Tu estás aqui


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Ruy Belo »»
 
Toda a terra (1976) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Tu estás aqui
Tu stai qui


Estás aqui comigo à sombra do sol
escrevo e oiço certos ruídos domésticos
e a luz chega-me humildemente pela janela
e dói-me um braço e sei que sou o pior aspecto
 do que sou
Estás aqui comigo e sou sumamente quotidiano
e tudo o que faço ou sinto como que me veste de
 de um pijama
que uso para ser também isto este bicho
de hábitos manias segredos defeitos quase todos
 desfeitos
quando depois lá fora na vida profissional ou social
 só sou um nome e sabem o que sei
que faço ou então sou eu que julgo que o sabem
e sou amável selecciono cuidadosamente os gestos
 e escolho as palavras
e sei que afinal posso ser isso talvez porque aqui
 sentado dentro de casa sou outra coisa
esta coisa que escreve e tem uma nódoa na camisa e
 só tem de exterior
a manifestação desta dor neste braço que afecta tudo
 o que faço
bem entendido o que faço com este braço
Estás aqui comigo e à volta são as paredes
e posso passar de sala para sala a pensar noutra
 coisa
e dizer aqui é a sala de estar aqui é o quarto aqui é a
 casa de banho
e no fundo escolher cada uma das divisões segundo
 o que tenho a fazer
Estás aqui comigo e sei que só sou este corpo
 castigado
passado nas pernas de sala em sala. Sou só estas
 salas estas paredes
esta profunda vergonha de o ser e não ser apenas
 a outra coisa
essa coisa que sou na estrada onde não estou à
 sombra do sol
Estás aqui e sinto-me absolutamente indefeso
diante dos dias. Que ninguém conheça este meu
 nome
este meu verdadeiro nome depois talvez encoberto
 noutro
nome embora no mesmo nome este nome
de terra de dor de paredes este nome doméstico
Afinal fui isto nada mais do que isto
as outras coisas que fiz fi-Ias para não ser isto ou
 dissimular isto
a que somente não chamo merda porque ao nascer
 me deram outro nome que não merda
e em princípio o nome de cada coisa serve para distinguir
 uma coisa das outras coisas
Estás aqui comigo e tenho pena acredita de ser só isto
pena até mesmo de dizer que sou só isto como se fosse
 também outra coisa
uma coisa para além disto que não isto
Estás aqui comigo deixa-te estar aqui comigo
é das tuas mãos que saem alguns destes ruídos
 domésticos
mas até nos teus gestos domésticos tu és mais que
 os teus gestos domésticos
tu és em cada gesto todos os teus gestos
e neste momento eu sei eu sinto ao certo o que significam
 certas palavras como a palavra paz
Deixa-te estar aqui perdoa que o tempo te fique na face
 na forma de rugas
perdoa pagares tão alto preço por estar aqui
perdoa eu revelar que há muito pagas tão alto preço
 por estar aqui
prossegue nos gestos não pares procura permanecer
 sempre presente
deixa docemente desvanecerem-se um por um os dias
e eu saber que aqui estás de maneira a poder dizer
sou isto é certo mas sei que tu estás aqui
Tu stai qui con me all’ombra del sole
scrivendo odo noti rumori domestici
e la luce umilmente mi giunge dalla finestra
e mi fa male un braccio e so di mostrare il mio lato
 peggiore
Tu stai qui con me e sono sommamente quotidiano
e tutto ciò che faccio o sento è come se avessi addosso
 un pigiama
che uso per essere proprio questo questa bestiola
con abitudini manie segreti difetti quasi tutti
 dissimulati
mentre poi là fuori nella vita professionale o sociale
 non sono che un nome e loro sanno quel che sono
quel che faccio o magari sono io che credo che lo sappiano
e sono affabile seleziono attentamente i gesti
 e scelgo le parole
e so che in fondo posso essere così forse perché qui
 seduto dentro casa sono un’altra cosa
questa cosa che scrive e ha una macchia sulla camicia
 e d’esteriore non ha che
la manifestazione di questo dolore a questo braccio che
 interessa tutto ciò che faccio
ben inteso ciò che faccio con questo braccio
Tu stai qui con me e tutt’intorno ci sono pareti
e posso passare da una stanza all’altra pensando a
 qualcos’altro
e dire qui c’è il soggiorno qui la camera da letto qui
 c’è il bagno
e alla fine posso scegliere ciascuno dei vani in base
 a quel che devo fare
Tu stai qui con me e so d’essere solo questo corpo
 maltrattato
portato dalle gambe di stanza in stanza. Io non sono che
 queste stanze queste pareti
questa profonda vergogna d’esserlo e di non esser soltanto
 l’altra cosa
quella cosa che sono per strada dove non sto
 all’ombra del sole
Tu stai qui e mi sento assolutamente indifeso
davanti ai giorni. Che nessuno venga a sapere questo mio
 nome
questo mio vero nome che poi forse è celato dietro
 un altro
nome anche se nello stesso nome questo nome
di terra di dolore di pareti questo nome domestico
In fondo sono stato questo nient’altro che questo
le altre cose che ho fatto le ho fatte per non esser questo
 o per celare questo
che non chiamo merda solamente perché alla nascita m’han
 dato un nome diverso da merda
e in principio il nome d’ogni cosa serve per distinguere
 una cosa dalle altre cose
Tu stai qui con me e mi dispiace credimi d’essere solo questo
mi dispiace persino di dire che sono solo questo come
 se fossi anche qualcos’altro
una cosa oltre a questo diversa da questo
Tu stai qui con me continua a restare qui con me
è dalle tue mani che vengono alcuni di questi rumori
 domestici
ma persino nei tuoi gesti domestici tu sei di più dei tuoi
 gesti domestici
tu sei in ogni gesto tutti i tuoi gesti
e in questo momento io so io sento con certezza ciò
 che significano certe parole come la parola pace
Continua a restare qui scusa se il tempo ti si ferma
 in viso sotto forma di rughe
scusa se devi pagare un così alto prezzo per stare qui
scusa se ti rivelo che da tempo tu paghi un così alto
 prezzo per stare qui
prosegui coi tuoi gesti non fermarti cerca di rimanere
 sempre presente
lascia che dolcemente svaniscano uno ad uno i giorni
e che io sappia che tu stai qui in modo che possa dire
io sono questo di certo ma so che tu stai qui
________________

Seb Toussaint - e gli abitanti di Mariscal Sucre hanno scelto la parola "Paz" - Bogotà, Colombia (2016)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (433) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (9) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)