A nitidez das coisas


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Eduardo Degrazia »»
 
A Nitidez das Coisas (2018) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


A nitidez das coisas
Il nitore delle cose


No silêncio da casa, quando as madeiras estalam,
espero o movimento da engrenagem do tempo,
a manifestação evidente da máquina do mundo,
as pás do moinho moendo a farinha dos dias,
os dentes trincando a pele da feroz existência,
o rolar dos minutos no relógio náufrago da manhã,
o zumbido da mosca contra sua imagem no vidro.

No silêncio da casa, quando estremecem os móveis
e trepidam os eletrodomésticos nas redomas de vidro,
zunindo em uníssono cantochão entre as moedas
nítidas do sol e as moendas trituradoras de emoções,
a polia que range a palavra contra a indiferença,
o destino dos pratos e talheres prisioneiros, lentamente
desfazendo-se em barro e mortal ferrugem.

As coisas morrem sem pânico enquanto olhamos
distraídos o vento que levanta as cortinas da sala.

Só as coisas são nítidas e têm alma, e acreditam
na vida eterna.

Nel silenzio della casa, quando schioccano i legni,
attendo il movimento degli ingranaggi del tempo,
la manifestazione palese della macchina del mondo,
le pale del mulino che macinano la farina dei giorni,
i denti che tranciano la pelle della crudele esistenza,
il fluire dei minuti nell’orologio naufrago del mattino,
l’accanirsi della mosca contro il suo riflesso nel vetro.

Nel silenzio della casa, quando sussultano i mobili
e vibrano gli elettrodomestici nelle campane di vetro,
producendo una simultanea corale tra le monete
lucide di sole e i macinini trituratori d’emozioni,
la puleggia che cigola la sua parola contro l’indifferenza,
il destino di piatti e posate imprigionati, pian piano
si vanno disfacendo in creta e ruggine mortale.

Senza panico muoiono le cose mentre noi guardiamo
assenti il vento che fa volare le tende della sala.

Le cose solamente sono nitide e con un’anima, e credono
nella vita eterna.

________________

Henri Matisse
La finestra blu (1912)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (107) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (435) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (23) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)