Ladaínha horizontal


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Ladaínha horizontal
Cantilena orizzontale


Como se fossem jangadas
  desmanteladas,
vogam no mar da memória
as camas da minha vida ...
Tanta cama! Tanta história!
Tanta cama numa vida!

Grabatos, leitos, divãs,
a tarimba do quartel;
e no frio das manhãs
lívidas camas de hotel ..
Ei-las vogando as jangadas
  desmanteladas,
todas cobertas de escamas
e do sal do mar da vida ...
Tanta cama! Tantas camas!
Tanta cama numa vida!

Já os lençóis amarrados
tocam no centro da Terra
(que o reino dos desesperados
fica no centro da Terra!)
e os cobertores empilhados
são monte que não se alcança!
Só as tábuas das jangadas
  desmanteladas
boiam no mar da lembrança
e no remorso da vida ...
Homem sou. Já fui criança.
Tanta cama numa vida!

Nem vão ao fundo as de ferro,
nem ao céu as de dossel. ..
Lembro-vos, camas de ferro
de internato e de bordel,
gaiolas da adolescência,
ginásios do amor venal!
Barras fixas. Imprudência.
Sem rede, o salto mortal
pra fora da adolescência ...
E confundem-se as jangadas
  desmanteladas
no mar da reminiscência ...
Onde estás, ó minha vida?
Sono. Volúpia. Doença.
Tanta cama numa vida!

E recordo-vos, tão vagas,
vós que viestes depois,
ó camas transfiguradas
das furtivas ligações!
Camas dos fins-de-semana,
beliches da beira-mar ...
Oh! que arrojadas gincanas
sobre os altos espaldares!
E as camas das noites brancas,
tão brancas!, tão tumulares!
Cigarros. Beijos. Uísque.
Ó fragílimas jangadas,
  desmanteladas ... !
E nelas há quem se arrisque
sobre os pélagos da vida!
Cigarros. Beijos. Uísque.
Tanta cama numa vida!

E o amor? Tálamo, templo,
conjugação conjugal ..
O amor: tálamo, templo
- ilha num mar tropical.
Mas ao redor, insistentes,
bramam as ondas do mar,
do mar da memória ardente,
eternamente a bramar ...
Já no frio dos lençóis
há prelúdios da mortalha;
e, nas camas, sugestões
fúnebres, torvas, pesadas...

- Sede, por fim, ó jangadas
  desmanteladas,
a ponte do esquecimento
prà outra margem da Vida!
Sede flecha, monumento,
ponte aérea sobre o Tempo,
redentora madrugada!
Se o não fordes, sereis nada,
jangadas
  desmanteladas,
todas roídas de escamas
da margem de cá da Vida ...
Pobres camas! Tristes camas!
Tanta cama numa vida!
Come se fossero zattere
  smantellate,
vogano nel mare della memoria
i letti della mia vita ...
Tanti letti! Tante storie!
Quanti letti in una vita!

Giacigli, letti, divani,
le brande della caserma;
e nel freddo di certi mattini
lividi letti d’albergo...
Ecco che vogano zattere
  smantellate,
tutte coperte di squame
e del sale del mar della vita...
Tanti letti! Tanti letti!
Quanti letti in una vita!

Ormai le lenzuola annodate
toccano il centro della Terra
(ché il regno dei disperati
si trova al centro della Terra!)
e le coperte ammucchiate
sono monte d’eccelsa altezza!
Solo le tavole delle zattere
  smantellate
ondeggiano sulle rimembranze
e sui rimorsi della vita...
Sono un uomo. Finita è l’infanzia.
Quanti letti in una vita!

Non vanno a fondo quelli di ferro,
né al cielo quelli col baldacchino...
Vi ricordo, letti di ferro
del collegio e del casino,
gabbie dell’adolescenza,
palestre dell’amore venale!
Barre fisse. Imprudenza.
Senza rete, il salto mortale
fuori dall’adolescenza...
E si confondono le zattere
  smantellate
nel mare della reminiscenza...
Dove stai, o vita mia?
Sonno. Voluttà. Malattia.
Quanti letti in una vita!

E ho ricordi di voi, un po’ sfumati,
voi che siete venuti dopo,
o letti trasfigurati
dalle relazioni segrete!
Letti dei fine settimana,
sdraio da spiaggia...
Oh! che audaci manovre
davanti alle alte testiere!
E i letti delle notti bianche,
così bianche!, così sepolcrali!
Sigarette. Baci. Whisky.
O fragilissime zattere,
  smantellate...!
E sopra c’è chi si arrischia
sugli oceani della vita!
Sigarette. Baci. Whisky.
Quanti letti in una vita!

E l’amore? Talamo, tempio,
coniugazione coniugale...
L’amore: talamo, tempio
- isola in un mare tropicale.
Ma tutt’intorno, insistenti,
urlano le onde del mare,
del mare della memoria ardente,
che urla eternamente...
Ormai il gelo delle lenzuola
è un preludio di sudario;
e, nei letti, suggestioni
funebri, torve, penose...

- È brama, infine, o zattere,
  smantellate,
ponte d’oblio
verso l’altra riva della Vita!
È brama dardo, monumento,
ponte aereo sopra il Tempo,
alba salvatrice!
Se così non fosse, nulla sareste,
zattere
  smantellate,
tutte corrose da squame
della riva di qua della Vita ...
Poveri letti! Tristi letti!
Quanti letti in una vita!
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Edouard Vuillard
Il sonno (1892)
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