Não entendes esta tristeza...


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Não entendes esta tristeza...
Non comprendi questa tristezza...


Não entendes esta tristeza
Que, subitamente, me queima a voz
E rapta os meus olhos para a sua distância.
Vou, então, procurar a melancolia do Porto,
De que às vezes me falas e dizes que não gostas,
Vou procurar os recantos e sombras
Que a solidão visita e onde se demora,
Certas ruas furtivas, quase secretas,
Ruas quase conchas,  
Porque as ruas no Porto não conduzem,
Mas fogem, entranham-se, estreitam-se,
Fogem em pequenas vielas sombrias.
Vou procurar a melancolia do Porto,
Que está em todo o lado,
Na humidade antiga, no frio cinzento,
Nas tardes de um verão indeciso, fustigado,
Até no riso dessas crianças
Para quem o mundo todo
Não vai além das pontes e do cais.
Não preciso de a procurar,
À melancolia do Porto:
A tristeza que não entendes correu para ela,
Desaguou já na confiança de antigos conhecidos.
Posso ficar a sós com a melancolia do Porto.
Non comprendi questa tristezza
Che, d’improvviso, mi brucia la voce
E cattura i miei occhi verso la sua lontananza.
Andrò, allora, in cerca della malinconia di Porto,
Di cui talvolta mi parli, dicendo che non ti piace,
Cercherò i recessi e le ombre
Che la solitudine visita e dove s’attarda,
Certe vie nascoste, quasi segrete,
Vie simili a conchiglie,
Perché a Porto le vie non conducono,
Ma sfuggono, s’insinuano, si stringono,
Sfuggono in vicoletti ombreggiati.
Andrò in cerca della malinconia di Porto,
Che sta da ogni parte,
Nell’umidità antica, nel freddo grigiore,
Nelle sere di un’estate indecisa, maltrattata,
Perfino nel sorriso di questi fanciulli
Per i quali tutto il resto del mondo
Non va al di là dei ponti e delle banchine.
Non occorre che vada a cercarla,
La malinconia di Porto:
La tristezza che tu non comprendi le è corsa incontro,
Ormai è sfociata nella confidenza di vecchi conoscenti.
Posso restare da solo con la malinconia di Porto. 
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Domingos Silva Fonseca
Porto (2016)
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