O cemitério dos navios


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O cemitério dos navios
Il cimitero delle navi


Aqui os navios se escondem para morrer.

Nos porões vazios, só ficaram os ratos
à espera da impossível ressurreição.

E do esplendor do mundo sequer restou
o zarcão dos beiços do tempo.

O vento raspa as letras
dos nomes que os meninos soletravam.

A noite canina lambe
as cordoalhas esfarinhadas

sob o vôo das gaivotas estridentes
que, no cio, se ajuntam no fundo da baía.

Clareando madeiras podres e águas estagnadas,
o dia, com o seu olho cego, devora o gancho

que marca no casco as cicatrizes
do portaló que era um degrau do universo.

E a tarde prenhe de estrelas
inclina-se sobre a cabine onde, antigamente,

um casal aturdido pelo amor mais carnal
erguia no silêncio negras paliçadas.

Ó navios perdidos, velhos surdos
que, dormitando, escutam os seus próprios apitos

varando a neblina, no porto onde os barcos
eram como um rebanho atravessando a treva!

Qui vengono a nascondersi le navi per morire.

Negli scafi vuoti non son rimasti che i topi
aspettando l’impossibile resurrezione.

E della fastosità del mondo non è rimasto
neanche il minio lungo i bordi del tempo.

Il vento leviga le lettere
dei nomi che i bimbi compitavano.

La notte canina lecca
gli ormeggi disgregati

sotto il volo dei gabbiani strepitanti
che, in estro, s’accoppiano in fondo alla baia.

Scolorendo legni putridi e acque stagnanti,
il giorno, col suo occhio cieco, divora il gancio

che incide cicatrici nel fasciame
del portellone che era uno scalino dell’universo.

E la serata satura di stelle
si curva sopra la cabina ove, un tempo,

una coppia frastornata dal più carnale degli amori
ergeva nel silenzio buie palizzate.

O perduti navigli, vecchi sordi
che, sonnecchiando, ascoltano i propri sibili

perforare la nebbia, nel porto ove le barche
erano come una mandria che attraversava il buio!

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Alberto da Veiga Guignard
Cimitero di navi (1939)

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