O barulho do mar


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O barulho do mar
Il rumore del mare


Na tarde de domingo, volto ao cemitério velho de Maceió
onde os meus mortos jamais terminam de morrer
de suas mortes tuberculosas e cancerosas
que atravessam a maresia e as constelações
com suas tosses e gemidos e imprecações
e escarros escuros
e em silêncio os intimo a voltar a esta vida
em que desde a infância eles viviam lentamente
 com a amargura dos dias longos colada às existências monótonas
e o medo de morrer dos que assistem ao cair da tarde
quando, após a chuva, as tanajuras se espalham
no chão maternal de Alagoas e não podem mais voar.
 Digo aos meus mortos: Levantai-vos, voltai a este dia inacabado
 que precisa de vós, de vossa tosse persistente e de vossos gestos
 enfadados e de vossos passos nas ruas tortas de Maceió. Retornai aos sonhos insípidos
e às janelas abertas sobre o mormaço.
Na tarde de domingo, entre os mausoléus
que parecem suspensos pelo vento
no ar azul
o silêncio dos mortos me diz que eles não voltarão.
Não adianta chamá-los. No lugar em que estão, não há retorno.
Apenas nomes em lápides. Apenas nomes. E o barulho do mar.
La domenica pomeriggio, torno al vecchio cimitero di Maceió
dove i miei morti non finiscono mai di morire
delle loro morti tubercolotiche e cancerose
che oltrepassano le maree e le costellazioni
tra tosse e gemiti e imprecazioni
e muco nerastro
e in silenzio ordino loro di ritornare a questa vita
in cui fin dall’infanzia vivevano con lentezza
 con l’amarezza dei lunghi giorni legata alle monotone esistenze
e la paura di morire di chi assiste al calar della sera
quando, dopo la pioggia, le formiche alate si spargono
sul materno suolo d’Alagoas senza poter più volare.
 Dico ai miei morti: Alzatevi, ritornate a questo giorno incompiuto
 che ha bisogno di voi, della vostra tosse insistente e dei vostri gesti
 stanchi e dei vostri passi per le strade sinuose di Maceió. Tornate ai sogni insulsi
e alle finestre aperte sul caldo soffocante.
La domenica pomeriggio, tra mausolei
che sembrano sospesi nel vento
nell’aria azzurra,
il silenzio dei morti mi dice che non torneranno.
Non serve chiamarli. Dal posto in cui stanno, non c’è ritorno.
Solamente nomi sulle lapidi. Solo nomi. E il rumore del mare.
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Wassily Kandinsky
Cimitero arabo (1909)

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