El laberinto de la soledad


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El laberinto de la soledad
El laberinto de la soledad


Yuri viu que a Terra é azul e disse a Terra é azul.
Depois disso, ao ver que a folha era verde disse
a folha é verde, via que a água era transparente

e dizia a água é transparente via a chuva que caía
e dizia a chuva está caindo via que a noite surgia
e dizia lá vem a noite, por isso uns amigos diziam

que Yuri era só obviedades enquanto outros
atestavam que tolo se limitava a tautologias
e inimigos juravam que Yuri era um idiota

que se comovia mais que o esperado; chorava
nos museus, teatros, diante da televisão, alguém
varrendo a manhã, cafés vazios no fim da noite,

sacos de carvão; a neve caindo, dizia é branca
a neve e chorava; se estava triste, se alegre,
essa mágoa; mas ria se via um besouro dizia

um besouro e ria; vizinhos e cunhados decretaram:
o homem estava doido; mas sua mulher assegurava
que ele apenas voltara sentimental. O astronauta

lacrimoso sentia o peito tangido de amor total
ao ver as filhas brincando de passar anel
e de melancolia ao deparar com antigas fotos

de Klushino, não aquela dos livros, estufada
de pendões e medalhas, mas sua aldeia menina,
dos carpinteiros, das luas e lobisomens,

de seu tio Pavel, de sua mãe, do trem,
de seus primos, coisas assim, luvas velhas,
furadas, que servem somente para chorar.

Era constrangedor o modo como os olhos
de Yuri pareciam transpassar parede,
nas reuniões de trabalho, nas solenidades,

nas discussões das metas para o próximo ano
e no instante seguinte podiam se encher de água
e os dentes ficavam quase azuis de um sorriso

inexplicável; um velho general, ironicamente
ou não, afirmara em relatório oficial que Yuri
Gagarin vinha sofrendo de uma ternura

devastadora; sabe se lá o que isso significava,
mas parecia que era exatamente isso, porque
o herói não voltou místico ou religioso, ficou

doce, e podia dizer eu amo você com a facilidade
de um pequeno-burguês, conforme sentença
do Partido a portas fechadas. Certo dia, contam,

caiu aos pés de Octavio Paz; descuidado tropeçara
de paixão pelas telas cubistas degeneradas de Picasso.
Médicos recomendaram vodka, férias, Marx,

barbitúricos; o pobre-diabo fez de tudo
para ser igual a todo mundo; mas,
quando aparecia apenas banal, logo dizia coisas

como a leveza é leve. Desde o início,
quiseram calá-lo; uma pena; Yuri voltou vivo
e não nos contou como é a morte.
Yuri vide che la Terra era azzurra e disse la Terra è azzurra.
In seguito, vedendo che la foglia era verde disse
la foglia è verde, vedeva che l’acqua era trasparente

e diceva l’acqua è trasparente, vedeva la pioggia cadere
e diceva sta cadendo la pioggia, vedeva scendere la notte
e diceva ecco che scende la notte, perciò certi amici dicevano

che Yuri non era che ovvietà mentre altri
attestavano che da grullo si limitava a tautologie
e i nemici giuravano che Yuri era un idiota

che si commoveva più del necessario; piangeva
nei musei, nei teatri, davanti alla televisione, se qualcuno
la mattina ramazzava le vie, i caffè vuoti a fine giornata,

i sacchi di carbone; se cadeva la neve, diceva è bianca
la neve e piangeva; se era triste o allegro,
sempre in pena; ma rideva vedendo uno scarabeo e diceva

c’è uno scarabeo e rideva; vicini e cognati proclamarono
che quell’uomo era malato; ma sua moglie assicurava
che lui era solo diventato sentimentale. L’astronauta

facile al pianto sentiva il cuore preso da un amore totale
vedendo le figlie giocare a passarsi l’anello
e dalla malinconia nel rivedere vecchie foto

di Klushino, non quella dei libri, carica
di pendagli e medaglie, ma il villaggio della sua infanzia,
dei carpentieri, delle lune e dei lupi mannari,

di suo zio Pavel, di sua madre, del treno,
dei suoi cugini, cose così, vecchi guanti
bucati, che servono solo per piangere.

Era imbarazzante il modo con cui gli occhi
di Yuri sembravano trapassare le pareti,
nelle riunioni di lavoro, nelle solennità,

nei dibattiti sugli obiettivi per l’anno prossimo
e nell’attimo seguente potevano riempirsi di lacrime
e i suoi denti diventavano quasi azzurri in un sorriso

inesplicabile; un vecchio generale, ironicamente
o meno, affermò in una relazione ufficiale che Yuri
Gagarin stava soffrendo di una tenerezza

devastante; non si sa che cosa significasse,
ma sembra che fosse esattamente questo, perché
l’eroe non divenne né mistico né religioso, rimase

dolce, e poteva dire io ti amo con la facilità
di un piccolo borghese, secondo un verdetto
del Partito a porte chiuse. Un giorno, si racconta,

cadde ai piedi di Octavio Paz; distratto inciampò
tra le tele cubiste degenerate di Picasso.
I medici raccomandarono vodka, vacanze, Marx,

barbiturici; il povero diavolo fece di tutto
per essere uguale a tutti gli altri; ma,
quando pareva soltanto banale, ecco che diceva cose

come la leggerezza è leggera. Fin dall’inizio,
vollero farlo tacere; un peccato; Yuri tornò vivo
e non ci raccontò com’è la morte.
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Felix Nussbaum
Solitudine (1942)
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