Elogio do kitsch


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Alberto Pimenta »»
 
Obra quase incompleta (1990) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Elogio do kitsch
Elogio del kitsch


nada é diferente do que é:
nem as coisas
nem as palavras.

tudo é como é: tanto
as coisas como
as palavras.

mesmo
quando se trata de
coisas
que encobrem as palavras
ou de
palavras
que encobrem as coisas.

porque
as coisas
são como são
e exactamente o mesmo
sucede com as palavras.

isto
não esquecendo
que as palavras
por assim dizer
são o esmegma das coisas
e as coisas
por assim dizer
o eclegma das palavras.

e é tudo,
não é verdade?
nulla è differente da ciò che è:
né le cose
né le parole.

tutto è com’è: tanto
le cose quanto
le parole.

anche
quando si tratta di
cose
che occultano le parole
o di
parole
che occultano le cose.

perché
le cose
sono come sono
ed esattamente lo stesso
succede con le parole.

questo
senza dimenticare
che le parole
per così dire
sono lo smegma delle cose
e le cose
per così dire
l’eclegma delle parole.

e questo è tutto,
non è vero?
________________

Felix Lazo
Ph-series-16 (2000)
...

Animais de estimação



Nome:
 
Collezione:
Fonte:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (dicembre 2024) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Animais de estimação
Animali da compagnia


Pode, com propriedade, dizer-se que nascer
Foi o seu cativeiro, colaram-lhes um nome,
Moldaram-nos como indivíduos
Ou projectaram neles a ilusão
De que havia ali algo de único,
Algo mais do que a mera réplica
Das características de uma espécie
Que se perpetua numa mole indistinta.
Tiveram esses fictícios indivíduos mais sorte
Do que todos os outros sem nome
Na massa bruta e anónima?
Afectos, se os houve, não contrariaram
A sua natureza mais profunda –
Uma selvajaria instintiva, refractária,
Uma solidão enfim quebrada, vencida,
Mas talvez mais nobre, que é também nossa
E que preterimos em detrimento de alma?
Animais de estimação talvez acabemos todos
Mais cedo ou mais tarde nessa tristeza
Esfuziada, árida morte – adestrada.
Morrerão da morte que lhes inventarmos.
A ferocidade castiça, a inteligência senta-se nas patas
 traseiras,
Dá saltos mortais, sob o aplauso geral,
Ou bufa, silva, ladra, ruge, agita tentáculos
Ou tenazes, morde, fere e é sempre risível,
Mesmo quando mortal.

Animais que, de tão pacíficos,
Nem para se defenderem
Sabem os gestos da violência.
Si può affermare, obiettivamente, che nascere
Fu la loro prigione, gli fu dato un nome,
Ci raffigurarono come esseri unici
O fu in loro proiettata l’illusione
Che lì ci fosse qualcosa d’ineguagliabile,
Qualcosa di più che la mera replica
Delle caratteristiche di una specie
Che si perpetua in proporzioni incerte.
Toccò a questi fittizi individui miglior sorte
Rispetto a tutti gli altri senza nome
Nella massa ferina e anonima?
Affetti, se ce ne furono, non inficiarono
La loro natura più profonda –
Una bestialità istintiva, refrattaria,
Una solitudine infine spezzata, vinta,
Ma forse più nobile, dato che è anche nostra
E che dimentichiamo a discapito dell’anima?
Animali da compagnia tutti forse finiamo
Prima o poi in questa tristezza
Disperata, arida morte – addestrata.
Moriranno d’una morte che per loro avremo inventato.
La ferocia è repressa, l’intelligenza si siede sulle zampe
 posteriori,
Fa salti mortali, tra gli applausi generali,
O soffia, sibila, latra, ruggisce, agita tentacoli
O pinze, morde, ferisce ed è sempre esilarante,
Anche quand’è mortale.

Animali, pacifici al punto che,
Neanche per difendersi
Conoscono i gesti della violenza.
________________

Cecile Perra
The Animal Circus (2024)
...

Carta a uma iniciante


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Alberto Pimenta »»
 
Obra quase incompleta (1990) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Carta a uma iniciante
Lettera a una principiante


daqui
donde estou
só posso dizer-te: aprende
as melhores maneiras.
passa as mãos por ti, mete os dedos
em todas as tuas entradas e saídas,
só assim as aprenderás
as melhores maneiras,
ou julgas que
facilmente encontrarás
quem tas ensine?

repara
como todos
te querem ensinar
as boas maneiras
mas já alguém te
falou das melhores?
já alguém
te deu a conhecer
e a cheirar
os caminhos da tua glória?

cuida-os,
dá-lhes toda a atenção enquanto
é tempo,
não te afastes nem te prives
do que és tu, do que tu és,
aproveita
bem o tempo antes que
comece o passado
a parecer-te
mais longo que o possível futuro
e tu
comeces
a cheirar daquele modo
que agrada e sobretudo atrai
a deus, o amador de cadáveres.
da qui
dove io sto
non posso che dirti: impara
le migliori maniere.
passati addosso le mani, posa le dita
su tutte le tue entrate ed uscite,
solo così imparerai
le migliori maniere,
o credi che
facilmente troverai
chi te le insegni?

nota
come tutti
ti vogliono insegnare
le buone maniere
ma qualcuno ti ha già
parlato delle migliori?
forse qualcuno
ti ha già fatto conoscere
e odorare
i sentieri della tua gloria?

seguili,
dedica loro tutta la tua attenzione finché
c’è tempo,
non t’allontanare e non privarti
di ciò che sei tu, di ciò che tu sei,
sfrutta
bene il tempo prima che
il passato cominci
a sembrarti
più lungo del probabile futuro
e tu
cominci
a olezzare in quel modo
che piace e soprattutto attrae
dio, l’estimatore di cadaveri.
________________

Mario Tozzi
Il caffè del mattino (1925)
...

Carta


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Alberto Pimenta »»
 
Obra quase incompleta (1990) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Carta
Lettera


1. se v.exa. me permite
eu gostaria de dizer o que penso.
2. em primeiro lugar penso
que v.exa. anda
no sentido oposto ao dos ponteiros do relógio.
3. v.exa. dirá que eu estou afirmando
que v.exa. anda para trás.
4. na verdade, nada me impede de afirmar que
v.exa. anda para trás.
não foi isso porém o que eu disse.
5. com efeito, não sei
se v.exa. anda para trás. segundo penso,
v.exa. anda no sentido oposto ao dos ponteiros
do relógio.
6. seria necessário poder afirmar com toda a
segurança que os ponteiros do relógio
andam para a frente,
para poder afirmar
com igual segurança
que v.exa. anda para trás.
7. mas quem está em condições de
afirmar com toda a segurança
que os ponteiros do relógio andam
para a frente? ninguém está
em condições de afirmar com toda a segurança
que os ponteiros do relógio andam
para a frente, porque, como v.exa. sabe,
os ponteiros do relógio andam à roda.
8. a única coisa que se pode afirmar com toda a
segurança
é que os ponteiros do relógio andam
à roda para um lado e v.exa.
anda à roda para o outro. os ponteiros
do relógio rodam para um lado e v.exa. roda
para o outro. de modo que v.exa. com
o seu movimento anula o movimento
dos ponteiros do relógio e vice-versa.
9. na verdade é como
se v.exa. não andasse e como
se os ponteiros do relógio também não andassem.
10. com efeito, nâo creio que v.exa. ande para a frente
nem que v.exa. ande para trás, nâo creio que v.exa.
ande para cima nem que v.exa. ande para baixo, nâo
 creio
que v.exa.
ande para direita nem que v.exa. ande para esquerda,
apenas suponho que v.exa. anda à roda de si mesmo.
no sentido oposto ao dos ponteiros do relógio e,
ainda,
de olhos fechados, nâo sei porquê, talvez
para nâo enjoar.
11. o que eu, em duas palavras, em segundo lugar penso,
ë que v.exa. usa um instrumento de osso ou de plastico
com uma enfiada de pontas aceradas, chamado pente,
a fim de estar sempre bem penteado, pois nada
perturba mais v.exa. que o receio de não
estar bem penteado, nada perturba mais
v.exa., e é por isso que só quando v.exa.
acabar de perder o cabelo todo se começa
a sentir um pouco à vontade, é, segundo suponho,
por isso.
12. de forma que a visão de
v.exa. e dos restantes concidadâos
andando todos à roda de si mesmos,
no sentido oposto ao dos ponteiros de relógio,
de olhos fechados e cabelos cuidadosamente penteados,
é um espectáculo alucinante,
que v.exa. infelizmente não pode apreciar,
por ter os olhos fechados.
13. claro que v.exa. julga que só v.exa.
faz o movimento que v.exa. faz, e o mesmo
julgam os restantes concidadâos, pois
todos se consideram uma excepçâo, um
caso único, especial, e no entanto todos
formam uma régra, no seu movimento regular,
no seu circulo vicioso,
à roda de si mesmos,
no sentido oposto ao dos ponteiros do relogio,
de olhos fechados
e cabelos cuidadosamente penteados.
1. se vs. ecc. mi consente
gradirei dire ciò che penso.
2. in primo luogo penso
che vs. ecc. vada
nel senso opposto a quello delle lancette dell’orologio.
3. vs. ecc. dirà che sto affermando
che vs. ecc. vada all’indietro.
4. in verità, nulla m’impedisce di affermare che
vs. ecc. vada all’indietro.
non è questo però ciò che ho detto.
5. infatti, non so
se vs. ecc. vada all’indietro. secondo il mio pensiero,
vs. ecc. va nel senso opposto a quello delle lancette
dell’orologio.
6. sarebbe necessario poter affermare con assoluta
sicurezza che le lancette dell’orologio
vadano in avanti,
per poter affermare
con altrettanta sicurezza
che vs. ecc. vada all’indietro
7. ma chi è in condizioni di
affermare con assoluta sicurezza
che le lancette dell’orologio vadano
in avanti? nessuno è
in condizioni di affermare con assoluta sicurezza
che le lancette dell’orologio vadano
in avanti, perché, come vs. ecc. sa,
le lancette dell’orologio si muovono in cerchio.
8. l’unica cosa che si può affermare con assoluta
sicurezza
è che le lancette dell’orologio vadano
in cerchio da un lato e vs. ecc.
vada in cerchio per l’altro. le lancette
dell’orologio ruotano da un lato e vs. ecc. ruota
per l’altro. di modo che vs. ecc. con
il suo movimento annulla il movimento
delle lancette dell’orologio e viceversa.
9. in verità è come
se vs. ecc. non si muovesse e come
se anche le lancette dell’orologio non si muovessero.
10. in effetti, non credo che vs. ecc. vada in avanti
né che vs. ecc. vada all’indietro, non credo che vs. ecc.
vada verso l’alto né che vs. ecc. vada verso il basso, non
 credo
che vs. ecc.
vada a destra né che vs. ecc. vada a sinistra,
suppongo soltanto che vs. ecc. vada intorno a sé stesso.
nel senso opposto a quello delle lancette dell’orologio e,
ancora,
ad occhi chiusi, non so perché, forse
per non nausearsi.
11. quel che io, in due parole, in secondo luogo, penso
è che vs. ecc. usa uno strumento d’osso o di plastica
con una sfilza di punte acuminate, chiamato pettine,
pur d’essere sempre ben pettinato, dato che nulla
turba di più vs. ecc. che il timore di non
essere ben pettinato, nulla turba di più
vs. ecc., ed è perciò che solo quando vs. ecc.
avrà finito di perdere tutti i capelli comincerà
a sentirsi abbastanza a suo agio, è, a quanto suppongo,
per questo.
12. cosicché la visione di
vs. ecc. e dei rimanenti concittadini
che si muovono tutti in cerchi intorno a sé stessi,
nel senso opposto a quello delle lancette dell’orologio,
ad occhi chiusi e capelli accuratamente pettinati,
è uno spettacolo allucinante,
che vs. ecc. purtroppo non può apprezzare,
avendo gli occhi chiusi.
13. ovvio che vs. ecc. pensi che solo vs. ecc.
compia il movimento che vs. ecc. fa, e lo stesso
pensano i rimanenti concittadini, poiché
tutti si considerano un’eccezione, un
caso unico, speciale, e frattanto tutti
formano una regola, nel loro movimento regolare,
nel loro circolo vizioso,
intorno a sé stessi,
nel senso opposto a quello delle lancette dell’orologio,
ad occhi chiusi
e coi capelli accuratamente pettinati.
________________

Paolo Uccello
Orologio di Santa Maria del Fiore (1443)
...

Miopia


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Alberto Pimenta »»
 
Metamorfoses do vídeo (1986) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Miopia
Miopia


nâo te sentes capaz de entender
o dia de hoje, baby?
espera ele seja o dia de ontem.

nâo te sentes capaz de entender
o dia de ontem,  baby?
espera que ele seja o dia de amanhâ.

nâo te sentes capaz de entender
o dia de amanhâ, baby?
espera ele seja o dia de hoje.
non ti senti in grado di capire
il giorno d’oggi, baby?
aspetta che sia il giorno di ieri.

non ti senti in grado di capire
il giorno di ieri,  baby?
aspetta che sia il giorno di domani.

non ti senti in grado di capire
il giorno di domani, baby?
aspetta che sia il giorno d’oggi.
________________

Giovanni Maranghi
Poi ti bacerò (1955)
...

Fastos III


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Alberto Pimenta »»
 
Metamorfoses do vídeo (1986) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Fastos III
Fasti III


artur hipólito morreu com 62 an
os, 20 anos após ter feito 42, mas
na altura quem diria?

heitor fragoso morreu atropelado.
foi levado para o hospital, mas es
queceram-se duma parte do corpo
no local do acidente.

manuel testa morreu sem se ter c
onseguido habituar a este modo
de mal-estar no mundo.

arnaldo rodrigues caiu a um bur
aco da canalização e nunca mais
foi visto.

jeremias cabral pôs termo à exist
ência por motivos desconhecidos.

zeca gomes morreu em defesa da
pátria mas a pensar noutra coisa.

antónio de oliveira morreu igual
a si mesmo: triste sinal dos te
mpos!

bernardo leite pôs-se a pensar na
morte e não conseguiu voltar a
trás.

ivo gouveia tinha uma agência f
unerária e escolheu para si um
caixão representativo.

guilherme silva fechou-se no sót
ão, para morrer num lugar eleva
do.

luís dimas respirava saúde, agora
respira um hálito de eternidade.

antónio garcia, o coveiro, teve u
ma síncope e caiu dentro da cov
a que estava a abrir.

bento nogueira engasgou-se com
um pedaço de carne e desapare
ceu do nosso convívio.

paiva de jesus enforcou-se.

joão baptista viu o cunhado lev
antar-se do caixão e teve uma sí
ncope.

lourenço pinheiro estava a ver a
trovoada e um relâmpago entrou
lhe por um olho e saiu-lhe pelo
outro.

jorge velez de castro finou-se
após uma longa vida de sacrifí
cios, toda dedicada ao bem-comu
m. e foi assim: depois de ter inge
rido o seu sumo de laranja, foi c
onduzido para a cadeira de rep
ouso pelo enfermeiro de confian
ça. nela se conservou, de boca en
treaberta e olhos fechados, até
às onze horas. às onze horas, o e
nfermeiro de confiança aproxim
ou-se com a intenção de o condu
zir ao banho. pondo delicadamen
te a mão nas costas da cadeira,
disse: são horas do banho, senhor
director. como este não desse si
nal de ter ouvido, o enfermeiro
de confiança, com a costumada jo
vialidade, debruçou-se e repetiu:
são horas do banho, senhor direc
tor. posto isto, empurrou a cadei
ra até ao balneário, passou um br
aço pelos rins outro por baixo d
os joelhos do director, e assim o
levou para a água, só então se da
ndo conta de que ele já não vivia.

zé maria, o peidolas, foi expulso
da vida pela autoridade compet
ente.

joão gaspar foi um nobre e val
oroso homem que morreu heroi
camente no campo da honra. p
az à sua alma.

raul santos deitou-se um dia e p
or mais que o sacudissem nunca
mais se levantou.

alfredo penha caiu tão desastrada
mente da cama que nem é possív
el dar pormenores da sua morte.

joaquim perestrelo morreu no me
io da missa, qual quê! ainda a m
issa não ia a metade!

sousa dias morreu de pé, mas en
terraram-no deitado, como toda a

gente.
artur hipólito morì a 62 an
ni, 20 anni dopo aver compiuto 42, ma
all’epoca chi l’avrebbe detto?

heitor fragoso morì in uno scontro.
fu portato all’ospedale, ma si di
menticarono una parte del suo corpo
sul luogo dell’incidente.

manuel testa morì senza essere r
iuscito ad abituarsi a questa specie
di malessere del mondo.

arnaldo rodrigues cadde in un bu
co della canalizzazione e non fu mai
più visto.

jeremias cabral pose fine alla sua esist
enza per motivi sconosciuti.

zeca gomes morì nella difesa della sua
patria ma pensando a un’altra cosa.

antónio de oliveira morì identico
a sé stesso: triste segnale dei te
mpi!

bernardo leite si mise a pensar alla
morte e non riuscì a tornare
indietro.

ivo gouveia aveva un’impresa di p
ompe funebri e scelse per sé una
bara di rappresentanza.

guilherme silva si chiuse in soffit
ta, per morire in un luogo eleva
to.

luís dimas respirava salute, adesso
respira un alito d’eternità.

antónio garcia, il becchino, ebbe u
na sincope e cadde dentro la foss
a che stava scavando.

bento nogueira si strozzò con
un pezzo di carne e scompar
ve dal nostro convivio.

paiva de jesus s’impiccò.

joão baptista vide suo cognato al
zarsi dalla bara ed ebbe una si
ncope.

lourenço pinheiro stava a guardare il
temporale e un lampo gli entrò
da un occhio e gli uscì dal
l’altro.

jorge velez de castro si spense
dopo una lunga vita di sacrifi
ci, tutta dedicata al bene comu
ne. e andò così: dopo aver inge
rito il suo succo d’arancia, fu acc
ompagnato alla poltrona reclinab
ile dall’infermiere di fidu
cia. vi rimase comodo, con la bocca se
miaperta e gli occhi chiusi, fino
alle undici. alle undici, l’i
nfermiere di fiducia si avvici
nò con l’intenzione di condu
rlo in bagno. posando delicatamen
te la mano sullo schienale della poltrona,
disse: è l’ora del bagno, signor
direttore. dato che non diede se
gnale d’aver sentito, l’infermiere
di fiducia, con la consueta gio
vialità, si chinò e ripeté:
è l’ora del bagno, signor diret
tore. detto questo, spinse la poltro
na fino alla vasca, passò un br
accio dietro la schiena l’altro sotto
le ginocchia del direttore, e così lo
portò verso l’acqua, accorgendosi so
lo allora che egli non era più vivo.

zé maria, lo scorreggione, fu espulso
dalla vita dall’autorità compet
ente.

joão gaspar fu un uomo nobile e val
oroso che morì eroi
camente sul campo dell’onore. p
ace all’anima sua.

raul santos un giorno si coricò e p
er quanto lo scuotessero non
si rialzò mai più.

alfredo penha cadde così disastrosa
mente dal suo letto che non è possibi
le fornire dettagli della sua morte.

joaquim perestrelo morì a me
tà della messa, macché! ancora la m
essa non era a metà!

sousa dias morì in piedi, ma lo in
terrarono disteso, come tutta la

gente.
________________

René Magritte
Il balcone di Manet (1950)
...

A visita do papa


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Alberto Pimenta »»
 
A visita do papa (1981) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


A visita do papa
La visita del papa


Enquanto o papa não chega
Todos dão a sua achega*


POR EXEMPLO:
As autoridades convencem com os dentes.

Os deputados erguem as nádegas
para lhes serem metidas moedas na ranhura

Os investidores apostam na sementeira
de guarda-republicanos.

Os magistrados justificam o uso
da força com a força do uso.

Os militares apóiam a democracia em
geral e o cão-polícia em particular.

Os tecnocratas correm o fecho-éclair
para fazer luz sobre o assunto.

Os psiquiatras metem o dedo no olho do
cliente para lhe aprofundar os desvios.

Os mestres ensinam os cães particulares
a defecar nos passeios públicos.

Os escritores erguem a voz acima de todas para
dizer que todas as vozes se devem fazer ouvir.

Os funcionários públicos zelam por que tudo
o que não é proibido seja obrigatório.

Os sacerdotes encaminham a alma
para o sétimo céu.

Os internados no manicômio recebem
coleiras novas com o número fiscal.

Os jornalistas dão peidos que abalam a
qualidade de vida da cidade.

O povo digere tudo porque tem
dentes até ao cu.

Os polícias de choque referem-se
às conquistas de abril.

Os anjos da guarda interceptam os
pacotes com as bombas e explodem.

*Em espírito de profunda caridade
pelas legítimas aspirações
e valores autênticos da humanidade

Finché il papa non arriva
Ognuno dà il suo contributo*


PER ESEMPIO:
Le autorità convincono coi denti.

I deputati sollevano le natiche
perché vi siano infilate monete nella fessura

Gli investitori scommettono sul vivaio
di guardie repubblicane.

I magistrati giustificano l’uso
della forza con la forza dell’uso.

I militari appoggiano la democrazia in
generale e il cane poliziotto in particolare.

I tecnocrati tirano giù la chiusura lampo
per far luce sull’argomento.

Gli psichiatri mettono il dito nell’occhio del
paziente per analizzare i loro spaesamenti.

Gli istruttori addestrano i cani dei privati
a defecare nei pubblici passaggi.

Gli scrittori alzano la loro voce sopra tutte le altre per
dire che tutte le voci devono farsi sentire.

I pubblici dipendenti s’adoperano perché tutto
ciò che non è proibito sia obbligatorio.

I sacerdoti indirizzano l’anima
verso il settimo cielo.

Gli internati nel manicomio ricevono
nuovi collari col codice fiscale.

I giornalisti fanno scoregge che alterano la
qualità della vita della città.

Il popolo digerisce tutto perché ha
denti perfino nel culo.

La polizia antisommossa fa riferimento
alle conquiste di aprile.

Gli angeli custodi intercettano i
pacchi-bomba ed esplodono.

*In spirito di profonda carità
per le legittime aspirazioni
e gli autentici valori dell’umanità.

________________

Floriano Bodini
Pontefice (1980)
...

Eu decidi ir ser feliz…



Nome:
 
Collezione:
Fonte:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (dicembre 2024) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Eu decidi ir ser feliz...
Ho deciso che sarò felice...


Eu decidi ir ser feliz com os outros,
Decidi tentar ver neles e eles em mim
Essa criança que chora,
Tenra forma de gente,
Quase ninguém ainda.
Eu decidi que ninguém ficaria
  Na soleira do esquecimento,
Insultado pelo Dezembro que sulca as ruas.
Eu decidi que haveria um Natal maior
Que as árvores e os presépios e os presentes
E a bondade obrigatória, forçada, engolida.
Eu decidi que o Natal seria um gesto
E não um programa inerte, pendente.
Eu decidi moldar o coração
Num amor para todos
Porque o Gonzaga sabia:
“Eu tenho um coração maior que o mundo.”
Eu decidi ser fiel à estrela
Sufocada no céu convulsionado
Por tantas outras luzes
Eu decidi ser fiel e seguir a estrela
Esquecida
Atraiçoada.
Ho deciso che sarò felice con gli altri,
Ho deciso di tentar di vedere in loro e loro in me
Quel bimbo che piange,
Tenera forma in nuce,
Quasi nessuno ancora.
Ho deciso che nessuno rimarrà
Sulla soglia dell’oblio,
Insultato da un dicembre che solca le strade.
Ho deciso che ci sarà un Natale più grande
Degli alberi e dei presepi e dei regali
E della bontà d’obbligo, forzata, subita.
Ho deciso che il Natale sarà un gesto
E non un programma inerte, sospeso.
Ho deciso di plasmare il cuore
In un amore per tutti
Perché il Gonzaga lo sapeva:
“Io ho un cuore più grande del mondo.”
Ho deciso d’essere fedele alla stella
Soffocata nel cielo stravolto
Da tante altre luci
Ho deciso d’essere fedele e seguire la stella
Dimenticata
Tradita.
________________

Aldo Romano
Ex Voto (2006)
...

Balada ditirambica do grande filho-da-puta


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Alberto Pimenta »»
 
Discurso sobre o Filho-da-Puta (1977) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Balada ditirambica
do grande filho-da-puta
Ballata ditirambica
del grande figlio-di-puttana


o grande filho-da-puta
também em certos casos começa
por ser
um pequeno filho-da-puta,
e não há filho-da-puta,
por pequeno que seja,
que não possa
vir a ser
um grande filho-da-puta,
diz o grande filho-da-puta.

no entanto,
há filhos-da-puta
que já nascem grandes
e filhos da puta
que nascem pequenos,
diz o grande filho-da-puta.

de resto,
os filhos-da-puta
não se medem aos
palmos, diz ainda
o grande filho-da-puta

o grande filho-da-puta
tem uma grande
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o grande filho-da-puta.

por isso
o grande filho-da-puta
tem orgulho em ser
o grande filho-da-puta.

todos
os pequenos filhos-da-puta
são reproduções em
ponto pequeno
do grande filho-da-puta,
diz o grande filho-da-puta.

dentro do
grande filho-da-puta
estão em ideia
todos os
pequenos filhos-da-puta,
diz o grande filho-da-puta.

tudo o que é bom
para o grande
não pode
deixar de ser igualmente bom
para os pequenos filhos-da-puta,
diz o grande filho-da-puta.

o grande filho-da-puta
foi concebido
pelo grande senhor
à sua imagem e
semelhança,
diz o grande filho-da-puta.

é o grande filho-da-puta
que dá ao pequeno
tudo aquilo de que ele
precisa para ser
o pequeno filho-da-puta,
diz o grande filho-da-puta.

de resto,
o grande filho-da-puta
vê com bons olhos
a multiplicação
do pequeno filho-da-puta:
o grande filho-da-puta
o grande senhor
Santo e Senha
Símbolo Supremo
ou seja,
o grande filho-da-puta.
il grande figlio-di-puttana
anch’egli, in qualche caso, comincia
con l’essere
un piccolo figlio-di-puttana,
e non esiste figlio-di-puttana,
per quanto piccolo,
che non possa
trasformarsi
in un grande figlio-di-puttana,
dice il grande figlio-di-puttana.

eppure,
esistono figli-di-puttana
che già nascono grandi
e figli-di-puttana
che nascono piccoli,
dice il grande figlio-di-puttana.

d’altronde,
i figli-di-puttana
non si misurano a
spanne, dice ancora
il grande figlio-di-puttana

il grande figlio-di-puttana
ha una grande
visione delle cose
e lo manifesta in
tutto quel che fa
e dice
d’essere proprio
il grande figlio-di-puttana.

perciò
il grande figlio-di-puttana
va fiero d’essere
il grande figlio-di-puttana.

tutti
i piccoli figli-di-puttana
sono duplicazioni in
piccole dimensioni
del grande figlio-di-puttana,
dice il grande figlio-di-puttana.

dentro al
grande figlio-di-puttana
stanno in nuce
tutti i
piccoli figli-di-puttana,
dice il grande figlio-di-puttana.

tutto quel ch’è buono
per il grande
non può
non essere altrettanto buono
per i piccoli figli-di-puttana,
dice il grande figlio-di-puttana.

il grande figlio-di-puttana
venne concepito
dal grande signore
a sua immagine e
somiglianza,
dice il grande figlio-di-puttana.

è il grande figlio-di-puttana
che dà al piccolo
tutto quello di cui
questi ha bisogno per essere
il piccolo figlio-di-puttana,
dice il grande figlio-di-puttana.

d’altronde,
il grande figlio-di-puttana vede
di buon occhio
la crescita
del piccolo figlio-di-puttana:
il grande figlio-di-puttana
il grande signore
Segnale Segreto
Simbolo Supremo
ovvero,
il grande figlio-di-puttana.
________________

George Grosz
Caino o Hitler all'inferno (1944)
...

Balada ditirambica do pequeno filho-da-puta


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Alberto Pimenta »»
 
Discurso sobre o Filho-da-Puta (1977) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Balada ditirambica
do pequeno filho-da-puta
Ballata ditirambica
del piccolo figlio-di-puttana


O pequeno filho-da-puta
é sempre
um pequeno filho-da-puta;
mas não há filho-da-puta,
por pequeno que seja,
que não tenha
a sua própria
grandeza,
diz o pequeno filho-da-puta.

no entanto, há
filhos-da-puta que nascem
grandes e filhos-da-puta
que nascem pequenos,
diz o pequeno filho-da-puta.

de resto,
os filhos-da-puta
não se medem aos
palmos, diz ainda
o pequeno filho-da-puta.

o pequeno
filho-da-puta
tem uma pequena
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o pequeno
filho-da-puta.

no entanto,
o pequeno filho-da-puta
tem orgulho
em ser
o pequeno filho-da-puta.

todos os grandes
filhos-da-puta
são reproduções em
ponto grande
do pequeno
filho-da-puta,
diz o pequeno filho-da-puta.

dentro do
pequeno filho-da-puta
estão em ideia
todos os grandes filhos da puta,
diz o
pequeno filho-da-puta.

tudo o que é mau
para o pequeno
é mau
para o grande filho-da-puta,
diz o pequeno filho-da-puta.

o pequeno filho-da-puta
foi concebido
pelo pequeno senhor
à sua imagem
e semelhança,
diz o pequeno filho-da-puta.

é o pequeno filho-da-puta
que dá ao grande
tudo aquilo de que
ele precisa
para ser o grande filho-da-puta,
diz o
pequeno filho-da-puta.

de resto,
o pequeno filho-da-puta vê
com bons olhos
o engrandecimento
do grande filho-da-puta:
o pequeno filho-da-puta
o pequeno senhor
Sujeito Serviçal
Simples Sobejo
ou seja,
o pequeno filho-da-puta.
Il piccolo figlio-di-puttana
è sempre
un piccolo figlio-di-puttana;
ma non esiste figlio-di-puttana,
per quanto piccolo,
che non possieda
la sua propria
grandezza,
dice il piccolo figlio-di-puttana.

eppure, ci sono
figli-di-puttana che nascono
grandi e figli-di-puttana
che nascono piccoli,
dice il piccolo figlio-di-puttana.

d’altronde,
i figli-di-puttana
non si misurano a
spanne, dice ancora
il piccolo figlio-di-puttana.

il piccolo
figlio-di-puttana
ha una piccola
visione delle cose
e mostra in
tutto quel che fa
e che dice
d’essere proprio
il piccolo
figlio-di-puttana.

eppure,
il piccolo figlio-di-puttana
va fiero
d’essere
il piccolo figlio-di-puttana.

tutti i grandi
figli-di-puttana
sono duplicazioni a
grandi dimensioni
del piccolo
figlio-di-puttana,
dice il piccolo figlio-di-puttana.

dentro al
piccolo figlio-di-puttana
stanno in nuce
tutti i grandi figli-di-puttana,
dice il
piccolo figlio-di-puttana.

tutto quel che è male
per il piccolo
è male
per il grande figlio-di-puttana,
dice il piccolo figlio-di-puttana.

il piccolo figlio-di-puttana
venne concepito
dal piccolo signore
a sua immagine
e somiglianza,
dice il piccolo figlio-di-puttana.

è il piccolo figlio-di-puttana
che dà al grande
tutto quello di cui
questi ha bisogno
per essere il grande figlio-di-puttana,
dice il
piccolo figlio-di-puttana.

d’altronde,
il piccolo figlio-di-puttana vede
di buon occhio
la crescita
del grande figlio-di-puttana:
il piccolo figlio-di-puttana
il piccolo signore
Soggetto Sollecito
Semplice Superfluo
ovvero,
il piccolo figlio-di-puttana.
________________

George Grosz
Café (particolare) (1915)
...

Tango


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Alberto Pimenta »»
 
Ascensão de Dez Gostos à Boca (1977) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Tango
Tango


sacrificaram tudo a deus, e
o que nâo sacrificaram a deus
sacrificaram pelos vindouros

os quais
 
sacrificaram tudo a deus, e
o que nâo sacrificaram a deus
sacrificaram pelos vindouros

os quais

sacrificaram tudo a deus, e
que nâo sacrificaram a deus
sacrificaram pelos vindouros

os quais

e assim sucessivamente
PARA OS VINDOUROS AINDA NÂO
PARA DEUS JÁ TALVEZ TENHA VALIDA A PENA.
sacrificarono tutto a dio, e
quel che non sacrificarono a dio
lo sacrificarono per i posteri
 
i quali
 
sacrificarono tutto a dio, e
quel che non sacrificarono a dio
lo sacrificarono per i posteri

  i quali
 
sacrificarono tutto a dio, e
quel che non sacrificarono a dio
lo sacrificarono per i posteri
 
i quali
 
e via dicendo
PER I POSTERI ANCORA NO
PER DIO FORSE NE È GIÀ VALSA LA PENA.
________________

Pier Dandini
Sacrificio di Ifigenia (1700 ca.)
...

Paixão, morte e 1.ª aparição de frankenstein


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Alberto Pimenta »»
 
Ascensão de Dez Gostos à Boca (1977) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Paixão, morte
e 1.ª aparição de frankenstein
Passione, morte
e 1.ª apparizione di frankenstein


como se sabe: frankenstein foi preso por denúncia,
já perto da fronteira leste, coisa de meia ho
ra a pé, apenas. foi revistado, farejado pelos cães,
algemado e depois transportado e apresentado à na
ção no decurso do telejornal. acusado de semear o
terror, frankenstein foi condenado por toda a nação,
embora não tenha chegado a ser condenado por um
tribunal regular. enquanto o julgamento era prepa
rado, frankenstein foi metido numa daquelas celas
hermeticamente isoladas, todas pintadas de branco
e perpetuamente mergulhada no silêncio e numa tez
artificial; celas donde um tipo como eu ou tu só
sai com os pés para a frente, ou então de pé, mas
nesse caso com a cabeça mole como fruta do chão.
frankenstein no entanto era um tipo mais forte que
eu ou tu. frankenstein aguentou dois anos de pri
são preventiva, sem um canário sequer que lhe fi
zesse companhia, pois as leis desta nação só permi
tem aos presos a companhia de um canário depois de
dois anos de bom comportamento. acerca do compor
tamento de frankenstein nada sei. a nação e o seu
jornal sabem tudo acerca do comportamento de fran
kenstein. e sabem também como frankenstein morreu.
eu não sei como frankenstein morreu. mas a nação
e o seu jornal (a «sua imagem») sabem como
 frankenstein morreu.
corre agora o boato que o colapso do antigo
chefe da polícia foi causado pela aparição de fran
kenstein. mas quem garante que assim tenha sido?
bom, um tipo como frankenstein talvez. mas um tipo
como eu e tu que chances tem de aparecer depois
de morto? não, um tipo como eu e tu não sei que
chances tem depois de morto, para dizer a verdade,
 nesta nação
nem sei que chances tem depois de vivo, um tipo
como eu e tu, de resto era isso que frankenstein
não se cansava de dizer, todo o tempo, todo o tempo.
come si sa: frankenstein fu arrestato su denuncia,
già prossimo alla frontiera orientale, roba di mezz’o
ra a piedi, appena. fu perquisito, annusato dai cani,
ammanettato e poi trasportato e presentato alla na
zione durante il telegiornale. accusato di seminare il
terrore, frankenstein fu condannato da tutta la nazione,
pur non essendo arrivato ad essere condannato da un
tribunale regolare. mentre la sentenza era in prepa
razione, frankenstein fu messo in una di quelle celle
ermeticamente isolate, tutte dipinte di bianco
e perpetuamente immersa nel silenzio e in un ambiente
artificiale; celle da cui un tipo come me e te esce
soltanto con i piedi in avanti, o anche in piedi, ma
in questo caso con la testa molle come frutta marcita.
frankenstein dunque era un tipo più forte di
me e di te. frankenstein sopportò due anni di pri
gione preventiva, senza neanche un canarino a far
gli compagnia, poiché le leggi di questa nazione consen
tono ai prigionieri la compagnia di un canarino solo dopo
due anni di buona condotta. a proposito della con
dotta di frankenstein non so nulla. sono la nazione e il suo
giornale a saper tutto della condotta di fran
kenstein. e sanno anche come frankenstein morì.
io non so come frankenstein morì. ma la nazione
e il suo giornale (la «sua immagine») sanno come
 frankenstein morì.
corre ora voce che il collasso del precedente
capo della polizia fu causato dall’apparizione di fran
kenstein. ma chi può garantire che sia andata così?
beh, forse un tipo come frankenstein. ma un tipo
come me e te che probabilità hanno di apparire dopo
morto? no, un tipo come me e te non so che
probabilità hanno dopo morti, di dire la verità, in questa
 nazione
né so che probabilità hanno dopo esser vissuti, un tipo
come me e te, del resto era questo che frankenstein
non si stancava di dire, tutto il tempo, tutto il tempo.
________________

Lynd Ward
Mary Shelly. Frankenstein (1934)
...

Elegia


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Alberto Pimenta »»
 
Ascensão de Dez Gostos à Boca (1977) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Elegia
Elegia


já nada é o que era
e provavelmente nunca mais o será
e mesmo que o fosse
algo me diz que já não seria o que era
porque o que era
era o que era por ser o que era
do que eu me lembro muito bem
embora eu então não fosse o que agora sou
mas o que agora sou
ou estou a ser
é deixar de ser o que sou
porque eu sou deixando de ser
deixar de ser é a minha maneira de ser
sou a cada instante
o que já não sou
e o mesmo se deve passar com tudo o que é
motivo por que não admira que assim seja
quer dizer
que nada seja o que era
e se assim é
ou já não é
seja ou não seja
nulla ormai è ciò che era
e probabilmente non lo sarà mai più
e quand’anche lo fosse
qualcosa mi dice che ormai non sarebbe ciò che era
perché ciò che era
era ciò che era dovendo essere ciò che era
cosa di cui mi ricordo molto bene
benché io allora non fossi ciò che sono ora
ma ciò che ora sono
o sono intento ad essere
è cessare di essere ciò che sono
perché io sto cessando d’essere
cessare d’essere è la mia maniera d’essere
sono ad ogni istante
ciò che già più non sono
e lo stesso deve accadere per tutto ciò che è
ragion per cui non meraviglia che sia così
vale a dire
che nulla sia ciò che era
e che ora sia così
o già non lo sia più
sia quel che sia
________________

Amedeo Modigliani
Ritratto di Chaïm Soutine (1916)
...

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Adão Ventura (41) Adélia Prado (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (40) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antonio Brasileiro (41) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Antônio Cícero (40) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (113) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (40) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (30) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) Jorge Sousa Braga (40) Jorge de Sena (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Régio (27) José Saramago (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Luis Filipe Castro Mendes (40) Lêdo Ivo (33) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (33) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Mário Cesariny (34) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (482) Pedro Mexia (40) Poemas Sociais (30) Poemas dos dias (28) Pássaro de vidro (52) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)