A carne do olímpico...


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A carne do olímpico...
La carne dell’olimpico...


A carne do olímpico já só era
O guarda-pó do mito.
As huris da imaginação
Apenas lhe serviam ambrósia, néctar, rosas.
Uma das últimas vontades de Fraulein von Stein
Foi que o seu cortejo fúnebre não passasse
Pela casa do olímpico, para não o incomodar.
Foi decretado património universal,
Mas a realidade insistia em assediá-lo
Com pessoas de óculos, o latir dos cães,
O odor do tabaco, o rufo de tambores,
Sangue, frestas, mulheres hidrópicas, glândulas –
E loucos com labirintos que o horrorizavam
Como se fossem vísceras.
O olímpico amava a inteligência
De esquadria, a ciência de leis limpas –
A óptica, a mineralogia;
A inteligência alinhada,
Disciplinada em raciocínios
Que avançavam nos seus uniformes garridos,
Brandindo argumentos garbosos e reluzentes
Por entre o fumo negro,
Irresistíveis até serem ceifados.
Não por acaso negociou mercenários,
Foi munificente em vénias
Pelos salões, pelas ruas, pelos livros.
Não entendeu nunca a febre desses fedelhos
Novalis, Hölderlin, Kleist,
Sobretudo desse Kleist,
Que lhe pareceu um doente,
Cheio de lava e guelras.
O olímpico amava a luz,
A sua presunção e graça matemáticas.
Contemplava o próprio perfil na eternidade,
Já sem tempo para esta vida
(Parêntese para o desencanto com Marianne)
Cheia de freimas, mucos, contrariedades.
Sentia-se já irradiar a esplendecência dos eleitos.
Os «fedelhos» esperavam-no, talvez com um sorriso:
Souberam antes dele que a eternidade
Não é a luz dos eleitos,
Mas o recanto sombrio onde são encontrados.
...

La carne dell’olimpico ormai non era che
La sopravveste del mito.
Le uri dell’immaginazione
Non gli servivano che ambrosia, nettare, rose.
Una delle ultime volontà di Fräulein von Stein
Fu che il suo corteo funebre non passasse
Sotto la casa dell’olimpico, per non disturbarlo.
Fu dichiarato patrimonio universale,
Ma la realtà insisteva nell’assediarlo
Con gente dagli occhiali, col latrare dei cani,
Con l’odor del tabacco, il rullio dei tamburi,
E sangue, ferite, donne idropiche, ghiandole –
E folli con labirinti che lo inorridivano
Come se fossero viscere.
L’olimpico amava l’intelligenza
Dell’ortogonalità, la scienza delle leggi limpide –
L’ottica, la mineralogia;
L’intelligenza diretta,
Disciplinata secondo ragionamenti
Che procedevano nelle loro uniformi bardate,
Brandendo argomenti garbati e rilucenti
Fin dentro il fumo denso,
Inconfutabili finché venivano falciati.
Non per caso strinse accordi mercenari,
Fu prodigo in riverenze
Nei saloni, nelle vie, nei libri.
Non capì mai la febbre di quei mocciosi
Novalis, Hölderlin, Kleist,
Soprattutto di quel Kleist,
Che gli sembrava morboso,
Pieno di lava e di branchie.
L’olimpico amava la luce,
La sua alterigia e la sua purezza matematiche.
Vagheggiava il proprio profilo nell’eternità,
Ormai inadeguato per questa vita
(Parentesi per la delusione con Marianne)
Piena di ansie, di muco, di contrarietà.
Già sentiva d’irradiare lo sfolgorio degli eletti.
I «mocciosi» l’attendevano, forse con un sorriso:
Prima di lui avevano appreso che l’eternità
Non è la luce degli eletti,
Ma quel cantuccio in ombra dove stanno loro.
...

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Wilhelm Tischbein
Goethe nella Campagna romana (1787)

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