Poema dum funcionário cansado


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Poema dum funcionário cansado
Poesia di un funzionario stanco


A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos,
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só

Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
 a minha alma não dança com os números tento escondê-la envergonhado
 o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
 Porque não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
 Porque me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?

Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo uma noite só comprida
num quarto só
La notte mi ha confuso i sogni e le mani
ha dileguato gli amici
il cuore è turbato e la strada è stretta
stretta ad ogni passo
le case ci inghiottono
ci dissolviamo,
sono solo in una stanza solo in una stanza
con i sogni confusi
con la vita a rovescio mentre solo ardo in una stanza

Sono un funzionario spento
un funzionario triste
la mia anima non segue la mia mano
Debito e Credito Debito e Credito
 la mia anima non danza coi numeri tento di nasconderla imbarazzato
 il capo mi ha beccato con lo sguardo lirico rivolto alla gabbietta del cortile di fronte
e me l’ha addebitato sulla mia valutazione d’impiegato
Sono un funzionario stanco di una giornata modello
 Perché non mi sento orgoglioso di aver adempiuto al mio dovere?
 Perché mi sento irreparabilmente perso nella mia stanchezza?

Sillabo antiche nobili parole
Fiore ragazza amico bambino
fratello bacio fidanzata
mamma stella musica
Sono le parole crociate del mio sogno
parole seppellite nella prigione della mia vita
questo tutte le notti del mondo un’unica lunga notte
in una stanza da solo.
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Pablo Picasso, Arlecchino, 1927
riprodotto in "Die Kunst des 20. Jahrhunderts" (Carl Einstein)

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