Acontecerá tudo num café...


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Acontecerá tudo num café...
Tutto succederà in un caffè...


Acontecerá tudo num café
Dos mais movimentados da cidade.
Estarás sempre a olhar para o relógio,
Só a custo ouvirei a tua voz.
Sobre a mesa, haverá uns grãos de açúcar
E o ar sufocará, espesso de fumo.

Tudo se passará, claro, como fumo –
O olvido entra já pelo café.
Solúvel como fábula de açúcar,
Até dos mapas sumirá a cidade.
Já não me guiará a tua voz,
Durante tanto tempo o meu relógio.

Tudo se grava a fundo num relógio,
Sem lágrimas ou fogo, sequer fumo.
Tudo se passa, então, quase sem voz.
Nos teus olhos escuros de café,
Vai-se desvanecendo uma cidade
Que apenas deixa um rasto de açúcar.

Tudo se passa, claro, sem açúcar,
Perder é o sentido do relógio
E qualquer tempo é fuga: uma cidade
Voa para o passado como fumo,
Arrastada num gole de café,
Cerrando-se debaixo de uma voz.

Tudo morreu assim, sem chave e sem voz.
O tempo antes medido em grãos de açúcar
Cessou na vozearia de um café,
Mas como é que se inventa outro relógio?
Para ti, o meu rosto é apenas fumo?
Para mim, o teu é uma cidade.

Tudo se passou, claro, na cidade
Onde ouço ainda os passos dessa voz.
A recordação acre sabe a fumo
E contra ela nada pode o açúcar:
Deambula, espectral, no meu relógio,
Arde no burburinho de um café.

A cidade perdeu todo o açúcar,
Mas não se esquecerá a voz, relógio
Onde o que foi é fumo num café.
...

Tutto succederà in un caffè
Tra i più frequentati della città.
Tu continuerai a guardare l’orologio,
Solo a stento io sentirò la tua voce.
Ci saranno sul tavolino dei granelli di zucchero
E l’aria sarà soffocante, densa di fumo.

Tutto svanirà, è chiaro, come fumo –
L’oblio già sta entrando nel caffè.
Solubile come una favola di zucchero,
Persino dalle carte sparirà la città.
Più non mi guiderà la tua voce,
Che fu per tanto tempo il mio orologio.

Tutto s’incide a fondo in un orologio,
Senza lacrime o fuoco, neanche fumo.
Tutto svanisce, allora, quasi senza voce.
Nei tuoi occhi scuri come caffè,
Si va dissolvendo una città
Che lascia appena una traccia di zucchero.

Tutto svanisce, è chiaro, senza zucchero,
Perdere è il senso dell’orologio
E qualunque tempo è fuga: una città
Vola verso il passato come fumo,
Trascinata con un sorso di caffè,
Spegnendosi al di sotto d’una voce.

Tutto morì così, senza chiave e senza voce.
Il tempo dianzi contato in granelli di zucchero
S’arrestò nel vociare d’un caffè,
Ma com’è che s’inventa un altro orologio?
Per te, il mio volto è solo fumo?
Per me, il tuo è una città.

Tutto svanì, è chiaro, nella città
Ove ancora odo i passi di quella voce.
L’acre ricordo sa di fumo
E contro di lui nulla può lo zucchero:
Deambula, spettrale, sul mio orologio,
Arde nel gorgoglio d’un caffè.

La città ha perso tutto lo zucchero,
Ma non si scorderà della voce, orologio
Dove quel che fu è fumo in un caffè.
...

Edgar Degas
L'assenzio (1875-1876)
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