O Gato e o Dicionário


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O Gato e o Dicionário
Il gatto e il dizionario


... tigre em miniature.
Maurice Rollinat

Um gato se aproxima. Está com fome.
Abandonado ao deus-dará da rua.
Daqui a pouco, uma roda que significa o universo em seu
 eixo, o esmagará.
Sem que nenhuma estrela ou flor se mude do lugar onde
 está.

Chamo-o para junto do meu corpo.
Aqueço-o com o meu sobretudo londrino.
Os seus olhos são verdes. São mais verdes
que os da mulher que o abandonou na rua
ao passar em seu carro, como uma sereia
montada num peixe.

E como (dada a minha condição pedestre)
jamais poderia eu possuir um tigre de Bengala,
farei, deste gato mosqueado,
o meu tigre, que se conservou criança,
para enfeite do mundo, só dos homens.

Afinal, para a pequena floresta rotativa onde moro,
me basta este minúsculo tigre, ornamental.

Não posso ter um quadro de Van Gogh,
tenho uma cópia.
Não posso ter dois pintarroxos no ar voando
tenho um, na mão.

(Que é a infância senão a alegria de ter uma coisa por
 outra?)

Não tenho as coisas do bazar de Deus,
tenho um dicionário.
Não tenho a mulher que vi na última corrida do Jóquei,
tenho a sua fotografia.

(O segredo da vida não está em a gente
se contentar com uma coisa por outra?)

Em meu dicionário de objetos achados,
o gato é o meu tigre.

(Ah, este gato me dará sempre a ilusão de eu ser menino,
 aqui,
ou caçador de tigres, na África).
... tigre in miniatura.
Maurice Rollinat

Un gatto s’avvicina. Ha fame.
Abbandonato al se-Dio-vorrà della strada.
Tra poco, una ruota che rappresenta l’universo sul suo
 asse, lo schiaccerà.
Senza che alcuna stella o fiore cambi il posto dove
 sta.

Lo chiamo vicino al mio corpo.
Lo scaldo col mio soprabito londinese.
Sono verdi i suoi occhi. Sono più verdi
di quelli della donna che l’ha abbandonato sulla via
passando con la sua macchina, come una sirena
montata su un pesce.

E poiché (data la mia condizione pedestre)
mai io potrei possedere una tigre del Bengala,
farò, di questo gatto maculato,
la mia tigre, ch’è rimasta cucciola,
per abbellire il mondo, solo quello degli uomini.

In fondo, per la piccola foresta girevole in cui abito,
mi basta questa minuscola tigre, ornamentale.

Non posso avere un quadro di Van Gogh,
ma ne ho una copia.
Non posso avere due cardellini che volano nell’aria
ma ne ho uno, in mano.

(Che cos’è l’infanzia se non la gioia d’avere una cosa per
 un’altra?)

Non ho le cose del bazar di Dio,
ma ho un dizionario.
Non ho la donna che ho visto all’ultima corsa dei Jockey,
ma ho la sua fotografia.

(Il segreto della vita non sta nel far sì che la gente
s’accontenti d’una cosa per un’altra?)

Nel mio dizionario di oggetti trovati,
il gatto è la mia tigre.

(Ah, questo gatto mi darà l’illusione d’essere sempre un
 bambino, qui,
o un cacciatore di tigri, in Africa).
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Charles Wysocki
Frederick the Literate (1992)
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