Frésias


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Tolentino de Mendonça »»
 
A Noite abre meus olhos (2006) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Frésias
Fresie


Frésias são flores com cheiro a chá
e ela, aos trinta e sete anos, preferia-as
às flores que se vendem por aí
admitia a beleza mas não o esplendor
porque são tristes as repetições
num instante se tornam saberes
e ela, aos trinta e sete anos,
prezava apenas os segredos que mesmo ditos
permanecem como segredos

(em certas épocas, por alguma porta esquecida
escapava-se sonâmbula, para o pátio
que dá acesso à mata
e, por vezes, iam buscá-la
gritando o seu nome ou com a ajuda dos cães
já muito longe de casa

tinha por hábito acender fogueiras
de que, depois, se esquecia
e por isso também os aldeões
a temiam)

nunca compreendeu a natureza da vida
doméstica
intensa e aflita criança
incapaz de certezas

o que de mais belo soube
sempre o disse, de repente,
a alguém que não conhecia
Le fresie sono fiori con profumo di tè
e lei, a trentasette anni, le preferiva
ai soliti fiori che si vendono laggiù
ne riconosceva la bellezza ma non lo splendore
perché sono tristi le ripetizioni
si mutano in un attimo in insegnamenti
e lei, a trentasette anni,
apprezzava soltanto i segreti che pur se svelati
continuano ad essere segreti

(in certi periodi, da sonnambula,
se la filava da qualche porta dimenticata
nel cortile che conduce al bosco
e, a volte, andavano a cercarla
gridando il suo nome o con l’aiuto dei cani
già molto distante da casa

aveva l’abitudine di accendere dei falò
di cui, poi, si dimenticava
e anche perciò quelli del posto
la temevano)

non comprese mai la natura della vita
domestica
creatura vivace e tribolata
incapace di certezze

a chi non conosceva diceva sempre,
spontaneamente,
le cose più belle che sapeva.
________________

Chaim Soutine
La pazza (1919)
...

Escatologia


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Tolentino de Mendonça »»
 
A Noite abre meus olhos (2006) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Escatologia
Escatologia


E, por fim, Deus regressa
carregado de intimidade e de imprevisto
já olhado de cima pelos séculos
humilde medida de um oral silêncio
que pensámos destinado a perder

Eis que Deus sobe a escada íngreme
mil vezes por nós repetida
e se detém à espera sem nenhuma impaciência
com a brandura de um cordeiro doente

Qual de nós dois é a sombra do outro?
Mesmo se piedade alguma conservar os mapas
desceremos quase a seguir
desmedidos e vazios
como o tronco de uma árvore
E, alla fine, Dio fa ritorno
con un carico d’intimità e d’imprevisto
già osservato dall’alto dai secoli
umile misura di un silenzio orale
che pensavamo destinato al fallimento

Ecco che Dio sale quella ripida scala
da noi più di mille volte risalita
e indugia in attesa senza dar segni d’impazienza
con la mitezza d’un agnello malato

Chi di noi due è l’ombra dell’altro?
Anche se nessuna devozione preserva le mappe
noi scenderemo quasi subito
immensi e vuoti
come il tronco di un albero
________________

Giuseppe Penone
Matrice (2015)
...

Impulso



Nome:
 
Collezione:
Fonte:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (settembre 2025) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Impulso
Impeto


A terra que existe no mar:
As ondas que atravessam o oceano
Para, como as baleias, virem morrer
Nas ternas praias que a elas se estendem,
As ondas que, na ira do amor,
Explodem contra falésias e recifes.
La terra che vive nel mare:
Le onde che attraversano l’oceano
Per andare, come le balene, a morire
Sulle dolci spiagge che per loro s’espandono,
Le onde che, nell’ira d’amore,
Esplodono contro falesie e scogliere.
________________

Pierre Buraglio
Mer (1974)
...

Calle Principe, 25


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Tolentino de Mendonça »»
 
A Noite abre meus olhos (2006) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Calle Principe, 25
Calle Principe, 25


Perdemos repentinamente
a profundidade dos campos
os enigmas singulares
a claridade que juramos
conservar

mas levamos anos
a esquecer alguém
que apenas nos olhou
D’un tratto perdemmo
la vastità dei campi
gli inconsueti enigmi
la lucidità che giurammo
di conservare

ma impiegammo anni
per scordare qualcuno
che ci guardò solamente
________________

Marcel Ceuppens
Composizione 23/11 (2023)
...

Atalhos


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Tolentino de Mendonça »»
 
A Noite abre meus olhos (2006) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Atalhos
Vie secondarie


Não constitui segredo
contam a sua história
mesmo se por atalhos
as coisas insignificantes de uma vida

assim o fragmento que reconheço
tanto tempo depois
escrito num caderno

«…reencontrarei ainda o vento dessa praia
de que me despeço
nos penhascos frente ao mar
o caminho abandonado…»

reencontrarei ainda
a expressão distraída que me deixava
a um passo daquilo que nem hoje sei?
Non è affatto un segreto
raccontano la propria storia
pur passando per vie secondarie
anche le cose insignificanti di una vita

come il frammento che riconosco
dopo tanto tempo
scritto in un quaderno

«… ritroverò ancora il vento di questa spiaggia
da cui prendo commiato
sugli scogli di fronte al mare
il sentiero abbandonato…»

ritroverò ancora
quell’espressione distratta che mi lasciò
a un passo da ciò che neanche oggi conosco?
________________

Giovanni Fattori
Sulla spiaggia (1893)
...

A infância de Herberto Helder


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Tolentino de Mendonça »»
 
A Noite abre meus olhos (2006) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


A infância de Herberto Helder
L’infanzia di Herberto Helder


No princípio era a ilha
embora se diga
o Espírito de Deus
abraçava as águas

Nesse tempo
estendia-me na terra
para olhar as estrelas
e não pensava
que esses corpos de fogo
pudessem ser perigosos

Nesse tempo
marcava a latitude das estrelas
ordenando berlindes
sobre a erva

Não sabia que todo o poema
é um tumulto
que pode abalar
a ordem do universo agora
acredito

Eu era quase um anjo
escrevi relatórios
precisos
acerca do silêncio

Nesse tempo
ainda era possível
encontrar Deus
pelos baldios

Isso foi antes
de aprender a álgebra
In principio era l’isola
benché si dica
che lo Spirito di Dio
abbracciasse le acque

In quei giorni
io mi sdraiavo per terra
per guardare le stelle
e mai avevo pensato
che quei corpi di fuoco
potessero essere pericolosi

In quei giorni
io calcolavo la latitudine delle stelle
disponendo biglie
sull’erba

Non sapevo che ogni poesia
è un tumulto
che può sovvertire
l’ordine dell’universo, ma ora
lo credo

Io ero quasi un angelo
e scrivevo rigorose
disquisizioni
intorno al silenzio

In quei giorni
era ancora possibile
incontrare Dio
nei deserti

Questo accadeva prima
che io apprendessi l’algebra
________________

Frederico Penteado
Ritratto di Herberto Helder (2010)
...

A casa onde às vezes regresso…


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Tolentino de Mendonça »»
 
A Noite abre meus olhos (2006) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


A casa onde às vezes regresso…
La casa ove a volte ritorno…


A casa onde às vezes regresso é tão distante
da que deixei pela manhã
no mundo
a água tomou o lugar de tudo
reúno baldes, estes vasos guardados
mas chove sem parar há muitos anos

Durmo no mar, durmo ao lado do meu pai
uma viagem se deu
entre as mãos e o furor
uma viagem se deu: a noite abate-se fechada
sobre o corpo

Tivesse ainda tempo e entregava-te
o coração
La casa ove a volte ritorno è così distante
da quella che ho lasciato la mattina
nel mondo
l’acqua ha preso il posto di tutto
raduno secchi e vasi conservati
ma piove senza sosta da tanti anni

Dormo nel mare, dormo accanto a mio padre
s’è svolto un viaggio
tra le mani e il furore
s’è svolto un viaggio: la notte s’abbatte e si richiude
sopra il mio corpo

Se ci fosse ancora tempo, t’offrirei
il mio cuore
________________

Georgia O'Keeffe
Onda notturna (1926)
...

Side of the road


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Tolentino de Mendonça »»
 
A estrada branca (2005) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Side of the road
Side of the road


Ateei o fogo
quebrei as portas de bronze
desfiz sinais nas pedras lisas
enlouqueci os adivinhos

minha língua tornou-se tão estranha
que não se pode entender

as multidões vitoriosas
levantam em teu nome
grinaldas tamboris e danças
despojos de várias cores

tomo o caminho por onde vieste
tropeçando como os que não têm olhos
Ho propagato il fuoco
abbattuto le porte di bronzo
eliminato i segnali dalle pietre lisce
ho fatto ammattire gli indovini

la mia lingua s’è fatta così strana
che non la si riesce a capire

le masse vittoriose
esibiscono in tuo nome
ghirlande tamburi e danze
bottini multicolori

imbocco la strada da dove sei giunto
e incespico come chi non ha occhi
________________

Alvar Cawén
Cieco (1926)
...

Pontos luminosos


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Tolentino de Mendonça »»
 
A estrada branca (2005) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Pontos luminosos
Punti luminosi


No silêncio basta um sopro e todo o tempo estremece
como se afasta cantando mais para dentro
a própria noite

Guardei para ti relâmpagos inúteis
prata feita de medidas vagas
a inclinada superfície implacável
cordas e alçapões

Do ponto mais alto do céu a 56 milhões de quilómetros
um dia me dirás
«desde a idade do gelo nunca estivemos tão próximos»
Nel silenzio basta um soffio e tutto il tempo freme
come quando la notte si ritrae
cantando dentro di sé

Per te ho serbato lampi inutili
argenti d’indefinite misure
l’impietosa superficie inclinata
cordami e trappole

Dal punto più alto del cielo a 56 milioni di chilometri
tu mi dirai un giorno
«dall’era glaciale non eravamo mai stati tanto vicini»
________________

Yayoi Kusama
Infinity Mirrored Room (2024)
...

Óstia


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Tolentino de Mendonça »»
 
A estrada branca (2005) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Óstia
Ostia


Um desses atrasos no aeroporto de Fiumicino
e eis-nos em salto desprovido por estas ruas
além do parque arqueológico
a cidade assemelha-se a um acampamento desolado
varandas cheias de caixotes e detritos
(devem ser exíguas as casas económicas)
muros com imprecações aos de Roma
e a débil força messiânica entregue
aos ídolos do futebol

Sem darmos conta já estávamos encalhados
numa qualquer estrada secundária
junto a um matagal circundado de rede
onde um letreiro quase ao acaso
diz ter morrido
Pier Paolo Pasolini
Uno di quei ritardi all’aeroporto di Fiumicino
e d’un tratto fuori programma giriamo per queste vie
al di là del parco archeologico
qui la città ricorda un accampamento desolato
balconi ingombri di scatoloni e ciarpame
(devono essere minuscole le case popolari)
muri con ingiurie contro quelli della Roma
e la fragile forza messianica assegnata
agli idoli del calcio

Senza avvedercene ci eravamo già persi
in qualche strada secondaria
lungo un terreno brullo cinto da rete
dove un cartello quasi per caso
dice che qui è morto
Pier Paolo Pasolini
________________

Ernest Pignon-Ernest
Pasolini, Pietà (2015)
...

Ó Natureza…



Nome:
 
Collezione:
Fonte:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (settembre 2025) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Ó Natureza…
O Natura…


Ó Natureza, onde o Eu
Encontra irmandades,
Ó Natureza onde a alma
Já não é ponto isolado,
Rodeado por silêncios ignaros,
Ó Natureza, também eu
Recebo a fertilidade que a ti desce,
Vinda dos ventres das estações,
Também eu venço estios e invernias,
Também me desfolho e enfloro.
Sou natureza, ó Natureza,
E dentro da estação que sou
O ciclo das estações.
O Natura, ove l’Io
Ritrova fratellanze,
O Natura, ove l’anima
Non è già più un punto isolato,
Circondato da silenzi ignari,
O Natura, anch’io
Ricevo la fertilità che su di te scende,
Scaturita dal grembo delle stagioni,
Anch’io supero canicole e gelate,
Anch’io mi sfrondo e rifiorisco.
Sono natura, o Natura,
E dentro la stagione che io sono
V’è il ciclo delle stagioni.
________________

Giuseppe Penone
Mano di bronzo che stringe un albero (1970 ca.)
...

Os insignificantes


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Tolentino de Mendonça »»
 
A estrada branca (2005) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Os insignificantes
Gli insignificanti


O custo das casas
por incrível que pareça
sugere a possibilidade
de uma outra vida
a alma não mora debaixo do seu tempo
traz de tão longe a fragrância
de uma vegetação que cresce

mais abaixo junto à represa
um trecho de sombra
a estação tornou tudo amarelo uma última vez
o pinheiro, o rumor dos caçadores, a corrida
 atrapalhada da perdiz

nas vagas recordações
a orla de uma alegria que ninguém viu

os insignificantes flutuam
ao vento contínuo de Deus
Il costo delle case
anche se sembra incredibile
segnala la possibilità
di un’altra vita
la dimora dell’anima non è nel proprio tempo
reca in sé la remota fragranza
di una vegetazione che prospera

laggiù nei pressi della diga
una linea d’ombra
la stagione ha fatto ingiallire tutto un’ultima volta
il pino, il chiasso dei cacciatori, la corsa sgraziata
 della pernice

nelle vaghe rimembranze
lo spuntare d’una gioia mai vista

gli insignificanti fluttuano
nel vento incessante di Dio
________________

Jenna Youngwood
Foliage (2021)
...

O Silêncio


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Tolentino de Mendonça »»
 
A estrada branca (2005) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


O Silêncio
Il silenzio


Regressamos a uma terra misteriosa
trazemos uma ferida
e o corpo ferido
imprevistamente nos volta
para margens mais remotas

Giorgio Armani tinha declarado
àquele jornal inglês: “o luxo desagrada-me,
é anti-democrático.
Quero agora homenagear os operários de todo
 o mundo”
Eu só pensava em São João da Cruz
enquanto ouvia pela enésima vez:
“a moda substituiu o luxo
pela elegância”

João da Cruz fala de coroas,
resplendores, casulas
véus de seda, relicários de ouro e
diamantes

para lá do jogo das nossas defesas
qualquer coisa interior
a intensa solidão das tempestades
os campos alagados,
os sítios sem resposta

o teu silêncio, ó Deus, altera por completo os espaços
Facendo ritorno a una terra misteriosa
rechiamo su di noi una ferita
e il corpo ferito
inaspettatamente ci rimanda
a lande più remote

Giorgio Armani aveva dichiarato
a un famoso giornale inglese: “il lusso non m’aggrada,
è antidemocratico.
Ora voglio rendere omaggio agli operai di tutto
 il mondo”
Io pensavo unicamente a San Giovanni della Croce
nell’ascoltare per l’ennesima volta:
“la moda ha rimpiazzato il lusso
con l’eleganza”

Giovanni della Croce parla di corone,
aureole, pianete
veli di seta, reliquiari d’oro e
di diamanti

ben oltre i processi delle nostre difese
qualcosa di intimo
l’intensa solitudine degli uragani
le campagne inondate,
i luoghi senza risposta

il tuo silenzio, Dio, altera completamente gli spazi
________________

Giovanni Boldini
Mademoiselle De Nemidoff (1908)
...

Outrora, quando o tempo…



Nome:
 
Collezione:
Fonte:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (settembre 2025) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Outrora, quando o tempo…
In passato, quando il tempo…


Outrora, quando o tempo
Às vezes ainda era a coincidência
Do sonho e da realidade,
Acreditava-se que o homem poderia
Ser fiel, mas como,
Se dentro de si próprio
O homem possui inúmeros senhores?
A quem ser fiel?
Ao feudalismo do coração,
Ao imperialismo da razão,
Ao consumismo da experiência?
In passato, quando il tempo
Talvolta faceva coincidere
Il sogno con la realtà,
Si credeva che l’uomo potesse
Esser fedele, ma come,
Se dentro di sé
L’uomo possiede infiniti padroni?
A chi esser fedele?
Al feudalesimo del cuore,
All’imperialismo della ragione,
Al consumismo dell’esperienza?
________________

Giorgio de Chirico
Il mistero degli oggetti (1912)
...

Não há um mesmo chão…



Nome:
 
Collezione:
Fonte:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (settembre 2025) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Não há um mesmo chão…
Non v’è uno stesso suolo…


Não há um mesmo chão
Para cada um de nós;
Há um, de forma diversa,
Para cada um de nós,
Cujo reflexo da gravidade
É o seu peso no pensar,
No sentir, no imaginar,
Mediante as elevações que concede.

Pelo amor, um e outro chão
Nivelam-se,
E um guia o outro no chão de cada um:
Apenas o amor é chão neutro
E partilhado e nesse chão
Os dois chãos se comungam
Tornando-se amor.
Non v’è uno stesso suolo
Per ciascuno di noi;
Ve n’è uno, di tipo diverso,
Per ciascuno di noi,
Per cui l’effetto della gravità
È il suo peso nell’atto di pensare,
Di sentire, d’immaginare,
Grazie alle elevazioni che concede.

Nell’amore, l’uno e l’altro suolo
Si livellano,
E uno guida l’altro sul suolo di ciascuno:
Solo l’amore è suolo neutro
E condiviso e su questo suolo
I due suoli si fondono fra loro
Diventando amore.
________________

Marc Chagall
Gli innamorati tra i lillà (1930
)
...

A noite fugindo…



Nome:
 
Collezione:
Fonte:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (agosto 2025) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


A noite fugindo…
La notte che fugge…


A noite fugindo pela saudade dentro,
A saudade entrando pelo teu rosto,
Luz insone e constante
Que narra a tua memória.
 
Por onde se desperta,
Onde é que a folhagem do sono acaba,
Vencer este sono sonâmbulo
Que és tu, apenas tu?
 
Tu não és o tanto – és o tudo
E nunca o tudo poderá ser tanto como tu,
Farol narrando o rumo na bruma,
Tu serás sempre o chamamento do fim.
 
Dividido, soltando sonhos na deriva do ar
Deixo cair a cabeça no incerto amplexo do sono.
La notte che fugge fin dentro al rimpianto,
Il rimpianto che appare sopra il tuo viso,
Luce insonne e costante
Che narra la tua memoria.

Dov’è che ci si ridesta,
Là dove il fogliame del sonno finisce,
Per vincere questo sonno sonnambulo
Che sei tu, solo tu?

Tu non sei il tanto – sei il tutto
E mai il tutto potrà esser tanto come te,
Faro che narra la rotta nella bruma,
Tu sempre sarai il richiamo della fine.

Combattuto, liberando sogni alla mercé dell’aria
Il capo abbandono all’incerto amplesso del sonno.
________________

Odilon Redon
Donna tra i fiori (1910)
...

O passo do anjo


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Tolentino de Mendonça »»
 
A estrada branca (2005) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


O passo do anjo
Il passo dell’angelo


Pelas escarpas, nos atalhos de areia e erva
em matas sombrias onde as faias se renovam
os animais já não vigiam
já ninguém os persegue

a chuva desenha círculos perfeitos
nos poços dos aldeões
como nos charcos

o restolhar de prata da folhagem
previne do passo do anjo, na escuridão
Lungo i dirupi, sui tratturi di sabbia ed erba
in macchie ombrose ove si rinnovano i faggi
gli animali non stanno più all’erta
ormai più nessuno li bracca

la pioggia disegna dei cerchi perfetti
nei pozzi dei villici
come nelle paludi

l’argentino fruscio del fogliame
preannuncia, nel buio, il passo dell’angelo
________________

Aniela Preston
I am not afraid of god I am afraid of man (2024)
...

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Adão Ventura (41) Adélia Prado (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (40) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antonio Brasileiro (41) Antonio Osorio (42) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Antônio Cícero (40) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (113) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (40) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (30) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) Jorge Sousa Braga (40) Jorge de Sena (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Régio (41) José Saramago (40) José Tolentino de Mendonça (38) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Luis Filipe Castro Mendes (40) Lêdo Ivo (33) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (33) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mario Quintana (38) Micheliny Verunschk (40) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Mário Cesariny (34) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (509) Paulo Leminski (43) Pedro Mexia (40) Poemas Sociais (30) Poemas dos dias (29) Pássaro de vidro (52) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (48) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)