Nada falta


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Nada falta
Nulla manca


Ao cair da tarde,
passa lá fora
a melancólica,
antiquíssima flauta
do amolador.

Vai-se afastando
e deixando atrás de si,
como uma cascata,
a toada
magoada e urgente
da noite que vem
e promete ser
varrida de água
e de vento,
fatal para vagabundos
e para espíritos aflitos
ou afligidos.

Mas
entre os múltiplos golpes
executados por aí
com um cutelo de dois gumes
de fabrico euro-alemão,
esta tormenta,
no ritmo da flauta
anuncia sobretudo a queixa
de mais um trabalho
em liberdade e em gosto
prestes a morrer.

Parece
que mais ninguém a ouve,
e,
pelo silêncio que fica,
parece até
que já não há ninguém vivo na rua.
Nem os cães...
Estarão
a ver
as inundações
na América...

- Os cães também?

Claro, nem ladram.

A televisão
inunda-lhes a casa lá longe
e eles gostam.
Também lhes afia as facas
que trazem na cabeça
e todos gostam.
Não precisam de amolador.
Não precisam de mais nada.
Sul far della sera,
passa là fuori
il malinconico,
antichissimo richiamo
dell’arrotino.

Si sta allontanando
e lascia dietro di sé,
simile a una cascata,
la cantilena
accorata e urgente
della notte che viene
con la promessa d’essere
spazzata dall’acqua
e dal vento,
fatale per i vagabondi
e per gli spiriti afflitti
o affranti.

Ma
tra i molteplici colpi
assestati così
con un coltello a doppio taglio
di fabbricazione tedesca,
questa tormenta,
al ritmo del richiamo
annuncia soprattutto il lamento
di un altro mestiere
fatto in libertà e piacere
destinato a morire.

Pare
che più nessuno lo senta,
e,
per il silenzio rimasto,
pare financo
che nessuno sia più vivo nella via.
Nemmeno i cani...
Staranno
guardando
le inondazioni
in America...

- Anche i cani?

Certo, neanche abbaiano.

La televisione
inonda la loro casa laggiù
e loro sono contenti.
E affila anche quei coltelli
che loro si portano in testa
e sono tutti contenti.
Non hanno bisogno dell’arrotino.
Non hanno più bisogno di niente.
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Kazimir Malevich
L'arrotino (1913)
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