando ser viver
Esse fechar o olhar cansado sobre tudo,
Sem, sobre tudo, te sentir correr!

Bem hajas, pois, quem quer que me feriste fundo
Quando já me eu julgava a salvo em chão seguro,
E me atiraste, assim, de novo para o mundo
Em que entro imundo, e me levanto puro!
Da quanto, da quanto i versi non mi venivano più!
Svagato, sterile, nullo, lietamente me ne andavo.
E le ali che in altri tempi mi tenevano su,
Quel mio benessere pian piano le spiumava.

Vivendo come chi s’accontenti di dormire
Conscio che là fuori non c’è che pioggia e vento,
Quasi immemore, ormai, di dovermi realizzare,
Di tutto svuotato, vivevo lieto e contento.

Così libero d’amarezze e da illusioni
Senza le quali niente ad andar oltre ci sprona,
Da quanto, da quanto ormai i miei inclementi destini
Mi davano requie!, e con me la vita era buona.

E se i versi non venivano, non componevo versi,
E versi poi perché?, se infine ero felice
Solo rivedendo, solerte, quelli andati dispersi
Rammentando l’inferno in cui li feci!

Oggi, tuttavia, afferrai carta e matita,
Sopra la mia spalla, Qualcuno, dolente, si curvò,
E, sotto dettatura, la penna in fiele inumidita,
Il mio dolore sulla pagina si riversò...

Trabocca, sangue mio!, tu che sei Spirito e invadi
I sottili canali delle mie corte vene,
E a chi viene a bagnare le assetate labbra, chiedi
Aneliti, passioni, sogni, idee...

Com’era cieco!, com’ero folle!, e sordomuto!,
Allora io mi trascinavo, convinto fosse vivere
Quel distogliere lo sguardo stremato su tutto,
Senza, soprattutto, sentirti fluire!

Chiunque tu sia, ti ringrazio per avermi ferito a fondo
Quando ormai pensavo d’esser salvo in terreno sicuro,
E mi gettasti, così, di nuovo verso il mondo
Ove io entro immondo, per risorgere puro!
________________

S.K. Sahni
Space - G (2011)
...

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Adão Ventura (41) Adélia Prado (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (40) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antonio Brasileiro (41) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Antônio Cícero (40) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (113) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (40) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (30) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) Jorge Sousa Braga (40) Jorge de Sena (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Régio (36) José Saramago (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Luis Filipe Castro Mendes (40) Lêdo Ivo (33) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (33) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Mário Cesariny (34) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (483) Pedro Mexia (40) Poemas Sociais (30) Poemas dos dias (28) Pássaro de vidro (52) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)