A inocente mala


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A inocente mala
La borsa innocente


Se eu fosse uma coisa, amaria ver-me
como comboio-correio. Longo e nocturno,
devassando o interior, contemplado
de fugida por pinhais e estrelas,
lobos, penhascos e embruxados.
Bom parar em todas as estações.
Cabecear de sono, beber vinho, ser
banco de campónios, crianças, contrabandistas.
Aldeã que reza, desdentada e solícita.
Em cada carruagem existe sempre
um voluntário palhaço que golfa
sua alegria: coroá-lo com o clarim
do galo. E deixar em todos os lugares
as ânforas de barro das paixões
(quase sempre mal-avindas, fortuitas,
temerosas): colaborar, encher
a inocente mala do carteiro.
Se io fossi una cosa vorrei vedermi
come un treno postale. Lungo e notturno,
penetrando l’entroterra, contemplato
di sfuggita da pinete e da stelle,
da lupi, pinnacoli e oggetti incantati.
Bello fermarsi a tutte le stazioni.
Ciondolare il capo per il sonno, bere vino, essere
un duro sedile per contadini, bambini, contrabbandieri.
Campagnola sdentata e premurosa, che prega.
In ogni vagone c’è sempre
un pagliaccio volontario che distribuisce
la sua allegria: da incoronare al canto
del gallo. E lasciare in ogni posto
le anfore d’argilla delle passioni
(quasi sempre mal assortite, fortuite,
terribili): collaborare, riempire
l’innocente borsa del postino.
________________

Andy Warhol
Treno (1983)
...

Poesia


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Poesia
Poesia


Aqui te chamo
aqui me chegas
aqui te escrevo
e respiro:
botija de oxigénio.
Qui ti chiamo
qui m’arrivi
qui ti scrivo
e ti respiro:
mia bottiglia d’ossigeno.
________________

Paul Klee
Introduzione al miracolo (1916)
...

Deixo que a tua fala…



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Deixo que a tua fala...
Lascio che la tua voce…


Deixo que a tua fala me toque,
Aponte onde não havia água
A fonte e me descubra
Onde eu não existia
Persiste a tua imagem
À tona das sílabas de um adeus,
Que se espaçam e endurecem.
Deixo-me arrastar para o nascimento
Irresistível para que a tua fala me convoca,
Desaguando na luz brutal
O primeiro calor demonstra no meu corpo,
O meu sangue exprime-se, delimita
A sua primeira morada dentro do amor.
Lascio che la tua voce mi tocchi,
Indichi dove non c’era acqua
Alla fonte e mi scopra
Dove io non esistevo
Insiste la tua immagine
Sulla pelle delle sillabe di un addio,
Che si distanziano e induriscono.
Mi lascio trascinare verso la nascita
Irresistibile perché la tua voce m’invoglia,
Sfociando nella luce violenta
Il primo calore si manifesta nel mio corpo,
Il mio sangue si palesa, delimita
La sua prima dimora dentro l’amore.
________________

Gustave Poetzsch
Primo giorno (1900 ca.)
...

Ofícios fastos


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Ofícios fastos
Mestieri fausti


Vendedor de balões
perdendo altamente alguns.

Padeiro no elevador com a cesta
perfumando-o, manhã cedo.

Os descarregadores das caixas
de leite arrastando-as pela madrugada.

O pintor de paredes repetindo
flores e aves por um século.

As mulheres da limpeza
correndo, exaustas, para o autocarro.

Um acrobata. Um ervanário sapiente.
Um ciclista boletineiro de núpcias.

Um apicultor obsequioso. Um voluntário,
saltador bombeiro. Mãe amamentando.
Venditore di palloncini
che ne perde celestialmente alcuni.

Fornaio con la cesta nell’ascensore
e profumandolo, di primo mattino.

Gli scaricatori delle casse
di latte trascinandole verso l’aurora.

Il pittore di pareti che va ripetendo
fiori e uccelli per un secolo.

Le donne delle pulizie
che, esauste, corrono a prendere il bus.

Un acrobata. Um erborista sapiente.
Un fattorino in bici con telegrammi di nozze.

Un apicultore rispettoso. Un volontario,
pompiere temerario. Mamma che allatta.
________________

Michelangelo
Madonna col Bambino (1524)
...

Nascente


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Nascente
Sorgente


Quando sinto de noite
o teu calor dormente
e devagar
para que não despertes
digo: cedro azul,
terra vegetal,
ou só
amor, amor;

quando te acaricio
e devagar
para que não despertes
tomo na mão direita
as duas fontes, iguais, da vida,
procuro a nascente
e adormeço
nela essa mão depositando.
Quando di notte sento
dormiente il tuo calore
e piano
perché non ti risvegli
dico: cedro blu,
terra vegetale,
o solamente
amore, amore;

quando t’accarezzo
e lentamente
perché non ti risvegli
prendo nella mano destra
le due fonti, uguali, della vita,
io cerco la sorgente
e m’addormento
appoggiandovi la mano.
________________

Antonio Telesca
La nascita del mondo (2023)
...

Muitas coisas


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Muitas coisas
Molte cose


Não é uma coisa só,
São muitas coisas nuas.

Não é o desabar de uma casa.
É percorrer os seus escombros.

Não é aguardar por um filho.
É voltar a sê-lo.

Não é penetrar em ti.
É sair de mim.

Não é pedir-te que faças.
É fazer-te.

Não é dormir lado a lado.
É estar jacente de mãos dadas.

Não é ouvir vento e chuva.
É franquear-lhes a cama.

É relâmpago que pela terra se funde.
Non è una cosa sola,
Son tante cose nude.

Non è il crollo di una casa.
É attraversare le sue macerie.

Non è l’attesa di un figlio.
É tornare ad esserlo.

Non è penetrare in te.
É uscire da me.

Non è pregare che tu faccia.
É farti.

Non è dormire a te accanto.
É star distesi mano nella mano.

Non è udire vento e pioggia.
É offrir loro un riparo.

É fulmine che nella terra si fonde.
________________

Walter de Maria
The Lightning Field (1970)
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Gratidão que nem sabe…


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Gratidão que nem sabe…
Gratitudine che non sa…


Gratidão que nem sabe
a quem deve ser grata.

Por um novilho, um poldro
vagueando na pastagem,
um farol, uma escada magirus,
uma vasilha de leite, de vinho

Por um beijo, uma sonda
que não regressa de Vénus,
uma safra, uma ceifa
de amantes.

Por ser crente e descrente,
matricial e fiel
ferozmente a si próprio.

Ao início, ao que foi
expurgado, à placenta, grato
Gratitudine che non sa
a chi deve esser grata

Per un vitello, un puledro
che si trastullano sul pascolo,
un faro, una scala telescopica,
una bottiglia di latte, di vino.

Per un bacio, una sonda
che non ritorna da Venere,
un raccolto, una messe
di amanti.

Per essere credente e non credente,
legato al cordone ombelicale
e fieramente fedele a sé stesso.

Grato, all’inizio, a ciò che
venne espulso, alla placenta.
________________

Adrienne Elise Tarver
Mondo (2021)
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Camões


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Camões
Camões


Lia-me Camões meu Pai.
A tristeza de ambos
se juntava, em mim crescia.
E a voz, a inalterável
mergulhia das palavras
procriavam sarmentosos liames.
(Basílico a Mãe depunha no lume,
a carne com alecrim perfumava).
O livro de carneira negra,
as letras juntas em oiro:
morros, alusões, muros
verdentos, o último da vida ouvia.
Mordaça invisível. Em lágrimas,
minhas, de meu Pai e de Camões, voava.
Mio Padre mi leggeva Camões.
La tristezza di entrambi
si univa, in me cresceva.
E la voce, con l’immutabile
talea delle parole,
dava vita a germoglianti legami.
(La Mamma metteva basilico sul fuoco,
insaporiva la carne col rosmarino).
Il libro di cuoio nero,
le lettere decorate in oro:
colline, citazioni, muri
verdognoli, ascoltavo il finire della vita.
Invisibile bavaglio. Tra le lacrime,
mie, di mio Padre e di Camões, io volavo.
________________

Andries Pauwels
Busto di Camões (XVII sec.)
...

Cada Segundo


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Cada Segundo
Ogni secondo


Não desejo a indigência,
a serenidade
dos lugares desertados:
desejo que cada segundo
quando amo
   explodisse
e fosse a terra,
em sua expansão
durante a primeira noite,
a gestante
do mundo.
Non desidero l'indigenza,
la serenità
dei luoghi abbandonati:
desidero che ogni secondo
mentre amo
   esploda
e sia la terra,
nella sua espansione
durante la prima notte,
la gestante
del mondo.
________________

Andrea Chisesi
Fuoco di giugno (2022)
...

Aos Tipógrafos


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Aos Tipógrafos
Ai Tipografi


Desejo-lhes,
reunindo-me
gota a gota,
dez mil anos de vida.

As próprias gralhas
merecem – a poesia
é difícil, caprichosa –
pelo menos metade.

Não exagero: desejo-lhes
mais o dobro dessa vida
quando um dia,
  lendo e compondo,
  me reconstituirão.
Auguro loro,
nel ricompormi
goccia a goccia,
diecimila anni di vita.

I refusi stessi
lo meritano – la poesia
è difficile, capricciosa –
per lo meno la metà.

Non esagero: auguro loro
più del doppio di questa vita
quando un giorno,
  leggendo e componendo,
  mi ricostituiranno.
________________

Henri de Braekeleer
Il tipografo (1880 ca.)
...

A erosão de um pacto…



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A erosão de um pacto…
L’erosione di un patto…


A erosão de um pacto,
O real anestesiado,
Tu e eu, suspensos
E este som incessante
De vidro que se parte.
A febre exuma um delírio,
Amanhã não é o futuro, não ainda.
L’erosione di un patto,
La realtà anestetizzata,
Tu ed io, sospesi
E questo incessante rumore
Di vetro che s’infrange.
La febbre riesuma un delirio,
Domani non è il futuro, non ancora.
________________

Marcel Duchamp
Il grande vetro (1915)
...

Amor de Goya


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Amor de Goya
Amore di Goya


Qual das duas, a nua ou a vestida,
contém a sua alma? Seguramente
ambas percorreu poro a poro,
afundou-se no seu peito, na suave
cratera do ventre, na fenda
gulosa que nenhum filho lhe deu
e no bosquete, no acre perfume das axilas;
beijou em ambas os olhos tremendamente
  inexplicáveis,
ponto equidistante dos lábios e sua delicada união,
tocou-lhes na anca, nessa parte
que nem a garupa do mais esbelto dos seus cavalos
excedeu alguma vez
e acariciou-lhes os joelhos,
implorando, sem palavras, morrer entre eles.

Se pudesse trocar de alma, a tua, Goya,
escolheria. Felicidade da pintura:
eis vivo, duplo, evidência cósmica, o que amaste
e tu dentro delas, sangue, carnação, a luz
distante, orgulhosa, dolorida de seus olhos.
Delle due quale, la nuda o la vestita,
racchiude la sua anima? Di certo
esplorò entrambe poro a poro,
affondò nel loro petto, nel delicato
cratere del ventre, nell’avida
fessura che nessun figlio gli donò
e nel boschetto, nell’acre effluvio delle ascelle;
baciò gli occhi d’entrambe tremendamente
  indecifrabili,
punto equidistante dalle labbra e loro morbida unione,
toccò loro le anche, in quella parte
che neppure la groppa del più agile dei suoi cavalli
riuscì mai a surclassare
e le loro ginocchia accarezzò,
supplicando, senza parole, di potervi morire.

Se l’anima potessi scambiare, la tua, Goya,
io sceglierei. Felicità della pittura:
ecco vivido, doppio, evidenza cosmica, ciò che amasti
e tu dentro di loro, sangue, carnagione, la luce
distante, altera, mesta dei loro occhi.
________________

Francisco Goya
La maja vestida (1800 ca.)
...

A própria voz


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A própria voz
La propria voce


Ouvir a própria voz, gravada.
Alguém que fala, levemente
desconhecido, do outro lado,
ainda seu, do mundo.
Udire la propria voce, registrata.
Qualcuno che parla, vagamente
sconosciuto, dall’altro lato,
ancora suo, del mondo.
________________

Gerhard Richter
Ritratto di Helmut Klinke (1965)
...

A Mulher de Vermeer


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A Mulher de Vermeer
La donna di Vermeer


Exposta à janela em Amesterdão
correu a cortina
e acendeu a luz vermelha.
De relance, seminua, a vi.

Temeria eu fosse
Vermeer e a contemplasse
com nitidez elegíaca,
de azul-prateado e cinza-pérola,
límpida, tangível, quase mãe?
Esposta alla finestra ad Amsterdam
ha scostato la tenda
e acceso la luce rossa.
Con un’occhiata l’ho vista, seminuda.

Immaginavo d'essere
Vermeer e di contemplarla
nell’elegiaca nitidezza,
in blu argentato e grigio perla,
limpida, tangibile, quasi madre?
________________

Johannes Vermeer
Donna che legge una lettera (1662-1663)
...

Ressurreição de Leopoldo Panero


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A Ignorância da Morte (1978) »»
 
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Ressurreição de Leopoldo Panero
Resurrezione di Leopoldo Panero


I
Não, Panero, não creio
na ressurreição da carne.
Não esperes debaixo dessa pedra:
Deus teve sempre a face
de um homem incorruptível
lutando contra os seus demónios.
Lázaro, que tudo soube e nada
disse, jaz a teu lado.

É melhor restituir aos outros
os nossos quinze anos,
a esperança de que sejam luminosos
e sobrevivam, como sementes de luzerna,
e escrever, como tu, versos
que detinham o fogo e a neve divinas
e amá-los como se neles
resplandecessem ainda os teus olhos
e a fé que os abrasava, limpos de cinza.

II
E contudo, Panero, desejaria
matar-te a sede com um favo de mel,
com hortelã e funcho despertar-te o olfacto,
a vista com os olhos que amavas, azuis,
o tacto com a própria pele, recém-nascida.

Desejaria, sim, pudesses dizer
que presenciaste a transfiguração
do Deus dos mortos em Deus dos vivos
e que Ele sofreu mais que o Filho
para sair do sepulcro, e te ungiu
os ossos purificando a íntima lepra,
e que a tua alma penetrou no corpo
como a primavera dentro de um ninho.
I
No, Panero, io non credo
nella resurrezione della carne.
Non stare in attesa sotto questa pietra:
Dio ha sempre avuto il volto
d’un uomo incorruttibile
che lotta contro i propri demoni.
Lazzaro, che tutto conosceva e nulla
disse, ti giace accanto.

È meglio restituire agli altri
i nostri quindici anni,
sperando che siano luminosi
e sopravvivano, come semi d’erba medica,
e, come te, scrivere versi,
che racchiudano la neve e il fuoco divini,
e amarli come se in essi
risplendessero ancora i tuoi occhi
e la fede che li bruciava, ma privi di cenere.

II
Eppure, Panero, io avrei voluto
spegnere la tua sete con un favo di miele,
con menta e anice risvegliarti l’olfatto,
la vista con gli occhi, azzurri, che amavi,
il tatto con la tua stessa pelle, appena nata.

Avrei voluto, sì, che tu potessi dire
d’aver presenziato alla trasfigurazione
del Dio dei morti nel Dio dei vivi
e che Egli aveva sofferto più del Figlio
per uscire dal sepolcro, e che ti unse
le ossa, per purificare la tua intima lebbra,
e che la tua anima penetrò nel corpo
come la primavera dentro un nido.
________________

Vincent van Gogh
La resurrezione di Lazzaro (da Rembrandt) (1890)
...

As contracções…



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Poesie inedite »»
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As contracções…
Le contrazioni…


As contracções,
A ira de Deus,
O sangue da maçã mordida,
A serpente enroscada
No pescoço que aperta
E aperta,
A fractura da identidade,
A deriva pelo medo.
A luminosa e uterina treva
Que se desvanece
E dá lugar à escuridão da luz
Do primeiro dia.
Criado para apenas perceber
O lacunar silêncio
De tudo o que se perdeu.
Le contrazioni,
L’ira di Dio,
Il sangue della mela morsa,
Il serpente attorcigliato
Intorno al collo che stringe
E stringe,
La scissione dell’identità,
La deriva per la paura.
La luminosa e uterina tenebra
Che si dissolve
E dà luogo all’oscurità della luce
Del primo giorno.
Creato solo per percepire
Il lacunoso silenzio
Di tutto ciò ch’è andato perso.
________________

Giuseppe Sanmartino
Neonato dormiente (1775 ca.)
...

Os Loucos


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A Ignorância da Morte (1978) »»
 
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________________


Os Loucos
I pazzi


Há vários tipos de louco.

O hitleriano, que barafusta.
O solícito, que dirige o trânsito.
O maníaco fala-só.

O idiota que se baba,
explicado pelo psiquiatra gago.
O legatário de outros,
o que nos governa.

O depressivo que salva
o mundo. Aqueles que o destroem.

E há sempre um
(o mais intratável) que não desiste
e escreve versos.

Não gosto destes loucos.
(Torturados pela escuridão, pela morte?)
Gosto desta velha senhora
que ri, manso, pela rua, de felicidade.
Ci sono vari tipi di pazzo.

L’hitleriano, che straparla.
Quello solerte, che dirige il traffico.
Il maniaco che parla da solo.

L’idiota che parla sbavando,
compreso dallo psichiatra balbuziente.
Il delegato degli altri,
quello che ci governa.

Il depresso che salva
il mondo. E quelli che lo distruggono.

E ce n’è sempre uno
(il più scorbutico) che non demorde
e scrive versi.

A me questi pazzi non piacciono.
(Torturati dalla tenebra, dalla morte?)
Mi piace questa vecchia signora
che quieta, nella via, ride di gioia.
________________

Francisco Goya
La casa dei pazzi (1808)
...

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