Não sei


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Alberto Pimenta »»
 
Nove fabulo, o mea vox / De Novo Falo, a Meia Voz (2016) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Não sei
Non so


Poéticos, os deuses?
Eles não têm sangue.

Debaixo do céu inerte,
a ave que foi trespassada
e cai como um trapo
no tronco de árvore de Botticelli
tinha sangue.
Ou a pantera
do Jardin des Plantes
que incansavelmente
percorre a sua jaula
de um lado para o outro,
cerrando lentamente as pálpebras
sobre o mundo, tem sangue.

Ou as três gotas de sangue na neve
que causam o assombro
abismado de Parsifal
têm origem viva, que se torna poética
quando chegam a ele.

A poesia
são gotas, inúmeras,
secas ou ainda frescas,
sangue, sempre sangue,
o preço líquido
que a vida paga
pela fuga constante
a si mesma,
a caminho
do que não existia
antes de
ela lá ter chegado.

A poesia
quer que cheguemos,
aonde ela chegou.

– E chegamos?

Claro que não.

– E os deuses?

Esses incutem
pavor e esperança:
pavor na vida que temos,
feita do pó do universo,
esperança em chegar a eles
depois dela.

– E chegamos?

Não sei. A qual deles?
Poetici, gli dei?
Loro non hanno sangue.

Sotto l’inerte cielo,
l’uccello che fu trafitto
ed è caduto come un cencio
sul tronco dell’albero di Botticelli
sangue ne aveva.
O la pantera
del Jardin des Plantes
che instancabilmente
percorre la sua gabbia
da un lato all’altro,
chiudendo lentamente le palpebre
sul mondo, sangue ne ha.

O le tre gocce di sangue sulla neve
che causano lo sbalordimento
profondo di Parsifal
hanno un’origine viva, che diventa poetica
quando giungono a lui.

La poesia
è fatta di gocce, innumerevoli,
secche o ancora fresche,
sangue, sempre sangue,
il prezzo liquido
che la vita paga
per la fuga costante
verso sé stessa,
sulla strada
di ciò che non esisteva
prima che
lei ci potesse arrivare.

La poesia
vuole che noi arriviamo,
là dov’è arrivata lei.

– E arriviamo?

Certo che no.

– E gli dei?

Loro incutono
timore e speranza:
timore per la vita che abbiamo,
fatta di polvere dell’universo,
speranza di arrivare da loro
dopo di lei.

– E arriviamo?

Non so. A quale di loro?
________________

Rembrandt Bugatti
Pantera che cammina, gamba posteriore sollevata (1904)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (38) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antonio Brasileiro (41) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (109) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (40) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (471) Pássaro de vidro (52) Pedro Mexia (40) Poemas dos dias (28) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)