Estou vivo mas...


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Estou vivo mas...
Sono vivo ma...


Estou vivo
mas quero viver
Não quero salvar-me porque não posso salvar-me
porque a salvação não existe
Perdi o meu percurso
e tudo o que herdei de mim próprio
No mundo as palavras não compensam
a violência absurda do sofrimento
Na página elas podem ser a invenção
de um frémito perante um corpo nu
É na palavra que se acende a minha vida
mas a minha vida sobra sempre como uma cauda cinzenta
Por que é o infortúnio a norma
e não há resgate para a morte?
O mundo é estranho mas irrefutável
na sua contínua sucessão que nos transcende
e passa sobre nós como se não existíssemos
Teremos acaso que nos unir e reinventar as nossas vidas
para que os deuses nasçam do nosso desamparo?
O silêncio conduz-nos à sua infinita fronteira
mas o ócio iluminado pode vogar na casa
como se estivéssemos entre palmeiras e araucárias
Toda a viagem é um regresso ao ponto de partida
para partir de novo entre a água e o vento.

Sono vivo
ma voglio vivere
Non voglio salvarmi perché non posso salvarmi
perché la salvezza non esiste
Ho perso la mia strada
con tutto ciò che da me stesso ho ereditato
Al mondo le parole non compensano
la violenza assurda della sofferenza
Sulla pagina esse possono essere l'invenzione
d'un fremito al cospetto d’un corpo nudo
È nella parola che s’accende la mia vita
ma la mia vita si lascia sempre dietro una scia grigia
Perché è la sventura la norma
e non c’è riscatto per la morte?
Il mondo è strano ma incontestabile
nella sua perenne continuità che ci trascende
e passa su di noi come se non esistessimo
Dovremo per caso unirci e reinventare le nostre vite
perché gli dei rinascano dal nostro squallore?
Il silenzio ci conduce alla sua infinita frontiera
ma l’ozio illuminato può trastullarsi per casa
come se ci trovassimo tra palme e araucarie
Tutto il viaggio è un ritorno al punto di partenza
per ripartire ancora tra l’acqua e il vento.

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Giorgio de Chirico
Archeologi (1968)

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