Sou eu, me deixa entrar


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Eucanaã Ferraz »»
 
Sentimental (2012) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Sou eu, me deixa entrar
Sono io, lasciami entrare


Chama-se Wisława Szymborska.
Exausta, a cabeça na pedra, recosta.
Parece, então, ouvir um cochicho;
aproxima um pouco mais o ouvido:

*
Não mais o sono em que, pedra, permaneço há milênios;
desabotoo em portas e janelas; brunindo-me,
faço em corredores claros o que outrora compacta
indiferença; sem os fáceis da matéria lassa, invento
paredes menos ferozes; contorço, sem avesso, oco

que me tornasse mais leve, como acontece aos fetos,
como deve ser sair de um ovo; dói,
porque não há desabrochar suave, em pétalas, quando
se ignora totalmente a primavera e tudo o que se sabe,
não podes imaginar, é o cavo escuro do chão;

porque não se pode ir às apalpadelas, ao vento,
quando se é uma coisa contra a qual o vento se quebra,
águas se quebram; mesmo sem poder abrir-me às cegas,
pois o risco seria quebrar-me, não há senão prosseguir
em trevas, sem ouvidos, sem cheiro, só o peso,

o letargo sem tréguas que só cabem aos que dormem
inorgânicos, aos que são o caroço e em tudo essa noite
que não se arranca, mesmo se, pedras, translúcidas;
ainda assim, persevero; não conte, senhora: assaltei
as chaves com que os minerais se trancam; transudo

os grãos adversos que me vedavam salas varandas
venezianas e a duras penas avanço contra a brutalidade
empedernida; arquiteto-me, revessa, por querer ser
um “ele”, casa aberta a poder dizer como lhe digo agora:
entra!

*
A poeta desperta
ou pensa
que desperta.

Lembra: uma pedra
abrindo-se
a ela.

Está confusa. Que sonho!
Acende um cigarro,
emocionada.

Que belo!
Muito embora a pedra
tenha lhe parecido

um tanto pernóstica.
Si chiama Wisława Szymborska.
Esausta, accosta il capo alla pietra.
Pare allora di udire un bisbiglio;
tende l’orecchio un po’ più vicino:

*
Non più il sonno in cui, io pietra, persisto da millenni;
dischiudo porte e finestre; nel ricompormi,
creo corridoi chiari là dove prima era compatta
indifferenza; senza la vacuità della piatta materia, invento
pareti meno aspre; mi contorco, senza interno, cava

per diventar più leggera, come succede ai feti,
come dev’essere uscire da un uovo; fa male,
perché non c’è quel soave sbocciare, in petali, quando
s’ignora totalmente la primavera e tutto quel che si sa,
non puoi immaginarlo, é l’oscura cavità del terreno;

perché non si può andare a tastoni, al vento,
quando si è una cosa contro la quale il vento si spezza,
le acque si spezzano; pur non potendo aprirmi alla cieca,
ché correrei il rischio di spezzarmi, non resta che proseguire
nelle tenebre, senza udito, senza olfatto, solo peso,

letargo ininterrotto che spetta solo a quelli che dormono
inorganici, a quelli che sono guscio e ovunque questa notte
che non si può strappar via, anche se, pietre, trasparenti;
eppure, insisto; non lo dica in giro, signora: ho sottratto
le chiavi con cui si sigillano i minerali; rimuovo

le particelle ostili che m’impedivano sale verande
veneziane e con gran pena avanzo contro la brutalità
fossilizzata; mi progetto, a rovescio, volendo essere
un “lui”, casa aperta così da poter dire come le dico ora:
entra!

*
La poetessa si desta
o pensa
di svegliarsi.

Ricorda: una pietra
che si dischiude
per lei.

È confusa. Che sogno!
Accende una sigaretta,
commossa.

Che bello!
Quantunque la pietra
le sia sembrata

piuttosto saccente.
________________

Alessandro Lonati
Ritratto della poetessa Wislawa Szymborska (2023)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Adão Ventura (41) Adélia Prado (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (40) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antonio Brasileiro (41) Antonio Osorio (42) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Antônio Cícero (40) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (113) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eucanãa Ferraz (29) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (40) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (30) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) Jorge Sousa Braga (40) Jorge de Sena (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Régio (41) José Saramago (40) José Tolentino de Mendonça (42) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Luis Filipe Castro Mendes (40) Lêdo Ivo (33) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (33) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mario Quintana (38) Micheliny Verunschk (40) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Mário Cesariny (34) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (514) Paulo Leminski (43) Pedro Mexia (40) Poemas Sociais (30) Poemas dos dias (29) Pássaro de vidro (52) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (48) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)