Index


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Eucanaã Ferraz »»
 
Escuta (2015) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Index
Indice


Um cavalo morto não pode ler poemas.
Um leão morto não pode ler poemas.
Uma árvore morta não pode ler poemas.
O afogado não pode ler poemas.

Morto com 19 anos de idade no dia 19 de abril,
Domingo de Ramos, Gary English, atropelado por um
 Land Rover
do exército britânico sob o ataque de coquetéis molotov,
não pode ler poemas.

Todos que morreram com 19 anos não podem ler
 poemas.

Então o avião explodiu no céu da Ucrânia Oriental
e um dos cadáveres atravessou o telhado da casa de
 Irina Tipunova.
Os mortos no campo de girassóis não podem ler
 poemas.

Como explicar a poesia a uma baleia morta?
Como explicar a poesia?

O silêncio multiplica-se, incompreensível, no vento.
Mas o selo, inconfundível, não deixa dúvida.
É o silêncio. Como vem de longe, tem fome.

Dois amigos bebiam na cidade de Irbit, nos montes
 Urais.
O anfitrião insistiu que a verdadeira literatura era
 a prosa,
enquanto o convidado, um antigo professor, afirmava
 que era a poesia.
A discussão literária tornou-se rapidamente num
 conflito
e o amante da poesia matou o oponente a facadas,
disseram os investigadores.

Os desaparecidos, até que ressurjam, mesmo que
 séculos depois,
até que sejam sepultados estarão impedidos de ler
 quaisquer poemas.

Os mortos em Ruanda, na China, na Bósnia, no Congo,
no Líbano, no Paquistão, nenhum deles nunca mais
lerá um só poema, é preciso que se diga.

Meu pai não pode ler este poema.
Un cavallo morto non può leggere poesie.
Un leone morto non può leggere poesie.
Un albero morto non può leggere poesie.
L’affogato non può leggere poesie.

Morto a 19 anni d’età, il 19 di aprile,
Domingo de Ramos, Gary English, investito da una
 Land Rover
dell’esercito britannico sotto attacco di molotov,
non può leggere poesie.

Tutti quelli morti a 19 anni non possono leggere
 poesie.

Allora, l'aereo esplose nel cielo dell’Ucraina Orientale
e uno dei cadaveri attraversò il tetto della casa di
 Irina Tipunova.
I morti nel campo di girasoli non possono leggere
 poesie.

Come spiegare la poesia a una balena morta?
Come spiegare la poesia?

Il silenzio, inspiegabilmente, si moltiplica nel vento.
Ma la sua impronta, inconfondibile, non lascia dubbi.
È il silenzio. Dato che viene da lontano, ha fame.

Due amici bevevano nella città di Irbit, sui monti
 Urali.
L’anfitrione sosteneva che la vera letteratura era
 la prosa,
mentre l’invitato, un anziano professore, affermava che
 era la poesia.
La diatriba letteraria degenerò rapidamente in un
 conflitto
e l’amante della poesia uccise l’avversario a coltellate,
dissero gli investigatori.

Agli scomparsi, finché non riappariranno, anche dopo
 secoli,
finché non saranno sepolti, non sarà possibile leggere
 alcuna poesia.

I morti in Ruanda, in Cina, in Bosnia, nel Congo,
nel Libano, in Pakistan, nessuno di loro leggerà
mai più una sola poesia, bisogna che si dica.

Mio padre non può leggere questa poesia.
________________

Emil Filla
Un lettore di Dostoevskij (1907)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Adão Ventura (41) Adélia Prado (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (40) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antonio Brasileiro (41) Antonio Osorio (42) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Antônio Cícero (40) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (113) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eucanãa Ferraz (37) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (40) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (30) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) Jorge Sousa Braga (40) Jorge de Sena (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Régio (41) José Saramago (40) José Tolentino de Mendonça (42) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Luis Filipe Castro Mendes (40) Lêdo Ivo (33) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (33) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mario Quintana (38) Micheliny Verunschk (40) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Mário Cesariny (34) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (515) Paulo Leminski (43) Pedro Mexia (40) Poemas Sociais (30) Poemas dos dias (29) Pássaro de vidro (52) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (48) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)