As contracções…



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As contracções…
Le contrazioni…


As contracções,
A ira de Deus,
O sangue da maçã mordida,
A serpente enroscada
No pescoço que aperta
E aperta,
A fractura da identidade,
A deriva pelo medo.
A luminosa e uterina treva
Que se desvanece
E dá lugar à escuridão da luz
Do primeiro dia.
Criado para apenas perceber
O lacunar silêncio
De tudo o que se perdeu.
Le contrazioni,
L’ira di Dio,
Il sangue della mela morsa,
Il serpente attorcigliato
Intorno al collo che stringe
E stringe,
La scissione dell’identità,
La deriva per la paura.
La luminosa e uterina tenebra
Che si dissolve
E dà luogo all’oscurità della luce
Del primo giorno.
Creato solo per percepire
Il lacunoso silenzio
Di tutto ciò ch’è andato perso.
________________

Giuseppe Sanmartino
Neonato dormiente (1775 ca.)
...

Os Loucos


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Os Loucos
I pazzi


Há vários tipos de louco.

O hitleriano, que barafusta.
O solícito, que dirige o trânsito.
O maníaco fala-só.

O idiota que se baba,
explicado pelo psiquiatra gago.
O legatário de outros,
o que nos governa.

O depressivo que salva
o mundo. Aqueles que o destroem.

E há sempre um
(o mais intratável) que não desiste
e escreve versos.

Não gosto destes loucos.
(Torturados pela escuridão, pela morte?)
Gosto desta velha senhora
que ri, manso, pela rua, de felicidade.
Ci sono vari tipi di pazzo.

L’hitleriano, che si straparla.
Quello solerte, che dirige il traffico.
Il maniaco che parla da solo.

L’idiota che parla sbavando,
compreso dallo psichiatra balbuziente.
Il delegato degli altri,
quello che ci governa.

Il depresso che salva
il mondo. E quelli che lo distruggono.

E ce n’è sempre uno
(il più scorbutico) che non demorde
e scrive versi.

A me questi pazzi non piacciono.
(Torturati dalla tenebra, dalla morte?)
Mi piace questa vecchia signora
che quieta, nella via, ride di gioia.
________________

Francisco Goya
La casa dei pazzi (1808)
...

Mãe que Levei à Terra…


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Mãe que Levei à Terra…
Madre che accompagnai alla terra…


Mãe que levei à terra
como me trouxeste no ventre,
que farei destas tuas artérias?
Que medula, placenta,
que lágrimas unem aos teus
estes ossos? Em que difere
a minha da tua carne?

Mãe que levei à terra
como me acompanhaste à escola,
o que herdei de ti
além de móveis, pó, detritos
da tua e outras casas extintas?
Porque guardavas
o sopro de teus avós?

Mãe que levei à terra
como me trouxeste no ventre,
vejo os teus retratos,
seguro nos teus dezanove anos,
eu não existia, meu Pai já te amava.
Que fizeste do teu sangue,
como foi possível, onde estás?
Madre che accompagnai alla terra
così come tu nel ventre mi recasti,
che ne farò di queste tue arterie?
Che midollo, che placenta,
che lacrime congiungono alle tue
queste mie ossa? In cosa è differente
la mia dalla tua carne?

Madre che accompagnai alla terra
così come tu mi conducesti a scuola,
da te che cosa ereditai
al di là di mobili, polvere, ruderi
della tua e di altre case scomparse?
Perché custodivi
il respiro dei tuoi nonni?

Madre che accompagnai alla terra
così come tu nel ventre mi recasti,
rimiro i tuoi ritratti,
mi stringo ai tuoi diciannove anni,
io ancora non c’ero, mio padre già t’amava.
Che ne hai fatto del tuo sangue,
com’è stato possibile, tu dove sei?
________________

Benjamin Haughton
Cimitero della chiesa (1920 ca.)
...

Mãe que amava como Florença…


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Mãe que amava como Florença…
Madre che amavo come Firenze…


Mãe que amava como Florença,
a tua lingua, ciprestes,
oliveiras, brancos bois;
Mãe que eras a ponte velha,
estrume jacente na campina,
o cemitério com laranjeiras
sobre o Arno
onde me levaste ao pé de teu Pai:
desterrada aquí continuas.
Madre che amavo come Firenze,
la tua lingua, i cipressi,
gli ulivi, i buoi bianchi;
madre che eri il ponte vecchio,
concime sparso sulla campagna,
il cimitero con gli aranceti
lungo l’Arno
dove m’hai condotto al tumulo di tuo padre:
qui, tu esule, continui la tua strada.
________________

Telemaco Signorini
Veduta del Ponte vecchio a Firenze (1879-1880)
...

Fala o tractor


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Fala o tractor
Il trattore parla


Não gosto deste perfil de gafanhoto.
Constante sou, trépido, usam-me,
servo da gleba. Rasgo e acamo,
tenho um veio de dolorosa, serena
transmissão. Custa levar de rojo
uma vaca à cova. Esmaguei já
uma perna. Detesto o peso do reboque.
Cinco anos e ainda não percebo estas
sujas peças que rodam em mim.
A escavadora, ao menos, uiva
(amo-a). Não me agrada a sucata.
Non mi piace questo profilo da cavalletta.
Sono costante, tremulo, mi usano
da servo della gleba. Scavo e ammucchio,
possiedo un organo di dolorosa e serena
trasmissione. È difficile trasportare di botto
una mucca alla stalla. Ho già rotto
una zampa. Odio il peso del rimorchio.
Cinque anni e ancora non capisco questi
sporchi ingranaggi che ruotano in me.
La scavatrice, almeno, ruggisce
(io l’amo). Non m’intrigano le ferraglie.
________________

Beatrice Gelmetti
La ruggine non dorme mai (2024)
...

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a Viação Fluvial
Caronte S.A.
convida para o tour
Meandros do Estige


encontro: domingo às 9
na Praça Central

previsão de tempo: poucas nuvens
(levar chapéu e protetor solar)

contribuição consciente – sugerem-se
duas moedas para o barqueiro
e um quilo de ração
para o vigilante Cérbero
il Servizio Fluviale
Caronte S.A.
invita al tour
Meandri dello Stige


incontro: domenica alle 9
nella Piazza Centrale

previsioni del tempo: poco nuvoloso
(munirsi di cappello e protezione solare)

contributo volontario – si suggeriscono
due monete per il barcaiolo
e una razione da un chilo
per il guardiano Cerbero
________________

Joachim Patinir
La traversata dello Stige (1520 ca.)
...

Mexilhão Fumado


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Mexilhão Fumado
Mexilhão Fumado


a latinha
Mexilhão Fumado em Azeite
(smoked mussel in olive oil)
da marca Comur/1942
veio de Portugal

parece uma lata de sardinha

há nela imagens –
caravelas marinheiros espadas
monstros escudos portulanos
além do oceano
obviamente

em destaque
a data 1500 com o subscrito
“Descoberta Oficial do Brasil
por Pedro Álvares Cabral”

(segundo Oswald de Andrade
isso não é bem verdade –
antes dos portugueses descobrirem o Brasil,
o Brasil tinha descoberto a felicidade)

validade:
consumir
de preferência
antes do fim de 2023

e a nossa?
la lattina
Mexilhão Fumado em Azeite
(cozze affumicate in olio d’oliva)
di marca Comur/1942
è venuta dal Portogallo

sembra una scatola di sardine

sopra ci sono delle figure –
caravelle marinai spade
mostri scudi portolani
d’oltre oceano
ovviamente

in evidenza
la data 1500 con la specifica
“Scoperta Ufficiale del Brasile
da parte di Pedro Álvares Cabral”

(secondo Oswald de Andrade
questo non è affatto vero –
prima che i portoghesi scoprissero il Brasile,
il Brasile aveva scoperto la felicità)


scadenza:
consumare
preferibilmente
prima della fine del 2023

e la nostra?
________________

Corrado Bonomi
Mare (1987)
...

Longevidade


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Longevidade
Longevità


o relógio disparou

galopantes
os anos se vão

a velhice
chegou

altura e peso
diminuem sem parar

amanhã
me olharei no espelho
com auxílio de uma lupa

invejarei até a mosca
por saber voar
l’orologio è scattato

al galoppo
gli anni se ne vanno

la vecchiaia
è arrivata

altezza e peso
diminuiscono senza sosta

domani
mi guarderò allo specchio
con l’aiuto di una lente

invidierò perfino la mosca
perché sa volare
________________

Francisco Goya
Due vecchi che mangiano la zuppa (1820-1823)
...

Fala o arrumador de automóveis


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Fala o arrumador de automóveis
Parla il parcheggiatore di macchine


Assustado com a miséria e estes anos,
pouco espero de Deus e dos homens.
Não mendigo, olho de soslaio, adivinho,
sem gratidão guardo no bolso os óbolos.
E fui pescador, depois faroleiro: longe
deitava a alma, relâmpago
sobre falésias, em estrelas tocava,
a sirene era o meu grito de amor.
Transluzente e distante e bom
como clarões de um farol nunca foi fácil:
algo se afundava debaixo de mim,
desconhecida culpa. Odeio, sim, odeio
este parque onde chuva e sol impõem as mãos
e na pele penetram sem bálsamo.
Primeiro a luxúria, depois vinho,
escuridão. No fundo de um poço
cujas paredes ressumam lágrimas e avencas.
Custa ganhar a vida e perdê-la.
Tudo foi defraudado, sou eu
eu ou alguém por mim - quem aperta
desde a infância o nó que me estrangula.
Angustiato dalla miseria e da questi tempi,
m’aspetto poco da Dio e dagli uomini.
Non elemosino, guardo di sguincio, indovino,
senza gratitudine mi metto in tasca gli oboli.
E son stato pescatore, poi guardiano di faro: lontano
coricavo la mia anima, bagliore
sopra le scogliere, toccavo le stelle,
la sirena era il mio grido d’amore.
Trasparente, distante e buono
come i lampi d’un faro non fu mai facile:
qualcosa sprofondava sotto di me,
sconosciuta la colpa. Odio, sì, odio
questo parcheggio dove pioggia e sole calcano le mani
e penetrano nella pelle senza balsamo.
Dapprima la lussuria, poi il vino,
tenebra. Nel fondo di un pozzo
sulle cui pareti gocciolano lacrime e felci.
È duro guadagnarsi la vita e perderla.
Di tutto sono stato defraudato, sono io
- io o qualcuno per me - colui che stringe
fin dall’infanzia il nodo che mi strangola.
________________

Andrew Wyeth
Faro abbandonato (1977)
...

Cura


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Cura
Cura


melhor
um vaso
de cacos colado
que
um não-vaso

as formas
são mais belas
que o nada
simplesmente
porque são

melhor
um vaso
de cacos colados –
nele
as flores se ajeitam
meglio
un vaso
di cocci incollati
che
un non-vaso

le forme
sono più belle
del nulla
semplicemente
perché sono

meglio
un vaso
di cocci incollati –
lì dentro
i fiori si mettono comodi
________________

Alfred Henry O'Keeffe
Il vaso rotto (1929)
...

Árvore de sonhos


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Árvore de sonhos
Albero di sogni


uma árvore
cujos frutos sejam sonhos
uma árvore
que navegue em mar aberto
uma árvore
que flutue com a brisa

colher os sonhos
comer os sonhos
sonhar os sonhos

não mais saber
se sonho é sonho
se o real é sonho

alguns frutos apodrecem
alguns sonhos viram pesadelo
nem sempre estamos a salvo

a realidade é uma bala
um sapo
que distraídos engolimos

onde, como
apear do sonho real?
un albero
i cui frutti siano sogni
un albero
che navighi in mare aperto
un albero
che fluttui nella brezza

cogliere i sogni
mangiare i sogni
sognare i sogni

non sapere più
se un sogno è sogno
se il reale è sogno

certi frutti marciscono
certi sogni diventano un incubo
non sempre siamo al sicuro

la realtà è una pallottola
un rospo
che ingoiamo distratti

dove, come
smontare dal sogno reale?
________________

Giuseppe Penone
Idee di pietra (2010)
...

Fala Dante


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Fala Dante
Dante parla


Eu, güelfo branco, grato estou
ao longo exilio e aos gibelinos.
Perfidos, uns e outros pão amargo
me deram. E eu dei-lhes, e a Florença
e ao mundo, o meu inferno.
Ainda vivo e o deles, morto.
Io, guelfo bianco, sono riconoscente
al lungo esilio e ai ghibellini.
Infami, gli uni e gli altri amaro pane
mi offrirono. Ed io a loro donai, e a Firenze
e al mondo, il mio inferno.
Che ancora è vivo, mentre il loro, morto.
________________

Domenico di Michelino
Dante e la Divina Commedia (1465)
...

Instruções para a morte



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Instruções para a morte
Istruzioni per la morte


1.
Imortal
É toda a vida
Que não temos.

2.
Sem ensaios
A nossa morte.

3.
Suspeita quando o teu corpo
Te disser que é só sono
E o sono, sempre,
Que ainda não é manhã.

4.
As formas do tempo:
Coisas, nós,
Princípios e fins.

5.
Rasgámos
A seda do eclipse.

A treva é ainda maior.

  (Aparentemente, um poeta é uma entidade que gosta da morte.
  A cada poema, parece que renasce a contra- gosto, parece perguntar: para quê, porquê pertur- bando-me, criando-me? A resposta, ainda ninguém a ouviu. Ou ouviu-se variamente e a verdadeira, ou verdadeiras, se as há, estão perdidas nesse transe de confusão.)
1.
Immortale
È tutta la vita
Che non ci appartiene.

2.
Senza prove
È la nostra morte.

3.
Diffida quando il tuo corpo
Ti dice che solo di sonno si tratta
E il sonno ti dice, sempre,
Che ancora non è mattino.

4.
Le forme del tempo:
Cose, noi,
Principi e fini.

5.
Squarciamo
La seta dell’eclisse.

La tenebra è ancor più grande.

  (Apparentemente, un poeta è un’entità che ama la morte.
  Ad ogni poesia, sembra rinascere controvoglia, sembra domandare: come mai, perché viene a sconvolgermi, a ricrearmi? La risposta, nessuno ancora l’ha sentita. O s’è sentita in vari modi e quella vera, o quelle vere, se ci sono, sono perdute in questo stato confusionale.)
________________

Mario Ceroli
Fantasma (1995)
...

Passagem para o inorgânico


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Passagem para o inorgânico
Passaggio all’inorganico


uma folha se desgarra da árvore e cai
outra folha cai
e outra
 
o vento
quando vem
arranca as folhas secas
 
a velhice
é como uma folha seca
que se desprendeu
 
na calçada
os transeuntes caminham
sobre um tapete de folhas
 
ainda há algo de belo nisso
assim como vemos beleza
num fóssil
una foglia si stacca dall’albero e cade
un’altra foglia cade
e un’altra

il vento
quando viene
solleva le foglie secche

la vecchiaia
è come una foglia secca
che s’è staccata

sul marciapiede
i passanti camminano
sopra un tappeto di foglie

ma c’è qualcosa di bello in questo
come quando vediamo la bellezza
in un fossile
________________

Gustav Klimt
Foglie morte sotto le betulle (1903)
...

Lago das pombas


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Lago das pombas
Lago delle colombe


a pomba no beiral do telhado
da escola de balé Cisne Negro
empresta meus olhos

com ar zen
contempla a Zona 1 arborizada
e os prédios ao fundo
iluminados pelo sol do fim de tarde

ouvirá Tchaikovsky no andar de baixo?

saberá que ali no quarto andar da escola
adolescentes fazem do corpo asas
para um dia quase voar como ela?

jovens, cuidado,
não se aventurem
além do quase
la colomba sulla grondaia del tetto
della scuola di ballo Cigno Nero
prende in prestito i miei occhi

con aria zen
contempla la Zona 1 alberata
e gli edifici là in fondo
illuminati dal sole della sera

ascolterà Tchaikovsky al piano di sotto?

saprà che lì al quarto piano della scuola
degli adolescenti danno ali al proprio corpo
perché un giorno possa volare quasi come lei?

ragazzi, attenti,
non avventuratevi
al di là del quasi
________________

Ohara Koson
Cigni e giunchi (1930)
...

Elegia para Mário Quintana, vivo


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Elegia para Mário Quintana, vivo
Elegia per Mario Quintana, vivo


Antes que escape
e não adivinhe o exacto momento,
antecipo-me a Sua Ex.ª
e auguro-lhe, tarde, a vida eterna.

Já agora, continue os seus
Apontamentos de História Sobrenatural:
por porta travessa faça chegar
o Manual do Perfeito Abismo.

E fale dessa história obsessiva
do cricrilar dos grilos
(parecido com o cantarolar
dos seus vermes?)

Diga ao menos se conseguiu
encontrar Botticelli,
de quem o senhor descende:
entreajudem-se.

E, se a coisa o não embaraçar,
ilumine-nos com a enormidade
da sapiência divina.
Peça-lhe (é preciso audácia
com Deus) que assine
a sua ordem de expulsão
– e volte, gestante,
pelo túnel de outra vida.
Prima che mi sfugga
e non azzecchi il momento preciso,
precedo Sua Ecc. za
e le auguro, tardi, la vita eterna.

E intanto, continui i suoi
Apontamentos de História Sobrenatural:
per vie traverse faccia uscire
il “Manuale dell’Abisso Perfetto”.

E parli di questa storia ossessiva
del frinire dei grilli
(analogo al canticchiare
dei suoi vermi?)

Dica almeno se è riuscito
ad incontrare Botticelli,
da cui Lei discende:
datevi una mano.

E, se la cosa non la imbarazza,
c’illumini con l’immensità
della sapienza divina.
Lo induca (ci vuole dell’audacia
con Dio) a sottoscrivere
il suo ordine d’espulsione
– e ritorni, gestante,
per il tunnel di un’altra vita.
________________

Alphonse Mucha
L'abisso (1899)
...

Como um pombo…


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Como um pombo…
Come un colombo…


  … tutto non si può mai dire, né di sé
  né degli altri, né dei vivi né dei morti.
    Umberto Saba

Como um pombo do Piazzale Michelangelo
voo, rua a rua, no céu de Florença.
Procuro chegar ao telhado,
à destruída casa de teus pais.
Ficou no ar um pouco, que sorvo,
de amor e angústia. Bebo no Arno
a tua última lágrima, igual
à matéria do rio. Chego ao ponto
mais alto do Campanile de Giotto e ouço
os sinos que percorrem Fiesole, as colinas
e casas colónicas. Leonardo
comprava no Mercato di San Lorenzo
aves para lhes dar, de novo, asas.
Agora sou eu quem voa amando por ti
e por mim a sua triste e orgulhosa
alma, pouso no Battistero
porque sei que Dante foi ali baptizado
e conspurco em Orsanmichele a cabeça de San Giorgio
tocando no bronze que teve a mão de Donatello.
Ó coisas ocres, de açafrão, enegrecidas,
sobre as quais voo buscando pedaços de pão
que transeuntes dadivosos oferecem.
E à espera que uma persiana se abra
e encontre, Mãe, um rosto que lembre o tec
e onde nessa mão eu chegue e coma.
  … tutto non si può mai dire, né di sé
  né degli altri, né dei vivi né dei morti.
    Umberto Saba

Come un colombo del Piazzale Michelangelo
volo, nel cielo di Firenze, via per via.
Tento d’arrivare al tetto
della casa demolita dei tuoi genitori.
Nell’aria è rimasto, e lo sorseggio,
un po’ d’amore e d’affanno. Bevo nell’Arno
la tua ultima lacrima, identica
alla sostanza del fiume. Raggiungo il punto
più alto del Campanile di Giotto e sento
la campane che attraversano Fiesole, le colline
e la case coloniche. Leonardo
al Mercato di San Lorenzo comprava
uccelli per ridar loro, di nuovo, le ali.
Adesso sono io a volare amando per te
e per me la sua anima triste
e orgogliosa, mi poso sul Battistero
sapendo che lì fu battezzato Dante
e, a Orsanmichele, insudicio la testa di San Giorgio
sfiorando il bronzo che la mano di Donatello plasmò.
Oh cose di color ocra e zafferano, brunite,
sopra le quali volo in cerca di tozzi di pane
che viandanti generosi dispensano.
In attesa che una persiana si schiuda
e io incontri, mamma, un volto che mi ricordi il tuo
ed una mano su cui posarmi e mangiare.
________________

René Magritte
L'uomo con la bombetta (1964)
...

Nuvola degli autori (e alcune opere)

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