A neve e o amor


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A neve e o amor
La neve e l’amore


Neste dia de calor ardente, estou esperando a neve.
Sempre estive à sua espera.
Quando menino, li Recordações da Casa dos Mortos
e vi a neve caindo na estepe siberiana
e no casaco roto de Fédor Dostoievski.
Amo a neve porque ela não separa o dia da noite
nem afasta o céu das aflições da terra.
Une o que está separado:
os passos dos homens condenados ao gelo escurecido
e os suspiros de amor que se perdem no ar.
É necessário ter um ouvido muito afiado
 para ouvir a música da neve caindo, algo quase silencioso
como o roçar da asa de um anjo, caso os anjos existissem,
ou o estertor de um pássaro.
Não se deve esperar a neve como se espera o amor.
 São coisas diferentes. Basta abrirmos os olhos para ver a neve
 cair no campo desolado. E ela cai em nós, a neve branca e fria
que não queima como o fogo do amor.
Para ver o amor os nossos olhos não bastam,
 nem os ouvidos, nem a boca, nem mesmo os nossos corações
que batem na escuridão com o mesmo rumor
da neve caindo nas estepes
e nos telhados das cabanas escuras
e no casaco roto de Fédor Dostoievski.
Para ver o amor, nada basta.
E tanto o frio do inverno como o calor escaldante
o afastam de nós, de nossos braços abertos
e de nossos corações atormentados.
Fiel à minha infância, prefiro ver a neve
que une o céu e a terra, a noite e o dia,
a ser a presa indefesa do amor,
o amor que não é branco nem puro nem frio como a neve.
In questo giorno di calore ardente, sto aspettando la neve.
Sempre sono stato in questa attesa.
Da bambino, lessi Memorie dalla Casa dei Morti
e vidi la neve cadere nella steppa siberiana
e sul cappotto lacero di Fëdor Dostoevskij.
Amo la neve perché non separa il giorno dalla notte
né allontana il cielo dagli affanni della terra.
Unisce ciò che è diviso:
i passi degli uomini condannati al fosco gelo
e i sospiri d’amore che si perdono in aria.
Bisogna avere un udito molto fine
 per sentire la musica della neve che cade, un che di silenzioso
come lo sfiorare dell’ala d’un angelo, se gli angeli esistono,
o l’agonia di un uccellino.
Non si deve aspettare la neve come si aspetta l’amore.
 Son cose differenti. Basta che apriamo gli occhi per vedere la neve
 cadere sul campo desolato. Ed ella cade su di noi, la neve bianca e fredda
che non brucia come il fuoco dell’amore.
Per vedere l’amore i nostri occhi non bastano,
 né bastano gli orecchi, né la bocca, e neppur bastano i nostri cuori
che battono nel buio con lo stesso rumore
della neve che cade nelle steppe
e sui tetti delle capanne scure
e sul cappotto lacero di Fëdor Dostoevskij.
Per vedere l’amore, nulla basta.
E tanto il freddo d’inverno quanto il caldo cocente
lo scostano da noi, dalle nostre braccia aperte
e dai nostri cuori tormentati.
Fedele alla mia infanzia, preferisco vedere la neve
che unisce cielo e terra, notte e giorno,
piuttosto che essere la preda indifesa dell’amore,
l’amore che non è bianco né puro né freddo come la neve.
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Franz Marc
Cervi nella neve (1911)

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