Príncipe


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Ana Hatherly »»
 
Um Calculador de Improbabilidades (2001) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Príncipe
Principe


Príncipe:
Era de noite quando eu bati à tua porta
e na escuridão da tua casa tu vieste abrir
e não me conheceste.
Era de noite
são mil e umas
as noites em que bato à tua porta
e tu vens abrir
e não me reconheces
porque eu jamais bato à tua porta.
Contudo
quando eu batia à tua porta
e tu vieste abrir
os teus olhos de repente
viram-me
pela primeira vez
como sempre de cada vez é a primeira
a derradeira
instância do momento de eu surgir
e tu veres-me.
Era de noite quando eu bati à tua porta
e tu vieste abrir
e viste-me
como um náufrago sussurrando qualquer coisa
que ninguém compreendeu.
Mas era de noite
e por isso
tu soubeste que era eu
e vieste abrir-te
na escuridão da tua casa.
Ah era de noite
e de súbito tudo era apenas
lábios pálpebras intumescências
cobrindo o corpo de flutuantes volteios
de palpitações trémulas adejando pelo rosto.
Beijava os teus olhos por dentro
beijava os teus olhos pensados
beijava-te pensando
e estendia a mão sobre o meu pensamento
corria para ti
minha praia jamais alcançada
impossibilidade desejada
de apenas poder pensar-te.

São mil e umas
as noites em que não bato à tua porta
e vens abrir-me
Principe:
Era notte quando io bussai alla tua porta
e nell’oscurità della tua casa tu venisti ad aprire
e non mi riconoscesti.
Era notte
sono mille e una
le notti in cui busso alla tua porta
e tu vieni ad aprire
e non mi riconosci
perché io mai busso alla tua porta.
Tuttavia
se io bussassi alla tua porta
e tu venissi ad aprire
i tuoi occhi d’un tratto
mi vedrebbero
per la prima volta
come sempre ogni volta è la prima
l’estrema
imminenza dell’attimo in cui io emergo
e tu mi vedi.
Era notte quando io bussai alla tua porta
e tu venisti ad aprire
e mi vedesti
come un naufrago che sussurrò qualcosa
che nessuno comprese.
Ma era notte
e perciò
tu capisti che ero io
e venisti per aprirti
nell’oscurità della tua casa.
Ah era notte
e d’un tratto tutto non fu altro che
labbra palpebre tumidità
che coprivano il corpo di fluttuanti volteggi
di tremule palpitazioni che vorticavano sul volto.
Baciavo i tuoi occhi da dentro
baciavo i tuoi occhi pensati
ti baciavo pensando
e stendevo la mano sopra il mio pensiero
correvo verso di te
mia spiaggia mai conquistata
impossibilità agognata
di poterti soltanto pensare.

Sono mille e una
le notti in cui busso alla tua porta
e tu vieni ad aprirmi
________________

Ana Hatherly
La melagrana (1971)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (105) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (434) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (17) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)