Perdoai-me as catástrofes...


Nome :
 
Collezione :
Fonte :
 
Altra traduzione :
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (luglio 2022) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Perdoai-me as catástrofes...
Perdonatemi le catastrofi...


Perdoai-me as catástrofes que não vivi.
A História não me trucidou,
Não a ouvi estrondear, zunir, pigarrear,
Não me impôs fatídica mão no ombro,
Não exigiu de mim heroísmos.
Não a predisse, não a moldei,
Não tenho nada que a esbarronde
Nem nada que a alimente
Senão um encadeamento de pequenas histórias –
Desesperos que pareceram grandes,
Mas que afinal o tempo conseguiu tragar,
Desesperos que pareciam abrir abismos
E depois se soldaram num chão inconsútil,
Que transpus sem ser precisa sequer a sombra de um
 salto,
Alguns males pacatos, embora incuráveis.
Vivi em escalas quase miniaturais, tons menores
Seguindo inadvertidamente a máxima
Que avisa contra os excessos.
Salvei-me da imbecilidade algumas vezes,
Mas fui imbecil muitas outras, tantas mais. 
Não porto estigmas, nem auras.
Fui humano e não um fantasma.
Os médicos, os contabilistas, os amanuenses
Que me drenam e dragam podiam bem
Ter sido verdugos numa qualquer máquina de morte –
Calhou apenas que não fossem.
Encaixarei, melhor ou pior,
Em qualquer generalização.
Serve-me a correntia placidez
De um anonimato lapidar,
Uma preparação para o pó.
Televivi claro, grandes massacres,
Maremotos, a fissão atómica de paixões
Que sem dúvida mudaram a face do mundo
E o mais terrível foi, apesar de tanta emoção,
Ter a sorte de ser espectador
Sem sentir a sua realidade
Mais do que uma imagem,
Como tantas outras, indiferentemente
Reais, simuladas, manipuladas.

Perdonatemi le catastrofi che non ho vissuto.
La Storia non mi ha trucidato,
Non l’ho udita strepitare, ronzare, scatarrare,
Non mi ha posto la fatidica mano sulla spalla,
Da me non ha preteso eroismi.
Non l’ho predetta, non l’ho forgiata,
Non ho nulla che la sbaragli
E nulla che l’alimenti
Se non una concatenazione di piccole storie –
Tormenti che parvero immani,
Ma che in fondo il tempo è riuscito a inghiottire,
Tormenti che parvero spalancare abissi
Ma poi si saldarono lasciando un terreno intatto,
Che oltrepassai senza che mi servisse l’ombra d’un
 salto,
Qualche malessere blando, seppure incurabile.
Ho vissuto a scale quasi miniaturizzate, in tono minore
Obbedendo senza volerlo alla massima
Che mette in guardia contro gli eccessi.
Mi sono salvato dall’imbecillità qualche volta,
Ma sono stato imbecille molte altre, tante di più. 
Non porto stimmate né aure.
Sono stato umano, non un fantasma.
I medici, i contabili, gli amanuensi
Che mi drenano e mi dragano avrebbero ben potuto
Esser stati dei boia addetti a qualche macchina di morte –
Per puro caso non lo sono stati.
Mi attaglierei, più o meno bene,
A qualunque generalizzazione.
Mi sostiene la semplice placidità
D’un lapidario anonimato,
Un addestramento a divenir polvere.
Ho televissuto certo, grandi massacri,
Maremoti, la fissione atomica di passioni
Che indubbiamente mutarono la faccia del mondo
E la cosa più terribile fu, malgrado tanta emozione,
Avere la ventura d’essere spettatore
Senza percepire che la loro realtà
Era ben più che un’immagine,
Come tante altre, indifferentemente
Reali, simulate, manipolate.

________________

Antoni Muntadas
Personal/Public (1981)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (107) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (434) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (19) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)