Solilóquio de Vitorino Nemésio


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Solilóquio de Vitorino Nemésio
Soliloquio di Vitorino Nemésio


Sabes que envelheceste,
Porque o sangue nas tuas veias
Vai irrigando também a morte.
É curioso como um homem que envelhece
Se assemelha à giesta, à urze.
Os seus sonhos são o tropel
De cavalos há muito mortos,
Que ficaram a dormir nas sombras
Que a infância ainda projecta;
O latir de cães companheiros de infância
E que nela ficaram, dormindo ao sol.
Um homem que envelhece
Reúne-se, em certas tardes,
Com parentes desaparecidos,
Retoma hábitos intocados,
Volta atrás em amores ressequidos
E inflecte para palavras
Que terá calado ou perdido.
Um homem que envelhece
Permite-se revisitar todas as vidas
Que poderia ter tido,
Como se divisões vazias de uma casa,
Ou melhor, como se ilhas desertas
De um arquipélago de vidas.
Um homem que envelhece
Pensa “Oxalá o meu Deus seja verdadeiro”
E tu sabes que envelheceste,
Sabes porque nunca o sangue
Te pareceu tão transitório,
Artérias que o levam,
Veias que o não trazem
Contaminado com os venenos de existir.
Sabes que envelheceste
Porque o teu corpo já não se recusa
A ser efémero: resigna-se.

Sai d’essere invecchiato,
Perché il sangue nelle tue vene
Sta irrorando anche la morte.
È curioso come un uomo che invecchia
Venga ad assomigliare alla ginestra, all’erica.
I suoi sogni sono lo scalpitio
Di cavalli morti da tempo,
Rimasti a dormire tra le ombre
Che l’infanzia ancora proietta;
I latrati di cani compagni d’infanzia
Che là sono rimasti, dormendo al sole.
Un uomo che invecchia
Si riunisce, certe sere,
Con parenti scomparsi,
Riprende abitudini intatte,
Fa ritorno ad amori inariditi
E si riappropria di parole
Che avrà taciuto o perduto.
Un uomo che invecchia
Si permette di rivisitare tutte le vite
Che potrebbe aver vissuto,
Come se fossero locali vuoti d’una casa,
O meglio, come fossero isole deserte
D’un arcipelago di vite.
Un uomo che invecchia
Pensa “Voglia il cielo che il mio Dio sia vero”
E tu sai d’essere invecchiato,
Lo sai perché mai il sangue
T’è parso tanto precario,
Arterie che lo incanalano,
Vene che non lo trasportano
Contaminato dai veleni del vivere.
Sai d’essere invecchiato
Perché il tuo corpo più non si rifiuta
D’esser effimero: si rassegna.

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Marie-Christine Palombit
Duello II (1994)
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